Ten-Brigadeiro do Ar Sérgio Xavier Ferolla |
O bonjesuense Ten-Brigadeiro do Ar, Sérgio Xavier Ferolla, fez aniversário no dia 11 de janeiro passado.
Ministro do Superior Tribunal Militar a partir de 1996, ocupou a presidência do órgão por um ano, a partir de 2000, por ocasião do decreto de 26 de setembro de 1996. Tomou posse em 24 de outubro do mesmo ano. Eleito Presidente do Superior Tribunal Militar, em 02 de fevereiro de 2000, tomou posse em 09 de fevereiro de 2000. Em 19 de março de 2001, após passar o cargo de Presidente do Superior Tribunal Militar, reassumiu suas funções de Ministro do STM. Aposentou-se em 8 de janeiro de 2004.
O Norte Fluminense republica a entrevista histórica feita com este bonjesuense que voou ao píncaro da glória.
O Norte Fluminense: Onde
e quando nasceu? Fale dos seus pais, avós e bisavós; onde nasceram e de onde vieram?
Sou natural de Bom Jesus, onde nasci em
janeiro de 1934. Meus avós paternos, Luiz e Maria Ferolla, vieram da Itália no
final do Século XIX, como integrantes da grande imigração estimulada pelo
governo brasileiro para receber mão de obra eficiente e qualificada, tão
necessária para a agricultura e o setor produtivo.
Meu pai, Domingos Ferolla,
formado em Ciências Contábeis, dedicou-se à produção e ao comércio do café, num
período em que nossa cidade foi líder nessa cultura e posterior preparação dos
selecionados grãos para consumo e exportação.
Dentre seus muitos irmãos
destacaria, para fins históricos, o Dr. Cezar Ferolla, médico que, como
Deputado Estadual, teve importante e decisiva participação na emancipação do nosso
município.
Minha
mãe, Lucylia Xavier Ferolla, teve como seus ascendentes, avós e pais, uma
estirpe de desbravadores e pioneiros. Migraram para a nossa região logo
após a execução de Joaquim José da Silva
Xavier, o grande líder da Inconfidência Mineira. Na ocasião, aos lacaios da
nobreza portuguesa cabia exterminar todos os familiares de Tiradentes. Como
empresários e comerciantes de sucesso em Vila Rica, atual Ouro Preto, aplicaram
seus recursos e experiência no Vale do Itabapoana.
Carlos Xavier, o pai da
minha avó Baldina, adquiriu uma grande área na margem esquerda do rio, onde
instalou a sede da sua fazenda, que acabou dando origem à irmã Bom Jesus do
Norte.
Meu primo Elcio Xavier redigiu meticuloso trabalho no qual realça a saga
dessa gente corajosa e empreendedora, mostrando que a Carlos Xavier, com
recursos próprios, coube a construção da primeira ponte de madeira interligando
as duas comunidades. Recorda, também, que nosso avô Samuel, primo de Baldina,
foi com o pai para região de Santo Eduardo e mais tarde, em Bom Jesus, tornou-se
destacado empresário na exploração e industrialização das toras de madeira
extraídas nas imediações do município.
O Norte Fluminense: Fale sobre seus irmãos e sobre os colégios onde estudaram. Fale, enfim, sobre sua
família.
Eu e meus três irmãos, Benito, Guido e
Dirceu, cursamos o Ginasial, atual fundamental, no inesquecível Colégio Rio
Branco. Para prosseguir nos estudos tivemos
de buscar o Científico, atual nível médio, em outras escolas. Tal decisão
acabou orientando, muito cedo, a minha carreira profissional quando, com quinze
anos e cursando o Liceu de Humanidades de Campos, tomei conhecimento do
primeiro concurso para a Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica.
Meus irmãos seguiram caminhos semelhantes,
com o Benito e o Dirceu ingressando no Exército para cursar a Academia Militar
das Agulhas Negras, em Resende, e o Guido na Escola Naval da Marinha de Guerra,
no Rio de Janeiro. Posteriormente, já como Oficiais, optaram pela vida civil, com
os dois primeiros na advocacia e o Guido na engenharia. O Dr. Benito se
aposentou como Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, o Guido é
Doutor (PhD) na carreira acadêmica e o Dirceu empresário.
O Norte Fluminense: Como foi seu ingresso na Aeronáutica?
