domingo, 27 de julho de 2025

Um Encontro de Memórias

 


No dia 26 de julho, o tempo fez uma pausa em Bom Jesus do Itabapoana. A cidade, emoldurada por seus silêncios antigos, recebeu com reverência o escritor Adison do Amaral — 92 anos, doze livros, alma palpitante e olhos que ainda colhem o mundo como quem colhe girassóis ao entardecer.

Acompanhado por seu filho Adison e a nora Denise, o poeta veio em busca de raízes. Procurava Rosal, não apenas o distrito, mas o eco do que foi e do que permanece. E foi guiado pelas mãos invisíveis da memória — mais precisamente, pelas de Sandra Nunes, neta do Capitão Anselmo Nunes, e filha de Francisco Nunes, o Sô Chiquinho, guardiã desse pequeno relicário de história, e pelas mãos do ativista cultural André Luiz de Oliveira — até Gino Martins Borges Bastos, memorialista de coração aceso.

O encontro se deu no Café Bistrô, um espaço onde o presente ainda dialoga com o passado. Ali, nas paredes que outrora ouviram os negócios do Sr. Altivo Casemiro de Campos, conversas agora se desdobravam em versos, lembranças e admiração.

Gino, diante do mestre Adison, era um menino diante de um farol. Seus olhos brilhavam — talvez pela emoção, talvez pela saudade do pai, Luciano Augusto Bastos, cuja presença parecia pairar no ar. Falou-se de Rosal, de tempos idos, de pessoas que ainda vivem nos gestos e nas palavras. E assim, entre memórias e cafés, a História se fez carne mais uma vez.

Após o almoço, os visitantes seguiram para a casa da Família Borges Bastos — onde badalar o sino é saudação e rito. Um quadro da artista plástica mineira de Rio Novo, Fânia Ramos, retratando o dia da Rebeldia Bonjesuense, ocorrida no século XIX, parecia observar em silêncio o que ali se vivia. Na sala dedicada ao açoriano oriundo da ilha de São Miguel, Padre Antônio Francisco de Mello, filho de camponeses que se tornou um gênio da civilização e da cultura, Gino recitou dois sonetos como quem reza: "Moribunda" e "Crianças". Depois, ao piano, entoou uma canção para Adison, ofertando-lhe não apenas a melodia, mas o coração inteiro.

Presentes foram trocados como se fossem relíquias: “Tributo a Brasília”, oferecido por Adison, foi retribuído com páginas da alma bonjesuense — dois livros contendo edições do jornal Itabapoana, o primeiro de Bom Jesus, editado a partir de 1º de agosto de 1906, Obras Selecionadas de Padre Mello, e exemplares do jornal O Norte Fluminense.

Na despedida, houve lágrimas que não caíram — ficaram nos olhos, suspensas, como as palavras que não precisam ser ditas. Porque Gino sabia, com a certeza que só os poetas têm, que Adison do Amaral, ainda que partisse, jamais deixaria sua vida.



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