Celso Loureiro Pereira
(escrita
quando eu estava no Rio de Janeiro)
Vivi, faz muito tempo,
numa manhã de sábado, num confessionário da capela do hospital São Vicente de
Paulo, uma lição que me foi dada pelo Pe. Mello, na véspera do meu casamento. No
dia 24/01/2016 completei 70 anos de casado.
Contou-me o Pe. Mello
que um rei de país árabe, solteirão e que pretendia casar, escolheu cinco
princesas de vários reinados e deu a cada uma um vaso com adubo e sementes,
dizendo que casaria com a que trouxesse num determinado tempo a rosa mais
bonita.
Decorrido o prazo, as
princesas apresentaram rosas muito bonitas e apenas uma apresentou o vaso
vazio, alegando que tinha cuidado com todo carinho, aguando e adubando o vaso,
mas que as sementes não germinaram.
O Rei, então, falou que
ia casar com ela pois as sementes que lhe tinha dado eram estéreis.
O Pe. Mello concluiu a
estória com as seguintes palavras: "Você, Celso, escolheu uma moça
prendada e que o fará eternamente muito feliz".
Morrer
sonhando
Cedo, bem cedo, perderei a vida,
Planta ferida no mimoso pé.
Teu desengano perecer me ordena,
Na idade plena de esperança e fé.
Porém a morte me é suave e doce,
Como se fosse uma ilusão de amor;
Embora eu sinta que uma luz se apaga
Outra me afaga de eterna! fulgor.
Morrer sonhando! Como é doce a morte!
Que vale a sorte que esta vida tem?!
A vida é sempre uma fugaz mentira,
A morte aspira a realidade além.
Morre este corpo de servil matéria,
Baixa à miséria de funéreo pó,
Porém minha alma sempre viva sonha
Vida risonha, não mereço dó.
Beijo-te a mão que me assassina e
creio
Que ela me veio libertar ao fim.
Morrer sonhando é despertar na glória;
Eis a vitória. Morrerei assim.
Pe. Antônio
Francisco de Mello
Refletindo sobre a pessoa do Pe.
Mello, fiquei a me perguntar se estávamos cumprindo o nosso dever para com os
nossos sacerdotes. Acho que muitas vezes exigimos muito do padre. Esquecemos
que ele é humano como nós, com seus problemas, decepções, angústias, tristezas,
mágoas. Esquecemos que deve sofrer muito com decepções, as grosserias,
injustiças e incompreensões.
É bem verdade que o padre consagrou-se ao
serviço de Deus. Isso é de um valor incomensurável, mas não deixou de ser homem
e, como tal, precisa ser olhado como alguém que precisa muito de nós. Da nossa
amizade, do nosso apreço, da nossa solidariedade.
E como diz o poema de Michel
Quoist, "Esta tarde, Senhor, estou sozinho. Na igreja, pouco a pouco, os
ruídos se calaram. Foi-se embora toda a gente e eu voltei para casa, passo a
passo, sozinho".
É bom lembrar que o padre precisa
de nós. Pode ser apenas uma palavra, um gesto de atenção.
Coloquemos entre os nossos
deveres de cristão esse de amizade para com os padres. Amizade implica
solidariedade, consideração e estima.
É duro ser padre pois ele se
entregou com toda generosidade de sua juventude ao serviço da religião e como
tal merece nossa admiração e compreensão.
O padre precisa que os cristãos
lhe demonstrem que ele não deu a vida em vão e que necessita, vez por outra, de
um gesto delicado de amizade numa tarde em que ele está sozinho.
Rio de Janeiro, Junho 2016
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