Aproximando a Assunção, a comunidade celebrava – dobres de
sinos, missas e procissão.
À noite, no botequim, reuniam-se uns amigos. Bebiam e
conversavam, dando boas risadas. Por vezes falavam de coisas inexistentes, como
os latifúndios. Eram amigos ou parentes com mais de duzentos anos de história e
respeito.
Um Corpo Estranho, tolerado pelo sistema imune comercial,
fora introduzido recentemente, efeito maléfico da modernidade, telefonia móvel
e internet. Com bravatas e mentiras, o intruso fez o seu próprio diagnóstico:
misoginia, misantropia e racismo. Dava náuseas num frasco de Plasil! Mas o
comércio ia lhe ganhando o dinheiro, e o engolia, aumentando as alcunhas.
Mentiroso, Cotoco, Piquira.
A turma sorria, olhavam uns nos outros, e iam tangendo a
boiada. Lamparina dava mostra de exaustão.
Numa noite, vinha de lá a procissão. O boteco arriou as
portas até faltar um metro para fechá-las, deixando pernas à mostra. Era o
sinal de respeito da convenção.
Lamparina viu a multidão, e deu o alarme. Estava cansado.
Passara o dia no arquivo, lendo e pesquisando. Parece que escrevia umas coisas.
A procissão passando, Corpo Estranho disse: “Vontade de ir
lá e derrubar tudo, espalhar todo mundo”. Lamparina aproximou-se da parede em
frente ao balcão, e retirou do suporte uma vassoura. Pondo-se em posição de
ataque, respondeu: “Experimenta”. Corpo Estranho indagou: “O que vai acontecer?
Eles vão me bater?” Lamparina disse: “Eles, eu não sei”. E o boteco inteiro
gritou: “Mas nós vamos!”.
Tarcísio Borges, nascido em Bom Jesus do Itabapoana, é médico e escritor
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