Dona Nina completaria 96 anos, no dia 10 de setembro. O Norte Fluminense republica entrevista histórica realizada em 2011.
A CANÇÃO DE DONA NINA
Da Série Entrevistas de O NORTE FLUMINENSE
Nos dias 18 de junho e 02 de julho passados, O NORTE FLUMINENSE esteve na residência de Georgina Mello Teixeira, a "dona Nina", para entrevistá-la e dar início a uma série de reportagens com personalidades que marcaram de algum modo a vida de Bom Jesus do Itabapoana.
Dona Nina nasceu no dia 01/09/1924, em São José do Calçado (ES). Filha de Francisco Camargo Teixeira, o Zico
Camargo, e Maria Mello Teixeira, possui 86 anos "bem vividos", segundo acentua.
Seu avô se chamava Francisco Hermenegildo Teixeira de Siqueira, o "Vovô Caxico", o "homem mais rico de São José do Calçado" na época.
Em 1930, a época "pior para o Brasil por causa do comunismo", os
comerciantes "afundaram". Como seu pai possuía uma Loja de Armazém em um dos cômodos da residência, a família acabou mudando-se para Marapé (ES), atual Atílio Vivaqua, por convite do irmão médico Argeu Camargo Teixeira, em meados de 1939.
Posteriormente, residiu em Cachoeiro de Itapemirim (ES), Muqui (ES) e, a partir de 1943, em Bom Jesus do Norte (ES), em casa construída no ano de 1914, que até hoje pertence à família.
Após a morte de sua mãe, fixou residência em Bom Jesus do Itabapoana em 1960. Primeiramente em uma casa próxima à Pra
ça Governador Portela. Em seguida, em residência contígua à Rodoviária. Ao final, fixou residência no atual endereço, na rua Vereador João Gomes Figueiredo, onde reside há cerca de 40 anos.
Foi "vovô Caxico" quem "construiu o Serviço de Água e Esgoto em Bom Jesus do Norte, razão pela qual convidou meu pai, Zico Camargo, para administrar a empresa, o que ocorreu até a encampação da mesma pelo Governo do Estado".
Dona Nina se recorda com carinho da "litorina" nome dado à locomotiva da Estrada de Ferro sediada em Bom Jesus do Norte, e administrada por Olívio Bastos. Era transporte muito utilizado para quem se dirigia ao o Rio de Janeiro. Segundo comentários, a litorina encontrar-se-ia atualmente no Museu de Mauá.
Dona Nina e a foto do seu sempre lembrado pai, Zico Camargo
Zico Camargo, o historiador
Foi no ano de 1943 que seu pai, Zico Camargo, passou a exercer a
função de "avaliador do Banco do Brasil", por sugestão de José
Francisco, seu genro, ao então gerente Sebastião Guerra". Exerceu tal função até 1979, quando se aposentou.
Segundo dona Nina, que relembra do pai com contínuo carinho e
admiração, " foi a partir daí que seu pai desenvolveu o dom de
escrever sobre Bom Jesus, uma vez que visitava muitos lugares e
diversas fazendas". Mas desde criança Zico Camargo manifestava
"interesse nas letras e nas palavras".
Foi por estas andanças que Zico Camargo descobriu, por exemplo, a "história do Padre Preto" e o "esconderijo de escravos", no distrito de Calheiros.
No caso do "Padre Preto", no início do século, moradores racistas conduziram o pároco, que era negro, para um bote sem remos, e o lançaram ao rio, para que a correnteza o levasse até uma queda em uma cachoeira. "Milagrosamente, contudo, o bote acabou retornando ao local de origem, com o padre intacto, o que fez com que o fato ficasse conhecido como o 'milagre do Padre Preto' ".
Em relação ao esconderijo de escravos, relata dona Nina que Zico
Camargo, certa vez, observou que crianças brincavam num barranco próximo à Igreja, retirando terra do mesmo. Ao perguntar a um adulto "Zezito ou Chiquito", o mesmo informara que as crianças estariam fazendo um esconderijo. Ao se aproximar, contudo, constatou que se tratava na verdade de um buraco profundo. Assim, solicitou apoio de uma das crianças e, após uma se dispor a ajudar, afixou uma corda na altura da sua barriga, o que permitiu que a mesma adentrasse no buraco. A criança conseguiu trazer um "caco de cerâmica", mas não prosseguiu mais porque estava bastante escuro.
