Jornal fundado por Ésio Martins Bastos em 25 de dezembro de 1946 e dirigido por Luciano Augusto Bastos no período 2003-2011. E-mail: onortefluminense@hotmail.com
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
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A AÇORIANIDADE LITERÁRIA BONJESUENSE
Podemos conceituar a Açorianidade como uma característica de identidade e de cultura próprias dos nascidos no Arquipélago dos Açores e açordescendentes.
A Açorianidade Bonjesuense tem início em nosso município a partir de seus primórdios. Entre 1860 e 1862, Antônio Teixeira de Siqueira e Francisco José Borges instituíram a adoração do Divino Espírito Santo, característica açoriana da qual se originou nossa tradicional Festa de Agosto.
No dia 18 de junho de 1899, com a chegada do açoriano Padre Antônio Francisco de Mello, um Gênio da Civilização e da Cultura, oriundo da ilha de São Miguel, a Açorianidade se expande na arquitetura, na fachada da Igreja Matriz, no Castelinho, na Capela do Monte Calvário e outros prédios históricos que tiveram o açoriano José Seródio como proprietário.
A música açoriana se incorporou à cultura bonjesuense com a inserção, por parte de Padre Mello, do hino composto por Padre Delgado, também da ilha de São Miguel, à Festa do Divino Espírito Santo. Aqui o canto passou a se chamar "Hino da Alva Pomba", com uma cadência mais lenta da cantada na pátria açoriana. Na culinária, o "Pão do Padre" é nossa tradição iniciada pelas mãos açorianas de dona Maria Cândida e Maria Júlia de Mello, a Mariquinha, irmã de Padre Mello, que passaram a vendê-lo à tarde, como meio de obter recursos para a construção da Igreja Matriz.
A Açorianidade Bonjesuense pode ser constatada também na literatura. Gerações de autores e poetas foram formados por Padre Mello, patrono da cadeira nº 8 da Academia Bonjesuense de Letras. Para exemplificar, trago à colação as duas últimas estrofes do soneto intitulado "Padre Mello", de autoria de Athos Fernandes, um dos fundadores da Academia Bonjesuense de Letras, juntamente com o Dr Ayrthon Borges Seródio, outro pupilo do pároco açoriano:
"Recebeu-me o velho, o sacerdote-artista.
Poliu meu estro inculto, abriu-me da alma a vista
em novas dimensões na língua portuguesa...
Pela vida exemplar do vigário e do esteta,
não sei qual o maior: se o padre, se o poeta,
entre os cultos a Deus e os cultos à beleza".
Outro importante testemunho é o de um dos grandes intelectuais do Brasil, Octacilio de Aquino, patrono da cadeira nº 25 da Academia Bonjesuense de Letras. Em memorável texto onde discorre sobre sua trajetória cultural, Octacilio reproduz os termos de uma carta recebida do pároco açoriano, no dia 6 de dezembro de 1916, data de seu aniversário:
"Na dupla qualidade de sacerdote que lhe conferi há quase quinze anos a graça do batismo pela qual entrou no grêmio da nossa cristandade, e na de mais ou menos lidador no campo das letras, em que ainda por assim dizer na infância deu ingresso o jovem aniversariante, não tenho sido indiferente ao progresso rapidamente efetuado em seus estudos, antes me alegrei sempre, como ora testemunho, com os largos passos que levam o jovem poeta à glória, e me julgarei feliz se Deus me der ainda muitos anos de vida para com os meus olhos contemplar o seu belo porvir, trilhando sempre o caminho da verdade, da honra e do bem. São estes os votos que formulo rapidamente ao partir para uma excursão de meu ministério paroquial. Do seu amigo e admirador Padre Antônio Francisco de Mello. Aos 6 de dezembro de 1915".
Delton de Mattos, professor da Universidade de Heidelberg (Alemanha) e da Universidade de São Paulo, foi quem cunhou a referência a Padre Mello como "Gênio da Civilização e da Cultura". Ele editou o livro "Padre Mello, Prosa e Verso, Páginas Memoráveis de Bom Jesus do Itabapoana". Foi membro da cadeira nº 33 da Academia Bonjesuense de Letras, e consignou:
"Leiamos pois, em primeiro lugar, as páginas mais importantes escritas por Padre Mello como historiador e notável estilista, às vezes enriquecidos pela influência indelével dos clássicos portugueses, sem prejuízo da expressão peculiar e enriquecedora dos falares bonjesuenses".
