domingo, 27 de julho de 2025

Cesta de Memórias e Flores

 


No coração verde e sossegado de Pirapetinga de Bom Jesus, o sábado acordou com cheiro de infância e páginas antigas. Era dia de 4ª Feira Literária — a FLiPir — e o tempo parecia ter dado um passo para trás, só para melhor contemplar o presente. No alpendre das lembranças, uma cesta de madeira rústica repousava como um relicário. Dentro dela, repousavam exemplares do jornal O Norte Fluminense, como se fossem aves antigas que ainda sabiam cantar.

Fundado por Ésio Martins Bastos em um 25 de dezembro — data de nascimento dos sonhos — o jornal, agora maduro e sábio, foi exposto entre flores, versos e memórias, como se sussurrasse à vila: “eu também sou parte de vocês.” Pirapetinga, berço de Iracema Seródio Boechat, cuja poesia guarda ecos dos Açores, recebia seu passado com carinho. Ao lado dela, na moldura do tempo, Norberto Seródio Boechat — médico e cronista dos silêncios e das risadas da vila — parecia ainda escrever, invisível, sobre a beirada da cesta e do Museu da Imagem que fundou junto com a irmã Maria Lúcia Seródio Boechat, a Lucinha, no dia 2 de dezembro de 1993.

Lauro Amaral, com seu bisturi e suas palavras, também pairava no ar. E Adalto Boechat Júnior, memorialista das raízes e dos abraços, dava forma ao dia, como quem costura rendas no tempo.

A UBT de Itaperuna trouxe trovadores — flores que falam — e suas trovas bordadas no banner. Jane Moreira Bauer, Marina Calarine, Lúcia Spadarotto, Gogó Pacheco, Luciana Pessanha Pires, Gorete Demétrio, María Mendes de Oliveira Santos e Bernadete Soares espalharam poesia como quem semeia alvoradas. O ar se fez de rima e de vento bom.

Dr Laércio Andrade, escritor e memorialista, também veio de Itaperuna, representando a ACIL (Academia Itaperunense de Letras), trazendo sua prosa e seus sonhos. Estiveram presentes, ainda, as escritoras convidadas Rita Côgo, que participou de todas as edições da Feira de Pirapetinga, e Vera Lúcia Moraes, de Guaçuí (ES).

O açoriano Francisco Amaro Borba Gonçalves, ao ver os frutos da terra que um dia receberam seus conterrâneos, encantou-se. Reconheceu nos rostos, nos traços, nos gestos, a semente do arquipélago, agora enraizada no solo suíço-colonial de Pirapetinga. Era um reencontro de oceanos.

A mestra de afeto e organização, Anizia Maria Pimentel, bordou o dia com firmeza e delicadeza. As mãos que distribuíam mudas de flores e frutíferas pareciam dizer: “Aqui, semeamos mais do que plantas — semeamos memória.”

E foi assim que o projeto Semear ganhou cor: a pista margeada de flores se tornou um poema de chão. Cada flor ali parecia uma letra que soletrava esperança. Cada olhar que percorria a estrada era um verso do novo amanhã.

No Cantinho dos Avós, montado com carinho por Adalto Boechat, xales, bengalas e cadeiras de balanço contavam histórias sem palavras. Era como se os avós sussurrassem do além: “Estamos aqui, na doçura do tempo que embala.”

E entre tudo isso, Adalto sorria. Seu artigo “A Troca de Nome”, publicado no jornal O Norte Fluminense, que cruzou o oceano até o Canadá, parecia responder à travessia das palavras: o que nasce com afeto nunca morre — apenas viaja. Deve ser registrado que o Desembargador Cláudio Brandão fez questão de estar presente ao momento memorável, ocasião em que fez um brilhante pronunciamento.

Houve até uma rifa de  bezerro. Lucinha era toda alegria: "O bezerro para a FLiPir foi doado por nossa família! Pasmem! O bezerro saiu para Moisés do Mercado, e quem comprou a rifa foi meu filho Agostinho Boechat Neto. Moisés é muito querido por nós! A 4ª FLiPir foi maravilhosa!".

De se aplaudir o incentivo e a mentalização dados às crianças, conjugado a um evento específico em relação à preservação do meio ambiente. Aplausos também à equipe organizadora composta por Lauro Amaral,, Lia Márcia Amaral,Lielma Amaral, Adalto Boechat, Anizia Maria e Olandim Sueth.

Em Pirapetinga, todos se orgulham das raízes açorianas e suíças, como a família Seródio Boechat, que instituiu o vibrante Museu da Imagem.

Na cesta rústica, o jornal O Norte Fluminense parecia descansar como um livro lido e relido, mas sempre novo. Ali, entre páginas e pétalas, a memória de Bom Jesus do Itabapoana floresceu — e Pirapetinga foi, por um instante eterno, o centro lírico do mundo.













































4 comentários:

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    1. Parabéns aos organizadores e à comunidade de Pirapetinga. Agradecemos à UBT, a todos os participantes e presentes e a este belo texto publicado pelo JONF

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  2. Parabéns aos organizadores e à comunidade de Pirapetinga. Agradecemos à UBT, a todos os participantes e presentes e a este belo texto publicado pelo JONF

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    1. Nós da UBT agradecemos imensamente a oportunidade e parabenizamos aos organizadores da belíssima FLiPir!

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