POBRE JARDIM DE ALDEIA
Pobre jardim de aldeia
onde deixei meus oito anos
junto ao chafariz de trevos,
leva-me ao teu grande mar
neste solitário fenecer!
Quero rever o castelo marinho,
a tempestade, o primeiro encontro,
as rosas-fadas que me amaram
e as queixas dominicais
de tuas sombras frescas.
Falta-me o azul de tuas tardes
e sinto que não verei o luar.
Não encontro meu sangue
nas lutas que partem da notie.
Não tenho memória dos tempos
nem vejo meu rosto na lagoa.
O Mundo sucumbirá num suspiro
se minha infância não regressar.
(Do livro "O Véu da Manhã", 2ª edição)
DR. AYRTHON BORGES SERÓDIO
NO TÚMULO DE MEU PAI
Roubado cedo ainda, em hora imprópria à vida
Qual ave na procela arrebatada ao ninho,
Partiu meu pai deixando em seu caminho
A mágoa sem remédio, e a queixa mais dorida.
Qual árvore frondosa, a muitos deu guarida,
E um amigo jamais deixou sofrer sozinho.
Honesto, humilde e bom, e farto de carinho,
Um exemplo a seguir em meio a nossa lida.
Cumprindo um ritual, desejo mortuário,
Como da vez passada eu volto ao sepulcrário,
Uma ilha de paz onde impera a igualdade.
Contrito na mudez e presa da amargura,
Vejo através da campa, em sua sepultura,
Um punhado de cinzas... E uma eterna saudade!...
(Do livro "A Seara de Vento & O Sacrifício Inútil")
ONOFRE NUNES DA SILVA
A BOLA DE PANO
Quando
cheguei no mundo e muito pequenino
Brincava
alegremente em baixo do arvoredo.
À
sombra generosa ou sob o sol a pino
Uma
bola de pano, eu tinha por brinquedo.
Não
era como agora; entre tristeza e medo
Na
malha da ilusão perdi-me em desatino.
Chorando
o que passou eu vivo num degredo,
Embora
com lauréis e vida de granfino.
Quantas
vezes na vida, estou a recordar,
Dos
momentos passados a andar no folhedo,
Às
vezes a correr sob a luz do luar.
Não
achei nesta vida, a tal felicidade!
Talvez
ela se encontre a dormir, em segredo,
Na
bolinha de pano a rolar na saudade.
(Do livro "Flores do Perdão")
ADILSON FIGUEIREDO
Renovo
Como um nicho meu espaço revisitado
Reabri em mim um caminho
Libertei ares de novo
Pintei minha casa, refiz a paisagem.
Meu coração parou do mesmo jeito que estava.
Cada cantinho uma delícia escondida
A cada café as surpresas, ver a vida vivida com os amigos e saborear o pão.
A casa de perto o amor aconchega e aperta o coração no desejo.
Fico feliz no lar, onde a doçura das horas passa a contemplar a existência.
(Do livro "Dois pontos: Pontuando o viver, pontuando a mim mesmo"
PADRE MELLO
CRIANÇAS
Quando
vos vejo, crianças
cantar,
pular e sorrir
nos
ombros soltas as tranças,
fitas no
chão a cair;
Quando
vos vejo contentes
sem
sombra de algum pesar,
sem
saudades de ausentes,
sem os
cuidados do lar;
Quando
vos vejo o olhar doce
em
qualquer um que mirais
como se o
mundo só fosse
o que vós
sois e não mais;
Então me
lembra, crianças;
que já
fui o que vós sois,
e que ao
tombar de esperanças
sereis o
que eu sou... depois!
( Do livro "Obras selecionadas de Padre Mello")
Obs.: livros publicados pela Editora O Norte Fluminense, de Bom Jesus do Itabapoana/RJ, Brasil. E-mail: onortefluminense@gmail.com. Blog: onortefluminense.blogspot.com. Janeiro de 2016.
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