Dr. Ayrthon Borges Seródio revolucionou as letras bonjesuenses |
Hoje, o consagrado e saudoso poeta bonjesuense, dr. Ayrthon Borges Seródio, um dos gênios de nossa literatura, estaria aniversariando. Ele revolucionou as letras bonjesuenses quando exerceu a presidência do Conselho Municipal de Cultura de Bom Jesus do Itabapoana por 35 anos. Na época, publicou obras de diversos poetas bonjesuenses, além editar cerca de 24 livros, a maioria de sonetos alexandrinos.
Alunos do Centro Educacional Santa Rita de Cássia homenagearam o poeta bonjesuense Dr. Ayrthon Borges Seródio |
Em 2016, duas turmas da 7ª Série do Centro Educacional Santa Rita de Cássia estiveram pela manhã, na Biblioteca do Espaço Cultural Luciano Bastos, capitaneadas pelo professor Márcio Henrique Moraes Coque, de Língua Portuguesa e Literatura, e por Camila Decimoni Taliuli, professora de Inglês, para homenagear o mestre.
Professor Marcelo Henrique Moraes Coque |
O professor de Língua Portuguesa e Literatura, Marcelo Henrique Moraes Coque, declamou a poesia "NO TÚMULO DO MEU PAI" inserta no livro lançado pela Editora O Norte Fluminense em 2013, que englobou suas obras "A SEARA DO VENTO" e "O SACRIFÍCIO INÚTIL".
Editora O Norte Fluminense relançou "A Seara do Vento e O Sacrifício Inútil" em 2013 |
NO TÚMULO DO MEU PAI
Roubado cedo ainda, em hora imprópria à vida
Qual ave na procela arrebatada ao ninho,
Partiu meu pai deixando em seu caminho
A mágoa sem remédio, e a queixa mais dorida.
Qual árvore frondosa, a muitos deu guarida,
E um amigo jamais deixou sofrer sozinho.
Honesto, humilde e bom, e farto de carinho,
Um exemplo a seguir em meio a nossa lida.
Cumprindo um ritual, desejo mortuário,
Como da vez passada eu volto ao sepulcrário,
Uma ilha de paz onde impera a igualdade.
Contrito na mudez e presa da amargura,
Vejo através da campa, em sua sepultura,
Um punhado de cinzas... E uma eterna saudade!...
ALUNOS DECLAMARAM POESIAS DO MESTRE DO SONETO ALEXANDRINO
Poesia foi dedicada ao aniversário do Centro Educacional Santa Rita de Cássia |
Ao final, a aluna Tainara Batista de Freitas, portadora de deficiência visual, fez bela apresentação musical ao piano |
DR. AYRTHON BORGES SERÓDIO
Dr. Ayrthon Borges Seródio |
Dr. Ayrthon Borges Seródio nasceu no dia 21/05/29, na Barra do Pirapetinga, distrito de Bom Jesus do Itabapoana.
Seu pai, Oliveiro Vieira Seródio, era proprietário rural e comerciante e sua mãe, Maria José Borges, "do lar". Em sua família não houve pessoas que o influenciaram no gosto pela literatura. No entanto, o fato é que desde os 13 anos de idade escrevia e declamava poesias.
Aprendeu a ler na Fazenda da Barra e como não tinha acesso a livros, iniciou a arte da leitura através da Bíblia que sua mãe possuía. Posteriormente, passou a adquirir obras de literatura que eram vendidas por Esio Bastos na Gráfica Gutenberg.
Durante a infância estudou com Olga Ebendinger, na Barra. Depois, foi aluno de Amália Teixeira, cuja escola funcionava na parte alta do prédio da Praça que hoje tem o seu nome - "na parte baixa funcionava a alfaiataria de Melhim Chalhoub". Foi aluno ainda de Orlando Azevedo, no Instituto Euclides da Cunha, "localizado na rua do cemitério".