Elcio Xavier, o Príncipe dos Poetas, saudoso membro da Academia Bonjesuense de Letras, que ocupou a cadeira nº 24, escreveu uma importante memória sobre o padre açoriano:
"Certa vez, já no ginasial, procurei Padre Mello e lhe pedi um artigo para o jornalzinho que fundáramos no colégio, uma escola de um protestante, o competentíssimo Professor Orlando. Recebeu-me com aquele jeito tranquilo, indagou do nosso propósito e ordenou que o procurasse na manhã seguinte. E, de fato, duas laudas sobre “QUE” nos aguardavam, além do sorriso puro e um abraço que ainda me comove. Padre Mello era um verdadeiro homem de Deus, um ecumênico, pleno de saber e amor ...”
Napoleão Teixeira, outro vulto da literatura nacional, que ocupou a cadeira nº 13 da Academia Bonjesuense de Letras, salientou sobre Padre Mello, em agosto de 1969:
"Sejam quantos forem os anos que ainda me restem, jamais olvidarei nossas longas conversas - eu, adolescente; ele, meu mestre de latim - sobre as conquistas grandes que o homem viria ainda a realizar, no campo da ciência ".
Romeu Couto, renomado escritor e membro da cadeira nº 7 da Academia Bonjesuense de Letras, registrou:
"Não há entre os que conheceram o Padre Mello, quem, além de fazer justiça às suas qualidades e virtudes de sacerdote, deixe de salientar os méritos do poeta e do homem de ação que nele coexistiam. O Padre Mello sem dúvida reunia todos esses predicados, mas creio que a presença do poeta, o toque de poesia é que marcava todos os seus atos ".
Osório Carneiro, fundador do jornal "A Voz do Povo", patrono da cadeira nº 29 da Academia Bonjesuense de Letras, assinalou:
"Orador dos mais felizes, poeta de fina sensibilidade e técnica. Escritor apurado, matemático exímio, são inumeráveis as provas do seu talento, de que são mostras vários opúsculos e páginas dos jornais em que aqui, como em Campos, constantemente colabora".
O 1º jornal de Bom Jesus, "Itabapoana", passou a circular no dia 1º de agosto de 1906. Padre Mello foi um ativo colaborador não só dessa publicação, mas como de todos os jornais que se seguiram em Bom Jesus, e que constam do rico acervo do Espaço Cultural Luciano Bastos. São eles:
Itabapoana. 1ª fase: 1906-1907, 2ª fase: 1911-1916, 3ª fase: 1918
Correio Popular: 1916-1917
Nossa Terra: 1924-1925
A Cidade: 1925
A Parochia: 1925
O Liberal: 1926-1927
Bom Jesus Jornal: 1928
O Norte: 1928
A Voz do Povo: 1930 e 1940/1960
O Momento: 1932-1938
O Boletim: 1939
Meu Campinho: 1940
Bom Jesus conta atualmente, em sua Academia Bonjesuense de Letras, com vários açordescendentes, além de outro ilustre açoriano, Francisco Amaro Borba Gonçalves, oriundo da ilha Terceira. Francisco Gonçalves segue os extraordinários rumos de seu conterrâneo Padre Mello, compondo poesias e prosa de relevo, além de ser exímio compositor e cantor.
A Açorianidade Literária Bonjesuense se estabeleceu a partir de nosso fabuloso passado, vige altaneira e se projeta altiva para a construção dos grandiosos caminhos do amanhã, pois "é na memória que outra vida hiberna" (Vitorino Nemésio).
O açoriano Padre Antônio Francisco de Mello: um Gênio da Civilização e da Cultura |
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
A Busca de Ebendinger
Maria Aparecida Borges Ebendinger autorizou O Norte Fluminense a inserir a música "A Busca" no CD da Coleção Músicas Bonjesuenses, na antiga Panificadora Borges |
Nascida em Bom Jesus do Itabapoana no dia 24/02/1952, filha de Luiz Rolando Ebendinger Ferreira, oriundo de Minas Gerais, e Maria da Penha Borges Ebendinger, originária da Barra do Pirapetinga, em nosso município, Maria Aparecida Borges Ebendinger foi compositora de dezenas de músicas "quase todas elas perdidas, uma vez que as gravações que fiz, em fitas k-7, especialmente na década de 1970, desapareceram", afirmou em entrevista exclusiva para o JONF (Jornal O Norte Fluminense).