Relata dona Nina que Zico Camargo chegou a visitar vários museus no Rio de Janeiro, para que pudesse esclarecer se se trataria de
esconderijo de escravos ou dos índios coroados, acabando, ao final,
por concluir que tratar-se-ia de esconderijo de escravos. O caco de cerâmica, contudo, acabou se perdendo, por um descuido da pessoa responsável pela limpeza de sua casa.
Detalhe curioso em sua atividade como avaliador do Banco do
Brasil foi o fato de que, como Zico Camargo sabia aplicar injeções,
passou a ser comum que, ao visitar lugares longínquos, muitas pessoas solicitassem que ele fizesse a aplicação nas mesmas. Seu pai, contudo, só a aplicava "se houvesse recomendação médica por escrito".
Zico Camargo, o "grande pesquisador e historiador", faleceu em 1987, deixando um grande legado.
Índios Coroados e Puris
De acordo com dona Nina, os índios coroados localizavam-se na região "acima de Rosal, com a divisa do ES". Já os índios puris
localizavam-se na região de Calheiros. Com a chegada dos brancos, os coroados teriam "ido para São Fidélis", enquanto os puris se
"deslocaram para Campos".
Para Dona Nina, os índios coroados, buscando novas terras, desceram da região onde se encontravam através "do rio Muribeca (Itabapoana na língua indígena)" e se estabeleceram na atualmente conhecida "Fazenda do Quinca Reis, entre 1848 e 1875". Por outro lado, os índios puris teriam se unido aos coroados e se estabeleram "na região atualmente conhecida como Fazenda do Puri", em Pirapetinga.
Relata dona Nina ainda que há um registro documentado de uma pessoa conhecida como "Basílio", no século XIX, atestando que "os índios coroados reclamavam que teriam sido expulsos da região". Dona Nina conclui: " Os brancos vieram com documentação dizendo-se donos da região e acabaram expulsando os índios de suas terras".
Música
Tanto por parte de mãe, como por parte de pai, dona Nina recebeu
influência musical. O tio-avô de Zico Camargo, Joaquim Teixeira
Siqueira Magalhães, o Quinca Magalhães, organizou nos idos de 1905 a Banda Quinca Magalhães, composta por músicos da família. Por outro lado, "Vovô Caxico tocava 4 instrumentos: violão, cavaquinho, flauta e sanfona".
Dona Nina pertence à 4a. geração de organistas.
Sua bisavó materna, Georgina Medina Diniz, foi "a 1a. organista de Bom Jesus do Itabapoana e de São José do Calçado".
Carolina Diniz Freitas, a "Tia Salica", de quem teve lições de música, constituiu-se na 2a. geração. Conceição Diniz Mello, a "Tia
Conceição", integrou a 3a. geração, enquanto a 4a. geração é composta pela própria dona Nina e por sua irmã Ioli Mello Teixeira. A 5a. geração está representada por Maria Bernadete Teixera da Silva e por Maria Aparecida Teixeira da Silva.
Dona Nina estudou no Colégio Rio Branco até 1945, cursando o ginasial e o técnico de contabilidade, e foi ela quem redigiu "a primeira ata da CAVIL (Cooperativa Agrária Vale do Itabapoana Ltda)", quando secretariou a entidade por cerca de 3 anos.
Além das aulas com a Tia Salica, em São José do Calçado, recebeu aulas de música em Bom Jesus do Itabapoana, quando tinha 20 anos de idade, tendo como mestra Yveth Soares Diniz, "a 1a. pianista de Bom Jesus do Itabapoana".
Posteriormente, foi convidada a fazer um curso de Canto Orfeônico no Rio de Janeiro por cerca de um ano e meio. Ao retornar a Bom Jesus, foi contratada no ano de 1951, para lecionar no Grupo Escolar Pereira Passos, atividade que continuou realizando por cerca de 20 anos, até se aposentar.
Em 1963, foi criado o Conservatório Brasileiro de Música de Bom Jesus do Itabapoana, por "Pereira Pinto, Olívio Bastos, Ésio Bastos e pessoas do Rotary". A entidade mudou de nome para Conservatório de Música de Bom Jesus do Itabapoana e, posteriormente, já sob a direção de dona Nina, para Escola de Música Levy Aquino Xavier, em homenagem ao "1o. maestro de Bom Jesus do Itabapoana". Pela Escola "passaram cerca de 2.000
alunos, entre eles as proprietárias das Escolas de Música Cristo Rei e JEMAJ, Marisa Xavier e Anízia Maria, respectivamente".