Quando jovem, foi amigo de Athos Fernandes, que era redator de A VOZ DO POVO, e também de Osório Carneiro, o diretor do jornal. "Tratrei de Osório até sua morte", exclama Dr. Ayrthon. Com Athos Fernandes, recorda-se que passou a conviver com o poeta "desde quando ele mudou-se para Bom Jesus". Diz ele: "Toda a noite, eu, Athos e Otacílio de Aquino íamos para a praça Governador Portela e declamávamos poesia até às 23h". "Eu tinha 15 anos idade na época, e declamávamos poesias de autores nacionais, estrangeiros e locais". Na época, "os homens rodeavam a Praça por um lado, enquanto as mulheres rodeavam a mesma no sentido contrario". Observou, contudo que "quando moças bonitas passavam, os mestres entoavam as poesias com mais inspiração".
"Eu tinha um ano de idade quando Osório Carneiro fundou A VOZ DO POVO". Ele, assim como Athos Fernandes e Otacílio de Aquino foram as pessoas que influenciaram dr. Ayrthon na poesia. "Foi com eles que eu aprendi a fazer poesia parnasiana com versos alexandrinos".
Dr. Ayrthon estudou também no Colégio Rio Branco e se recorda da Dona Carmita, "austera, mas excelente diretora". Recorda-se ainda do diretor Olívio Bastos e do Chefe de Disciplina, "seu" Rozendo, que "era muito rigoroso". Nunca teve qualquer problema com os educadores. Estudou ainda no Colégio Municipal de Muqui (ES).
Foi, posteriormente, estudar Medicina na UFF (Universidade Federal Fluminense) em Niterói, ocasião em que lecionou no Colégio Santo Antônio, no Bairro Ponto Cem Réis, no Colégio Nilo Pessanha e no Colégio do Barreto. Formou-se médico em 1953, e tendo em vista o conhecimento e as qualidades que o distinguiram dos demais formandos, tornou-se Professor Assistente de Pediatria e Puericultura na própria UFF durante dois anos.
Atuou como médico em Nova Esperança, no Paraná, em 1954, exercendo igualmente o magistério naquele município. Posteriormente, atuou como médico em Anápolis (GO), em 1958, em São José do Rio Preto (SP), no ano de 1959, e em Juiz de Fora (MG), em 1960. Retornou a Bom Jesus em 1964. Recorda-se que o Golpe Militar ocorreu quando ele estava na estrada, "vindo de mudança para Bom Jesus".
Aqui, além de médico, foi professor do Colégio Padre Mello por dois anos.
Exerceu, por muitos anos, a direção da Clínica de Repouso Itabapoana, desde quando a mesma foi fundada na data de 31/03/1976. Especializou-se em Psiquiatria, Cardiologia, Clínica Médica, Erros na Medicina, Pediatria, Puericultura e Eletrocardiografia.
Além de expoente na medicina, consagrou-se como gênio da cultura, fundando diversas Academias de Letras. A Academia Bonjesuense de Letras foi fundada por ele, juntamente com Athos Fernandes e Otacílio de Aquino, sendo presidente da entidade por mais de 20 anos. Fundou o Instituto de Letras e Artes "Dr. José Ronaldo do Canto Cyrillo" (ILA), juntamente com a dra. Nísia Campos, e o Instituto de Letras e Artes de Carabuçu (ILAC) com o dr. Rubens Soares Oliveira. A Academia Calçadense de Letras foi também fundada por ele, juntamente com Edson Lobo, enquanto a Academia Itaperunense de Letras fundada pela Professora Flor Malta Carpi teve seu apoio.
Exerceu a presidência do Conselho Municipal de Cultura de Bom Jesus do Itabapoana por 35 anos, com extensa relação de serviços prestados à cultura no município.
Publicou cerca de 24 (vinte e quatro) livros, que foram levados para várias partes do mundo ("Já levaram livros meus até para Jerusalém") e, como presidente do Conselho Municipal de Cultura, patrocinou a publicação de inúmeros livros de diversos escritores.
Dr. Ayrthon não tem preferência por alguma das poesias que escreveu, mas se recorda, com humor, de um episódio que foi retratado em um de seus versos: "há um poema falando sobre o Colégio Rio Branco. Foi dedicado a seu pai, que o publicou antes de morrer". Continua ele: "Neste soneto, refiro-me a um fato que ocorreu durante um desfile do educandário, na praça Governador Portela, com cerca de trezentos alunos. A esposa de uma pessoa conhecida exclamou, na época, para o marido: 'veja, meu amor, nosso filho é o único que está com o passo certo!' ".
