O Distrito de Calheiros, em Bom Jesus do Itabapoana (RJ), possui várias histórias fascinantes. Uma delas dá conta da conhecida “Árvore Criminosa”, que possuiria cerca de 200 anos.
A "Árvore Criminosa" do Distrito de Calheiros
Conta a tradição que bandidos costumavam se esconder por detrás dessa árvore, da espécie popularmente chamada de “Farinha Seca”, para matarem tropeiros que por ali passavam, roubando seus pertences. Conta-se ainda que escravos chegaram a ser pendurados na árvore, como punição por insubordinações.
Há algum tempo atrás, contudo, uma rachadura na Árvore Criminosa e um suposto fungo que a atingiu estão atormentando os moradores das residências próximas da mesma, preocupados com que alguma doença possa estar comprometendo-a, levando a eventual queda.
Segundo Paulo Fonte de Oliveira, “vizinho” da Árvore Criminosa, ele e sua esposa, Vilma de Fátima de Oliveira Dutra, entendem que seria possível combater o fungo e já teriam ido “à Prefeitura, à Secretaria do Meio-Ambiente e à Secretaria de Obras”, mas até agora não tiveram nenhuma resposta para suas preocupações.
Paulo Fontes de Oliveira e a rachadura na "Árvore Criminosa"
Se a árvore não for recuperada acabará desabando sobre alguma casa ou pessoa, e a fama da Árvore Criminosa permanecerá também por este motivo.
(Matéria publicada na edição de 12 de novembro de 2011)
Jornal fundado por Ésio Martins Bastos em 25 de dezembro de 1946 e dirigido por Luciano Augusto Bastos no período 2003-2011. E-mail: onortefluminense@hotmail.com
terça-feira, 27 de março de 2012
segunda-feira, 26 de março de 2012
A ÚLTIMA GERAÇÃO DE CERAMISTAS
A Fábrica de Cerâmica que ainda sobrevive em Bom Jesus do Itabapoana foi fundada no ano de 1937 por Floriano Teles Guimarães, que aprendeu o ofício com seus pais.
Inicialmente, a Fábrica foi instalada na conhecida rua dos Mineiros, época em que se utilizavam os pés para modelar os vasos. Posteriormente, o endereço passou a ser o da Avenida Padre Mello para, em seguida, fixar-se definitivamente no atual endereço, na Rua Tenente José Teixeira, no. 783.
No ano de 1951, o irmão de Floriano, Pompeu Soares Guimarães, que morava em Campos dos Goytacazes, veio para Bom Jesus, juntamente com sua esposa, Neide Bragança Guimarães. Desde então, assumiu com o irmão a administração da empresa, registrada como Guimarães & Cia.
Atualmente, Pompeu, conhecido como o "Pelé do Barro", nascido em 04/06/1925, comanda a Fábrica, juntamente com seu filho Nivaldo Braga Guimarães, nascido em 02/08/1954.
Mas, se no tempo de juventude, Pompeu trabalhava com cerca de "dezoito funcionários", hoje só trabalham no ofício ele e Nivaldo, explica o mestre.
Nivaldo salienta que com o surgimento do plástico, a cerâmica ficou praticamente abandonada: "Tivemos que dar baixa na firma e nos transformarmos em artesãos".
Todas as peças são fabricadas individualmente, do mesmo modo que ocorria há cerca de 50 anos atrás: "Não utilizamos formas industriais", assinala Nivaldo.
Na Fábrica de Cerâmica há três verdadeiras relíquias. O forno construído em 1937 continua intacto e ainda é utilizado para cozinhar a argila. De 1937 também é um Torno cujo movimento giratório é feito por um dos pés. Outro Torno arremata a história das antigas máquinas da Fábrica: "Nos idos de 1960 meu pai improvisou um motor em outro Torno, fazendo com que passássemos a contar também com um Torno movido a eletricidade", explica Nivaldo.
Eucaliptos são utilizados para fazer o Forno funcionar: "Levam-se cerca de dois dias para cozinhar todas as peças de barro colocadas no interior do Forno", esclarece o mestre. Por outro lado, o barro utilizado para peças é obtido em Campos dos Goytacazes "o melhor barro da região". Anteriormente, o barro era obtido nas imediações do antigo Campo do Fluminense, em Bom Jesus do Itabapoana.
Diz Nivaldo que, com ele, são 4 as gerações de famílias que viveram da Cerâmica em Bom Jesus do Itabapoana. "Mas eu sou a última geração, uma vez que nenhum dos meus filhos se interessou pela Cerâmica, e nem eu os estimulei a isso". Prossegue ele: "Hoje, fazemos Cerâmica praticamente como hobby. Antigamente, cozinhávamos barro praticamente toda semana, produzindo inúmeras peças. Atualmente, só cozinhamos barro cerca de 3 vezes durante o ano".
O mestre Pompeu, contudo, se orgulha de suas peças: "Quero que você tire fotos ao menos dos porquinhos, das galinhas e das casinhas". E completa, jocoso: " Não sou fazendeiro, mas vendo porcos e galinhas". Ao final indagou: " Vou receber um cachê pela entrevista?". Seu Pompeu mereceria muitos cachês. Em vida pagou ao INSS valores correspondentes a cerca de 10 salários-mínimos, mas hoje só recebe o equivalente a cerca de um salário-mínimo da Previdência Social, segundo revela.
O sistema de vendas de artigos de Cerâmica continua o mesmo de 74 anos atrás, quando a Fábrica foi fundada: as pessoas vão até a mesma e fazem suas compras. A propaganda é feita exclusivamente de boca a boca pelos clientes, que durante décadas têm apreciado os artefatos de Cerâmica. Tudo isso está, porém, com seus dias contados.
(Matéria publicada na edição de 13/01/2012)
Nivaldo e o forno construído em 1937 |
Inicialmente, a Fábrica foi instalada na conhecida rua dos Mineiros, época em que se utilizavam os pés para modelar os vasos. Posteriormente, o endereço passou a ser o da Avenida Padre Mello para, em seguida, fixar-se definitivamente no atual endereço, na Rua Tenente José Teixeira, no. 783.
No ano de 1951, o irmão de Floriano, Pompeu Soares Guimarães, que morava em Campos dos Goytacazes, veio para Bom Jesus, juntamente com sua esposa, Neide Bragança Guimarães. Desde então, assumiu com o irmão a administração da empresa, registrada como Guimarães & Cia.
Atualmente, Pompeu, conhecido como o "Pelé do Barro", nascido em 04/06/1925, comanda a Fábrica, juntamente com seu filho Nivaldo Braga Guimarães, nascido em 02/08/1954.
Mas, se no tempo de juventude, Pompeu trabalhava com cerca de "dezoito funcionários", hoje só trabalham no ofício ele e Nivaldo, explica o mestre.
Nivaldo salienta que com o surgimento do plástico, a cerâmica ficou praticamente abandonada: "Tivemos que dar baixa na firma e nos transformarmos em artesãos".
Todas as peças são fabricadas individualmente, do mesmo modo que ocorria há cerca de 50 anos atrás: "Não utilizamos formas industriais", assinala Nivaldo.
Na Fábrica de Cerâmica há três verdadeiras relíquias. O forno construído em 1937 continua intacto e ainda é utilizado para cozinhar a argila. De 1937 também é um Torno cujo movimento giratório é feito por um dos pés. Outro Torno arremata a história das antigas máquinas da Fábrica: "Nos idos de 1960 meu pai improvisou um motor em outro Torno, fazendo com que passássemos a contar também com um Torno movido a eletricidade", explica Nivaldo.
Nivlado e o torno movimentado mecanicamente com o pé |
Eucaliptos são utilizados para fazer o Forno funcionar: "Levam-se cerca de dois dias para cozinhar todas as peças de barro colocadas no interior do Forno", esclarece o mestre. Por outro lado, o barro utilizado para peças é obtido em Campos dos Goytacazes "o melhor barro da região". Anteriormente, o barro era obtido nas imediações do antigo Campo do Fluminense, em Bom Jesus do Itabapoana.
Diz Nivaldo que, com ele, são 4 as gerações de famílias que viveram da Cerâmica em Bom Jesus do Itabapoana. "Mas eu sou a última geração, uma vez que nenhum dos meus filhos se interessou pela Cerâmica, e nem eu os estimulei a isso". Prossegue ele: "Hoje, fazemos Cerâmica praticamente como hobby. Antigamente, cozinhávamos barro praticamente toda semana, produzindo inúmeras peças. Atualmente, só cozinhamos barro cerca de 3 vezes durante o ano".
O mestre Pompeu, contudo, se orgulha de suas peças: "Quero que você tire fotos ao menos dos porquinhos, das galinhas e das casinhas". E completa, jocoso: " Não sou fazendeiro, mas vendo porcos e galinhas". Ao final indagou: " Vou receber um cachê pela entrevista?". Seu Pompeu mereceria muitos cachês. Em vida pagou ao INSS valores correspondentes a cerca de 10 salários-mínimos, mas hoje só recebe o equivalente a cerca de um salário-mínimo da Previdência Social, segundo revela.
"seu" Pompeu e as peças produzidas por ele: orgulho |
O sistema de vendas de artigos de Cerâmica continua o mesmo de 74 anos atrás, quando a Fábrica foi fundada: as pessoas vão até a mesma e fazem suas compras. A propaganda é feita exclusivamente de boca a boca pelos clientes, que durante décadas têm apreciado os artefatos de Cerâmica. Tudo isso está, porém, com seus dias contados.
(Matéria publicada na edição de 13/01/2012)
quinta-feira, 15 de março de 2012
AS VEIAS ABERTAS DO HOSPITAL SÃO VICENTE DE PAULO: Presidente renuncia e sucessor promete transparência
Hospital São Vicente de Paulo
O Presidente do Hospital São Vicente de Paulo, ADEILDO GOMES DE REZENDE, renunciou ao cargo, menos de uma semana depois de estar com o associado dr. GINO MARTINS BORGES BASTOS, responder a ele todos os questionamentos feitos, entregar alguns documentos e se comprometer a encaminhar a relação dos credores do hospital, valores dos créditos, com informações sobre os fatos que geraram as dívidas, assim como prometer instaurar três procedimentos administrativos, cujos indícios de ilicitudes foram confirmados durante a reunião no Hospital São Vicente de Paulo. As irregularidades foram as seguintes: a) aquisição de um tomógrafo, tido como novo, mas que na verdade era usado; b) aquisição de uma usina de oxigênio que teria sido adquirida sem critério e depois devolvida ao vendedor; e c) empréstimo consignado feito em nome dos funcionários do Hospital, cujos valores foram repassados para a conta do nosocômio, deixando os nomes dos trabalhadores negativados.
