Era
menos de oito horas da manhã, naquele sábado, praticamente madrugada, quando os
fogos de artifício começaram a espocar. Parecia a artilharia em guerra,
explodindo sem intervalos. Acordei atordoado. Lembrei-me de Fabrice Del Dongo,
que ouvira o canhoneio contínuo de Waterloo, sem imaginar sequer onde estava e
o risco de morte. Com a cara ainda amassada no travesseiro, quase sorria ao
lembrar aqueles prazeres literários. Decidido a continuar dormindo, parei de
rir e por lá deixei Fabrice.Já estava brincando com artifício e artefácil, e
ia perder o sono.Eu não sabia as
razões de comemoração, e, por conseguinte, se nelas pensasse, acordaria de vez.
Que fogos são esses? – pensei. Se fosse da parte de algum carregamento, bastava
um tiro. Talvez a carga fosse mais rica, diversificada e poderosa. Ou fosse a
chegada de outra droga, um político eminente. Virei a cara para o outro lado,
usando o lençol como proteção. Voltaram os foguetes! Decerto não era para
avisar a chegada dos narcóticos, a não ser que toda a cidade houvesse aderido;
e não se ouvia rumor de políticos, discursos, voo de helicóptero ou coisas
afins. Permaneciam os foguetes. Que fogos são esses? – perguntei a mim mesmo.
Desperto, levantei aborrecido, tomei o café e fui cortar o cabelo, para
economizar a água de um banho. Permaneciam os foguetes. Na agência de notícias do barbeiro, logo saberia as razões da
algazarra de guerra naquela manhã.
Na
calçada, à minha frente iam duas senhoras, conversando sobre o foguetório. Esclareceram
o caso, na precisão habitual dos habitantes daquela província.
- Que fogos são esses?
– perguntou uma delas.
- É não sei o quê!
– respondeu a outra.
- Não sei o quê de quê?
Nenhum comentário:
Postar um comentário