Tarcísio Borges
Procurar
emprego com profissionalismo. Ou prestar concursos. As tentativas laborais de
Órfão de Pai e Mãe e Parteira e Vizinhança sempre foram nesta direção, tendo em
vista a independência. Por último, a estratégia não vinha dando certo.
Na
última ocasião em que esteve no mercado (eufemismo irônico do Pessoal para
desemprego), Órfão resolveu inovar, e foi pedir socorro aos aparentados.
Procurava o outrora chamado pistolão.
“Talvez tenha sido promovido a fuzil, desses que atiram embaixo da água e sob
as areias. Rico ele ficou” – pensou Órfão.
O
candidato foi bem recebido, pelo menos nas palavras e no espalhafato do Fuzil.
Era um tal de parente para cá, primo para lá, “Você se lembra do meu pai?”,
“Que bom lhe ver!” e outras afinidades instantâneas – coisas
que só os parentes são capazes, gente de confiança, estribada na convivência,
lastreada nos antepassados. Teve água e café. O convite para o almoço foi
negligenciado (Órfão notou. Deixou passar a distinção
sem maiores considerações).
Daí,
como foi negociado, passado longo tempo (para cozinhar o galo o bom mesmo é o
fogão de lenha), saiu a contratação.
O
resultado? Calma, leitor! Não provoque um cisma na família de Órfão de Pai e
Mãe. O coitado não tem a quem recorrer. Pode ficar outra vez fora do mercado
(assim devia ser a fala do Pessoal de Recursos), morar de favor, pendurar a
conta no botequim, passar o dia todo lendo na biblioteca (único local que o
receberá com satisfação).
Melhor
ir direto à conclusão, nas palavras do próprio Órfão: “Nestes tempos e em todos
os outros, procure emprego com estranhos, ou através de concursos públicos. A
terceirização da atividade lhe trará prejuízos diversos. Desconhecidos lhe
tratarão com mais respeito. Com sorte, encontrará profissionalismo. Abaixo a
terceirização!”.
Tarcísio Borges, nascido em Bom Jesus do Itabapoana (RJ), é médico e escritor
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