ADEILDO GOMES DE REZENDE, como Presidente do Hospital: renúncia menos de uma semana após responder a todas as perguntas de associado
Esta reunião ocorreu após dirigentes do Hospital endereçarem ao associado um documento intitulado "Contra-Notificação", em que asseveravam que " as solicitações feitas por V.Sa. estão a sua disposição na sede do HSVP, onde poderá analisar todo e qualquer documento e tirar suas dúvidas para que sejam propagadas verdades sobre a entidade e não ilações". O associado encaminhou, então, novo documento aos dirigentes aceitando a disponibilização dos documentos e informações, agendando o dia 25 de fevereiro, sábado, às 9 horas, para a reunião no Hospital. Nesta data, o dr.GINO BASTOS se fez presente, sem aparecerem, contudo, o Presidente do Hospital, o Presidente do Centro Popular e o Presidente do Conselho Deliberativo, que assinaram o documento mencionado.
Em documento, dirigentes do hospital pediram para que a verdade fosse divulgada
ALDEIDO GOMES explicou, posteriormente, que não fora comunicado da data agendada e que por este motivo não comparecera à reunião do dia 25 de fevereiro, reiterando, contudo, os termos do documento encaminhado. Assim, restou agendada nova reunião na qual o Presidente do Hospital compareceu juntamente com toda a diretoria e funcionários.
Segundo ADEILDO GOMES, se dependesse dele todas as informações solicitadas já teriam sido por ele dadas anteriormente, mas até então ele preferia seguir o grupo a que pertence, que considerava incorreta a posição do associado em ir à rádio expor os problemas do nosocômio. As perguntas do associado e as respostas do Presidente estão assinaladas adiante.
Sucedeu ADEILDO GOMES na Presidência do Hospital, no dia 08 de março passado, o médico dr.CELSO RIBEIRO FERREIRA, que declarou ao O NORTE FLUMINENSE, por telefone, que "em minha administração haverá transparência, não haverá caixa preta, a caixa será sempre aberta. Estou receptivo a sugestões, conselhos e críticas". O médico dr. DAVISON OLIVEIRA permanece como secretário, assumindo como tesoureiro o médico dr. NIVALDO LADEIRA.
No dia seguinte à posse do novo Presidente do Hospital, compareceu em Bom Jesus do Itabapoana o Subsecretário Estadual de Saúde, ALFREDO JOSÉ MONTEIRO SCAFF, que, após reunião com a Prefeita BRANCA MOTTA, visitou o Hospital, ocasião em que assumiu o compromisso de ampliar o CTI, colocar em funcionamento a hemodiálise e o banco de sangue.
Por outro lado, articulações com a Caixa Econômica Federal estariam sendo feitas para retirar da negativação os nomes dos funcionários do Hospital, assim como reduzir o valor das parcelas referentes à dívida com a instituição bancária.
Novas reuniões estão previstas para ocorrer nos próximos dias com dirigentes do Estado e do Município, para encontrarem caminhos de cooperação que permitam o soerguimento do Hospital.
RESPOSTAS DO ENTÃO PRESIDENTE DO HOSPITAL, ADEILDO GOMES DE REZENDE, às indagações do associado dr. GINO MARTINS BORGES BASTOS
1. Por que o senhor afirmou, juntamente com o Presidente do Centro Popular Pró-Melhoramentos e com o Presidente do Conselho Deliberativo, no documento endereçado a mim, que esperavam que eu divulgasse a verdade? Não seria mais simples que vocês viessem a público e divulgassem a verdade desde o início?
- Por mim eu prestaria contas e responderia a tudo desde o início, mas eu era voto vencido. Aqui eu sou submisso a um Conselho. A gente que pertence a um grupo, procura seguir o que a maioria decide. E a maioria acha que o senhor deveria ter primeiramente procurado a instituição e não ter ido à rádio. Agora, contudo, resolvi responder a todas as perguntas e esclarecer tudo. Mas o fato é que estou sem apoio. Meu mandato vai até fevereiro de 2013, mas não sei se o concluirei.
2. Pode informar a relação dos credores do Hospital, os valores e os fatos que geraram tais créditos? Tenho informação de que há créditos que não possuem documentos que os sustentam.
- Perfeitamente. (ADEILDO chama os funcionários e lhes dá orientação para que encaminhem os documentos. Os funcionários dizem que terão condições de entregá-los em cerca de 15 dias).
3. Sua administração realiza cotação de preços para a aquisição de bens?
- Sim. Como exemplo, repasso aqui toda a documentação relativa à compra dos bens para a UTI. (Neste momento, intervém o médico dr. ALOÍSIO IRAN, que informa que ele coordenou a cotação dre preços). Dr. IRAN: " Preferimos comprar um ultra-som portátil para servir ao hospital e possibilitar que o aparelho fosse até o paciente. Por este motivo o aparelho adquirido não foi o mais barato, mas com certeza foi o melhor preço para servir ao Hospital".
4. Por que não prestam contas dos bens recebidos pela sociedade?
- (A sra MARIA HELENA DA SILVA, coordenadora do recebimento das doações, respondeu, com documentos à mão, a esta pergunta dizendo que as prestações de contas ficam periodicamente afixadas na portaria do hospital. Foi sugerido que se publicasse um resumo do que fora recebido e como teria ocorrido a distribuição).
5. Há controle de estoque?
- Infelizmente não. O nosso sistema de contabilidade não está integrado. Em termos de farmácia, entendemos que só poderá haver controle de estoque quando for implementada a qualificação de profissional. Temos um projeto de construção de uma nova sala para que seja destinada exclusivamente para o estoque, com um funcionário específico para isso. Nos moldes atuais, inexiste controle de estoque.
6. Há interesse escuso na desorganização administrativa do Hospital?
- De minha parte não. Estamos com enormes dificuldades em tudo, principalmente na área financeira, o que acaba prejudicando a possibilidade de organização.
6. Há funcionários que recebem mais que o dobro de funcionários que exercem a mesma função?
- Isso não ocorre em minha administração. (ADEILDO chama um funcionário do RH que explica que isso não ocorreu durante o tempo em que tem trabalhado no Hospital. Supõe que a empresa que afirmara isso possa ter se baseado na disparidade causada pelas vantagens pessoais dos funcionários, como, por exemplo, quinquenios).
7. O documento DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL feito pela empresa Multi Hospitalar afirma que as taxas bancárias são elevadas. Que fizeram para regularizá-las?
- O documento fala em tarifas elevadas. Não sei o que eles quiseram dizer com isso. Pelo que eu analisei, o único empréstimo com taxa bancária elevada que constatei foi o de R$500.000,00 (quinhentos mil reais) junto ao UNICREDI, mas temos que analisar as circunstâncias em que foi realizado tal empréstimo. Por outro lado, quero destacar que consegui prorrogar por 60 (sessenta) meses o débito com a Caixa Econômica Federal. Com a sobra, liquidei parte do consignado dos funcionários, limpando os nomes dos mesmos.
8. O que me diz dos Relatórios desconexos e sem exatidão, relevados pelo documento DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL, da empresa Multi Hospitalar?
- Penso que isso se deve ao que me referi antes. Não há uma contabilidade integrada no Hospital. Para resolver este problema, temos que qualificar profissionais, mas isso também está sendo muito difícil na conjuntura atual.
9. Qual é a questão envolvendo a Prefeitura Municipal?
- A Prefeitura alega que o Tribunal de Contas está no pé deles. Com o fim da contratualização, não estávamos cientes das formalidades necessárias para a prestação de contas exigida pela Prefeitura, e estamos nos adapatando às exigências. (Neste momento, intervém o médico dr. CELSO RIBEIRO FERREIRA, informando que Prefeitura, anteriomrmente, repassava ao Hospital R$80.000,00, acrescidos de mais R$48.000,00 relativos à Obstetrícia, sem contar os faturamentos. A proposta atual da Prefeitura é de repassar um total de R$100.000,00 mensais, englobando os valores concernentes ao PU e à Obstetrícia, acenando com um hipotético valor a ser repassado pelo Estado, mas o que é incerto. Na prática, a Prefeitura quer repassar menos R$28.000.00 mensais ao que repassava antes. O diretor do Sindicato dos Funcionários do Hospital, Celso Leonardo, também se manifestou dizendo não ver por parte do Estado e do Município ações concretas para resolverem o problema do nosocômio).
O sindicato tem mantido reuniões e está preparando mobilizações para por fim aos cinco meses de atraso no pagamento dos funcionários
10. No documento remetido a mim, consta que vocês teriam descoberto, no ano passado, um desvio e encaminhado a notícia ao Promotor de Justiça. Por que não entraram imediatamente com ação civil de reparação de dano, com pedido de cautelar para fazer com que os bens do ex-funcionário pudessem garantir a execução?
- Eu não sabia que seria necessário isso, pois segui a orientação do Jurídico. Parece-me que o Jurídico vai entrar com esta ação por estes dias.
11. O senhor ocupou cargo de direção em outra administração?
- Emprestei meu nome anteriormente para concorrer como Secretário. Fomos vitoriosos, mas nunca participei efetivamente da administração;
12. Como ocorreu a questão dos empréstimos consignados dos funcionários, que acabaram caindo na conta do Hospital, e depois levaram muitos funcionários a terem seus nomes negativados no SPC?
- (Um funcionário esclarece que se recorda de que fora sugerido que os funcionários fizessem o empréstimo consignado e, com autorização dos mesmos, o dinheiro fora remanejado para a conta do hospital. Por motivo superveniente, segundo ele, e que a administração da época não esperava, acabou ocorrendo esta situação, deixando os funcionários com os nomes negativados).