Possui uma contrariedade: "hoje deixou de haver poesia, no meu modo de entender". Continua ele: "hoje, a literatura está uma porcaria. Há poucos valores. A poesia foi desvalorizada. Não há rima, não há métrica, não há conteúdo", desabafa.
Em entrevista ao jornal O Norte Fluminense, há cerca de oito anos, dr. Ayrthon Seródio informou que não escrevia mais. Uma doença impediu a coordenação de sua mão. "Fui acometido da Síndrome Neurológica de Dengue, que me impede de escrever. Tenho dormência nas mãos, assim como nas pernas".
Não obstante isso, dr. Ayrthon afirmou se sentir realizado, tanto na área da literatura ("já escrevi muito"), como médico. Um desejo que teria é o de ver a Academia Bonjesuense de Letras retornando suas atividades, uma vez que está desativada há vários anos.
São dois os filhos: Frederico, engenheiro, e Leonardo, também engenheiro, que reside em Boston (EUA) como "chefe de engenheiros de alto nível da empresa Arbor". São dois, também, os netos: Rebeca e Leonardo.
A mão que viveu para salvar vidas e que semeou cultura por onde passou, ficou, repentinamente, impossibilitada de atuar.
A mão do dr. Ayrthon, contudo, continuou plenamente ativa através das mãos dos médicos que ajudou a formar e através das mãos dos novos poetas que surgiram inspirados em sua obra.
A mão do gênio da Barra é imortal.
LIVROS ESCRITOS POR DR. AYRTHON BORGES SERÓDIO
1. Os Problemas Médico-Sanitários da Infância - 1958;
2. Anemias Ferroprivas da Infância - 1967;
3. Contribuição ao Estudo da Etiopatogenia e do Tratamento da Distrofia da Infância - 1962;
4. Antologia dos Poetas Bonjesuenses - Sonetos, 1976;
5. A Seara do Vento - Sonetos, 1977;
6. O Sacrifício Inútil - Sonetos, 1994;
7. A Figueira Assombrada - Sonetos, 1997;
8. O Estouro da Boiada - Sonetos, 1997;
9. À Sombra dos Ipês - Sonetos, 1998;
10. A Volta ao Passado - Sonetos, 1998;
11. A Festa de São João - Sonetos, 1999;
12. Menino de Rua - Sonetos, 1999;
13. O Filho Pródigo - Sonetos, 2000;
14. O Flagelo da Seca - Sonetos, 2000;
15. O Último Zumbi - Sonetos, 2001;
16. O Cheiro da Terra - Sonetos, 2001;
17. O Parque de Diversões - Sonetos, 2002;
18. O Último Adeus - Sonetos, 2003;
19. A Imagem do Inverno - Sonetos, 2003;
20. A Curva do Caminho - Sonetos, 2004;
21. A Eterna Primavera - Sonetos, 2004;
22. A Saga do Verão - Sonetos, 2005;
23. Eu e Tu (poesias);
24. Eu Estava Perdido (poesias).
SONETO
Academia Bonjesuense de Letras
No jubileu de prata a nossa Academia,
Que desde a fundação sempre foi atuante,
Revela com fervor, de forma relevante,
Nossa intensa criação na prosa ou na poesia.
No encontro semanal, presente a fidalguia,
Onde sempre a cultura é tema dominante,
Cada colega exibe a mostra edificante
De nova produção a toda a confraria.
Numa sessão solene empossando alguns membros,
A música e a poesia, em recital, relembro,
Bem como a saudação num discurso erudito.
E sendo um fundador, vinte anos presidente,
Orgulho que eu sinto é constante e crescente,
E exulto por nascer neste torrão bendito.
(do livro "O Cheiro da Terra")
(PUBLICADA NA EDIÇÃO DE 12 DE NOVEMBRO DE 2011)
DR. AYRTHON BORGES SERÓDIO VIVE!
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