terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

O governador que conheceu Pe Mello



No ano de 1997, foi publicado, pela editora Cromos, o livro "A Planície e o Horizonte, Memórias Inacabadas", de Celso Peçanha, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro nos anos 1961 e 1962, que assumiu o poder após a morte de Roberto Silveira. Os registros  vão de 1930 até a década de 1990.

Celso Peçanha dedicou um espaço em sua biografia intitulado: PADRE, POETA E AGRIMENSOR, para retratar o "primeiro líder religioso que conheci: Padre Mello".

Celso, nascido em Santo Eduardo, distrito de Campos dos Goytacazes, se recorda que Antônio Francisco de Mello "estendia a sua ação evangelizadora a toda a região circunvizinha a Bom Jesus, inclusive Santo Eduardo".

E assinala: "Tinha métodos muito peculiares de apascentar seu rebanho. Era também poeta. E topógrafo. Com imenso gosto, Padre Mello manejava o teodolito para demarcar terrenos da paróquia ou, em sentido mais estrito, cuidar da localização de barraquinhas na festa do padroeiro".

"Padre Mello viveu em Bom Jesus mais de cinquenta anos. Construiu belas igrejas, dez ou quinze capelas e batizou milhares de crianças naquela região do norte fluminense. Os paroquianos o adoravam, e a prova está na herma em bronze que lhe erigiram na praça, defronte à matriz. Como agrimensor, era chamado às vezes para fazer perícias nesse campo. E entre as atividades de seu munus sacerdotal, figurava também escrever para o semanário A Voz  do Povo, fundado por Osório Carneiro, onde escrevi o primeiro artigo. É dessa colaboração o soneto Carros de Boi, que muitas pessoas sabem de cor naquela região, especialmente pela expressiva metáfora dos tercetos".

"Recordo-me que, quando jovem, era sempre de carro de boi que íamos, a família inteira, à festa de Bom Jesus, no mês de agosto. Meu pai aproveitava a viagem para rever os amigos Malvino Rangel, Zezé Borges, tomar cerveja no bar do Othon Hirsch e combinar novos desafios nas rinhas de galo".

"Nós, os meninos, nos espalhávamos pelas ruas à procura de folguedos e distrações, e quase sempre íamos assistir futebol nos campos do Progresso ou do Olímpico..." 

"... em 1961, como governador do Estado, dei minha contribuição ao progresso de Bom Jesus e à sua festa anual: concluí a estrada que Roberto Silveira começara e só chegara até a fazenda do Jorge Assis. Concluí e levei-a por Santa Isabel, Carabuçu, Santo Eduardo, Santa Maria e Espírito Santinho, indo acabar na Koteca, no Morro do Coco - caminhos que davam para Bom Jesus do Padre Mello e região de quatro ex-governadores do Estado. Quando jovem, joguei futebol lá, em Carabuçu, e em Santa Maria, na usina - agora desativada -, na vila e em Espírito Santinho."


O soneto Carros de Boi era famoso na época da juventude de Celso Peçanha: "muitas pessoas sabem de cor naquela região"


CARROS DE BOI

Pe. Mello


Por caminhos da roça tortuosos
Estreitos e cavados vão passando
Velhos carros de bois, estes cantando,
Aqueles em gemidos lamentosos.

Mas sendo iguais e todos preciosos
Os frutos que da terra vão levando,
E se o destino igual os vai guiando,
Por que vão uns cantando e outros chorosos?

Que diga o coração da humana raça
Quão variadamente ele palpita,
Se é vária a onda que por ele passa!

De dores e alegrias no transporte,
Tal como o carro, canta, chora, grita,
Conforme o aperto dos cocões da sorte.





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