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Jornal fundado por Ésio Martins Bastos em 25 de dezembro de 1946 e dirigido por Luciano Augusto Bastos no período 2003-2011. E-mail: onortefluminense@hotmail.com
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022
terça-feira, 22 de fevereiro de 2022
Curiosidade, por Rogério Loureiro Xavier
Olá 👋 pessoa amiga e do bem.
*"Curiosidade"*
Você sabia que o Dedo de Deus, além de ícone da Região Serrana, também é símbolo do Rio de Janeiro?
Apesar das diversas belezas naturais e arquitetônicas que compõem nosso belíssimo Estado, o Dedo de Deus foi escolhido para representar o brasão e a bandeira do Rio. É tanta beleza que rendeu até homenagem!
✍ ... amigo Roger LX
*"Vida... vivendo e aprendendo"*
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022
sábado, 19 de fevereiro de 2022
Rio Corrente
Stephanie Rezende Alvarenga Moulin Mares é membro da Academia Bonjesuense de Letras
Eles vieram das Gerais
Eraldo Salutto de Rezende
Construíram novos lares
Em Arraial Novo
E Santo Antônio do Rio Preto
Em seus caminhos
Tropeiros encontraram Negros
E os primeiros habitantes
Fundaram a Vila
Construíram a história da Árvore
Com seus jagunços em tocaia
Que logo foi chamada de árvore criminosa
Não levou muito tempo seu nome mudou
Para Santo Antônio do Itabapoana
Os sonhos das matinais
Sobre as cangalhas dos animais
Passando pela Barra do Pirapetinga
E pela rua dos Mineiros
Calheiros foi a base
Seus antepassados ajudaram a fundar
Campo Alegre
Levando o ouro negro
Para o Porto de Limeira
Embarcando café em barcaças
E, assim, da primeira choupana,
Foi surgindo, grandiosa,
A nossa querida Bom Jesus do Itabapoana.
MENINOS
Entardecia em Pirapetinga. O sol caminhava infalível para as montanhas em direção à fazenda das Areias. Raras nuvens. Uma espécie de neblina fina toldava a tarde.
Eu revirava velhos documentos, antigas anotações, ao acaso, sem objetivo definido quanto a encontrar algo especial. Pego um pedaço de papel retangular com consistência diferente, mais endurecido. Viro. É uma foto de minha escola em 1941, em frente ao salão ligado à residência de Agostinho Boechat.
Cerca de quarenta crianças, talvez mais. Quase todos descalços e com embornais onde guardavam cartilha, lápis e um caderno.
As mais diferentes fisionomias e cores. Sem uniformidade de raça. Na foto, poucos sorriam. Os meninos das roças, mais atrás, algo tensos, sem alegria. Eram pouco participativos. Ficavam a manhã inteira me acompanhando no quadro negro. E eu era sozinha para todas as séries. Enquanto usava o quadro para um grupo, os outros faziam deveres que, na véspera, eu preparara em seus cadernos. Luta insana. Quarenta cadernos. A velha cartilha e a tabuada, companheiras. Interessavam-se mais por História do Brasil, quando eu dramatizava o mais possível para prendê-los. Nas aulas, os brancos sentavam-se à frente, não porque fossem guiados para aquele local, mas, com toda probabilidade, um impulso natural de separação.
A grande maioria, provavelmente frequentava as aulas não por insistência dos pais, que necessitavam deles para o trabalho na lavoura, mas para evitar, pelo menos pela manhã, a faina braçal.
Na verdade, tal qual hoje, em muitos locais do Brasil, era exploração de trabalho infantil. Na época, esse aspecto ainda não alcançara a atenção das autoridades. Não há nada mais extenuante do que capinar e roçar pasto sob o sol. Eu os exortava a pensar neste aspecto de suas vidas, esclarecendo sobres a possibilidade de um futuro melhor com o estudo. Mas, em vão. Chego a pensar que, presos à simplicidade da vida no campo, tinham medo de sair de seus terreiros e, assim, continuavam a vida dos pais. Alguns eram tão inteligentes que me levavam à frustração saber que não poderiam seguir em frente, que não passariam do primário.