13. Sr. Presidente: tendo em vista esta articulação suspeita, poderia o sr. instaurar um procedimento para investigar eventuais responsabilidades?
- Sim.
14. Conhece a empresa DISKMED de Pádua?
- (Um funcionário diz que esta empresa oferece valores acima do mercado e que por este motivo atualmente não se compra mais dessa firma).
15. Parece que o Hospital andou anteriormente adquirindo bens dessa empresa.
- Pode ser que a aquisição tenha ocorrido pelo fato de a empresa ter facilitado as condições de pagamento. Quando o senhor receber os documentos com a relação de credores, observará que há crédito dessa empresa. Qualquer outro questionamento futuro, a partir de tal documento, estarei à disposição para responder.
16. O Documento DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL diz que no Hospital há salários incompatíveis com a realidade financeira do hospital.
- (ADEILDO chama o funcionário do RH que mostra o documento informando que atualmente o maior salário é da assessora jurídica que recebe R$5.079,00. ADEILDO informa ainda que o Hospital paga mais R$5.0000,00 a um profissional para fazer o serviço de contabilidade e para ajudar também no jurídico. O Dr. CELSO FERREIRA pondera sobre a necessidade de discutir esta questão).
17. Muito se comenta sobre um tomógrafo que teria sido adquirido como novo, mas que seria usado.
- ( Dr. ALOISIO IRAN intervém e afirma que "realmente o aparelho foi apresentado como novo, mas era usado. Havia um selo de contas, indicando que o aparelho já tinha produzido 800 imagens. Além disso, verificou-se que o aparelho não é oficial da Toshiba, mas um amontoado de peças de diversos aparelhos. Por este motivo, a Toshiba, que é a fabricante, não o reconhece para realizar serviço de manutenção. Trata-se de um aparelho sem história").
18. Sr. Presidente: diante desta informação, o sr. pretende instaurar um procedimento administrativo para apurar responsabilidades?
- Sim.
19. Outro fato comentado é relativo à aquisição de uma usina de oxigênio que pouco teria funcionado.
- (Dr. ALOISIO IRAN novamente intervém: "Isso foi uma piada. Compraram o equipamento sem qualquer critério, sem nenhum planejamento. Acabaram devolvendo o aparelho").
20. Sr. Presidente: diante de tal informação, o senhor tem condições de instaurar procedimento para apurar se houve prejuízo dado ao Hospital?
- Perfeitamente.
21. Há comentário de que uma verba para a aquisição de aparelhos para a Hemodiálise teria sido depositada em sua conta bancária.
- O fato é que emprestei meu nome para a abertura de uma conta relativa a pessoa física, com o fim específico para a aquisição de aparelhos para a hemodiálise. Isso está registrado em ata. Foram depositados pela FAPERJ R$499.000,00 (quatrocentos e noventa e nove mil reais), sendo que esta verba, volto a repetir, está totalmente vinculada à aquisição dos equipamentos para a hemodiálise. Emprestei meu nome exclusivamente para facilitar a compra dos aparelhos. Quando conseguirmos um profissional qualificado para administrar o setor, providenciaremos a aquisição do aparelho.
AS VEIAS ABERTAS DO HOSPITAL SÃO VICENTE DE PAULO
As ilicitudes constatadas durante a reunião com o Ex-Presidente ADEILDO GOMES e as que foram informadas ao O NORTE FLUMINENSE, posteriormente, e que são nomeadas a seguir, impõem à nova Diretoria a instauração de procedimentos para a investigação cabal dos fatos, ratificando o propósito do ex-Presidente. Segundo o associado dr. GINO BASTOS, "nossa luta é, entre outras bandeiras, por modificação do sistema, com implantação de controle de estoque, de realização de cotação de preços com a participação da sociedade organizada, transparência e publicidade dos atos administrativos e prestação de contas de forma pública e não só ao Conselho Deliberativo, além de apuração dos atos ilícitos praticados contra o Hospital", completou.
1) HOSPITAL PAGOU R$65.000,00 POR SUCATA
Um dos inúmeros escândalos envolvendo o Hospital São Vicente de Paulo refere-se à aquisição de um aparelho RAIO X e de outros aparelhos, provenientes de um Hospital da Bahia. Supunha-se, entre os funcionários do São Vicente de Paulo, que o aparelho RAIO X seria da marca Siemens, considerada de uma boa qualidade . Ocorre que o aparelho que chegou para o HSVP era de outra marca e, juntamente com os demais aparelhos adquiridos, nunca teriam funcionado, segundo funcionários. O total gasto pelo Hospital na aquisição deste RAIO X e dos outros aparelhos, vindos de Hospital da Bahia, foram de R$65.000,00 (sessenta e cinco mil reais).
Até hoje as peças estão depositadas em uma sala do Hospital, mas só servem para "sucata", segundo um funcionário.
Raio X e outros aparelhos teriam sido adquridos de Hospital da Bahia por R$65.000,00, mas nunca teriam sido utilizados pelo Hospital
2) FURTO DE REMÉDIOS É LIVRE
A confirmação de que inexiste controle de estoque no Hospital e que há dificuldade para a implantação do mesmo, remete à constatação de que o furto de remédios no Hospital São Vicente de Paulo é livre.
3) TOMÓGRAFO USADO ADQUIRIDO COMO SE FOSSE NOVO
A aquisição de um Tomógrafo apresentado como se fosse novo, mas que na verdade era um aparelho formado por conjunto de peças de diversos aparelhos, é outra ilicitude que sai da área da especulação popular para o campo da constatação fática.
4) USINA DE OXIGÊNIO
A aquisição de uma usina de oxigênio sem qualquer critério, culminando com sua devolução ao vendedor, constitui outra irregularidade constatada, que deve ser investigada para verficar se houve prejuízo ao Hospital.
5) EMPRÉSTIMO CONSIGNADO
A realização de empréstimo consignado por parte dos funcionários do hospital, seguida do repasse dos valores para a conta do nosocômio e posterior negativação dos nomes dos trabalhadores, constitui mais um ato com indício de ilicitude.
6) FALSIFICAÇÃO E FURTOS
No dia 19 de maio de 2011, um Relatório de Caixa do Hospital foi adulterado, sendo furtada a quantia de R$6.000,00 (seis mil reais). Outros cheques totalizando R$10.994,00 (dez mil novecentos e noventa e quatro reais) foram também desviados do Hospital pelo mesmo funcionário. A constatação do ilícito foi feita por uma funcionária. Os dirigentes do Hospital limitaram-se a levar o caso à Delegacia de Polícia, mas não se tem notícia, até o momento, de qualquer ação de reparação de dano contra o ex-funcionário, deixando o nosocômio no prejuízo.
Documento adulterado no dia 19 de maio de 2011, para causar prejuízo de R$6.000,00 ao Hospital. Até hoje, sem qualquer notícia de ação para reparar o dano.
O Presidente do Hospital São Vicente de Paulo, ADEILDO GOMES DE REZENDE, renunciou ao cargo, menos de uma semana depois de estar com o associado dr. GINO MARTINS BORGES BASTOS, responder a ele todos os questionamentos feitos, entregar alguns documentos e se comprometer a encaminhar a relação dos credores do hospital, valores dos créditos, com informações sobre os fatos que geraram as dívidas, assim como prometer instaurar três procedimentos administrativos, cujos indícios de ilicitudes foram confirmados durante a reunião no Hospital São Vicente de Paulo. As irregularidades foram as seguintes: a) aquisição de um tomógrafo, tido como novo, mas que na verdade era usado; b) aquisição de uma usina de oxigênio que teria sido adquirida sem critério e depois devolvida ao vendedor; e c) empréstimo consignado feito em nome dos funcionários do Hospital, cujos valores foram repassados para a conta do nosocômio, deixando os nomes dos trabalhadores negativados.
ADEILDO GOMES DE REZENDE, como Presidente do Hospital: renúncia menos de uma semana após responder a todas as perguntas de associado
Esta reunião ocorreu após dirigentes do Hospital endereçarem ao associado um documento intitulado "Contra-Notificação", em que asseveravam que " as solicitações feitas por V.Sa. estão a sua disposição na sede do HSVP, onde poderá analisar todo e qualquer documento e tirar suas dúvidas para que sejam propagadas verdades sobre a entidade e não ilações". O associado encaminhou, então, novo documento aos dirigentes aceitando a disponibilização dos documentos e informações, agendando o dia 25 de fevereiro, sábado, às 9 horas, para a reunião no Hospital. Nesta data, o dr.GINO BASTOS se fez presente, sem aparecerem, contudo, o Presidente do Hospital, o Presidente do Centro Popular e o Presidente do Conselho Deliberativo, que assinaram o documento mencionado.
Em documento, dirigentes do hospital pediram para que a verdade fosse divulgada
ALDEIDO GOMES explicou, posteriormente, que não fora comunicado da data agendada e que por este motivo não comparecera à reunião do dia 25 de fevereiro, reiterando, contudo, os termos do documento encaminhado. Assim, restou agendada nova reunião na qual o Presidente do Hospital compareceu juntamente com toda a diretoria e funcionários.
Segundo ADEILDO GOMES, se dependesse dele todas as informações solicitadas já teriam sido por ele dadas anteriormente, mas até então ele preferia seguir o grupo a que pertence, que considerava incorreta a posição do associado em ir à rádio expor os problemas do nosocômio. As perguntas do associado e as respostas do Presidente estão assinaladas adiante.
Sucedeu ADEILDO GOMES na Presidência do Hospital, no dia 08 de março passado, o médico dr.CELSO RIBEIRO FERREIRA, que declarou ao O NORTE FLUMINENSE, por telefone, que "em minha administração haverá transparência, não haverá caixa preta, a caixa será sempre aberta. Estou receptivo a sugestões, conselhos e críticas". O médico dr. DAVISON OLIVEIRA permanece como secretário, assumindo como tesoureiro o médico dr. NIVALDO LADEIRA.
