Ismélia e Roberto se conheceram no baile da Rainha da Festa de Agosto, no salão do Grupo Escolar Pereira Passos, atualmente, Colégio Estadual Governador Roberto Silveira |
Enfim, a grande noite chegou e caiu num sábado. Ao entrar com
a família no salão, ela logo notou que todas as famílias importantes e tradicionais
ali estavam: Borges, Teixeira, Ferolla, Figueiredo, Travassos, Seródio,
Silveira... A colônia árabe, seus primos
e primas compareceram em peso —a turcalhada toda apareceu. Ninguém ousava
discriminar aqueles bonjesuenses morenos, narigudos e ricos que, de acordo com
a central de fofocas municipais, "eram os únicos que trabalhavam na
cidade, além dos médicos".
Por
tradição, o diretor do clube e organizador do baile, doutor Oliveiros, escolhia
o par da rainha para a hora da valsa e, naquele ano eleitoral, a honra seria
reservada ao jovem filho de Boanerges,a quem a cidade acabava de acolher,
advogado diplomado e deputado atuante. Surgiu um problema de última hora:
Roberto não queria rodopiar pelo salão com a ex-namorada Dilah Ferolla e,
discretamente, deu um jeito de convencer Oliveiros a valsar com a rainha,
enquanto ele faria par com aquela princesa bonita e quieta que corava e
abaixava a testa quando o descobrira devorandoa com os olhos. Foi uma dança após
a outra. E a paixão — fulminante para o
arrebatado Roberto, tranquila para a doce Ismélia — foi imediata.
— Eu lhe conheço. Você é a filha do seu Merhige. Quantos anos você tem?
— Eu lhe conheço. Você é a filha do seu Merhige. Quantos anos você tem?
— Dezenove —
mentiu a princesa.
— Você tem
namorado?
— Não —
mentiu só um pouco.
— Quer
namorar comigo?
— Não quero,
não (mentira da grossa).
— Por quê?
— Porque
não.
— Então,
vamos fazer uma experiência.
— Só se for
escondido, porque papai não pode saber (a
princesa de agosto, enfim, jogava aberto com seu político encantado).
— Claro que pode, mas tudo bem. Amanhã posso te encontrar na
praça? Roberto saiu do baile com uma certeza: aquela era a mulher com quem queria
dividir o resto dos seus dias. Bem, talvez estivesse exagerando um pouco mas
não custava fazer a tal experiência. No dia seguinte e na hora combinada , uma
tarde fria de domingo, os dois apareceram na pracinha. Ela, sorrateiramente,
usando como escudo a irmã. Ele, com o jeito de sempre, cumprimentando todo
mundo que via pela frente.
Ismélia entrou em
pânico: a notícia logo chegaria na casa de dona Alzira, suas tias seriam as
primeiras a espalhar. O medo logo passou. Não era só o político novato que se
encantara por ela: a moça também estava fascinada rapaz de olhos e cabelos
castanhos claros. No banquinho da praça, Roberto falou da vida que levava em Niterói,
Ismélia contou-lhe sobre sua passagem pelo internato, trocaram confidências, o
que uma e outro gostavam mais de fazer. Ah! ele gostava muito da Serenata de
Schubert que ela tocava no piano! (Roberto gostava mesmo era de Jackson do
Pandeiro, Ciro Monteiro e Jorge Veiga ). A conversa foi muito boa e demorada,
mas no dia seguinte era segunda-feira e o deputado de 24 anos precisava madrugar na estação ferroviária de Bom Jesus do
Norte, na outra margem do Itabapoana, e voltar à capital.
A partir daí, as
viagens à terra natal ficaram menos espaçadas, mesmo com toda a trabalheira da
Constituinte estadual e da construção partidária. Afinal de contas, um deputado
precisa visitar suas bases! Numa das visitas, Roberto levou ninguém menos que o
presidente do partido, comandante Abelardo dos Santos Mata, para emprestar um
ar mais oficial e solene ao pedido de namoro. Para surpresa das filhas, Merhige
Saad os recebeu muito bem, ofereceu o melhor café que produzia e deu sinal
verde. Evidente que chegara a seus ouvidos o tal encontro na praça. Bom Jesus
inteira ficou sabendo, minutos depois, o nome da musa eleita pelo galante
deputado.
Com o aval do pai, o romance engrenou. E as cartas, até então
enviadas por Roberto para uma funcionária dos correios que concordara em servir
de ponte entre os dois, passaram a ser remetidas diretamente para a residência
da moça.
Logo vieram o primeiro beijo, na varanda da casa dela; o
primeiro presente de aniversário dado por ele, um par de canetas Parker 51
acompanhado de um bilhete: "Eu ganhei e estou te dando porque não tenho
dinheiro para comprar um presente"; o primeiro filme, Carnaval no Fogo,
com Anselmo Duarte, Eliana Macedo, Oscarito e Grande Otelo, que os dois
assistiram juntos no Cine Monte Líbano; o primeiro presente dado por ela: uma
cigarreira dourada parecida com a que o gângster em início de carreira José
Lewgoy usa, na chanchada, para ser identificado pelos cúmplices no Copacabana
Palace... "
(páginas 180 a 182, do livro ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO, de José Sérgio Rocha, editado por Casa Jorge)
NOTA: DIA 7 DE AGOSTO DE 2016, INAUGURAÇÃO DO MEMORIAL GOVERNADORES ROBERTO E BADGER SILVEIRA, NO SÍTIO RIO PRETO, DISTRITO DE CALHEIROS, BOM JESUS DO ITABAPOANA, ONDE NASCERAM OS OS EX-MANDATÁRIOS. PRESENÇA DE ISMÉLIA SILVEIRA, A ETERNA PRIMEIRA DAMA
(páginas 180 a 182, do livro ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO, de José Sérgio Rocha, editado por Casa Jorge)
NOTA: DIA 7 DE AGOSTO DE 2016, INAUGURAÇÃO DO MEMORIAL GOVERNADORES ROBERTO E BADGER SILVEIRA, NO SÍTIO RIO PRETO, DISTRITO DE CALHEIROS, BOM JESUS DO ITABAPOANA, ONDE NASCERAM OS OS EX-MANDATÁRIOS. PRESENÇA DE ISMÉLIA SILVEIRA, A ETERNA PRIMEIRA DAMA
Nenhum comentário:
Postar um comentário