A ETERNA SONHADORA
Maria Gislane Santos Teixeira é bonjesuense nascida na Fazenda Cristalina, no dia 10/09/1945. Seus pais são José Gomes dos Santos Filho, conhecido como "Maritaca" e Maria da Glória Baptista dos Santos, a dona Glorinha.
Os avós paternos são José Gomes dos Santos, nascido na Fazenda Boa Esperança, e Clementina Cristina de Moraes Santos, oriunda do Quebrado. Tem, como avós maternos, Alberto Baptista de Araújo, que veio da terra capixaba de Santa Fé, o que fez com que passasse a ser conhecido como "homem de boa-fé", e Maria Angélica Santana Sá de Araújo, oriunda de Diamantina (MG).
Casamento civil de dona Glorinha e José Maritaca em 1935 |
Maria Gislane se recorda dos bisavós do lado paterno: Quinca Dutra (Joaquim Dutra de Moraes) e Maria Tereza que, segundo informações, seria portuguesa. Os bisavós do lado materno são João Ferreira de Sá,fazendeiro de café, em Diamantina (MG), e Maria Angélica Santos Sá de Araújo, a Inhazinha.
Maria Gislane se emociona quando lembra da história em que Inhazinha procurava esconder do pai escravos estimados que estavam para ser vendidos. "Minha avó contava que a Princesa Isabel esteve na Fazenda em Diamantina para libertar os escravos. Em 1888, meus bisavós mudaram-se de Diamantina para a Fazenda Santo Antonio e, em seguida, para a Fazenda Laranjal, no Espírito Santo", relata.
Fazenda Cristalina, em 1960 |
Prossegue Maria Gislane: "Meu pai foi subdelegado na Fazenda Cristalina, e foi um dos melhores atiradores do Tiro de Guerra. Na Fazenda Cristalina havia gerador de luz própria, caixa d'água, moinho de fubá, açude, entre outras coisas. Lá, se plantava de tudo e só se comprava salame, bacalhau, açúcar refinado e farinha de trigo. O resto era tudo produzido lá. Recordo-me que os produtores costumavam realizar troca de mercadorias. Davi Lobão, por exemplo, produzia açúcar batido e melado e isso era trocada por queijo. Hoje, com o falecimento dos troncos, as novas gerações infelizmente não tiveram condições de dar continuidade aos antigos costumes, porque os tempos mudaram. Sou muito saudosista".
Dona Glorinha no fogão a lenha da Fazenda Cristalina, em 1970 |
Maria Gislane possui três irmãos: Maria Clementina, José Alberto (Zezinho) e José Joaquim. Na família, são 9 netos e 7 bisnetos.
Maria Gislane guarda consigo uma "banquinha", construída há 59 anos atrás, e que ganhou do seu padrinho Zezé, quando tinha 4 anos de idade. "Recordo-me que, em meu aniversário, ganhei uma galinha nanica e esta banquinha, que foi construída por meu padrinho. Eu usava a banquinha para brincar e emprestava para minha avó colocar os pés, quando ela teve a perna quebrada. Hoje, minha neta, Maria Luiza, de 7 anos, filha de José Luis com Miriam Saraiva, brinca com esta banquinha".
Outro fato, da época de infância, foi lembrado por Maria Gislane, com emoção: "dentre as vacas de leite da fazenda, havia uma em que a teta costumava ficar pingando, na hora da ordenha. Eu costumava levar uma canequinha e colocava em baixo da teta, até a canequinha ficar cheia de leite".
MARITACA
Seu pai passou a ser chamado de "Maritaca", porque "falava muito durante as partida de futebol, dando palpite em tudo", esclarece Maria Gislane. Além disso, Maritaca tinha uma paixão pela política, sendo vereador por diversas vezes. Quanto a isso, ela lembra que, "certa vez, meu pai utilizou o seguinte mote, na campanha: 'Prometa aos outros e vote em mim'. Por causa disso, a Revista Veja chegou a publicar uma matéria bem humorada sobre o fato, com o título 'amigo da onça' ".
José Maritaca: paixão pela política |
A respeito de seus pais, Maria Gislane se recorda que ambos se dedicavam à comunidade: "Minha mãe, conhecida como dona Glorinha, dava banhos nos recém-nascidos e cuidava dos seus umbigos. O vereador Clerinho da Soledade, por exemplo, foi um dos últimos a receberem os cuidados dela. Por outro lado, meu pai se dedicava a acudir as pessoas que necessitavam, inclusive à noite, dando injeções, se a circunstância exigisse. Ele também vacinava crianças, sendo um autêntico agente comunitário voluntário. Durante a semana santa ele abria os dois açudes onde criava peixes e distribuía para os familiares e para a vizinhança. Leite também era distribuído para os empregados e vizinhos".