No dia seguinte à posse do novo Presidente do Hospital, compareceu em Bom Jesus do Itabapoana o Subsecretário Estadual de Saúde, ALFREDO JOSÉ MONTEIRO SCAFF, que, após reunião com a Prefeita BRANCA MOTTA, visitou o Hospital, ocasião em que assumiu o compromisso de ampliar o CTI, colocar em funcionamento a hemodiálise e o banco de sangue.
Por outro lado, articulações com a Caixa Econômica Federal estariam sendo feitas para retirar da negativação os nomes dos funcionários do Hospital, assim como reduzir o valor das parcelas referentes à dívida com a instituição bancária.
Novas reuniões estão previstas para ocorrer nos próximos dias com dirigentes do Estado e do Município, para encontrarem caminhos de cooperação que permitam o soerguimento do Hospital.
RESPOSTAS DO ENTÃO PRESIDENTE DO HOSPITAL, ADEILDO GOMES DE REZENDE, às indagações do associado dr. GINO MARTINS BORGES BASTOS
1. Por que o senhor afirmou, juntamente com o Presidente do Centro Popular Pró-Melhoramentos e com o Presidente do Conselho Deliberativo, no documento endereçado a mim, que esperavam que eu divulgasse a verdade? Não seria mais simples que vocês viessem a público e divulgassem a verdade desde o início?
- Por mim eu prestaria contas e responderia a tudo desde o início, mas eu era voto vencido. Aqui eu sou submisso a um Conselho. A gente que pertence a um grupo, procura seguir o que a maioria decide. E a maioria acha que o senhor deveria ter primeiramente procurado a instituição e não ter ido à rádio. Agora, contudo, resolvi responder a todas as perguntas e esclarecer tudo. Mas o fato é que estou sem apoio. Meu mandato vai até fevereiro de 2013, mas não sei se o concluirei.
2. Pode informar a relação dos credores do Hospital, os valores e os fatos que geraram tais créditos? Tenho informação de que há créditos que não possuem documentos que os sustentam.
- Perfeitamente. (ADEILDO chama os funcionários e lhes dá orientação para que encaminhem os documentos. Os funcionários dizem que terão condições de entregá-los em cerca de 15 dias).
3. Sua administração realiza cotação de preços para a aquisição de bens?
- Sim. Como exemplo, repasso aqui toda a documentação relativa à compra dos bens para a UTI. (Neste momento, intervém o médico dr. ALOÍSIO IRAN, que informa que ele coordenou a cotação dre preços). Dr. IRAN: " Preferimos comprar um ultra-som portátil para servir ao hospital e possibilitar que o aparelho fosse até o paciente. Por este motivo o aparelho adquirido não foi o mais barato, mas com certeza foi o melhor preço para servir ao Hospital".
4. Por que não prestam contas dos bens recebidos pela sociedade?
- (A sra MARIA HELENA DA SILVA, coordenadora do recebimento das doações, respondeu, com documentos à mão, a esta pergunta dizendo que as prestações de contas ficam periodicamente afixadas na portaria do hospital. Foi sugerido que se publicasse um resumo do que fora recebido e como teria ocorrido a distribuição).
5. Há controle de estoque?
- Infelizmente não. O nosso sistema de contabilidade não está integrado. Em termos de farmácia, entendemos que só poderá haver controle de estoque quando for implementada a qualificação de profissional. Temos um projeto de construção de uma nova sala para que seja destinada exclusivamente para o estoque, com um funcionário específico para isso. Nos moldes atuais, inexiste controle de estoque.
6. Há interesse escuso na desorganização administrativa do Hospital?
- De minha parte não. Estamos com enormes dificuldades em tudo, principalmente na área financeira, o que acaba prejudicando a possibilidade de organização.
6. Há funcionários que recebem mais que o dobro de funcionários que exercem a mesma função?
- Isso não ocorre em minha administração. (ADEILDO chama um funcionário do RH que explica que isso não ocorreu durante o tempo em que tem trabalhado no Hospital. Supõe que a empresa que afirmara isso possa ter se baseado na disparidade causada pelas vantagens pessoais dos funcionários, como, por exemplo, quinquenios).
7. O documento DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL feito pela empresa Multi Hospitalar afirma que as taxas bancárias são elevadas. Que fizeram para regularizá-las?
- O documento fala em tarifas elevadas. Não sei o que eles quiseram dizer com isso. Pelo que eu analisei, o único empréstimo com taxa bancária elevada que constatei foi o de R$500.000,00 (quinhentos mil reais) junto ao UNICREDI, mas temos que analisar as circunstâncias em que foi realizado tal empréstimo. Por outro lado, quero destacar que consegui prorrogar por 60 (sessenta) meses o débito com a Caixa Econômica Federal. Com a sobra, liquidei parte do consignado dos funcionários, limpando os nomes dos mesmos.
8. O que me diz dos Relatórios desconexos e sem exatidão, relevados pelo documento DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL, da empresa Multi Hospitalar?
- Penso que isso se deve ao que me referi antes. Não há uma contabilidade integrada no Hospital. Para resolver este problema, temos que qualificar profissionais, mas isso também está sendo muito difícil na conjuntura atual.
9. Qual é a questão envolvendo a Prefeitura Municipal?
- A Prefeitura alega que o Tribunal de Contas está no pé deles. Com o fim da contratualização, não estávamos cientes das formalidades necessárias para a prestação de contas exigida pela Prefeitura, e estamos nos adapatando às exigências. (Neste momento, intervém o médico dr. CELSO RIBEIRO FERREIRA, informando que Prefeitura, anteriomrmente, repassava ao Hospital R$80.000,00, acrescidos de mais R$48.000,00 relativos à Obstetrícia, sem contar os faturamentos. A proposta atual da Prefeitura é de repassar um total de R$100.000,00 mensais, englobando os valores concernentes ao PU e à Obstetrícia, acenando com um hipotético valor a ser repassado pelo Estado, mas o que é incerto. Na prática, a Prefeitura quer repassar menos R$28.000.00 mensais ao que repassava antes. O diretor do Sindicato dos Funcionários do Hospital, Celso Leonardo, também se manifestou dizendo não ver por parte do Estado e do Município ações concretas para resolverem o problema do nosocômio).
O sindicato tem mantido reuniões e está preparando mobilizações para por fim aos cinco meses de atraso no pagamento dos funcionários
10. No documento remetido a mim, consta que vocês teriam descoberto, no ano passado, um desvio e encaminhado a notícia ao Promotor de Justiça. Por que não entraram imediatamente com ação civil de reparação de dano, com pedido de cautelar para fazer com que os bens do ex-funcionário pudessem garantir a execução?
- Eu não sabia que seria necessário isso, pois segui a orientação do Jurídico. Parece-me que o Jurídico vai entrar com esta ação por estes dias.
11. O senhor ocupou cargo de direção em outra administração?
- Emprestei meu nome anteriormente para concorrer como Secretário. Fomos vitoriosos, mas nunca participei efetivamente da administração;
12. Como ocorreu a questão dos empréstimos consignados dos funcionários, que acabaram caindo na conta do Hospital, e depois levaram muitos funcionários a terem seus nomes negativados no SPC?
- (Um funcionário esclarece que se recorda de que fora sugerido que os funcionários fizessem o empréstimo consignado e, com autorização dos mesmos, o dinheiro fora remanejado para a conta do hospital. Por motivo superveniente, segundo ele, e que a administração da época não esperava, acabou ocorrendo esta situação, deixando os funcionários com os nomes negativados).
13. Sr. Presidente: tendo em vista esta articulação suspeita, poderia o sr. instaurar um procedimento para investigar eventuais responsabilidades?
- Sim.
14. Conhece a empresa DISKMED de Pádua?
- (Um funcionário diz que esta empresa oferece valores acima do mercado e que por este motivo atualmente não se compra mais dessa firma).
15. Parece que o Hospital andou anteriormente adquirindo bens dessa empresa.
- Pode ser que a aquisição tenha ocorrido pelo fato de a empresa ter facilitado as condições de pagamento. Quando o senhor receber os documentos com a relação de credores, observará que há crédito dessa empresa. Qualquer outro questionamento futuro, a partir de tal documento, estarei à disposição para responder.
16. O Documento DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL diz que no Hospital há salários incompatíveis com a realidade financeira do hospital.
- (ADEILDO chama o funcionário do RH que mostra o documento informando que atualmente o maior salário é da assessora jurídica que recebe R$5.079,00. ADEILDO informa ainda que o Hospital paga mais R$5.0000,00 a um profissional para fazer o serviço de contabilidade e para ajudar também no jurídico. O Dr. CELSO FERREIRA pondera sobre a necessidade de discutir esta questão).
17. Muito se comenta sobre um tomógrafo que teria sido adquirido como novo, mas que seria usado.
- ( Dr. ALOISIO IRAN intervém e afirma que "realmente o aparelho foi apresentado como novo, mas era usado. Havia um selo de contas, indicando que o aparelho já tinha produzido 800 imagens. Além disso, verificou-se que o aparelho não é oficial da Toshiba, mas um amontoado de peças de diversos aparelhos. Por este motivo, a Toshiba, que é a fabricante, não o reconhece para realizar serviço de manutenção. Trata-se de um aparelho sem história").
18. Sr. Presidente: diante desta informação, o sr. pretende instaurar um procedimento administrativo para apurar responsabilidades?
- Sim.
19. Outro fato comentado é relativo à aquisição de uma usina de oxigênio que pouco teria funcionado.
- (Dr. ALOISIO IRAN novamente intervém: "Isso foi uma piada. Compraram o equipamento sem qualquer critério, sem nenhum planejamento. Acabaram devolvendo o aparelho").
20. Sr. Presidente: diante de tal informação, o senhor tem condições de instaurar procedimento para apurar se houve prejuízo dado ao Hospital?
- Perfeitamente.
21. Há comentário de que uma verba para a aquisição de aparelhos para a Hemodiálise teria sido depositada em sua conta bancária.
