Sede
de sentido. É o título de um pequeno caderno – Ed. Quadrante - do Prof. Viktor
Frankl, fundador da Logoterapia. Trata, obviamente, do sentido que “damos” à
vida, especialmente à nossa vida. Diz ele que o sentido de nossas vidas não
pode ser “dado”, mas somente encontrado. Não podemos criar um sentido, é
preciso descobri-lo. Relaciona essa procura e descoberta com a felicidade. Ela
– a felicidade - não é algo diretamente conquistado, e sim uma conseqüência
dessa descoberta. Se encontrarmos o sentido, receberemos a felicidade como um
efeito, um resultado desse encontro.
Segundo
Frankl há três experiências fundamentais para que isso aconteça: o amor a
alguém, o serviço a um ideal e a aceitação do sofrimento inevitável em nome de
algo maior. Olhando para essas três dimensões podemos chegar a uma conclusão: a
felicidade, então, está... no outro. Não está em mim. Não está no ego. Não está
no egoísmo. Está no outro. Talvez seja essa a grande conversão: do egoísmo para
o amor. Não dessa para aquela religião, mas da conversão de um movimento
interior centrípeto, voltado para si mesmo, para um movimento centrífugo, que
foge do próprio centro e vai em direção ao outro.
Disse
isso por causa do Natal que se aproxima. È comum falar e escutar com
saudosismo: perdeu-se o verdadeiro sentido do Natal... Como se nós nada
tivéssemos com isso! Não estimulássemos esse consumismo desenfreado! Não
contribuíssemos para a troca dos valores evangélicos por cifrões! Não fossemos,
tantas vezes, avaros e pouco generosos... Culpados ou não, perdeu-se o sentido
do Natal e é preciso reencontrá-lo.
E
o que o título desse pequeno artigo tem a ver com isso? Leia essa singela
história que a seguir transcrevo e entenderás. Ela foi narrada por Urteaga e fala-nos de dois ciganinhos,
um de dez anos, outro de cinco, famintos que, depois de várias tentativas,
conseguem algum alimento: um pote de leite. Aqui começa o diálogo:
-
Senta-te. Primeiro bebo eu e depois bebes tu.
Dizia aquilo com ar de Imperador. O menorzinho olhava para ele,
com seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
Eu,
como um tolo, contemplava a cena. Se vísseis o mais velho olhando de viés para
o pequenino! Leva o pote à boca e, fazendo gesto de beber, aperta fortemente os
lábios para que por eles não penetre uma só gota de leite. Depois, estendendo o
vasilhame, diz ao irmão:
-
Agora é a tua vez. Só um pouco.
E
o irmãozinho sorve fortemente.
-
Agora eu.
Leva
o pote já meio vazio à boca, e não bebe.
-Agora
tu. Agora eu... Agora tu... Agora eu...
E
depois de três, quatro, cinco, seis goles, o menorzinho de cabelo encaracolado,
barrigudinho, com camisa de fora, esgota o leite. Esses “agora tu”, “agora eu”
encheram-me os olhos de água! É assim...que temos de nos amar.”
Jesus
nasceu em Belém, que quer dizer “Casa do Pão”, lugar apropriado para nascer o
Pão da Vida, Aquele que se faz alimento para nós. Sejamos também “alimento e
vida” para nossos irmãos e, quem sabe, descobriremos o verdadeiro sentido de
viver. O verdadeiro sentido do Natal.
Feliz
“redescoberta” do Natal!
Bela e comovente verdade!
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