quinta-feira, 5 de maio de 2016

MÓVEL DE BOANERGES INTEGRA ACERVO DO MEMORIAL




Guarda-roupas que pertenceu a Joaquim Teixeira de Siqueira Reis, na década de 1890, e a Boanerges Borges da Silveira já integra o acervo do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira
Boanerges Borges da Silveira, pai dos governadores Roberto e Badger Silveira, foi proprietário, em sua vida, de três propriedades rurais, todas em Bom Jesus do Itabapoana: a primeira foi a Fazenda do Meio, resultado de herança de sua esposa Maria do Carmo Silveira, a Biluca. A segunda, foi o Sítio Rio Preto, adquirida com recursos oriundos da venda da Fazenda do Meio. A terceira foi a Fazenda São Tomé, resultado da venda do Sítio Rio Preto e de empréstimo.

As informações sobre a Fazenda do Meio foram obtidas a partir do testemunho de Atalíbia Boechat. Elas se amoldam perfeitamente ao texto do livro "ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO", de José Sérgio Rocha, e ao que consta no livro "DE MUNICÍPIO A DISTRITO", de Luciano Bastos, que traz luz sobre o período da primeira emancipação de nosso município ocorrida entre 25/12/1890 e 05/05/1892.


Joaquim Teixeira de Siqueira Reis era primo de Joaquim Teixeira de Siqueira, que integrou o 1º Conselho de Intendência, equivalente à Câmara dos Vereadores, após a 1ª emancipação de Bom Jesus ocorrida no dia 25/12/1890. Antônio Ignácio da Silveira, pai de Boanerges Borges da Silveira, atuou também na luta por nossa emancipação juntamente com o intendente.

Joaquim Teixeira de Siqueira, intendente (vereador) em 25/12/1890


Casou-se com Felicíssima Teixeira, a Ciça, quando esta tinha 13 anos. Foram dois os filhos: Maria do Carmo Teixeira, conhecida como Biluca, e João Teixeira de Siqueira, o Tote.

Após cinco anos de casamento, contudo, Joaquim faleceu, deixando uma fazenda de herança para os dois filhos. Uma fazendola que foi dividida ao meio. Metade pertencia a Tote, metade à irmã.

Essa propriedade passou a ser conhecida, por esse motivo, como Fazenda do Meio.

O sogro de Ciça, João Teixeira de Siqueira, aconselhou-a a arranjar marido, escolhendo, então, para a nora, o administrador de sua fazenda, o mineiro Duarte Vieira Fraga, que era proprietário de uma olaria e fabricava um fumo de rolo grosso, só vendido na região.

O tempo passou e Boanerges Borges da Silveira, filho de Antônio Ignácio da Silveira e Maria Borges da Silveira, passou a gostar de Biluca.


Ocorre que Duarte não permitia o relacionamento, porque o mineirão detestava almofadinhas. 

Boanerges Borges da Silveira


Boanerges acabou indo para o Rio de Janeiro e ingressou na faculdade de engenharia, mas largou os estudos e foi trabalhar numa tipografia e, posteriormente, em uma gráfica. Arranjou emprego público e retornou a Calheiros, maior de idade, disposto a pedir a mão da enteada do homem que não suportava mãos sem calos.

Após muita insistência, contudo, Duarte acabou cedendo e autorizando o matrimônio entre ambos.


Por ocasião do casamento de Biluca com Boanerges, para mostrar a todos que ela não era uma órfã desprotegida, Duarte organizou a maior festa de casamento já vista em Bom Jesus. Foi a partir desse gesto generoso que Biluca passou a chamá-lo de pai.

Duarte guardava uma carta na manga. Já que ia pagar a conta do casório, escolheu o local da festança. Foi num sítio em Barra de Pirapetinga, justamente o pedaço de terra destinado a Biluca na partilha de bens feita muitos anos atrás, quando da viuvez de Ciça Teixeira.  

No dia seguinte, Duarte viu Boanerges se aprontando para voltar para Bom Jesus e, de lá, para o Rio de Janeiro, onde pretendia morar com a mulher. Chamou-o num canto: - Tomei conta das coisas da sua mulher até hoje. Agora a terra não é mais só dela. É sua também. Eu não quis o casamento. E, sendo agora sua propriedade, não tomo mais conta dela. Você não vai para o Rio. Vai é ao Banco Hipotecário, em Campos, porque lá está todo o dinheiro do sítio.


Posteriormente, Boanerges entrou em acordo com o cunhado e vendeu sua parte da herança...Com o dinheiro obtido na transação e mais algumas economias próprias, comprou outra propriedade, o Sítio Rio Preto. A terra herdada por Biluca para sempre seria a roça de Duarte. O Rio Preto, pelo contrário, teria seu cheiro (págs. 72/73 de "ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO").


A FAZENDA DO MEIO 


Atalíbia Boechat: resgate da história da Fazenda do Meio


A respeito da Fazenda do Meio, Atalibia Boechat,  nascida em 24/11/1945, filha de Amélia Boechat Borges e Antônio José Borges, da Barra do Pirapetinga, lembra que seu avô, o espanhol Marciano Domingues, adquiriu-a de Boanerges. Conta ela: 

"Meu avô, Marciano Domingues, era companheiro de Boanerges em negócios envolvendo café. Ele era chamado de Pai Eta. O apelido se deu pelo fato de vovô morar na Fazenda do Leite, próximo a Mirindiba. Como nós, quando crianças, não sabíamos pronunciar a palavra 'leite' corretamente, acabávamos dizendo 'eta'. Assim, passamos a chamar nosso avô de Pai Eta e nossa avó, Atalibia Boechat Domingues, de Mãe Eta" .

Atalíbia diz que sua mãe Amélia gostava de contar histórias para ela e sua irmã Ana. "Mamãe contava que meu avô Marciano comprou a Fazenda do Meio, que ficava entre Barra do Pirapetinga e Calheiros, e que pertenceu a Boanerges Borges da Silveira, pais dos governadores Roberto e Badger Silveira. A compra foi feita 'com porteira fechada,'  o que significa dizer que tudo o que estava dentro da fazenda foi adquirida".

Prossegue ela: " No primeiro dia em que minha mãe foi dormir na Fazenda do Meio com os doze irmãozinhos, juntamente com os avós, todos ficaram muito contentes, pois cada um passou a ter seu quarto. Por volta das duas horas da manhã, contudo, alguns irmãos disseram que viram assombração. Foi uma gritaria geral na Fazenda e todos acabaram indo dormir no quarto dos meus avós".
   
Depois que a Fazenda do Meio foi vendida para meu avô Domingues, minha madrinha Carolina Domingues Boechat, que era minha tia, acabou ficando com alguns móveis que pertenciam a Boanerges e Biluca. Posteriormente, os móveis foram transmitidos para meus pais Antônio José Borges e Amélia Boechat Borges. Minha mãe costumava dizer que este guarda-roupa pertenceu a uma pessoa importante: Boanerges. É com satisfação que permutei hoje esse móvel com a Associação dos Amigos do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira, como contribuição para o resgate de nossa história", finaliza Atalíbia.







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