- O fato é que emprestei meu nome para a abertura de uma conta relativa a pessoa física, com o fim específico para a aquisição de aparelhos para a hemodiálise. Isso está registrado em ata. Foram depositados pela FAPERJ R$499.000,00 (quatrocentos e noventa e nove mil reais), sendo que esta verba, volto a repetir, está totalmente vinculada à aquisição dos equipamentos para a hemodiálise. Emprestei meu nome exclusivamente para facilitar a compra dos aparelhos. Quando conseguirmos um profissional qualificado para administrar o setor, providenciaremos a aquisição do aparelho.
AS VEIAS ABERTAS DO HOSPITAL SÃO VICENTE DE PAULO
As ilicitudes constatadas durante a reunião com o Ex-Presidente ADEILDO GOMES e as que foram informadas ao O NORTE FLUMINENSE, posteriormente, e que são nomeadas a seguir, impõem à nova Diretoria a instauração de procedimentos para a investigação cabal dos fatos, ratificando o propósito do ex-Presidente. Segundo o associado dr. GINO BASTOS, "nossa luta é, entre outras bandeiras, por modificação do sistema, com implantação de controle de estoque, de realização de cotação de preços com a participação da sociedade organizada, transparência e publicidade dos atos administrativos e prestação de contas de forma pública e não só ao Conselho Deliberativo, além de apuração dos atos ilícitos praticados contra o Hospital", completou.
1) HOSPITAL PAGOU R$65.000,00 POR SUCATA
Um dos inúmeros escândalos envolvendo o Hospital São Vicente de Paulo refere-se à aquisição de um aparelho RAIO X e de outros aparelhos, provenientes de um Hospital da Bahia. Supunha-se, entre os funcionários do São Vicente de Paulo, que o aparelho RAIO X seria da marca Siemens, considerada de uma boa qualidade . Ocorre que o aparelho que chegou para o HSVP era de outra marca e, juntamente com os demais aparelhos adquiridos, nunca teriam funcionado, segundo funcionários. O total gasto pelo Hospital na aquisição deste RAIO X e dos outros aparelhos, vindos de Hospital da Bahia, foram de R$65.000,00 (sessenta e cinco mil reais).
Até hoje as peças estão depositadas em uma sala do Hospital, mas só servem para "sucata", segundo um funcionário.
Raio X e outros aparelhos teriam sido adquridos de Hospital da Bahia por R$65.000,00, mas nunca teriam sido utilizados pelo Hospital
2) FURTO DE REMÉDIOS É LIVRE
A confirmação de que inexiste controle de estoque no Hospital e que há dificuldade para a implantação do mesmo, remete à constatação de que o furto de remédios no Hospital São Vicente de Paulo é livre.
3) TOMÓGRAFO USADO ADQUIRIDO COMO SE FOSSE NOVO
A aquisição de um Tomógrafo apresentado como se fosse novo, mas que na verdade era um aparelho formado por conjunto de peças de diversos aparelhos, é outra ilicitude que sai da área da especulação popular para o campo da constatação fática.
4) USINA DE OXIGÊNIO
A aquisição de uma usina de oxigênio sem qualquer critério, culminando com sua devolução ao vendedor, constitui outra irregularidade constatada, que deve ser investigada para verficar se houve prejuízo ao Hospital.
5) EMPRÉSTIMO CONSIGNADO
A realização de empréstimo consignado por parte dos funcionários do hospital, seguida do repasse dos valores para a conta do nosocômio e posterior negativação dos nomes dos trabalhadores, constitui mais um ato com indício de ilicitude.
6) FALSIFICAÇÃO E FURTOS
No dia 19 de maio de 2011, um Relatório de Caixa do Hospital foi adulterado, sendo furtada a quantia de R$6.000,00 (seis mil reais). Outros cheques totalizando R$10.994,00 (dez mil novecentos e noventa e quatro reais) foram também desviados do Hospital pelo mesmo funcionário. A constatação do ilícito foi feita por uma funcionária. Os dirigentes do Hospital limitaram-se a levar o caso à Delegacia de Polícia, mas não se tem notícia, até o momento, de qualquer ação de reparação de dano contra o ex-funcionário, deixando o nosocômio no prejuízo.
Documento adulterado no dia 19 de maio de 2011, para causar prejuízo de R$6.000,00 ao Hospital. Até hoje, sem qualquer notícia de ação para reparar o dano.
sexta-feira, 9 de março de 2012
A FRANÇA BONJESUENSE
Catharina Carrereth Alves nasceu no dia 21/11/1932, no Sítio da Fortaleza, antigamente conhecido como "Fortaleza dos Franceses". É neta dos franceses Jean Pierre Carrereth e Catherine Carrereth, que chegaram em Bom Jesus do Itabapoana (RJ) e ali se estabeleceram por volta do ano de 1907.
Haroldinho e Catharina, à frente da Casa Santa Catarina
Catharina é filha de José Antonio Carrereth e da espanhola Rosa Rodrigues Carrereth. Seu pai, como todos os seus tios, nasceram no " Sítio da Fortaleza". Casou-se com Haroldo de Lima Alves, o Haroldo Sapateiro, nascido no dia 17/08/1925, em Iuru, atual Ponte José Carlos, distrito de Apiacá (ES). Segundo ela, quem realizou o casamento civil "foi o Dr. Octacílio de Aquino,que possuía um Cartório nos fundos da Igreja e era muito amigo de meu pai".
São 60 anos de casamento, com 9 filhos e 15 netos.
Haroldo chegou a trabalhar na roça, em Iuru. Depois, passou a trabalhar com arreios, no estabelecimento de José Urbano, que fabricava selas e possuía um empreendimento onde hoje está localizada a Casa Itaperuna. Foi ali que Haroldo se tornou aprendiz de selaria. Posteriormente, passou a ser artesão e, finalmente, sapateiro. Haroldo costumava comprar material para seu ofício em Campos dos Goytacazes (RJ). Resolveu, então, estabalecer a "Sapataria do Haroldo" no antigo bairro Volta d'Areia. Como os filhos estudavam no Colégio Rio Branco, Catharina e Haroldo desejavam que os filhos morassem próximo do educandário. Por este motivo, nos idos de 1933 trocaram a propriedade por uma localizada no atual endereço, na Avenida Abreu Lima, n. 213, demolindo uma casa velha e edificando a que hoje ali se encontra, assim como a "Casa de Couros Santa Catharina".
Haroldo, Catharina, Cecília e Regina, na residência da família
Haroldo foi liguista e até hoje integra o Coral Santa Rita de Cássia da Igreja Católica, mesmo estando com o "mal de Alzheimer". Quando perguntamos a Haroldo sobre os fatos relevantes do passado, ele se detém, se emociona e exclama: "Muita coisa boa! Tempo bom que não volta mais!", momento em que algumas lágrimas passam a correr pelo rosto.
Rosália Maria Alves de Melo, filha do casal, se lembra da época em que mudaram de endereço:" Toda a tarde passava boiada pela rua e os bois acabavam derrubando a cerca, entrando na casa e até no quarto. Eu morria de medo, mas papai nem ligava e dizia: 'Deixa o boi passar!' ". Outro fato recordado por Rosália, refere-se ao tempo em que tinha 17 anos de idade. Surgira a possibilidade de participar do Projeto Rondon e ir para a Amazônia. "Fui pedir à mamãe, que respondeu: 'Vá pedir a seu pai', apostando que papai não permitiria a viagem. Mas papai acabou respondendo: 'Vá, minha filha, porque você não terá outra oportunidade de aprender!'. Foram 30 dias no Amazonas, em Tefé e em Maroã, na divisa com a Bolívia. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Cresci muito e essa experiência fez com que, depois, eu estimulasse meu filho Pedro Henrique a ir para a Dinamarca".
Rosália com seus filhos Rodrigo(E), administrador de empresas, e Pedro Henrique, cirurgião dentista, e seu marido João Batista, cirurgião dentista, atualmente residentes em Juiz de Fora (MG)
Catharina, por sua vez, se recorda que o comércio que estabeleceram fora o primeiro naquela rua. Nas décadas de 70 e 80 passou a ocorrer, contudo, "concorrência desleal e ficou difícil a qualidade e competitividade", desabafa Haroldo Carrereth Alves, o Haroldinho, que comanda a loja, sob a liderança eficaz de sua mãe.
"Tradição e fidelidade é o que tem mantido a loja durante todos estes anos. Nosso freguês é fiel. Na década de 70, papai queria ir para Belo Horizonte. Ele queria vender 'curtume' por lá, porque viu um colega prosperar nesta área. Mamãe não queria ir, porque a família já estava estabelecida em Bom Jesus. Acabou prevalecendo a vontade de mamãe", complementa Rosália.
"Tio Zé (José Carrereth), irmão de mamãe, era uma pessoa extraordinária e foi quem ajudou a criar os filhos. Outros irmãos estiveram na 2a. Guerra Mundial e teriam sido presos pelos alemães, segundo relatava tio Zé". Por este motivo, "ele se deslocou para a França, para ajudar a cuidar de crianças da família que ficaram meio desamparadas", conta Rosália.
Segundo ainda Rosália, seu avô, José Antonio Carrereth, foi afilhado de Padre Mello. Posteriormente, Padre Francisco ajudou a criar a família. "Todos fomos criados dentro da Igreja do Pe. Francisco. Obediência e fé era o lema. Isso tudo foi muito positivo para a criação de nossa familia".
O papa Pio XII concedeu a Bênção Apostólica a Haroldo e sua família
Rosália assinalou, outrossim, que o vínculo com os franceses permanece até hoje: " Já recebemos visitas de parentes da família Carrereth que moram na França, e mantemos contatos frequentes com eles, através da internet. Alguns dos parentes franceses moram em Gourrette, no sul da França, e em Oloron- Santa Marie. Nâo temos, contudo, contato com parentes da Espanha, embora seja um desejo nosso resgatar isso".
ESPANHA
Catharina se recorda dos avós espanhóis, que vieram para Bom Jesus nos idos de 1914: " Vieram vovô Jesus, vovó Ramona e os tios Maria, Rosa e Ramona. Genaro veio por último. Tio Genaro estabeleceu uma olaria em uma região do Bairro Pimentel Marques e passou a fabricar tijolos. Tia Rosa acabou casando com tio José Antonio, enquanto a tia Maria, irmã de tia Rosa, casou com tio João, irmão do tio José Antonio. Duas irmãs espanholas casaram-se em Bom Jesus do Itabapona, portanto, com dois irmãos descendentes de franceses".