Segundo dona Nina, a Escola funcionou até o ano passado, sendo
desativada porque a "prefeitura negou bolsas".
Festa do Divino
Relata dona Nina que a Festa do Divino teria sido trazida de Portugal pela matriarca Felicíssima Rosa d'Oliveira Teixeira, casada com Francisco Teixeira, nos idos de 1860. A Festa do Divino teria passado a ser regularmente comemorada a partir de 1863 e quando o Padre Mello, vindo também de Portugal, chegou a Bom Jesus, teria ficado impressionado ao ver nesta região esta cultura portuguesa.
Quando um parente esteve na cidade de Porto, em Portugal,
recentemente, pôde constatar que a Festa do Divino é idêntica à que ocorre em Bom Jesus: " a Coroa é levada de casa em casa, a banda toca e povo se reúne em torno dessa festividade".
A matriarca da família chegou primeiramente ao Rio de Janeiro,
dirigindo-se em seguida para o município de Rio Pomba, em Minas
Gerais, por volta de 1840. Posteriormente, assentou-se em Bom Jesus.
Dona Nina aprendeu a tocar o hino português "Alva Pomba", de autoria do Padre Delgado, com o Padre Mello, que incorporou tal hino à Festa do Divino e se tornou tradição em nosso município por ocasião das procissões.
Dona Nina toca na Igreja há cerca de 60 anos.
Planos
Com uma memória que lembra a de computador e a energia própria de uma adolescente, dona Nina faz planos, e pretende lançar um livro na Festa de Agosto deste ano, relativo a personagens da história de Bom Jesus cujos nomes são desconhecidos. Ao final, emocionada, deixou uma mensagem: " Estudem sempre, sempre, sempre, e coloquem no seu íntimo a música, pois ela é divina". Em seguida, levou-nos à sala de piano onde interpretou algumas de suas lindas canções.
Dona Nina compõe músicas, uma delas feita em homenagem a seu pai. Contudo, continua compondo a mais bela de todas: a canção que é a sua própria vida.
(PUBLICADA NA EDIÇÃO DE 15 DE JULHO DE 2011)
Nos dias 18 de junho e 02 de julho passados, O NORTE FLUMINENSE esteve na residência de Georgina Mello Teixeira, a "dona Nina", para entrevistá-la e dar início a uma série de reportagens com personalidades que marcaram de algum modo a vida de Bom Jesus do Itabapoana.
Dona Nina nasceu no dia 01/09/1924, em São José do Calçado (ES). Filha de Francisco Camargo Teixeira, o Zico
Camargo, e Maria Mello Teixeira, possui 86 anos "bem vividos", segundo acentua.
Dona Nina folheando o livro "Bom Jesus do Itabapoana", de seu pai Zico Camargo
Seu avô se chamava Francisco Hermenegildo Teixeira de Siqueira, o "Vovô Caxico", o "homem mais rico de São José do Calçado" na época.
Em 1930, a época "pior para o Brasil por causa do comunismo", os
comerciantes "afundaram". Como seu pai possuía uma Loja de Armazém em um dos cômodos da residência, a família acabou mudando-se para Marapé (ES), atual Atílio Vivaqua, por convite do irmão médico Argeu Camargo Teixeira, em meados de 1939.
Posteriormente, residiu em Cachoeiro de Itapemirim (ES), Muqui (ES) e, a partir de 1943, em Bom Jesus do Norte (ES), em casa construída no ano de 1914, que até hoje pertence à família.
Após a morte de sua mãe, fixou residência em Bom Jesus do Itabapoana em 1960. Primeiramente em uma casa próxima à Pra
ça Governador Portela. Em seguida, em residência contígua à Rodoviária. Ao final, fixou residência no atual endereço, na rua Vereador João Gomes Figueiredo, onde reside há cerca de 40 anos.
Foi "vovô Caxico" quem "construiu o Serviço de Água e Esgoto em Bom Jesus do Norte, razão pela qual convidou meu pai, Zico Camargo, para administrar a empresa, o que ocorreu até a encampação da mesma pelo Governo do Estado".
