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sexta-feira, 20 de dezembro de 2019
O português como língua da planetarização
Primeira língua europeia ouvida e exercitada fora da Europa, o português foi, para muitos africanos, asiáticos e ameríndios, a língua primordial por excelência da universalização dos saberes, a grande dádiva pela qual fluíram os quadros e arrumações científicas que a planetarização tornou possível. Para povos até então ágrafos, o português depressa se converteu no veículo da civilização, como bem lembrava Garcia de Resende na Vida e Feitos d’El Rei Dom João II ao referir-se aos jovens congoleses que desde finais do século XV aprenderam a ler e escrever pelas Cartilhas portuguesas.
O fluxo de impressos não parou de crescer, sendo tão grande a procura que em 1490 seguiram para o Golfo da Guiné dois impressores de cartilhas. Na Europa, ainda a arte da imprensa dava os primeiros passos, e já em remotas paragens tropicais pequenas mãos de crianças negras folheavam livros – essas maravilhas de saber – em busca de conhecimento. A avidez com que os africanos receberam a imprensa tornou-se manifesta assim que o poder português se estabeleceu no Índico. Para a Etiópia seguiram em 1515 dois mil e quinhentos volumes impressos, prenda de Dom Manuel I para o Negus. Afonso de Albuquerque, numa das suas cartas ao Venturoso, dava conta do zelo com que se entregavam os portugueses à difusão da língua, informando o Rei que em Cochim se abrira uma escola que acolhia uma centena de crianças indianas. Depressa, porém, teve de se abandonar a prática do envio de livros de Lisboa, tamanha a solicitação. Preferiu a Coroa portuguesa instalar na Ásia tipografias que respondessem com celeridade à procura. Assim, em Goa montou-se uma tipografia em 1556, e quando a marcha para Leste alargou o espaço português oriental, logo surgiu uma tipografia em Macau (1584) e outra no Japão (1591).
A revolução cultural portuguesa estava em marcha. Em meados do século XVII, o português convertera-se na língua franca asiática e, como tal, não havia inglês ou holandês que àquelas paragens chegasse que não tivesse de aprender o idioma português.
Miguel Castelo-Branco
Enviado por Antonio Soares Borges
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