quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Onde flores brotam da dor: Isabel Menezes e a eternidade de Ana na III FLICbonjê




Na Praça Governador Portela, o tempo suspendeu seu curso. Foi quando Isabel Cristina Menezes Degli Esposti abriu seu livro como quem abre um relicário — e de suas páginas, não vieram apenas palavras, mas perfumes, memórias, lágrimas e fé.

Varre-Sai, terra dos italianos, do café, de vinho de jabuticaba e de corações que não esquecem, trouxe sua guardiã maior à III FLICbonjê (Feira Literária e Cultural de Bom Jesus do Itabapoana). Isabel Menezes, historiadora, escritora, alma varresaiense, lançou ali mais uma obra — A Cruz da Ana, Não é Conto, é Verdade. E não foi apenas um lançamento. Foi um ato de ressurreição.

Ana de Jesus, jovem morena de cabelos longos, assassinada por não ceder, por dizer “não”, por ser livre. Morta com dois tiros. Mutilada. Ocultada. E, ainda assim, transformada em flor, em mina, em fé viva. Onde jogaram o corpo, a terra respondeu com perfume e água. E é assim que os lugares se tornam sagrados: quando a injustiça se ajoelha diante da resistência.

Isabel reconta — não como quem narra, mas como quem vela e revela. Sua escrita é feita de silêncios e ecos. De vozes que vêm das pedras, das rezas, dos pés descalços que sobem até a Cruz da Ana no dia 3 de maio, em romaria. Ao lançar sua obra, acrescida de relatos, de lembranças, de fé renovada, ela não apenas oferece um livro: oferece um altar de papel.

José Francisco Melo Laurindo, historiador de Bom Jesus, estava lá. E seu olhar encontrou o dela — e, entre eles, assentadas sobre a mesa, estavam também as páginas do jornal O Norte Fluminense, que guardam tantas passagens dessa história. Seu testemunho, sobre a devoção de sua mãe, dona Jovenília, é ponte entre gerações. Promessa que atravessa o tempo. Fé que persiste.

Foi um momento simples — e, por isso, sagrado. Como se Ana estivesse presente, entre velas invisíveis e águas que ainda curam. Como se cada letra escrita por Isabel fosse gota de mina — milagrosa, permanente, eterna.

Na III FLICbonjê, houve aplausos, sorrisos, livros. Mas houve também um instante em que tudo parou. E no centro daquele silêncio perfumado, Ana de Jesus se fez presente. Isabel Menezes, com mãos de historiadora e coração de filha da terra, devolveu-lhe a voz, a dignidade, a eternidade.

Não, não é conto.
É verdade.
E é por isso que permanece.








2 comentários:

  1. "Mamãe era devota de Ana. Se estivesse viva, teria ficado feliz de ver sua Devoção. Virou até um livro" ( Ana Carolina, por whatsapp)

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