A olaria mencionada por Catharina funcionou onde atualmente está localizado o galpão da Secretaria Municipal de Obras, não havendo mais vestigio da mesma.
Onde hoje está instalado o galpão da Secretaria Municipal de Obras, funcionou uma olaria dirigida pelo espanhol Genaro
Dos nove filhos, dois são falecidos: Haroldinho, Regina (filhos: Márcio e Marcos), Reginaldo (filhos: Caline e Gabriel), Rosa (falecida, filhos: Clarissa e Cecília), Rosália ( filhos: Pedro e Rodrigo), Rodolfo (filhos: Juliano e Anderson), Romero (filhos: Oneida, Haroldo e Mirela), Ramona e Rônei (falecido, filhos: Daiane e João Vítor).
Haroldo, Catharina, Rosa, Regina, Reginaldo, Rosália, Rodolfo, Romero,Ramona, Haroldo e Rônei, em foto de 1994.
Catharina se emociona quando se recorda dos filhos Rosa e Rônei. Busca uma receita escrita por Rosa, assim como um quadro pintado por ela. Lê, ainda, uma mensagem deixada por Rônei, quando o mesmo se tratava contra câncer: "Mãe, é na paz com o nosso pai que encontramos o combustível para sustentar nossa alma, para a glória eterna que tanto desejamos (26/11/1995)".
Rônei faleceu no dia 16/05/1998, com 30 anos e se estivesse vivo, estaria orgulhoso com a notícia de que Daiane, sua filha, com 19 anos de idade, foi aprovada para o curso de Jornalismo, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e para o curso de Direito, na Universidade Federal de Juiz de Fora. Por outro lado, o outro filho, João Vítor, "está feliz estudando no Colégio das Irmãs", diz Catharina.
Ao final da entrevista, Haroldo deixa uma mensagem para as novas gerações: "sinceridade", enquanto Catharina exclama: "honestidade, temor a Deus."
MARIA CARRERETH ARAÚJO
Maria Carrrereth Araújo, dona Mariinha, por sua vez, é "prima-irmã de Catharina" e também nasceu no Sítio da Fortaleza, no dia 03 de junho de 1930. "Todos os Carrereth nasceram lá", diz Mariinha. A reportagem de O NORTE FLUMINENSE levou-a até a região onde nasceu, e onde está instalado atualmente o "FERJACK", uma área de lazer, com Pousada, Restaurante, Espaço para Shows e Pesque e Pague, pertencente a Sérgio Carrereth, que deu o nome ao empreendimento em homenagem a suas filhas Fernanda e Jackeline.
Área do Sítio da Fortaleza, onde havia uma residência, na qual nasceram Mariinha e suas irmãs
O Ferjack está estabelecido na França Bonjesuense
Lá, ela se recordou da casa, próxima ao rio, onde nasceu. A residência não existe mais. "Nesta casa, além de mim, nasceram minhas irmãs Hilda, Odete e Nair. Na outra casa, nasceram Wilson, Catharina, Maria José, Tonico e João Pedro. Recordo-me dos dias felizes que passei em minha infância até os 16 anos de idade, quando eu me casei. Adorava os animais. Eu montava cavalo. Lembro, até hoje, quando eu montei certa vez um cavalo, levando o Wilson, que por sua vez se agarrava na Catharina, na montaria".
Mariinha, com a funcioária Ariana (E) e Geane, casada com Sérgio Carrereth, com sua filha Maria Valentina, de 2 anos e 8 meses de idade.
Mariinha casou-se com Cleveland Castro Araújo, o "seu Crivinho". "Foi o Padre Mello quem fez meu casamento no sítio", diz ela. Dona Mariinha possui 3 filhos. Viúva, mora em Bom Jesus do Norte (ES), com uma neta, ajudando a tomar conta de duas bisnetas. Ela vendeu a parte que lhe cabia na herança da área dos "Franceses", onde hoje está localizado o "Acqua Park", e investiu na atual casa que foi dividida em duas, alugando uma delas para ajudar no sustento da casa.
Repentinamente, uma frase escapa de seus lábios: "não tive nada na vida", não conseguindo evitar as lágrimas.
Se Villegagnon foi o francês que procurou estabelecer a França Antártica no Rio de Janeiro, em 1555, foram Jean Pierre Carrereth e Catherine Carrereth os franceses que estabeleceram em Bom Jesus do Itabapoana, em 1907, a França Bonjesuense.
Haroldinho e Catharina, à frente da Casa Santa Catarina
Catharina é filha de José Antonio Carrereth e da espanhola Rosa Rodrigues Carrereth. Seu pai, como todos os seus tios, nasceram no " Sítio da Fortaleza". Casou-se com Haroldo de Lima Alves, o Haroldo Sapateiro, nascido no dia 17/08/1925, em Iuru, atual Ponte José Carlos, distrito de Apiacá (ES). Segundo ela, quem realizou o casamento civil "foi o Dr. Octacílio de Aquino,que possuía um Cartório nos fundos da Igreja e era muito amigo de meu pai".
São 60 anos de casamento, com 9 filhos e 15 netos.
Haroldo chegou a trabalhar na roça, em Iuru. Depois, passou a trabalhar com arreios, no estabelecimento de José Urbano, que fabricava selas e possuía um empreendimento onde hoje está localizada a Casa Itaperuna. Foi ali que Haroldo se tornou aprendiz de selaria. Posteriormente, passou a ser artesão e, finalmente, sapateiro. Haroldo costumava comprar material para seu ofício em Campos dos Goytacazes (RJ). Resolveu, então, estabalecer a "Sapataria do Haroldo" no antigo bairro Volta d'Areia. Como os filhos estudavam no Colégio Rio Branco, Catharina e Haroldo desejavam que os filhos morassem próximo do educandário. Por este motivo, nos idos de 1933 trocaram a propriedade por uma localizada no atual endereço, na Avenida Abreu Lima, n. 213, demolindo uma casa velha e edificando a que hoje ali se encontra, assim como a "Casa de Couros Santa Catharina".
Haroldo, Catharina, Cecília e Regina, na residência da família
Haroldo foi liguista e até hoje integra o Coral Santa Rita de Cássia da Igreja Católica, mesmo estando com o "mal de Alzheimer". Quando perguntamos a Haroldo sobre os fatos relevantes do passado, ele se detém, se emociona e exclama: "Muita coisa boa! Tempo bom que não volta mais!", momento em que algumas lágrimas passam a correr pelo rosto.
Rosália Maria Alves de Melo, filha do casal, se lembra da época em que mudaram de endereço:" Toda a tarde passava boiada pela rua e os bois acabavam derrubando a cerca, entrando na casa e até no quarto. Eu morria de medo, mas papai nem ligava e dizia: 'Deixa o boi passar!' ". Outro fato recordado por Rosália, refere-se ao tempo em que tinha 17 anos de idade. Surgira a possibilidade de participar do Projeto Rondon e ir para a Amazônia. "Fui pedir à mamãe, que respondeu: 'Vá pedir a seu pai', apostando que papai não permitiria a viagem. Mas papai acabou respondendo: 'Vá, minha filha, porque você não terá outra oportunidade de aprender!'. Foram 30 dias no Amazonas, em Tefé e em Maroã, na divisa com a Bolívia. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Cresci muito e essa experiência fez com que, depois, eu estimulasse meu filho Pedro Henrique a ir para a Dinamarca".
Rosália com seus filhos Rodrigo(E), administrador de empresas, e Pedro Henrique, cirurgião dentista, e seu marido João Batista, cirurgião dentista, atualmente residentes em Juiz de Fora (MG)
Catharina, por sua vez, se recorda que o comércio que estabeleceram fora o primeiro naquela rua. Nas décadas de 70 e 80 passou a ocorrer, contudo, "concorrência desleal e ficou difícil a qualidade e competitividade", desabafa Haroldo Carrereth Alves, o Haroldinho, que comanda a loja, sob a liderança eficaz de sua mãe.
"Tradição e fidelidade é o que tem mantido a loja durante todos estes anos. Nosso freguês é fiel. Na década de 70, papai queria ir para Belo Horizonte. Ele queria vender 'curtume' por lá, porque viu um colega prosperar nesta área. Mamãe não queria ir, porque a família já estava estabelecida em Bom Jesus. Acabou prevalecendo a vontade de mamãe", complementa Rosália.
"Tio Zé (José Carrereth), irmão de mamãe, era uma pessoa extraordinária e foi quem ajudou a criar os filhos. Outros irmãos estiveram na 2a. Guerra Mundial e teriam sido presos pelos alemães, segundo relatava tio Zé". Por este motivo, "ele se deslocou para a França, para ajudar a cuidar de crianças da família que ficaram meio desamparadas", conta Rosália.
Segundo ainda Rosália, seu avô, José Antonio Carrereth, foi afilhado de Padre Mello. Posteriormente, Padre Francisco ajudou a criar a família. "Todos fomos criados dentro da Igreja do Pe. Francisco. Obediência e fé era o lema. Isso tudo foi muito positivo para a criação de nossa familia".
O papa Pio XII concedeu a Bênção Apostólica a Haroldo e sua família
Rosália assinalou, outrossim, que o vínculo com os franceses permanece até hoje: " Já recebemos visitas de parentes da família Carrereth que moram na França, e mantemos contatos frequentes com eles, através da internet. Alguns dos parentes franceses moram em Gourrette, no sul da França, e em Oloron- Santa Marie. Nâo temos, contudo, contato com parentes da Espanha, embora seja um desejo nosso resgatar isso".
ESPANHA
Catharina se recorda dos avós espanhóis, que vieram para Bom Jesus nos idos de 1914: " Vieram vovô Jesus, vovó Ramona e os tios Maria, Rosa e Ramona. Genaro veio por último. Tio Genaro estabeleceu uma olaria em uma região do Bairro Pimentel Marques e passou a fabricar tijolos. Tia Rosa acabou casando com tio José Antonio, enquanto a tia Maria, irmã de tia Rosa, casou com tio João, irmão do tio José Antonio. Duas irmãs espanholas casaram-se em Bom Jesus do Itabapona, portanto, com dois irmãos descendentes de franceses".
