FILHA DO EX-GOVERNADOR BADGER SILVEIRA É A NOVA ARTICULISTA DE O NORTE FLUMINENSE

Ana Maria Silveira, filha do ex-governador Badger Silveira, é a nova articulista de O Norte Fluminense. Em seu artigo de estreia no jornal,"O GOVERNADOR BADGER SILVEIRA E OS CHINESES NO PALÁCIO DO INGÁ", a autora inicia o resgate de memória de um dos grandes políticos do país, que foi cassado pelo Golpe Militar de 1964.

O GOVERNADOR BADGER SILVEIRA E OS CHINESES NO PALÁCIO DO INGÁ

   Ana Maria Silveira

Estava assistindo a uma reportagem da Globo News e uma notícia me chamou a atenção: “O CASO DOS NOVE CHINESES”, livro mencionado de Murilo Fiuza e Ciça Guedes. A reportagem comentava como os infelizes chineses foram presos, barbaramente torturados, roubados e ofendidos, acredito que logo após saírem do Palácio do Ingá, em Niterói.

Após o Golpe Militar de 1º de abril de 1964, o Governador Badger Silveira foi comunicado de que naqueles dias, no Rio de Janeiro encontrava-se uma delegação chinesa que tinha vindo ao Brasil a convite do Presidente João Goulart.

Todos sabiam que se tratava de uma missão diplomática. Como o Presidente Jango não se encontrava, a delegação chinesa dirigiu-se ao Palácio da Guanabara, sede, à época, do governo do Estado da Guanabara.

Segundo Badger, o governador Carlos Lacerda aproveitou o contexto e de um modo cruel e exibitório fez um estardalhaço pela imprensa, dizendo que não aceitava infiltração comunista no seu Estado, recusando-se a recebê-los.

Badger, sabendo que se tratava de uma visita oficial, localizou a delegação e fez questão de recebê-la no Palácio do Ingá, sede do governo do antigo Estado do Rio de Janeiro, no dia 3 de abril, assumindo o risco que sabia correr sob o Golpe Militar recentíssimo. Respondeu a inquéritos militares sobre o fato de tê-los recebido.

Os presentes que a delegação chinesa ofereceria ao Presidente Goulart foram oferecidos ao Governador Badger Silveira, do Estado do Rio de Janeiro. Badger remetia ao acervo do Estado todos os presentes recebidos em eventos oficiais. Como foram doados naqueles últimos dias de muita confusão com a saída do governo, acabaram indo parar lá em casa.

Nossos pertences – objetos pessoais, brinquedos, livros, documentos – estavam sendo roubados e desviados do Palácio acintosamente por um elemento da guarda pessoal e invasores golpistas-militares​.​

Meus pais já haviam se retirado do Palácio e quando tio João Brasil percebeu a pilhagem, parou o primeiro caminhão que encontrou na rua e pediu ajuda. Com o apoio também de alguns motorista e garçons amigos, colocou o que sobrou no caminhão e levou para o nosso apartamento em São Francisco. ​

Os presentes chineses acabaram sendo levados no caminhão. Aguardando a ocasião oportuna para serem devolvidos, acabaram esquecidos por anos no alto de um armário embutido até que alguma criança descobriu uma bonequinha de louça chinesa encantadora, no meio de embrulhos. Por curiosidade desembrulhamos os outros pacotes e descobrimos os presentes chineses. Eram dois álbuns lindíssimos com desenhos em papel arroz e fechos em marfim, simplesmente obras maravilhosas; uma toalha de mesa em linho que de tão bordada parecia uma renda – outra obra de arte... e a bonequinha.

Até à reportagem da Globo News só sabia que eles haviam sido presos. Não imaginava a gravidade das torturas e a extensão das humilhações.

Mais uma vez fico indignada com a maldade de Carlos Lacerda. Usou da calúnia como habitualmente fazia, desta vez contra os inocentes chineses, sem compromisso com a verdade, sem medir as consequências.

Vargem Grande Paulista, 15/12/2014