Seus avós são os mineiros Olga Ebendinger Ferreira e Elisier Ferreira. Olga foi professora, na escola da Barra do Pirapetinga, dos governadores Roberto e Badger Silveira, além do médico e poeta dr. Ayrthon Borges Seródio. Olga e Elisier tiveram três filhos: Paris, Renato e Luís Rolando.
Ebendinger tinha três irmãos: Fausto, Rubens e Renato, falecido. Cursou o ginásio, o científico e o contabilidade no Colégio Rio Branco. Posteriormente, entrou no serviço público, onde se aposentou.
Ebendinger disse que "todas as músicas que iam ser apresentadas nos Festivais de Música, na época, tinham de ser enviadas para Campos dos Goytacazes (RJ), onde o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), censurava as canções que pudessem ter conteúdo contrário ao regime militar".
Continuou ela: "certa vez, quando eu resolvi organizar um Festival, um agente do DOPS afirmou que eu não realizaria o evento. Eu respondi que iria realizar sim. O fato é que, no dia do Festival, "cortaram" a energia no campo do Olympico, que só retornou às 5 h do dia seguinte. Recordo-me que o 1º Festival organizado em Bom Jesus ocorreu no Cinema localizado no Prédio do Monte Líbano. O 2º foi realizado no salão do Grupo Escolar Pereira Passos, enquanto o 3º foi realizado no estádio do Olympico FC. O 4º foi organizado por mim."
Ebendinger conta que, por dois anos, fez teste para ver ser tinha vocação para ser freira: " Estive no Paraná e em Niterói na Congregação Felicianas, ligada aos Franciscanos. Eu atuava com crianças e compus a canção "A Sementinha", que gosto muito, para ser cantada na missa".
A SEMENTINHA
Se você não chorou
Não sabe o que é um sorriso
Você nasceu
Você brotou
Mas não cresceu
Porém, você é gente
E sabe que a vida é diferente
A vida é como a gente é ou quer
Faça, então, uma oração
Adube assim seu coração
Onde tudo e todos crescerão.
Maria Aparecida Borges Ebendinger, em sua juventude |
Outra canção lembrada por Ebendiger se chama OBSESSÃO.
OBSESSÃO
Não quero saber
Se já não é outrora
Não quero entender
Pra que ir embora
Eu quero encontrar a minha própria aurora
Ver nascer o dia
Sem sabe a hora
E se algum dia
Faltar a alegria
Uso a fantasia
Escondo no canto
O pranto, a covardia
De dizer o que me impede de partir.
Tinto de palhaço
Cada rosto
Onde corria a nostalgia
Alegro a tristeza
Mas quem é capaz
De entristecer a minha alegria
Em cada poesia
Eu vou viver
De cada melancolia
Eu vou fazer canção de adormecer
Para esquecer a dor
Que a tantos fez morrer.
Segundo Ebendinger, "recordo-me que formamos, certa vez, um grupo musical chamado ELES SÃO 7, com nove integrantes, entre os quais Luís Fernando, que interpretou "A Busca", Renato, José Enes e outros".
Com febre remática desde os 18 anos de idade, com problemas de coração e passando a ter depressão após a morte de sua mãe, em 1999, Ebendinger viveu sozinha. Após passar por operações na vesícula e hérnia, e ter que passar por mais outra, ela disse que "me sinto feliz em saber que minha música vai ser gravada. Assim, vou poder deixar algo para os outros", diz, com olhar triste.
A BUSCA
Maria Aparecida Borges Ebendinger
Quero buscar na vida a minha vida
Buscar no amor a fé perdida
Buscar na dor a liberdade
Eu, eu sempre quis saber por que
O dia finda todo dia
À mesma hora
Deixando a noite em seu lugar.
Porém ninguém
Sabia me dizer por que
E eu queria tanto saber
Das coisas tão distantes de mim
E um dia
Quando olhei pra mim
E me perguntei
Quem sou eu
Não sei
Maria Aparecida Borges Ebendinger: uma grande compositora bonjesuense |
Os 29 anos do ILAC
Rubens Soares, presidente do ILAC |
No dia 09 de dezembro de 1995, foi fundado o ILAC (Instituto de Letras e Artes de Carabuçu), sendo presidido, desde então, por Rubens Soares. A entidade contou, desde o início, com o apoio da proeminente Drª Nísia Campos, presidente do ILA (Instituto de Letras e Artes Dr José Ronaldo do Canto Cyrillo).
O JONF (Jornal O Norte Fluminense) parabeniza o ILAC pela passagem de mais um ano de existência.