quarta-feira, 6 de maio de 2020

FRESTA



 Em meus momentos escuros
 Em que em mim não há ninguém,
 E tudo é névoas e muros
 Quanto a vida dá ou tem,

 Se, um instante, erguendo a fronte
 De onde em mim sou aterrado,
 Vejo o longínquo horizonte
 Cheio de sol posto ou nado

 Revivo, existo, conheço,
 E, ainda que seja ilusão
 O exterior em que me esqueço,
 Nada mais quero nem peço.
 Entrego-lhe o coração.

 Fernando Pessoa


Enviado por Antonio Soares Borges

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