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Preciosidade arquitetônica da Praça Governador Portela foi preservada por Merhige Hanna Saad: aqui foi, também, sede do governo do Estado em 1959 e 1960
ENTREVISTA HISTÓRICA COM A VIÚVA DO EX-GOVERNADOR ROBERTO SILVEIRA
Ismélia Saad Silveira e a foto com Roberto Silveira na residência em Bom Jesus do Itabapoana |
O local da entrevista
foi a bela residência onde residiu o médico niteroiense Emmanuel
Pereira das Neves e que, posteriormente, foi reformada pelo libanês Merhige
Hanna Saad, pai de Ismélia, na década de 1950.
Este prédio foi sede do
governo do Estado nos anos de 1959 e 1960, pelo período de uma semana,
por ocasião da Festa de Agosto, quando o governador Roberto Silveira
vinha a Bom Jesus do Itabapoana trazendo toda a sua comitiva.
Acompanharam a entrevista as irmãs Marian Saad Sauma e Maria Cristina Saad Gomes, além de Olga Borges Saad, viúva de José Antônio Saad.
A entrevista para o nosso jornal foi realizada, posteriormente, via e-mail e telefone.
Ismélia Saad Silveira teve 3 filhos com o Governador Roberto Silveira: Jorge Roberto, quatro vezes Prefeito de Niterói; Dôra, museóloga e historiadora; e Márcia, socióloga. Jorge é casado com Cristina Ramalho Silveira com quem tem um filho, já formado em Administração de Empresas, "chamado Roberto, é claro". Márcia é casada com o médico Alberto Domingues Viana, radiologista e professor da UFF. Eles têm um casal de filhos, João Alberto, médico como o pai, e Maria Roberta, que é administradora de empresa.
O NORTE FLUMINENSE: Onde nasceu Roberto Silveira?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA: No Sítio Rio Preto, em Calheiros, como todos os irmãos: Badger, Dinah, Maria da Penha e Zequinha.
O NORTE FLUMINENSE: No livro ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO, de José Sérgio Rocha, há uma passagem em que Roberto Silveira, quando criança, e já morando na Fazenda São Tomé, próxima ao Sítio Rio Preto, perguntou a Boanerges Borges da Silveira, seu pai, como teria nascido. A resposta foi que ele teria sido encontrado em uma pedra. Qual o motivo desta resposta?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA: Em qualquer época, as crianças sempre fizeram perguntas de onde vieram. Hoje, a maior parte dos pais tenta explicar com outras metáforas ou falando a realidade de um modo simples. Mas, naquela época, numa fazenda, as explicações eram “você foi achado na porteira da fazenda, seu irmão num bananal”, etc. Como o Roberto era o caçula, o único lugar que sobrou para ele foi uma grande pedra próxima à casa. Daí, “Roberto, você foi achado ali, naquela pedra”. Essa pedra ainda existe intacta na Fazenda São Tomé.
O NORTE FLUMINENSE:
O referido livro diz, ainda, que Roberto costumava sair da Fazenda São
Tomé, passar pelo Sítio Rio Preto para pegar o amigo Neneco, e irem
estudar na escola na Barra do Pirapetinga, com a professora Olga Ebendinger. Sabe informar se eles iam a
pé?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA:
Não. O que eu sei é que eles iam a cavalo para a escola e, quando batia
a fome, eles raspavam um pão no suor do cavalo e comiam. Uma coisa
horrorosa.
O NORTE FLUMINENSE: O filho de Roberto, Jorge Roberto Silveira esteve, há mais de 10 anos, na Fazenda São Tomé. Sabe como foi esta visita?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA:
O Jorge esteve duas vezes na Fazenda São Tomé, em Calheiros, e sempre
lembra como foi bem recebido pelos proprietários, com aquele carinho
típico e tradicional dos bonjesuenses.
A primeira vez, ele foi com o Badger, que lhe mostrou a tal “Pedra” onde o Roberto teria sido “achado”. Essa história acabou inspirando o título da biografia de Roberto escrita por um jornalista muito talentoso chamado José Sérgio. A primeira fase da vida de Roberto se chamou “A Pedra” e, a segunda, quando ele entrou na vida política difícil, dura e cheia de obstáculos até a sua morte, “o Fogo”. “A Pedra e o Fogo” é um título que resume bem a história dele.
O NORTE FLUMINENSE: Como foi seu encontro com Roberto Silveira?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA:
Na minha adolescência, a casa de meus pais era onde hoje fica a
residência da Alda, esposa do Joaquim Relojoeiro. A da família do
Roberto ficava exatamente ao lado, onde agora está o escritório da
AMPLA. Naquela época, era muito comum as famílias colocarem cadeiras na
calçada para se relacionarem com os vizinhos. Frequentemente, meu pai e
minha mãe conversavam com seu Boanerges e dona Biluca, pais do Roberto.
Isso fazia parte da rotina deles.
Merhige Hanna Saad e Alzira Sauma Saad: pais de Ismélia |
Nesse tempo, Roberto tinha 23 anos, já era Deputado e morava em Niterói. Sempre que podia, vinha a Bom Jesus. Mas nunca coincidia de nos conhecermos porque eu estudava num internato de freiras em Campos e as minhas férias, que eram curtas, nunca coincidiam com as vindas dele. Mais tarde, porém, fui saber que dona Biluca ficava no ouvido dele dizendo para me namorar: “Nossa vizinha é gente boa”. Há até um ditado que eu não sei se é libanês ou brasileiro mas que talvez ilustre bem o pensamento tanto de meus pais quanto dos pais de Roberto: “Case sua filha com o filho do vizinho”. Acabou acontecendo isso.
