segunda-feira, 1 de junho de 2020

AÇORIANO COM ORGULHO!


Ser Açoriano é bem diferente de ser minhoto, algarvio, alentejano, etc, tal como também todos eles são diferentes uns dos outros. É nesta diferença de modos de vida, sotaques, culturas, gastronomias e vivências que está a riqueza de Portugal. Mas viver e ser dos Açores é sem dúvida outra loiça, outro mundo.

Ser Açoriano é estar rodeado pela maresia, pelo cheiro intenso do salgado, que nos penetra a alma, que nos acorda os sonhos, que nos esmaga os desejos, mas que nos desperta coragens, saudades e ousadias.

Ser Açoriano é o tremer do chão, viver no vulcão, rir da tempestade e chorar olhando o rosto do Senhor Santo Cristo dos Milagres. São os passos dos cavalos nas Cavalhadas ou dos homens no entoar da Avé Maria, nas Romarias.

Ser Açoriano é cantar a Charamba, pegar o touro pelos cornos, saborear o Pico num trago de vinho, na fatia de um queijo, num pedaço de pão. Estar nos Açores é ser crente, dedicado, saudoso e esperançoso.

Esta não é uma terra qualquer, nem falamos todos com o mesmo som, mas igualmente cheiramos a Hortênsia, ladeada pelos negros muros do basalto.

É no Divino Espírito Santo que nos recatamos, oramos, gritamos e cantamos, num rebentar da roqueira, que se ergue bem alto, em cada Dominga.

“Alva Pomba que meiga apareceste ao Messias, no Rio Jordão, estendei vossas asas celestes sobre os povos do orbe cristão”, assim canta o povo, assim celebramos a divindade, em nove pedaços de chão, talhados à mão, por este nobre povo ilhéu.

Ser Açoriano não se ensina, não se imita, não se vende, nem se compra. Ser açoriano é aqui nascer sob a aragem das crateras, mergulhando no molhado doce das lagoas, nas brumas das matinas, onde o grito dos gados se confunde com o silencio dos campos.

É nadar neste oceano, sentir a sua firmeza, sob um mato constate de chuva, mas que no inverno o sol sempre abunda. Puxar das revoltas águas o sustento magnifico e imaculado. Sentir o rebentar da espuma, no tapete negro do calhau, que muito xaile negro fez chorar.

Que se elevem as vozes cantando “Vinde, oh! Vinde, entre nuvens de glória”, exaltando o Divino Espírito Santo, no seu manto vermelho, na prata da sua coroa. Haja massa, pão e vinho, que o gado nos sirva de alimento, que sejam os anjos divinos a nos livrar da tormenta.

Talvez eu não saiba explicar o que é ser Açoriano, mas pouco importa porque é destas ilhas que faço o meu leito até que o sopro da morte aqui me deite.

José Pacheco - Ribeira Chã, Município da Lagoa, Ilha de São Miguel

Enviado por Antonio Soares Borges

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