domingo, 21 de maio de 2023

Os causos do Gilberto Figueiredo

 

Gilberto Figueiredo inicia, hoje, seus causos no jornal O Norte Fluminense 


Nesta edição, o jornal O Norte Fluminense passa a publicar os Causos de Gilberto Figueiredo. Há anos, publicamos também causos de seu irmão, o saudoso Gauthier Figueiredo.


O Caixão  


Sebastião Pimentel Marques, irmão do Dr Ruy Pimentel Marques, médico, de João Marques, proprietário, do Desembargador José Pimentel Marques, e de Silvia Marques, esposa de Antônio Carlos Pereira Pinto, era proprietário em São José do Calçado/ES e morava lá. Gostava de futebol e movimentava o esporte, chegando a trazer o Vasco da Gama para jogar no município capixaba.

Ele também tinha laços com Bom Jesus do Itabapoana. Era meio boêmio e chegou a ser presidente da Lira Operária Bonjesuense.

Certa vez, em 1965, Sebastião Marques adoeceu e necessitou passar por uma cirurgia cardíaca. A família contratou, em São Paulo, o famoso médico dr Zerbini, o primeiro a realizar um transplante de coração no país. 

Eu, por trabalhar na Distribuidora Uniao Ltda, que transportava carros Willys, de São Paulo, a pedido do Santinho Marques, pai do Sebastião, fui levar a família até São Paulo e lá ficar o tempo necessário para o seu tratamento.

O caso era grave e ele ficou no Hospital das Clínicas. Ficou internado por uma semana. Nesse período, eu levava a família para o hospital e para o almoço.  Sebastião foi operado, mas, infelizmente, não resistiu e veio a óbito, no dia 30 de abril de 1965, cerca de um a dois dias após a cirurgia. 

Como consequência do óbito de Sebastião, o Hospital determinou que ele fosse sepultado em São Paulo, colocando-o num carro funerário. Essa situação desagradou a todos, naturalmente, pois o correto era liberar o corpo para ser sepultado na terra natal de Sebastião. Cheguei a ir à sede do governo de São Paulo, procurando o governador Ademar de Barros, para tentar resolver a situação, mas o gestor não estava lá.

Fui, então, ao cemitério, onde havia uma fila de carros funerários que levavam os corpos para os sepultamentos. Um funcionário anunciava: "Óbito de fulano de tal, Capela tal, por 15 minutos". Havia uma cabine fiscal em que se entregava o documento do óbito e, em seguida, era autorizado que o carro adentrasse até à capela. Eram vários os funcionários do hospital que tinham de retornar ao nosocômio e entregar o documento carimbado.

O fato é que eu resolvi conversar com um motorista que aguardava sua vez. Expliquei a situação e ele me respondeu: "se fosse parente meu eu enterrava no lugar de origem. Tem um jeito". A partir de então, acompanhei o motorista, que conversou com um funcionário, que concordou em liberar o corpo.

Dobrei, então, o banco da Rural Willys, que ficou com uma inclinação similar a de uma cama, coloquei o caixão, e as malas foram colocadas sobre o ataúde.

Viajamos, de volta,  em uma comitiva de três carros. Noé Vargas integrava a mesma. A viagem durou a noite inteira. Quando chegamos em Bom Jesus, a Lira Operária e uma multidão nos esperavam, na altura do Pitucão.

Sebastião Pimentel Marques foi, finalmente, sepultado em São José do Calçado e, quando Noé Vargas passou a ser prefeito, a partir de 1974, tomou a iniciativa de homenageá-lo, dando seu nome a um bairro de Bom Jesus do Itabapoana.

 





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