Fui conhecer Roberto num baile da Rainha da Festa de Agosto, no antigo Colégio Pereira Passos, que hoje leva o nome dele. Lá pelo meio do baile, Roberto me tirou para dançar. Eu aceitei, claro. Enquanto dançávamos ele me perguntou: “Quantos anos você tem?”. Eu disse: “Dezoito”. “Você tem namorado?”. “Não”. “Então eu vou pedir a seu pai para te namorar”. “Pelo amor de Deus, não. Papai jamais vai deixar”.
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Pouco tempo depois, Roberto encontrou-se comigo na Praça e, sem eu perceber, fomos conversando até minha casa. Meu pai estava na porta. Morri de medo. Mas ele falou: ”Dr. Roberto, vamos conversar”. Claro que papai notou que havia algo entre nós.
Começamos a namorar e Roberto queria casar logo porque, naquela época, levava-se um dia inteiro de viagem de Niterói a Bom Jesus. Namorar muito tempo era uma dificuldade. Mas a minha família estava construindo a casa na Praça Governador Portela e eu achava que deveríamos esperar o término da obra para nos casarmos.
Ismélia Silveira e Roberto Silveira |
Roberto costumava mandar cartas para mim, através da Déia Tavares, que era agente dos Correios. Ela recebia as cartas e as repassava para mim. Quando chegou a primeira, pedi à tia Alvina, irmã de mamãe, que a respondesse. Alguns dias depois de enviar a carta, recebi a resposta de Roberto que escreveu: “Gostei muito da sua carta, mas gostaria que, da próxima vez, você mesma escrevesse”. Também para falarmos ao telefone, tínhamos de utilizar os serviços do posto telefônico da Inah Borges, com hora marcada. Por exemplo: “a ligação será dentro de dois dias às 7h”.
Antes de Roberto pedir minha mão, seu Boanerges foi lá em casa conversar com papai. No dia em que ficamos noivos, mamãe serviu para todos uma taça de guaraná e um bombom “Sonho de Valsa”, que era o favorito de "seu" Boanerges.
Quando nos casamos, em 1951, a recepção foi no edifício Monte Líbano, recém construído. Chovia tanto que não foi possível o fotógrafo do Rio de Janeiro chegar a tempo. Este é o motivo porque não temos fotos da cerimônia e da festa. Restou apenas um pequeno filme feito pelo Badger. De qualquer maneira, o dia foi muito especial, apesar da chuva. E eu até hoje não sei como dona Alzira e o comandante Amaral Peixoto, que eram nossos padrinhos, conseguiram chegar a tempo.
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O NORTE FLUMINENSE: O irmão de Roberto, Zequinha, teve atuação política relevante no Paraná. Poderia falar-nos sobre isso?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA: O Zequinha se formou em Medicina na época em que era uma façanha alguém do interior entrar numa faculdade. Depois de formado, ele veio de trem para Bom Jesus e foi recebido pelo Prefeito, pelos Vereadores e por metade da cidade, tamanha a importância de um médico diplomado. Ao sair da faculdade, ele trabalhou em Ubá (MG), depois foi para o Paraná onde se estabeleceu. Acabou sendo Prefeito de Nova Viçosa, Deputado Federal e era candidato a Governador do Paraná quando Roberto morreu. Aí, ele desistiu porque, para ele, só valia a pena ser Governador daquele Estado se fosse para ajudar Roberto caso ele se candidatasse à Presidência da República.
O NORTE FLUMINENSE: A filha de Badger Silveira, Ana Maria Silveira, afirmou a nosso jornal, que "não tem dúvida de que Roberto Silveira sofreu um atentado". O que você acha desta afirmação?
Os sobrinhos de Roberto Silveira, Ana Maria Silveira e Badger Silveira Filho sustentam que "Roberto Silveira foi alvo de atentado" |
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA: É a opinião dela... Minha vida com Roberto Silveira foi maravilhosa. Ele era um ótimo pai, um excelente marido. Nós éramos tão jovens, com as crianças pequenas... Sinto uma imensa saudade dele... Foi uma grande perda.. Se não fossem meu pai e minha mãe me dando apoio, não sei como eu teria forças para enfrentar tudo isso... Relembrar os fatos é muito doloroso para mim...
Um mar de guarda-chuvas e sombrinhas no último adeus a Roberto Silveira |
Ismélia Silveira: luz e lágrimas que não findam |
O NORTE FLUMINENSE: Como foi sua vida e da família, após a morte de Roberto?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA: Quando Roberto faleceu, meu filho Jorge tinha 8 anos, a Dôra tinha 5 e a Márcia, 3. Foi um momento de muita dor, que nunca tem fim. Badger era o irmão mais velho do meu marido e foi um segundo pai para meus filhos quando Roberto morreu. Ele morava com a Renée e seus oito filhos no mesmo prédio em que eu criei meus 3 filhos. Hoje, minha satisfação é saber que todos os meus filhos e netos são bem sucedidos, com suas vidas organizadas.
O NORTE FLUMINENSE: Que conselho você daria para as novas gerações?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA: Cada um deve lutar para ter sua profissão, fazer valer a sua cidadania e ajudar a construir um mundo melhor.
Roberto Silveira, Ismélia Saad, Jorge Roberto, Dôra e Márcia |
A FOTO COM A REPORTAGEM
Marian Saad Sauma, Maria Cristina Saad Gomes,
Olga Borges Saad, André Luiz Ribeiro, Gino Martins Borges Bastos e Ismélia
Saad Silveira
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