Prossegue Maria Gislane: "Meu pai costumava viajar, na década de 1950, com o dr. Harry Diniz e Chicão para os municípios de Cordeiro e Barra do Piraí, no estado do Rio de Janeiro, para participarem das festas de pecuária e adquirirem vacas holandesas. Traziam também mudas de plantas. Recordo-me que Zezé Borges costumava ir à nossa propriedade e encher sua caminhonete de frutas, que eram distribuídas também para os colonos e vizinhos".
Outro fato merece recordação: "Lembro de um fato ocorrido durante a Festa de Agosto. O então governador Roberto Silveira colocou holofotes na Praça Governador Portela, que ficavam iluminando o céu. Minha mãe, da Fazenda Cristalina, via aquela luminosidade no céu e, aflita com a ausência de meu pai, chegou a imaginar que o mundo estava acabando".
Christiani, Thiago, Luiz Alberto, Maritaca, dona Glorinha, Christina, José Manoel, Geane, Roberta, José Luiz e Josiane, na festa de 15 anos de Christina, em 1991 |
Maria Gislane casou-se no dia 12/07/1969, com Humberto Gandres Teixeira, filho de Luiz da Silva Teixeira, nascido em Rosal, e Celina Gandres Teixeira, oriunda de Valença (RJ). Mudou-se, então, da Fazenda Cristalina para a casa em Bom Jesus, onde reside até hoje, na Travessa Senador Pereira Pinto.
Maria Gislane e Humberto, em fotos de 1965 |
Como veio para Bom Jesus, depois de viver na zona rural, só a partir daí passou a estudar. Concluiu o 2o. grau e, posteriormente, trabalhou na Clínica de Repouso, na área da enfermagem. Lecionou corte e costura no Colégio Estadual Padre Mello, na OAB, na Fundação Leão XIII e no SENAI.
Maria Gislane faz questão de registrar que quando o sogro, Luizinho Teixeira, inaugurou o antigo pavilhão do Hospital. Ele ocupava a presidência do Centro Popular Pró-Melhoramentos. "Ele foi um homem empreendedor, sem ser político. Ajudou na Casa das Meninas, no Instituto de Menores, no Colégio Antonio Honório e em outras entidades. Recordo-me das campanhas que fazia para a rainha da Festa de Agosto, quando se arrecadava dinheiro para o Hospital".
Prossegue ela: " No Parque de Exposições havia também concurso para a escolha do maior repolho. Foram tempos muito bonitos. Embora morássemos na zona rural, procurávamos nos manter sempre informados dos fatos através da rádio, da revista O Cruzeiro, e dos jornais O Norte Fluminense e A Voz do Povo. Aliás, acho que um dos quadros do jornal O Norte Fluminense, com charges das personagens dona Miquelina e seu Pancrácio, que costumavam fazer críticas, devia voltar a ser publicado".
Maria Gislane faz questão de registrar, ainda, que a Gráfica Gutenberg era o equivalente aos atuais Shoping Centers, "onde tinha tudo o que as mulheres desejavam".
AFILHADOS E COMPADRES
Conta Gislane que "meus pais tiveram muitos afilhados de batistmo, crisma e casamento. Eu, quase sempre, acabava indo às solenidades como dama de honra. Além disso, era grande o número de compadres que moravam em nossa propriedade e na vizinhança. Lembro-me dos seguintes: Flópio, Adolfo, Dôca, Zé Pequeno, Manoel, Daniel, Fióte, Tião Brum, Artur, Davi Lobão, Pedro, Tãozinho, Custódio Pimenta, José Silveira, João Malha, Juca Brum, Messias, João Baptista e José Baptista".
AS AVÓS PITITA E INHAZINHA
Vovó Pitita |
As avós Pitita e Inhazinha tiveram relevante influência na vida de Maria Gislane. "Aprendi muito com elas: culinária, costura e crochê. Quando vovó Inhazinha tinha 84 anos de idade, ela me presenteou com sua tesourinha, que dizia ter pertencido a sua avó. Ela me presentou, ainda, com um dedal, que transformei em anel. Foi um período muito gratificante. Valeu a pena ter vivido na roça", emociona-se Maria Gislane.
Vovó Inhainha presenteou Maria Gislane com sua tesourinha, quando tinha 84 anos... |
...e também com seu dedal, de "prata oriental", que foi transformado em anel |
50 anos de casamento de dona Glorinha e José Maritaca, em 03/03/1985, no Abrigo dos Velhos |
A neta Maria Luiza, filha de José Luiz e Mirian Saraiva |
Maria Gislane e a "banquinha" que ganhou de presente, quando tinha 4 anos de idade, hoje, utilizada por sua neta Maria Luiza: o passado presente no futuro |
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