Mas o que traziam aquelas fisionomias? Quais conselhos recebiam de casa? Estou certa de que os pais não lhes orientavam quanto a um futuro melhor. Enfim, eu era a comandante de uma nau na qual uma parte da tripulação era de desesperançados.
E iam eles no compasso de suas vidas. Os mais avançados, brilhando, mas grande número sem a força de quem quer aprender.
Tanto na década de 40 como agora, o problema do Brasil se resume às oportunidades. Nos primeiros trezentos anos de nossa colonização, restringimo-nos ao litoral e à monocultura. A virada industrial, provedora de ofertas de trabalho, demorou até que São Paulo, nessa área, abriu os caminhos para a riqueza nacional. Mas isso foi bem depois da Revolução Industrial na Inglaterra. No entanto, esse tempo que se perdeu ceifou esperanças, carreiras de gerações.
Na foto, eu me lembro de todos daquela turma. Raros sorrisos abafados pela timidez. As fisionomias eram cheias de expressão, marca, na maioria, de vida sofrida nas roças. Cada face me parecia uma dor. Teriam comido o quê como café da manhã? Talvez café de garapa e mandioca cozida. Chegavam com fome. Traziam bananas para merenda. Não tinham possibilidade de um bolo ou de uma broa com café com leite. Os pais eram meeiros e dinheiro somente no final da temporada do café.
Atualmente, em nosso país há mais condições para avançar nos estudos. Temos, até, grupos diferenciados que chegam aos sistemas de quotas nas universidades. Mas, a demanda por possibilidades é, ainda, desafiadora. A mesma situação de meus meninos das roças. É claro, os jovens nas grandes cidades são vítimas do contexto social (desemprego, comunidades-bolhas, drogas, tráfico, abandono, perpetuadores do círculo de pobreza). Atualmente, mais de 100 mil crianças, entre 08 e 17 anos, nessa situação de exploração de trabalho infantil. Assim, meus alunos daquela época e os atuais, nessa longa caminhada, permanecem em situações estanques quanto à oferta de possibilidades
E passavam o primário. E chegavam à admissão ao ginásio. Mas, para onde ir aquela massa de meninos, vencida a primeira etapa de seus aprendizados? Ou melhor, para onde foram?
Os garotos voltaram à lavoura. A arar, roçar, capinar o arroz e o milho, na mesma vida ancestral. Aguardava-os um casamento precoce, em geral uma das meninas da vizinhança. E lá ia a vida.
Entretanto, tenho que ressaltar que essa turma da lavoura teve um papel muito importante na produção de gêneros durante a Segunda Guerra Mundial. Foram eles que seguraram o Brasil, pois não havia, ainda, a expansão do agronegócio.
Quando terminei o curso normal no Santa Marcelina, em Muriaé, fui para Vargem Alegre, mais tarde Pirapetinga de Bom Jesus, com desejo imenso de ensinar, de preparar pessoas para a vida, para educar e ver o progresso.
No entanto, com o tempo, ao ver tantos impedidos de continuar, cheguei a pensar na inutilidade de estar ensinando, mas voltei meus impulsos para o que conseguiam ultrapassar essa etapa. Coroaram meu esforço.
Ah... meu nome, Iracema.
PEDRO ROSA
Elcio Xavier |
Era uma fria noite de junho. Ele caminhava desleixado em direção à sua casa, situada do outro lado da pracinha. Voltava de um baile na residência do Juca Andrade, antigo morador do povoado. Esses bailes aconteciam invariavelmente todos os sábados, qualquer que fosse o tempo, e lá ia o conhecido cabo, comandante do destacamento policial da pequena Vila, a fim de assegurar a ordem naquele grotesco salão de danças.