Dona Nina se recorda com carinho da "litorina" nome dado à locomotiva da Estrada de Ferro sediada em Bom Jesus do Norte, e administrada por Olívio Bastos. Era transporte muito utilizado para quem se dirigia ao o Rio de Janeiro. Segundo comentários, a litorina encontrar-se-ia atualmente no Museu de Mauá.
Dona Nina e a foto do seu sempre lembrado pai, Zico Camargo
Zico Camargo, o historiador
Foi no ano de 1943 que seu pai, Zico Camargo, passou a exercer a
função de "avaliador do Banco do Brasil", por sugestão de José
Francisco, seu genro, ao então gerente Sebastião Guerra". Exerceu tal função até 1979, quando se aposentou.
Segundo dona Nina, que relembra do pai com contínuo carinho e
admiração, " foi a partir daí que seu pai desenvolveu o dom de
escrever sobre Bom Jesus, uma vez que visitava muitos lugares e
diversas fazendas". Mas desde criança Zico Camargo manifestava
"interesse nas letras e nas palavras".
Foi por estas andanças que Zico Camargo descobriu, por exemplo, a "história do Padre Preto" e o "esconderijo de escravos", no distrito de Calheiros.
No caso do "Padre Preto", no início do século, moradores racistas conduziram o pároco, que era negro, para um bote sem remos, e o lançaram ao rio, para que a correnteza o levasse até uma queda em uma cachoeira. "Milagrosamente, contudo, o bote acabou retornando ao local de origem, com o padre intacto, o que fez com que o fato ficasse conhecido como o 'milagre do Padre Preto' ".
Em relação ao esconderijo de escravos, relata dona Nina que Zico
Camargo, certa vez, observou que crianças brincavam num barranco próximo à Igreja, retirando terra do mesmo. Ao perguntar a um adulto "Zezito ou Chiquito", o mesmo informara que as crianças estariam fazendo um esconderijo. Ao se aproximar, contudo, constatou que se tratava na verdade de um buraco profundo. Assim, solicitou apoio de uma das crianças e, após uma se dispor a ajudar, afixou uma corda na altura da sua barriga, o que permitiu que a mesma adentrasse no buraco. A criança conseguiu trazer um "caco de cerâmica", mas não prosseguiu mais porque estava bastante escuro.
Relata dona Nina que Zico Camargo chegou a visitar vários museus no Rio de Janeiro, para que pudesse esclarecer se se trataria de
esconderijo de escravos ou dos índios coroados, acabando, ao final,
por concluir que tratar-se-ia de esconderijo de escravos. O caco de cerâmica, contudo, acabou se perdendo, por um descuido da pessoa responsável pela limpeza de sua casa.
Detalhe curioso em sua atividade como avaliador do Banco do
Brasil foi o fato de que, como Zico Camargo sabia aplicar injeções,
passou a ser comum que, ao visitar lugares longínquos, muitas pessoas solicitassem que ele fizesse a aplicação nas mesmas. Seu pai, contudo, só a aplicava "se houvesse recomendação médica por escrito".
Zico Camargo, o "grande pesquisador e historiador", faleceu em 1987, deixando um grande legado.
Índios Coroados e Puris
De acordo com dona Nina, os índios coroados localizavam-se na região "acima de Rosal, com a divisa do ES". Já os índios puris
localizavam-se na região de Calheiros. Com a chegada dos brancos, os coroados teriam "ido para São Fidélis", enquanto os puris se
"deslocaram para Campos".
Para Dona Nina, os índios coroados, buscando novas terras, desceram da região onde se encontravam através "do rio Muribeca (Itabapoana na língua indígena)" e se estabeleceram na atualmente conhecida "Fazenda do Quinca Reis, entre 1848 e 1875". Por outro lado, os índios puris teriam se unido aos coroados e se estabeleram "na região atualmente conhecida como Fazenda do Puri", em Pirapetinga.
Relata dona Nina ainda que há um registro documentado de uma pessoa conhecida como "Basílio", no século XIX, atestando que "os índios coroados reclamavam que teriam sido expulsos da região". Dona Nina conclui: " Os brancos vieram com documentação dizendo-se donos da região e acabaram expulsando os índios de suas terras".
Música
Tanto por parte de mãe, como por parte de pai, dona Nina recebeu
influência musical. O tio-avô de Zico Camargo, Joaquim Teixeira
Siqueira Magalhães, o Quinca Magalhães, organizou nos idos de 1905 a Banda Quinca Magalhães, composta por músicos da família. Por outro lado, "Vovô Caxico tocava 4 instrumentos: violão, cavaquinho, flauta e sanfona".
