sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

"Pirapetinga celebra um Natal cantado entre museu, praça e memória", por Adalto Boechat Júnior


Noite de Cantata começa no coreto da praça e transforma Pirapetinga em canção

Ontem, em Pirapetinga de Bom Jesus, o Natal chegou antes da meia-noite. Chegou andando devagar pela praça, espalhando luz pelos galhos das árvores, subindo as escadarias do coreto e tomando assento no coração de cada morador. A Cantata de Natal, este ano vestida com o tema “Um conto de Natal na terra da agropecuária”, transformou a vila numa história viva, dessas que não precisam de livro, porque já moram na memória de quem esteve lá.

A música não ficou parada no coreto. Fez-se caminho: tocou o museu, atravessou a fazenda, circulou a praça e ainda acompanhou o cortejo da serenata que descia do conjunto habitacional como um rio de vozes. A vila parecia respirar música.

E, entre tantas alegrias, duas cintilaram mais forte: dona Neuza, nossa anciã querida, que havia passado por dias difíceis e hoje chegou sorrindo; e Felipe, a nossa “criança grande”, que não deixou por nada de seguir a serenata com o entusiasmo de quem sabe que a vida é mais bonita quando se caminha cantando.

No presépio, ergueram-se vozes em agradecimento ao Menino Jesus: pelas colheitas fartas, pela chuva que alimentou o gado, por mais um ano do nosso Museu da Imagem, guardião das histórias de um povo que ri, chora e permanece de pé. O museu, aniversariante da noite, ganhou bolo, parabéns e a emoção de quem sabe que preservar memória é também um ato de fé.

Vieram de Bom Jesus os jovens músicos da Escola JEMAJ, de Anízia Maria Pimentel, abrilhantando o encontro. E chegaram também, com seus versos que atravessam cidades, os consagrados trovadores da União Brasileira de Trovadores, Seção Itaperuna: Antônio Rosélio Nunes Pacheco (Gogó Pacheco), Jane Moreira Bauer e Maria Lúcia Spadarotto. Uma grande honra para a nossa vila.

Os jovens músicos de Bom Jesus e os consagrados trovadores de Itaperuna fizeram da pequena Pirapetinga um ponto luminoso no mapa da cultura, privilégio raro, desses que só os lugares com alma conseguem receber.

Os seresteiros que cantaram pelas ruas foram até os acamados da Vilazinha do Pirapetinga. A cantata foi até eles.

A Vilazinha do Pirapitinga é a minha cidade-poesia, essa cidade que mora no diminutivo, mas sonha no superlativo. Ontem, estava especialmente bela. Vestiu-se de festa para acolher seus filhos: os que ficaram, os que partiram, os que vivem longe, mas deixaram o coração escondido em alguma esquina de terra batida.

Nada ali foi obra de uma só mão. Cada detalhe, cada canto, cada sorriso foi tecido por muitas pessoas, como uma colcha comunitária feita de boa vontade. Até a minha casa virou cenário de Casa do Papai Noel, e, naquele instante, não era apenas um lar, era parte da história.

O céu, cúmplice, acendeu fogos que coloriram a noite, encantando adultos e crianças. E, enquanto a festa acontecia, lembrei-me do menino que já fui, que sonhava em ser Papai Noel, mas achava que não daria conta de estar em tantos lugares à meia-noite. “Sou lerdo”, pensava. Mal sabia eu que a verdadeira magia não está na velocidade, mas na capacidade de tocar vidas, coisa que hoje se faz, letra por letra.

Dizem por aí que “antigamente os natais eram melhores”. Mas será? Ou será que deixamos de fazer o que tornava aqueles natais tão especiais? Talvez o segredo esteja justamente nisso: na coragem de reunir a vila, de cantar pelas ruas, de levar música aos acamados, de transformar noites comuns em noites inesquecíveis.

Se um dia o Papai Noel resolver voltar a Pirapetinga, não virá de trenó. Chegará montado num cavalo ou num carro de boi, porque aqui os caminhos pedem passo manso, pedem poeira levantada, pedem tempo de contemplar.

E quando tudo terminou, ainda havia espaço para as “saideiras”: os seresteiros sentados, cantando baixinho, como quem fecha o livro de um dia perfeito com páginas cheias de alegria.

Foi uma noite gostosa, dessas que não se repetem, mas que se revivem sempre, quando alguém as transforma em poesia.

E ontem, Pirapetinga virou canção.


Adalto Boechat Júnior é pirapetinguense
































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