Desta vez, entretanto, vinha de cabeça baixa e passos irregulares, absorto num pensamento distante. Era o tipo comum dos habitantes do sertão brasileiro. Homem rude, de traços grossos e pele escura dono daquele recanto afastado do norte do Município. Seus olhos grandes e vivos destacavam-se fortemente na sua face queimada e coberta por sulcadas rugas que lhe davam uma expressão mística de ódio e coragem desmedida. Seus cabelos negros, cortados baixos na cabeça, estavam cobertos pelo quepe amarelo descorado. Sua farda caqui, já esmagada pelo longo uso, mostrava alguns remendos nos joelhos, punhos e gola. As botinas grandes, sempre ruças, bastante deformadas pelos seus pés largos, eram como pranchas negras que deixavam enormes rastros aos quais era difícil se atribuir fossem feitos por um pé humano. Trazia pendente do forte cinturão de couro preto uma pesada pistola que o fazia gingar um pouco e que já havia calejado sua mão cabeluda. Pedro Rosa era o seu nome de batismo, mas pelas façanhas que já praticara, todas de grande bravura e intrepidez, e o seu fiel cumprimento dos deveres de homem da lei, fora apelidado por “Jararaca”.
Este homem, contudo, distinguia-se de muitos outros que tinham passado por ali. Pouco falava e quase sempre era visto sozinho, onde quer que fosse e por mais arriscada a missão a cumprir. Trazia constantemente consigo uma pequena vara amarela, com a qual afugentava os moleques jogadores de futebol das ruas. Não tinha instrução, mas sabia fazer justiça, embora a seu modo, o que lhe dava uma grande reputação por toda aquela região. No seu ramo, o do policiamento do Arraial e circunvizinhança, ninguém interferia, nem mesmo as autoridades do lugar, compostas, na sua maioria, de homens sem moral e caídos na lama, que se valiam dos seus grandes bens de fortuna para explorar os pobres lavradores do povoado. Caráter reto, dentro da sua maneira áspera de falar e de agir, tomado do complexo da autoridade, não tolerava que suas ordens deixassem de ser cumpridas e praticava mesmo, nas horas de furor, certas arbitrariedades com os faltosos, espancando-os em plena praça pública, ou aplicando-lhes as penas mais escandalosas, como encarcerá-los num cubículo onde o prisioneiro só podia estar de pé, sem poder se assentar, tendo um fio d’água gotejando sobre a cabeça descoberta ou coisas semelhantes...
Sua fama de homem valente corria pelos arredores, e, de fato, ele nunca conhecera o medo. Já havia enfrentado sozinho, no Córrego Seco, dez capangas do João Tavares e pusera todos a correr. Na fazenda do Córrego Torto prendera um doutor e o filho do delegado, levando-os para o “cubículo”. Ajuntam-se muitos outros fatos ao seu “glorioso” passado, do qual se orgulhava, seu nome era pronunciado com respeito; receosos de ofendê-lo, pois surgia em toda parte quando menos se esperava, como uma alma do outro mundo.
Certa vez, quando passava pela Rua das Taboinhas, na entrada do Arraial, percebeu um ruído estranho que o despertou do seu sonho. Foi uma gargalhada curta, histérica, vinda de um armazém de grandes portas amarelas e sujas, cerca de cem metros dali. Parou e aguçou o ouvido. Nada percebeu, tudo era silencio de novo. Seu coração batia forte e pelo seu cérebro passou rápida a imagem de uma nova glória para se juntar ao seu passado brilhante. Já se supunha empenhado numa luta titânica, de onde em breve sairia vencedor, levando na frente os criminosos, que certamente praticavam um roubo naquele velho armazém. Esgueirou-se mansamente por trás de uma árvore copada e ficou na espreita. Uma tênue réstea de luz feriu seus olhos acostumados à escuridão da noite. Caminhou de leve, quase rastejando, em direção ao prédio. Era uma casa que ele conhecia muito bem, pois fora ali a trágica luta de dois negros vindos de Minas Gerais. A cena de luta daqueles dois gigantes passava pelo cérebro como uma fita de cinema, fazendo-o soltar uma exclamação de raiva, por ver perturbados os seus planos de ataque. “Como ousavam esses ladrões virem roubar dentro da Vila onde sou o chefe do destacamento policial! Como eram audaciosos aqueles patifes que estavam ali atrás daquelas paredes sujas! Cercarei a casa pelos fundos e prenderei todos” - dizia baixinho. “E aquele que resistir à prisão, já sabe, a minha arma vai falar!” Não, ele não queria dar nem um tiro; prenderia todos vivos para entregá-los ao Tenente, o homem das duas fitinhas brancas no ombro da túnica, com dois soldados fortes de cada lado. E como ele quis ser, naquela hora o Tenente Embassaí, para não ter que dar os seus prisioneiros a ninguém! Como seria bom se tivesse duas listras brancas na sua túnica, e passou a mão grossa pelo ombro. O dono deste armazém – pensava – eu o conheço bem; conheço toda a sua história. Veio corrido da Bahia, sem um vintém, e hoje é rico. “Se não fosse pela audácia desses ladrões, eu não me importaria e deixaria levarem tudo. Mas não, isso nunca! Aqui em Cruz Alta não permitirei isso!”
