segunda-feira, 17 de novembro de 2025

A Flor que Resiste ao Concreto


A Flor que Amanhece Entre Asfalto e Luz

A Flor-do-Guarujá, conhecida como Bom-Dia, desperta cedo, antes mesmo que o sol tenha decidido se vai brilhar com força ou apenas espreguiçar-se no horizonte. Abre-se devagar, como quem alonga os braços para saudar o dia, e oferece ao mundo seu perfume doce, quase um sussurro de alegria que se espalha pelos jardins sem pedir licença.

Nativa do Brasil, ela não se deixa limitar por estação alguma. É dessas presenças constantes, que florescem no calendário inteiro, como se carregassem um pequeno sol dentro de si. Nas pétalas brancas, amareladas no centro, há uma promessa silenciosa de leveza, uma pausa breve para quem a encontra no caminho e respira fundo, sem pressa, sem estresse.

Mas sua delicadeza engana. Essa flor conhece o peso da terra dura, da chuva que falha, do descaso das calçadas e dos terrenos baldios. Brota onde ninguém esperava: numa brecha de muro, na beirada poeirenta de um lote vazio, até no meio do asfalto. Suas sementes, pequenas rebeldes aladas, viajam ao sabor do vento e germinam onde lhes dá vontade. Turnera subulata, dizem os botânicos. Flor teimosa, diz a vida.

E é nesse gesto simples, nascer, que ela revela sua fortaleza. A flor que resiste ao concreto lembra que a vida também insiste, vinga, desabrocha no improvável. Não precisa de convites, cuidados especiais ou terrenos férteis. Ela se faz presente. Ela se faz possível.

Nada nela se dobra aos ruídos do mundo. Gritos, ameaças, chantagens… tudo isso se desfaz diante da serenidade de quem apenas cumpre sua natureza: ser flor. Ser luz. Ser abertura.

A Flor-do-Guarujá segue seu próprio caminho, guiada pelo vento e por uma coragem silenciosa. Não vive para agradar, nem para se encaixar. Vive para florescer, e, ao florescer, ensina que há uma beleza indomável em simplesmente existir.

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