A olaria mencionada por Catharina funcionou onde atualmente está localizado o galpão da Secretaria Municipal de Obras, não havendo mais vestigio da mesma.
Onde hoje está instalado o galpão da Secretaria Municipal de Obras, funcionou uma olaria dirigida pelo espanhol Genaro
Dos nove filhos, dois são falecidos: Haroldinho, Regina (filhos: Márcio e Marcos), Reginaldo (filhos: Caline e Gabriel), Rosa (falecida, filhos: Clarissa e Cecília), Rosália ( filhos: Pedro e Rodrigo), Rodolfo (filhos: Juliano e Anderson), Romero (filhos: Oneida, Haroldo e Mirela), Ramona e Rônei (falecido, filhos: Daiane e João Vítor).
Haroldo, Catharina, Rosa, Regina, Reginaldo, Rosália, Rodolfo, Romero,Ramona, Haroldo e Rônei, em foto de 1994.
Catharina se emociona quando se recorda dos filhos Rosa e Rônei. Busca uma receita escrita por Rosa, assim como um quadro pintado por ela. Lê, ainda, uma mensagem deixada por Rônei, quando o mesmo se tratava contra câncer: "Mãe, é na paz com o nosso pai que encontramos o combustível para sustentar nossa alma, para a glória eterna que tanto desejamos (26/11/1995)".
Rônei faleceu no dia 16/05/1998, com 30 anos e se estivesse vivo, estaria orgulhoso com a notícia de que Daiane, sua filha, com 19 anos de idade, foi aprovada para o curso de Jornalismo, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e para o curso de Direito, na Universidade Federal de Juiz de Fora. Por outro lado, o outro filho, João Vítor, "está feliz estudando no Colégio das Irmãs", diz Catharina.
Ao final da entrevista, Haroldo deixa uma mensagem para as novas gerações: "sinceridade", enquanto Catharina exclama: "honestidade, temor a Deus."
MARIA CARRERETH ARAÚJO
Maria Carrrereth Araújo, dona Mariinha, por sua vez, é "prima-irmã de Catharina" e também nasceu no Sítio da Fortaleza, no dia 03 de junho de 1930. "Todos os Carrereth nasceram lá", diz Mariinha. A reportagem de O NORTE FLUMINENSE levou-a até a região onde nasceu, e onde está instalado atualmente o "FERJACK", uma área de lazer, com Pousada, Restaurante, Espaço para Shows e Pesque e Pague, pertencente a Sérgio Carrereth, que deu o nome ao empreendimento em homenagem a suas filhas Fernanda e Jackeline.
Área do Sítio da Fortaleza, onde havia uma residência, na qual nasceram Mariinha e suas irmãs
O Ferjack está estabelecido na França Bonjesuense
Lá, ela se recordou da casa, próxima ao rio, onde nasceu. A residência não existe mais. "Nesta casa, além de mim, nasceram minhas irmãs Hilda, Odete e Nair. Na outra casa, nasceram Wilson, Catharina, Maria José, Tonico e João Pedro. Recordo-me dos dias felizes que passei em minha infância até os 16 anos de idade, quando eu me casei. Adorava os animais. Eu montava cavalo. Lembro, até hoje, quando eu montei certa vez um cavalo, levando o Wilson, que por sua vez se agarrava na Catharina, na montaria".
Mariinha, com a funcioária Ariana (E) e Geane, casada com Sérgio Carrereth, com sua filha Maria Valentina, de 2 anos e 8 meses de idade.
Mariinha casou-se com Cleveland Castro Araújo, o "seu Crivinho". "Foi o Padre Mello quem fez meu casamento no sítio", diz ela. Dona Mariinha possui 3 filhos. Viúva, mora em Bom Jesus do Norte (ES), com uma neta, ajudando a tomar conta de duas bisnetas. Ela vendeu a parte que lhe cabia na herança da área dos "Franceses", onde hoje está localizado o "Acqua Park", e investiu na atual casa que foi dividida em duas, alugando uma delas para ajudar no sustento da casa.
Repentinamente, uma frase escapa de seus lábios: "não tive nada na vida", não conseguindo evitar as lágrimas.
Se Villegagnon foi o francês que procurou estabelecer a França Antártica no Rio de Janeiro, em 1555, foram Jean Pierre Carrereth e Catherine Carrereth os franceses que estabeleceram em Bom Jesus do Itabapoana, em 1907, a França Bonjesuense.
domingo, 4 de março de 2012
DE XAVIER PARA XAVIER
O poeta PAULO XAVIER nasceu em Bom Jesus do Itabapona(RJ), no dia 8 de fevereiro de 1962. Filho de JOSÉ XAVIER DA SILVA e MARIETTA DE SOUZA XAVIER, iniciou na arte de escrever em 1979, publicando textos e poesias em jornais e revistas do Norte Fluminense e do Sul Capixaba.
PAULO XAVIER
Outro ponto de identificação com o consagrado poeta ELCIO XAVIER, além do sobrenome, do local de nascimento e do fato de ser poeta, refere-se à circunstância de seu bisavô, JOSÉ FRANCISCO NUNES XAVIER, ter vindo para Bom Jesus do Itabapoana a partir do município mineiro MAR DA ESPANHA, assim como ocorreu com CARLOS DE AQUINO XAVIER, o bisavô do genial poeta bonjesuense. Além disso, PAULO XAVIER será empossado na Academia Bonjesuense de Letras, onde o mestre o espera.
O livro "O VÉU DA MANHÃ", de ELCIO XAVIER, de reconhecido valor na literatura nacional, é uma das preciosidades que PAULO passou a conhecer, após o casamento com a artista plástica LUZIA MARIA DE AZEVEDO SILVEIRA, também de Bom Jesus do Itabapoana, cujo pai, ACYR RODRIGUES SILVEIRA, recebera um exemplar autografado pelo próprio ELCIO.
PAULO XAVIER, LUZIA MARIA e o livro "O VÉU DA MANHÃ"
Com dois livros lançados, "Sobreviventes" e "O Sentido da Vida, Ideias Não Necessariamente Sensatas", e com dois outros por lançar, "Alvorecer" e "Ruas da Perdição", PAULO inspirou-se na obra do ELCIO XAVIER para dedicar-lhe a seguinte poesia.
TRIBUTO
(singela homenagem ao poeta bonjesuense ELCIO XAVIER)
Senhor de raro talento,
tecelão das palavras
e do sentimento;
poeta das cores diáfanas,
luzes, brumas e flores,
no azul do eterno momento.
Uma luz na estrada
que conduz a vida,
essa mente lúcida e sã;
alma rara, misteriosa,
que sutil se descerra
no véu da manhã.
[ "...e que somente as palavras se eternizem!" Elcio Xavier, em "Verbo" ( in "O VÉU DA MANHÃ")]
11 de fevereiro de 2012.
Ainda em relação ao livro "O VÉU DA MANHÃ", O NORTE FLUMINENSE transcreve abaixo a crítica a respeito de tal obra, lavrada por um dos expoentes da literatura brasileira, LÚCIO CARDOSO, colega de Vinícius de Moraes e Clarice Lispecto. Esta crítica restou publicada na REVISTA BRANCA, edição de dezembro de 1951.
A REVISTA BRANCA, por sua vez, foi uma publicação reconhecida pela Academia Brasileira de Letras. Segundo a entidade, "vários foram os escritores de relevância nacional da nossa literatura brasileira que colaboraram com a Revista Branca podendo citar: Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego, Tasso da Silveira, Guilherme Figueiredo, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Alberto da Costa e Silva e outros.(cf.http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=804&infoid=11561&tpl=printerview).
Revista Branca:alta relevância cultural, segundo a Academia Brasileira de Letras
"O VÉU DA MANHÃ"
LÚCIO CARDOSO
"Tenho em mãos o livro de estreia de um Poeta. Este grande mistério da Poesia, sobre que já se inclinaram tantos sábios e estudiosos, que tantos aproximam do fenômeno místico e que muitas vezes os próprios poetas não compreendem, tão estranho e profundo é ele, este mistério é sem dúvida o sinal de uma predestinação que neste mundo conta como uma das coisas mais altas. e que seria de nós se os poetas não surgissem de vez em quando, com sua incrível capacidade de sofrer por si e pelos outros, que seria do mundo, se do seu caos confuso e atormentado não surgissem intérpretes que lhe emprestassem uma fórmula única e real, magos que fazem brotar com o simples toque da sua varinha um oceano de espessas e maravilhosas ressonâncias?
Não sei como surgem os poetas, mas sei que quase sempre sua primeira manifestação é um grito de afirmação, um brado de presença através da paisagem e do destino, através do sangue e do sofrimento, olhos pela primeira vez abertos, como o primeiro homem ao sair das mãos de Deus.
O livro desse novo poeta, que é o Sr. Elcio Xavier, chama-se "O Véu da Manhã" - título que me parece extraordinariamente feliz, por sintetizar toda a força de véus que se descerram ante o ímpeto da descoberta e a aparição da luz. Logo no poema que dá início ao livro, vêmo-lo afrontar a legenda do próprio destino, dizendo:
Azul da minha alma como a lagoa viva
canta a música do sol e as folhas novas
banha-te na amplidão de um pensamento
ou no curto espaço do raio desviado.
Penetra, azul, no infinito deste céu macio,
aproxima-te da terra bafejada pelos ventos
ou vela a pedra que o frio embalsamou.
Desce ao abismo alegre das águas
e descansa sobre as transparentes algas da fantasia.
Cobre teus olhos de aroma ou cálices de flor,
nos teus braços estende as lianas frescas,
no teu corpo sadio desprende o véu da manhã
ah! - e não calces nunca teus pés antes da primeira dor.
Mas se te detiveres ante a onda tumultuosa
ou percorreres o deserto do descontentamento,
não voltes nunca um olhar para o passado,
não sintas nunca a vida que findou.
