Luciano Rezende |
Há três anos
assumi a disciplina de Ecologia para estudantes de um curso Técnico em Meio
Ambiente. Um dos maiores desafios dessa matéria é fazer com que os alunos
tenham compreensão das escalas de tempo.
Como compreender a evolução das espécies se, como nos
lembra Richard Dawkins - o mais influente cientista da evolução das espécies contemporâneo
-, “estamos equipados para observar processos que se desenrolam em segundos,
minutos, anos ou, no máximo décadas”?
Fomos
educados para lidar com eventos em escalas de tempo radicalmente diferentes
daquelas que caracterizam a mudança evolutiva e o darwinismo “é uma teoria de
processos cumulativos tão lentos que se desenrolam ao longo de milhares e
milhões de anos”.
A
mesma dificuldade é quando tentamos explicar a formação dos solos ou dos
relevos. Como sensibilizar o público em geral a compreender os processos
orogênicos que formaram (e continuam a formar) os Andes ou o Himalaia? A escala
de tempo geológica é demasiadamente extensa para quem se acostumou a viver
contando os minutos.
Ainda
mais desafiador é quando conversarmos sobre a escala de tempo cósmico, onde a
formação do universo e do planeta Terra é compreendida em bilhões e bilhões de
anos.
Também
na discussão política enfrentamos esse problema. Embora a escala de tempo
histórico seja bem menos extensa que os tempos geológico ou cósmico, o
imediatismo e o instanteneísmo - fenômenos exacerbados na atual fase do
capitalismo -, dificultam enormemente a compreensão política dos avanços
sociais vivenciados em apenas treze anos de governos Lula e Dilma.
Boa
parte da população quer mudanças estruturais para amanhã. Desconhece o processo
histórico e as dificuldades impostas por uma correlação de forças extremamente
desfavorável. Ignora os poderes de uma classe dominante que ocupa secularmente
os variados poderes da República e do mercado.
Por
isso mesmo, a educação política exige grande dose de paciência e pedagogia. A
compreensão do tempo histórico nos levará a comemorar os grandes avanços
alcançados e ter firmeza na sequencia de nossa luta, convictos de que ainda só
estamos no começo de um longo caminho rumo a uma sociedade mais avançada: o
socialismo.
Aqueles que pensavam que a queda do governo Dilma
abateria a militância de esquerda em nosso país estão tendo uma indigesta
surpresa. Esse é um grande diferencial do nosso campo político: perspectiva
histórica.
Já os coprólitos do atual governo Temer, esperarão ainda
algumas eras até serem desenterrados de todo o sedimento varrido pela história.
Daí,
relembrando nosso combativo Chico, quem sabe os escafandristas não virão, e “sábios
em vão, tentarão decifrar, o eco de antigas palavras, fragmentos de cartas,
poemas, mentiras, retratos, vestígios de estranha civilização...”.
Mas
nada é pra já, o amor não tem pressa, ele pode esperar, embora, em nosso caso,
jamais em silêncio.
Luciano Rezende é professor do IFF (Instituto Federal Fluminense), Campus de Bom Jesus do Itabapoana (RJ)
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