quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Um poema de Camões


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que doi e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um bem querer, mais que bem querer;
É um andar solitario entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor,
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Mas enquanto nao pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me escondo
Amor um mal, que mata sem de vê

Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei que, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e doi não sei porque.

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