Toma o teu roteiro claro e definido,
tua estrela jovem como botão de rosa
e espalha nos lábios um franco sorriso,
no coração a eterna e pura juventude
e caminha assim sem jamais duvidar.
Tua estrada é áspera como a da folha agreste,
teus dias enevoados como as horas de agonia,
mas tua sina é mais bela do que a violeta
no desabrochar feliz da manhã de primavera!
Nasceste, azul, para festejar a natureza,
para vibrar na paisagem desfalecida,
para vagar ébrio como os perfumes no ar.
Tua sina é cantar!
Mas o Sr. Elcio Xavier, que possui esta coisa perigosa que é uma grande riqueza verbal, aliada a uma prodigiosa capacidade de inventar imagens, não canta apenas o azul da sua inspiração, mas todas as cores do Universo, desde as verdes colinas, até a pompa rósea e refulgente, bem como as campinas roxas, os céus em fogo, a poeira azul, a chaga escura e o negro sol.
Neste mundo tão intensamente colorido, tudo se abre para a natureza e os seus segredos - e este poeta lírico, que tão bem sabe falar do vento e das trevas, consegue uma nota pessoal e estranha, tocada de não sei que ingenuidade, que dá a sua poesia um aspecto inédito entre nós. Algumas vezes, e de longe, lembra o Sr. Augusto Frederico Schmidt: - é que a compreensão da Poesia que o Sr. Elcio Xavier tem, assemelha-se à revelada pelo cantor da "Estrela Solitária". Para ambos, o poeta, destinado a uma missão superior, possui um caráter excepcional e divino.
Não sei qual a experiência que este jovem poeta tem da vida e nem qual o seu exato conhecimento das coisas. Mas julgo que, possivelmente, não ignora ele que o verdadeiro quinhão do poeta neste mundo, qualquer que seja sua maneira de pensar, é o sofrimento. Renegá-lo seria trair o que de mais íntimo e belo existe dentro de si. Renegá-lo seria mutilar uma personalidade que nunca poderia vicejar amplamente noutros terrenos da vida. Gostaria, no momento de fechar este artigo, saudar no poeta que acaba de estrear, um autêntico valor da moderna Poesia Brasileira. É que "O Véu da Manhã" parece-me conter realmente algo destinado a marcar o seu aparecimento como um dos acontecimentos literários dos últimos anos".
LÚCIO CARDOSO
VOCÊ SABIA?
A obra-prima de LÚCIO CARDOSO, "Crônica da Casa Assassinada" (1958), é um dos livros mais cultuados na literatura brasileira, tendo sido traduzida para o francês, inglês e italiano.
PAULO XAVIER
Outro ponto de identificação com o consagrado poeta ELCIO XAVIER, além do sobrenome, do local de nascimento e do fato de ser poeta, refere-se à circunstância de seu bisavô, JOSÉ FRANCISCO NUNES XAVIER, ter vindo para Bom Jesus do Itabapoana a partir do município mineiro MAR DA ESPANHA, assim como ocorreu com CARLOS DE AQUINO XAVIER, o bisavô do genial poeta bonjesuense. Além disso, PAULO XAVIER será empossado na Academia Bonjesuense de Letras, onde o mestre o espera.
O livro "O VÉU DA MANHÃ", de ELCIO XAVIER, de reconhecido valor na literatura nacional, é uma das preciosidades que PAULO passou a conhecer, após o casamento com a artista plástica LUZIA MARIA DE AZEVEDO SILVEIRA, também de Bom Jesus do Itabapoana, cujo pai, ACYR RODRIGUES SILVEIRA, recebera um exemplar autografado pelo próprio ELCIO.
PAULO XAVIER, LUZIA MARIA e o livro "O VÉU DA MANHÃ"
Com dois livros lançados, "Sobreviventes" e "O Sentido da Vida, Ideias Não Necessariamente Sensatas", e com dois outros por lançar, "Alvorecer" e "Ruas da Perdição", PAULO inspirou-se na obra do ELCIO XAVIER para dedicar-lhe a seguinte poesia.
TRIBUTO
(singela homenagem ao poeta bonjesuense ELCIO XAVIER)
Senhor de raro talento,
tecelão das palavras
e do sentimento;
poeta das cores diáfanas,
luzes, brumas e flores,
no azul do eterno momento.
Uma luz na estrada
que conduz a vida,
essa mente lúcida e sã;
alma rara, misteriosa,
que sutil se descerra
no véu da manhã.
[ "...e que somente as palavras se eternizem!" Elcio Xavier, em "Verbo" ( in "O VÉU DA MANHÃ")]
11 de fevereiro de 2012.
Ainda em relação ao livro "O VÉU DA MANHÃ", O NORTE FLUMINENSE transcreve abaixo a crítica a respeito de tal obra, lavrada por um dos expoentes da literatura brasileira, LÚCIO CARDOSO, colega de Vinícius de Moraes e Clarice Lispecto. Esta crítica restou publicada na REVISTA BRANCA, edição de dezembro de 1951.
A REVISTA BRANCA, por sua vez, foi uma publicação reconhecida pela Academia Brasileira de Letras. Segundo a entidade, "vários foram os escritores de relevância nacional da nossa literatura brasileira que colaboraram com a Revista Branca podendo citar: Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego, Tasso da Silveira, Guilherme Figueiredo, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Alberto da Costa e Silva e outros.(cf.http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=804&infoid=11561&tpl=printerview).
Revista Branca:alta relevância cultural, segundo a Academia Brasileira de Letras
"O VÉU DA MANHÃ"
LÚCIO CARDOSO
"Tenho em mãos o livro de estreia de um Poeta. Este grande mistério da Poesia, sobre que já se inclinaram tantos sábios e estudiosos, que tantos aproximam do fenômeno místico e que muitas vezes os próprios poetas não compreendem, tão estranho e profundo é ele, este mistério é sem dúvida o sinal de uma predestinação que neste mundo conta como uma das coisas mais altas. e que seria de nós se os poetas não surgissem de vez em quando, com sua incrível capacidade de sofrer por si e pelos outros, que seria do mundo, se do seu caos confuso e atormentado não surgissem intérpretes que lhe emprestassem uma fórmula única e real, magos que fazem brotar com o simples toque da sua varinha um oceano de espessas e maravilhosas ressonâncias?
Não sei como surgem os poetas, mas sei que quase sempre sua primeira manifestação é um grito de afirmação, um brado de presença através da paisagem e do destino, através do sangue e do sofrimento, olhos pela primeira vez abertos, como o primeiro homem ao sair das mãos de Deus.
O livro desse novo poeta, que é o Sr. Elcio Xavier, chama-se "O Véu da Manhã" - título que me parece extraordinariamente feliz, por sintetizar toda a força de véus que se descerram ante o ímpeto da descoberta e a aparição da luz. Logo no poema que dá início ao livro, vêmo-lo afrontar a legenda do próprio destino, dizendo:
Azul da minha alma como a lagoa viva
canta a música do sol e as folhas novas
banha-te na amplidão de um pensamento
ou no curto espaço do raio desviado.
Penetra, azul, no infinito deste céu macio,
aproxima-te da terra bafejada pelos ventos
ou vela a pedra que o frio embalsamou.
Desce ao abismo alegre das águas
e descansa sobre as transparentes algas da fantasia.
Cobre teus olhos de aroma ou cálices de flor,
nos teus braços estende as lianas frescas,
no teu corpo sadio desprende o véu da manhã
ah! - e não calces nunca teus pés antes da primeira dor.
Mas se te detiveres ante a onda tumultuosa
ou percorreres o deserto do descontentamento,
não voltes nunca um olhar para o passado,
não sintas nunca a vida que findou.
Toma o teu roteiro claro e definido,
tua estrela jovem como botão de rosa
e espalha nos lábios um franco sorriso,
no coração a eterna e pura juventude
e caminha assim sem jamais duvidar.
Tua estrada é áspera como a da folha agreste,
teus dias enevoados como as horas de agonia,
mas tua sina é mais bela do que a violeta
no desabrochar feliz da manhã de primavera!
Nasceste, azul, para festejar a natureza,
para vibrar na paisagem desfalecida,
para vagar ébrio como os perfumes no ar.
Tua sina é cantar!
Mas o Sr. Elcio Xavier, que possui esta coisa perigosa que é uma grande riqueza verbal, aliada a uma prodigiosa capacidade de inventar imagens, não canta apenas o azul da sua inspiração, mas todas as cores do Universo, desde as verdes colinas, até a pompa rósea e refulgente, bem como as campinas roxas, os céus em fogo, a poeira azul, a chaga escura e o negro sol.
Neste mundo tão intensamente colorido, tudo se abre para a natureza e os seus segredos - e este poeta lírico, que tão bem sabe falar do vento e das trevas, consegue uma nota pessoal e estranha, tocada de não sei que ingenuidade, que dá a sua poesia um aspecto inédito entre nós. Algumas vezes, e de longe, lembra o Sr. Augusto Frederico Schmidt: - é que a compreensão da Poesia que o Sr. Elcio Xavier tem, assemelha-se à revelada pelo cantor da "Estrela Solitária". Para ambos, o poeta, destinado a uma missão superior, possui um caráter excepcional e divino.
Não sei qual a experiência que este jovem poeta tem da vida e nem qual o seu exato conhecimento das coisas. Mas julgo que, possivelmente, não ignora ele que o verdadeiro quinhão do poeta neste mundo, qualquer que seja sua maneira de pensar, é o sofrimento. Renegá-lo seria trair o que de mais íntimo e belo existe dentro de si. Renegá-lo seria mutilar uma personalidade que nunca poderia vicejar amplamente noutros terrenos da vida. Gostaria, no momento de fechar este artigo, saudar no poeta que acaba de estrear, um autêntico valor da moderna Poesia Brasileira. É que "O Véu da Manhã" parece-me conter realmente algo destinado a marcar o seu aparecimento como um dos acontecimentos literários dos últimos anos".
LÚCIO CARDOSO
VOCÊ SABIA?
A obra-prima de LÚCIO CARDOSO, "Crônica da Casa Assassinada" (1958), é um dos livros mais cultuados na literatura brasileira, tendo sido traduzida para o francês, inglês e italiano.