Tendo obtido bom resultado nas provas para
a Escola Preparatória de Cadetes, fui matriculado no curso de formação de
Oficial Aviador a partir de janeiro de 1950. Como Tenente e Capitão, entre 1956
e 1963, fui piloto operacional no Primeiro Grupo de Aviação de Caça, a heroica
Unidade de combate que se destacou nos céus italianos durante a Segunda Guerra
Mundial. Meus contemporâneos devem se recordar da Festa de Agosto em 1960 quando, com 4 jatos Gloster Meteor sob
meu comando, a Força Aérea prestou inédita homenagem à cidade com passagens a
baixa altura em alta velocidade. Por participar ativamente na logística daqueles
modernos aviões, os primeiros jatos a operarem no Brasil, tomei a decisão de
ampliar meus conhecimentos técnicos. Em 1963 ingressei no famoso Instituto
Tecnológico da Aeronáutica, onde me graduei em engenharia eletrônica em 1967.
Como aviador e engenheiro atuei no setor de ciência e tecnologia no Centro
Técnico Aeroespacial, localizado em São Jose dos Campos, São Paulo. No fértil
período dos anos 70 a Aeronáutica liderou o surgimento de várias empresas
estratégicas, criou a EMBRAER e desenvolveu a técnica dos motores a etanol em
seus laboratórios, conquista coroada com a implantação do PROALCOOL.
O Norte Fluminense: Como foi seu ingresso no Superior Tribunal Militar e sua escolha para a presidência do órgão? Qual a sua avaliação a respeito da realidade do Tribunal, desde sua criação por Dom João VI, até os dias atuais?
O Norte Fluminense: Como foi seu ingresso no Superior Tribunal Militar e sua escolha para a presidência do órgão? Qual a sua avaliação a respeito da realidade do Tribunal, desde sua criação por Dom João VI, até os dias atuais?
Após exercer muitas e nobres funções terminei
por assumir a chefia do Estado Maior da Aeronáutica e, em 1995, fui indicado para
Ministro do Superior Tribunal Militar. Após cinco anos de atuação como
Magistrado fui eleito para ocupar a presidência daquela histórica Corte
castrense. O seu valioso acervo mostra que STM se fez presente em todo o
território nacional desde o Império, como esteio da democracia nos períodos
turbulentos da história brasileira, além de guardião da hierarquia e da
disciplina no seio das Forças Armadas. Constam em seus registros históricos
referências elogiosas de juristas renomados, pela imparcialidade dos
julgamentos, especialmente nos períodos de governos de força.
O Norte Fluminense:
No período do Estado Novo, Otávio Mangabeira teve sua prisão decretada e
impetrou habeas corpus que foi deferido pelo STM. Pode-se dizer, a partir deste
exemplo, que o Tribunal teria uma história em defesa dos direitos humanos?
Tendo sido o primeiro tribunal brasileiro,
criado que foi por Dom João VI em 1808 com a designação de Suprema Corte
Militar e de Justiça, atuou desde seus primórdios como ramo especializado da
Justiça Federal. Na reforma constitucional de 1934, durante o governo Vargas, passou
a integrar a nova estrutura do Poder Judiciário, como Supremo Tribunal Militar.
Sempre atuando como Tribunal Especial nas Ações de sua competência, inovou ao
criar, em 1922, os “Advogados de Ofício”, para a defesa dos réus sem condições
de constituir defensor próprio. Quase meio século após, esse instrumento de
igualdade e defesa dos direitos pessoais logrou ser inserido no texto
Constitucional de 1968, com a criação da Defensoria Pública da União. Tal
postura em defesa dos direitos humanos e da correta e isenta aplicação da
justiça teve relevância nacional no complexo ambiente revolucionário do Estado
Novo, quando Otávio Mangabeira se destacava como combativo político baiano e
crítico de abusos e cerceamento das liberdades individuais. Ao sentir-se
ameaçado em sua atuação parlamentar, após recorrer, sem sucesso, ao Supremo
Tribunal Federal, com um pedido de Habeas Corpus, recebeu do STM o instrumento
capaz de assegurar sua liberdade pessoal e profissional.
O Norte Fluminense:
Que mensagem gostaria de deixar para a atual geração?
Considero-me um otimista nos destinos da
nossa terra e da boa gente brasileira, em que pesem algumas chagas da desigualdade
econômica e social. Casado com Marina Machado há mais de cinqüenta anos,
constituímos uma bela família e vislumbramos nosso país acima e além dos
incidentes do cotidiano e dos lamentáveis desvios de conduta no universo
político. Sua trajetória histórica registra passagens gloriosas e grandes líderes
que nos deixaram como herança um país uno, em suas dimensões continentais,
diversificados costumes da gente que mesclou seu povo, um exemplo universal do
pacífico conviver de uma sociedade religiosa e multirracial.
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