O 1º jornal de Bom Jesus, "Itabapoana", foi fundado em 1º-08-1906 por Sylvio Fontoura (acervo: Espaço Cultural Luciano Bastos) |
A edição de 10 de fevereiro de 1907, do jornal Itabapoana, que tinha Sylvio Fontoura como redator, Pedro Gonçalves da Silva Jr. como secretário e Francisco Teixeira de Oliveira como gerente, dedicou boa parte da publicação ao carnaval daquele ano.
Na matéria "Domingo Gordo", consta o seguinte:
"O carnaval aqui é festejado por toda a gente que a ele se atira de corpo e alma; a loucura atinge ao auge, fazendo gargalhar a boca mais cerada, fazendo pincharem as gambias mais enferrujadas, bambolear o corpo mais ereto. O entrudo é tão forte que cai das nuvens em formidáveis bátegas, como se não bastassem as águas lutulentas do Itabapoana e as águas duvidosas do córrego que passa por detras da venda do Xico. Na batalha de confete é de se notar a alegria ruidosa, o grande entusiasmo da nossa sociedade; as serpentinas se entrelaçam profusamente pelas sacadas e máscaras, de muito espírito e de muito gosto, nas suas berrantes e multicores vestimentas, perambulam às centenas por todas as ruas e praças.
A folia é espaventosa e quem for triste que venha se curar das suas mágoas e das suas dores. (BRIMBOMRION)
PRURIDO GOZOSO
A locução "prurido gozoso", por sua vez, foi utilizada pela publicação em duas ocasiões relativas ao carnaval:
I
"Máscaras que passam:
- Um palhaço com este letreiro nas costas:
Estou com um prurido gozoso!
- Um sujeito conhecido como ruim e na Lage, que diz que não perde missa nem enterro de credor.
- Um pierrot pançudo que de lanterna em punho procura uma casa...
- Um obeso esperantista de última hora".
II
" -Pedreirinho, pedreirinho,
Não sejas tão cabuloso!
Não me estragues
O meu 'prurido gozoso'..."
Ilustração da edição de Itabapoana |
OUTRAS NOTAS CARNAVALESCAS
"Com sua máscara azul,
E lantejoulas de prata,
Aquela moça faceira
Está tocando andorinhas do forro da casa"
"O Silveira aqui nos apareceu fantasiado de Coringa, dizendo que esperava um rei de copas, mas que sua majestade não conseguiu passar o atoleiro do Verdan.
O Silveira está possesso atirando logo depois a sua fantasia para um lado"..
"Pierrete cor-de-rosa,
De cintura de alfenim,
A tua boca cheirosa
Tem beijos só para mim"
"No 'bal masques':
- A senhora já tem par para esta contra-dança...
- Tenho sim, senhor: é aquele home de rabo que lá está"
"- Que linda estás, Maricota!
Nessa rica fantasia!
Não me dás uma bicota...
- Uma só... Mais eu queria..."
"- Cá está um folião de muito gosto, sim senhor!
- Diga alguma coisa, folião!
- Não posso, porque estou com a face escorrendo suor
- Não precisa mais, que eu te conheço muito..."
"Requebrando, requebrando,
Lá vem uma pierrete.
Vou gostando, vou gostando,
Vou suando o meu tapet"
"O cavalo foi à festa,
Em don Pança, sem espora;
Mas don Pança trovejou,
O cavalo pulou fora"
"Um misérrimo esqueleto n'uma grotesca fantasia de capim-gordura e erva de Santa-Maria, vem nos pedir que reclamemos dos poderes competentes para o estado em que ele se acha, sem ter quem olhe para a sua vergonha.
Reconhecemos no folião o Cemitério Novo".
Luciano Bastos organizou, em dois livros, a publicação de todos os números do jornal Itabapoana entre 1906 e 1907, pela Editora O Norte Fluminense, em 2010 |
Nenhum comentário:
Postar um comentário