quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Pablo Neruda e Portugal

Em 1954 Pablo Neruda escreveu este poema sobre Portugal, poema bem actual.

“Portugal, volta ao mar, a teus navios
 Portugal volta ao homem, ao marinheiro, volta à tua terra, à tua fragrância, à tua razão livre no vento, de novo… à luz matutina do cravo e da espuma.
 Mostra-nos teu tesouro, teus homens, tuas mulheres, não escondas mais teu rosto de embarcação valente posta nas avançadas do Oceano.
 Portugal, navegante, descobridor de Ilhas, inventor de pimentas, descobre o novo homem, as ilhas assombradas, descobre o arquipélago no tempo.
 A súbita aparição do pão sobre a mesa, a aurora, tu, descobre-a, descobridor de auroras. Como é isso?
 Como podes negar-te ao ciclo da luz tu que mostraste caminhos aos cegos?
 Tu, doce e férreo e velho, estreito e amplo Pai do horizonte, como podes fechar a porta ao vento com estrelas do Oriente?
 Proa da Europa, procura na correnteza as ondas ancestrais, a marítima barba de Camões.
 Rompe as teias de aranha que cobrem tua fragrante copa de verdura e então a nós outros, filhos dos teus filhos, aqueles para quem descobriste a areia até então escura da geografia deslumbrante, mostra-nos que tu podes atravessar de novo o novo mar escuro e descobrir o homem que nasceu nas maiores ilhas da terra.
 Navega, Portugal, a hora chegou, levanta tua estatura de proa e entre as ilhas e os homens volta a ser caminho. A esta idade agrega tua luz, volta a ser lâmpada aprenderás de novo a ser estrela”.

 ( Pablo Neruda - 1954 )


Enviado por Antonio Soares Borges

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