Chegou de mansinho junto a porta principal e colou o ouvido. Seus olhos grandes brilhavam de satisfação. Dir-se-ia que os ladrões já tinham sido identificados, um a um, e que o plano de prisão já tinha sido modificado, para que ninguém escapasse à prisão.
Mas era o contrário. Falavam em tom quase imperceptível, medrosamente, temendo ferir a solidão da noite. Seu ouvido preso à tábua áspera se deliciava com as palavras que ia absorvendo: “Na verdade ele é um grande cabo!” “Sim, é muito valente e não teme coisa nenhuma. “Eu tenho medo dele, sim, tenho”. Imagine eu em suas garras!” Diziam entre si os ocupantes do armazém. O coração do cabo Jararaca batia mais acelerado e seu cérebro começou a dar os últimos repasses no plano já traçado. Entraria pelos fundos, soltaria os cavalos, “pois certamente deve haver cavalos”, e depois, empurrando a porta, quando todos estivessem juntos, daria a voz de prisão. Sua mão escorregou instintivamente para o coldre e caiu na coronha do revólver, para logo depois ir até ao quepe, e empurrá-lo para o alto da cabeça – este gesto significava que ele estava preparado para tudo. Sentiu passar pelo corpo uma onda de sangue novo e quente que lhe enrijeceu todos os músculos. Aquele homem de pouca instrução, feito cabo da Força Policial do Estado e designado para comandar o destacamento daquela pequena Vila, cuja fama de antro de bandidos corria por toda a região, sentiu chegada a sua oportunidade de praticar a maior façanha de sua vida. Iria prender, sozinho, toda uma quadrilha de ladrões. Começou a dar a volta ao prédio de paredes sujas e mal cuidadas. Os pensamentos de glória, de elogios do Tenente que ele tanto invejava e a notícia de uma página inteira que iria publicar o jornal do Senhor Camelo, o semanário do Município, afluíam vertiginosamente à sua cabeça. E a sua fama, como iria “correr”...
Deu a volta completa, saltando um valão sujo, onde mergulhou as botinas, molhando toda a perna e transpondo uma cerca de arame farpado, achou-se diante da porta dos fundos do armazém. Desamarrou dois cavalos que estavam presos a uma figueira baixa e os levou para longe. Regressou, de mansinho, subiu a escada de madeira que dava acesso à porta e, com o coração batendo e sua mão firme na coronha de sua arma, escutou. As vozes ainda eram veladas e um murmúrio distante chegava aos seus ouvidos, tal como se tivessem naquele momento arrombando o cofre do armazém. Julgou ser o instante exato para entrar em ação. Olhou ao redor e cuspiu para trás. Deu um passo a frente e abriu violentamente a porta. Suas mãos baixaram lentamente, seus olhos quase saíram das órbitas e seus movimentos faltaram: diante dele, lá no fundo do balcão de madeira, o prefeito da cidade, assentado num caixote e deitada no seu colo, Maricota, uma sujeita da zona de meretrício da Vila.
Jararaca recuou, baixou os olhos e deixou aquele lamentável cenário pecaminoso.
. . .
O prefeito viajou inesperadamente para a capital da Província, de onde não voltou até esta data. Dizem que sofreu um mal súbito na viagem, vindo a óbito, e seu corpo foi transladado para Santo Antônio das Flores, sua terra natal. Da mulher cuidou o silêncio.
