segunda-feira, 1 de junho de 2015

I(rio)Taba(aldeia)Poana(redonda)



                                                                                    Tarcísio Borges



A receita é antiga, e vem fazendo efeito. Pode ser resumida: colonizadores matam e desmatam, plantadores de alguma coisa vêm logo atrás e exaurem a terra, criadores de gado completam a devastação.

Da primeira parte do processo é difícil encontrar os descendentes. Conhecemos apenas uma pessoa que garantiu ser neta de matadores de indígenas. Das outras etapas, temos vários e ilustres representantes, com arbustos genealógicos comprovando a arruinação.

Daí vem a carência onomástica. Destruidores são pouco criativos, conforme demonstra o passado. Decidem homenagear os povos eliminados, e saem por aí batizando com nomes que não conhecem.

Da Língua Geral, proibida pelos reacionários, Vieira imprecava, benzendo por antecipação os proibidores. Talvez o Boca do Inferno tenha pregação semelhante.

E o leitor cresce ouvindo coisas erradas, repetidas por gerações de expertos(alguns defendem o erro de maneira agressiva).

Segundo o relato do escritor e ilustrador – autor de inúmeros livros infantis publicados por editoras tradicionais –, YaguarêYamãAripunãguá, indígena Maraguá, falante de Tupi, professor graduado em Geografia, a etimologia correta é i = rio; taba = aldeia; poana = redonda. Portanto, aldeia redonda do rio, ou, menos provável, rio da aldeia redonda.

E a venerada ita? Repare, leitor: o nome não é ItaTaba...; o nome é ITaba... Você foi criado falando Tupi? Nem eu. Não podemos pretender ensinar o nosso desconhecimento aos falantes da língua que ignoramos. Para facilitar, imagine-se discordando do russo de algum professor nascido em Riazan ou Kaluga.

Além disso, é melhor concentrar o esforço de esclarecimento. Dispersar para confundir é arma suja dos que fazem o jogo do poder, antipático e desagregador. Não é o seu caso, amável leitor.

Agora, é ouvir os oponentes – entre os quais não faltam linguistas sem domínio de quaisquer idiomas. Lembrando: não vale dedo no olho, nem xingar a mãe, nem desprezar a reserva legal.
 
Tarcísio Borges, nascido em Bom Jesus do Itabapoana, é médico e escritor

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