Tarcísio Borges
A
receita é antiga, e vem fazendo efeito. Pode ser resumida: colonizadores matam
e desmatam, plantadores de alguma coisa vêm logo atrás e exaurem a terra,
criadores de gado completam a devastação.
Da
primeira parte do processo é difícil encontrar os descendentes. Conhecemos
apenas uma pessoa que garantiu ser neta de matadores de indígenas. Das outras
etapas, temos vários e ilustres
representantes, com arbustos genealógicos comprovando a arruinação.
Daí vem a carência onomástica. Destruidores são pouco
criativos, conforme demonstra o passado. Decidem homenagear os povos
eliminados, e saem por aí batizando com nomes que não conhecem.
Da
Língua Geral, proibida pelos reacionários, Vieira imprecava, benzendo por
antecipação os proibidores. Talvez o Boca do Inferno tenha pregação semelhante.
E
o leitor cresce ouvindo coisas erradas, repetidas por gerações de expertos(alguns defendem o erro de
maneira agressiva).
Segundo
o relato do escritor e ilustrador – autor de inúmeros livros infantis
publicados por editoras tradicionais –, YaguarêYamãAripunãguá, indígena
Maraguá, falante de Tupi, professor graduado em Geografia, a etimologia correta
é i = rio; taba = aldeia; poana =
redonda. Portanto, aldeia redonda do rio, ou, menos provável, rio da aldeia
redonda.
E
a venerada ita? Repare, leitor: o
nome não é ItaTaba...; o nome é ITaba... Você foi criado falando Tupi? Nem eu.
Não podemos pretender ensinar o nosso desconhecimento aos falantes da língua
que ignoramos. Para facilitar, imagine-se discordando do russo de algum professor
nascido em Riazan ou Kaluga.
Além
disso, é melhor concentrar o esforço de esclarecimento. Dispersar para
confundir é arma suja dos que fazem o jogo do poder, antipático e desagregador.
Não é o seu caso, amável leitor.
Agora,
é ouvir os oponentes – entre os quais não faltam linguistas sem domínio de quaisquer idiomas. Lembrando: não vale
dedo no olho, nem xingar a mãe, nem desprezar a reserva legal.
Tarcísio Borges, nascido em Bom Jesus do Itabapoana, é médico e escritor
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