Dona Nina pertence à 4a. geração de organistas.
Sua bisavó materna, Georgina Medina Diniz, foi "a 1a. organista de Bom Jesus do Itabapoana e de São José do Calçado".
Carolina Diniz Freitas, a "Tia Salica", de quem teve lições de música, constituiu-se na 2a. geração. Conceição Diniz Mello, a "Tia
Conceição", integrou a 3a. geração, enquanto a 4a. geração é composta pela própria dona Nina e por sua irmã Ioli Mello Teixeira. A 5a. geração está representada por Maria Bernadete Teixera da Silva e por Maria Aparecida Teixeira da Silva.
Dona Nina estudou no Colégio Rio Branco até 1945, cursando o ginasial e o técnico de contabilidade, e foi ela quem redigiu "a primeira ata da CAVIL (Cooperativa Agrária Vale do Itabapoana Ltda)", quando secretariou a entidade por cerca de 3 anos.
Além das aulas com a Tia Salica, em São José do Calçado, recebeu aulas de música em Bom Jesus do Itabapoana, quando tinha 20 anos de idade, tendo como mestra Yveth Soares Diniz, "a 1a. pianista de Bom Jesus do Itabapoana".
Posteriormente, foi convidada a fazer um curso de Canto Orfeônico no Rio de Janeiro por cerca de um ano e meio. Ao retornar a Bom Jesus, foi contratada no ano de 1951, para lecionar no Grupo Escolar Pereira Passos, atividade que continuou realizando por cerca de 20 anos, até se aposentar.
Em 1963, foi criado o Conservatório Brasileiro de Música de Bom Jesus do Itabapoana, por "Pereira Pinto, Olívio Bastos, Ésio Bastos e pessoas do Rotary". A entidade mudou de nome para Conservatório de Música de Bom Jesus do Itabapoana e, posteriormente, já sob a direção de dona Nina, para Escola de Música Levy Aquino Xavier, em homenagem ao "1o. maestro de Bom Jesus do Itabapoana". Pela Escola "passaram cerca de 2.000
alunos, entre eles as proprietárias das Escolas de Música Cristo Rei e JEMAJ, Marisa Xavier e Anízia Maria, respectivamente".
Segundo dona Nina, a Escola funcionou até o ano passado, sendo
desativada porque a "prefeitura negou bolsas".
Festa do Divino
Relata dona Nina que a Festa do Divino teria sido trazida de Portugal pela matriarca Felicíssima Rosa d'Oliveira Teixeira, casada com Francisco Teixeira, nos idos de 1860. A Festa do Divino teria passado a ser regularmente comemorada a partir de 1863 e quando o Padre Mello, vindo também de Portugal, chegou a Bom Jesus, teria ficado impressionado ao ver nesta região esta cultura portuguesa.
Quando um parente esteve na cidade de Porto, em Portugal,
recentemente, pôde constatar que a Festa do Divino é idêntica à que ocorre em Bom Jesus: " a Coroa é levada de casa em casa, a banda toca e povo se reúne em torno dessa festividade".
A matriarca da família chegou primeiramente ao Rio de Janeiro,
dirigindo-se em seguida para o município de Rio Pomba, em Minas
Gerais, por volta de 1840. Posteriormente, assentou-se em Bom Jesus.
Dona Nina aprendeu a tocar o hino português "Alva Pomba", de autoria do Padre Delgado, com o Padre Mello, que incorporou tal hino à Festa do Divino e se tornou tradição em nosso município por ocasião das procissões.
Dona Nina toca na Igreja há cerca de 60 anos.
Planos
Com uma memória que lembra a de computador e a energia própria de uma adolescente, dona Nina faz planos, e pretende lançar um livro na Festa de Agosto deste ano, relativo a personagens da história de Bom Jesus cujos nomes são desconhecidos. Ao final, emocionada, deixou uma mensagem: " Estudem sempre, sempre, sempre, e coloquem no seu íntimo a música, pois ela é divina". Em seguida, levou-nos à sala de piano onde interpretou algumas de suas lindas canções.
Dona Nina compõe músicas, uma delas feita em homenagem a seu pai. Contudo, continua compondo a mais bela de todas: a canção que é a sua própria vida.
(PUBLICADA NA EDIÇÃO DE 15 DE JULHO DE 2011)
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