domingo, 1 de janeiro de 2012

O TROMBONE DE ROSAL

Da Série Entrevistas de O Norte Fluminense



Áureo Nunes Fiori nasceu no distrito de Rosal, em Bom Jesus do Itabapoana (RJ), no dia 07 de dezembro de 1933, filho de Walter Fiori e Zenith Nunes Fiori.

De família de avós e tios músicos, desde cedo desenvolveu sua habilidade para esta arte, principalmente a partir da Lira 14 de Julho, onde iniciou o aprendizado de tambor e tarol.




Áureo Fiori se recorda de que quando tinha 7 anos de idade, trocou "pela primeira vez o suspensório por cinto. E quando participava da alvorada no dia 14/07/1940, ao romper na rua Francisco Diniz, o tambor que tocava apoiado no cinto acabou arriando o calção", deixando a parte as partes baixas de Áureo à mostra de todos. "Foi um riso geral e a banda teve de suspender a apresentação" até o jovem instrumentista se recompor com suas vestes.

Áureo teve três professores de música, destacando o professor Sebastião Gomes Filho,conhecido como "Fio Bernardo". O segundo professor de música foi o "negro Sebastião Ferreira" e o terceiro, Ezequiel Tito de Almeida, seu tio "Tuca".

Recorda-se que tinha de estudar a cartilha musical "Alex Garudet", de Carlos Gomes, e se por ocasião da prova acontecesse de tocar alguma nota errada, seu professor o "convidava" a retornar a fazer a prova na semana seguinte.

Na escola regular,estudou na Escola Isolada de Rosal até a 4a.série,tendo como professoras Altiva Alti, Rosinha e Guiomar,esposa de Gauthier. Devido à sua estatura (conta com mais de 1,80 m), Áureo foi também requisitado a atuar como goleiro nos tempos de juventude.


             Áureo Fiori e Orlando Silva, no Big Hotel

Foi prestar o exame de admissão em Campos dos Goytacazes,no Colégio Batista,quando contava com 13 anos, mas não obteve êxito. Posteriormente, seu pai o matriculou na Escola Mercês Garcia Vieira, em São José do Calçado (ES). Em seguida, mudou-se para Cachoeiro de Itapemirim (ES),onde estudou no "Ateneu Cachoeirense", ligado à Igreja Presbiteriana. Tratava-se de um colégio industrial onde estudava em troca do trabalho realizado para a construção do prédio do educandário. Foi ali que aprendeu a respeito de 7 profissões.

Quando completou 18 anos de idade, tentou servir o Exército no Espírito Santo e no Rio de Janeiro,mas só conseguindo se alistar no Tiro de Guerra de Rosal, que estava sob o comando do "Sargento Raul".

Áureo possui quatro filhos:Sueli,professora aposentada,Walter e Walder, funcionários da Embratel no Rio de Janeiro e Suelena, professora em Bom Jesus do Norte(ES). Possui quatro netos.

Casou cedo, com cerca de 22 anos de idade, com Virgínia Capacia, que morva na na região de Água Limpa, em Rosal.

Seu pai era farmacêutico e proprietário da Farmácia Confiança,em Rosal.

Nunca gostou de ser maestro,porque "não tocava instrumentos". Seus instrumentos prediletos são o trombone e a clarineta.


                           Áureo Fiori e a Lira Operária

Foi maestro da Lira Operária,em Bom Jesus do Itabapoana (RJ),por cerca de 22 anos, mas "cansei da falta de apoio da Prefeitura". Lembra que frequentemente tinha de desembolsar dinheiro do próprio bolso para pagar a conta de luz e até do conserto do telhado. Para Áureo,o único prefeito que apoiou a Lira Operária,no tempo que esteve à frente da entidade, "foi o prefeito Oliveiro Teixeira".

Depois da Lira Operária, Áureo Fiori foi maestro da Lira 26 de Julho, de Apiacá (ES),onde atuou por cerca de 8 anos, durante o último ano da gestão da prefeita Hilda Bastos e durante os mandatos do prefeito Aladir Chierici.Na ocasião, recebeu o título de cidadão apiacaense. Foi maestro também da Banda do Colégio Ari Parreira, de Laje do Muriaé (RJ).

Atuou ainda na Lira 19 de março,de São José do Calçado (ES), até 2010,quando,devido a uma queda,fraturou o fêmur, o que o impossibilitou de continuar seu trabalho.

Colaborou na fundação da Banda de Música do Colégio Padre Mello, de Bom Jesus do Itabapoana, da Banda Marcial Terezinha Juliana,em são José do Calçado, da Banda do Colégio Zélia Gisner e da Banda do Colégio Antonio Honório.

Sua decepção se dá com "os prefeitos que prometem apoio às bandas,mas não cumprem as promessas".

     Áureo Fiori no comando da Banda do Colégio Rio Branco


Na década de 1960 foi maestro da Banda de Música do Colégio Rio Branco. "O Dr.Luciano Bastos me convidou para organizar uma Banda nos moldes da Lira Operária. A Banda do Colégio Rio Branco se apresentou no Clube Caio Martins em Niterói e no tradicional educandário daquele município, o São Vicente de Paulo".

Recorda-se que, certa vez,quando ensaiava com os alunos a música "Tema de Lara", o dr. Chiquinho Batista, "homem culto,sério,correto" saiu de sua residência,ao lado do Colégio Rio Branco, e dirigindo-se a ele "solicitou que eu não ensinasse tal música aos alunos", uma vez que se tratava de uma "música ruim. É um escândalo. O autor da música foi condenado e sua ópera refere-se a Lara, que traía seu esposo". Diz Áureo que atendeu à solicitação do mestre,substituindo a música pela canção "Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones", o que também foi de agrado do prestigiado professor.



Áureo Fiori e banda na réplica da Usina Hidrelétrica, na Praça Governador Portela


Com a paralisação da Banda do Colégio Rio Branco, "o dr.Luciano Bastos resolveu doar os instrumentos para a Lira 14 de Julho, de Rosal,permitindo que esta tradicional Lira se reerguesse novamente".

Áureo Fiori lamenta que Rosal,que já teve o Cinema Rosal,dois times de futebol: Rosal e União Santanense, assim como um Tiro de Guerra, "chegando a ser mais desenvolvido que a sede do município", tenha "regredido".

Em 1970, houve um encontro histórico com o consagrado cantor Orlando Silva, nas dependências do Big Hotel. No ano de 1979, encontrou-se em Niterói(RJ) com o famoso maestro bonjesuense Walter Rosa, que trabalhava para a TV Globo, ocasião em que recebeu de presente por parte do mesmo um saxofone e uma clarineta.

Ano passado, tocou trombone no Carnaval de Higienópolis (SP).

Atualmente está preparando repertório de letras e músicas para o próximo Carnaval de Porciúncula, que será realizado apenas com canções antigas. Entusiasmou-se com a ideia de escrever um livro de memórias para ser lançado em 2012.

Ao terminar a entrevista,Áureo Fiori deixou uma mensagem para os pais: " Coloquem seus filhos para estudarem música, porque ser músico é como ser poeta. Quem estuda música não tem tempo para pensar em coisas ruins. A música mexe com os sentimentos. Com os sentimentos nobres".

O som do trombone de Áureo Fiori é para sempre.

(PUBLICADA NA EDIÇÃO DE 17 DE SETEMBRO DE 2011)

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