Do livro Lembranças - Contos
O ANJO
Elcio Xavier |
Ouviu-se pela segunda vez a mesma voz:
— Lurdinha! Lurdinha!
E, como sempre, um terceiro chamado teria vindo ferir a calma da manhã se a cabecinha loura não surgisse de dentro do caramanchão. Quis voltar, mas em seguida sorriu de leve e agitando a mãozinha rosada, saiu correndo:
— Estou aqui! Estou aqui!
E interpelou à irmã que a chamava:
— Oh, Lena! Por que tanta pressa? .... Ainda é tão cedo para a aula. E depois o meu amiguinho Anjo disse que eu ainda não preciso ir à escola.
— Ora querida, não fique assim tão aborrecida, com esse rostinho choroso. – respondeu sua irmã enxugando com beijos aquelas lágrimas que começavam a cair como gotinhas brilhantes. O anjo não sabe bem o que diz, é tão pequeno ainda. Mas você está quase uma mocinha. Já se esqueceu que setembro não tarda, e, portanto, terá dentro em breve oito anos?
— Sim, eu sei Lena, mas é.... Bem, não adianta, você não acredita mesmo. E ficou com as mãozinhas aparando as faces, os olhos perdidos em um mundo diferente, enquanto a irmã mais velha ajeitava-lhe os cachinhos cor de ouro. E como brilhavam naquele instante...
— Diga-me queridinha, o que a faz pensar assim? Você já não confia em mim, na sua irmã do coração?
— Oh, Lena!
E Lena, num ímpeto, abraçou a não menos bela cabeça da irmã, beijando repetidas vezes aquela bonita face que mal despontava para a vida.
— Lena! Você será capaz de guardar um segredo? Olha: é uma coisa que só poderei dizer a quem me queira muito bem. Não diga que não, sim?
A irmã ficou pensativa. Desejaria ceder? Depois encarando aquele rosto de olhinhos suplicantes, resolveu acompanha-la até o pequeno banco do caramanchão.
— Venha, Lena! Venha depressa! Vou lhe contar um segredo. Mas olha! Você promete não dizer nada a mãezinha, sim? Coitada, está sempre tão doente... e depois não quero aborrecê-la com minha história. Promete, Lena? Promete?
— Ora, querida, quantas vezes quer que a sua maninha diga sim?
— Lena, como você é boa! Foi o Anjo que me falou hoje quando brincávamos com as florinhas de neve, no canteiro de estrelas.
— Mas afinal, quem é o anjo e que coisa é essa que você faz tantos rodeios para contar?
— Ah, se o ouvisse falar!... É tão belo e diz tantas palavras bonitas! Ainda hoje, aqui mesmo neste lugar, falou sobre minha roseirinha tão feia e maltratada pelo sol. Olha, Lena, ela é como se fosse eu! Todos sabem que foi plantada por papai no dia em que cheguei a esta casa, naquele barquinho coberto de melindrosas. Não foi assim mesmo?
— Sim, querida, sim!
— Pois olha, a minha roseirinha vai abrir uma belíssima flor cor de neve azulada.
— E que tem isto, meu amor?
— Ah, se você soubesse... Lena, você já esteve tão alegre e tão triste, que ficou sem poder rir ou chorar?
— Ora, Lurdinha, que tolice!
— Não, não é uma tolice! Foi o que senti.
E, com os olhinhos brilhando como duas chamas ardentes, onde a pureza se associava, foi narrando minuciosamente as imagens retidas em sua cabecinha, feitas de sonhos.
— Pois é assim mesmo. Você promete não ficar triste, não é? Estou tão contente. E depois, gosto tanto do Anjo...
— Mas Santo Deus, que vem a ser tanta coisa?
— Ainda não sabe, Lena? Oh, como você custa a compreender a sua Lurdinha! É tão simples... Na manhã em que a rosa neve-azulada abrir todas as suas pétalas e receber o primeiro beijo de luz, eu seguirei com o anjo para um país desconhecido que ele me descreve sempre e onde serei uma princesinha com asas mais azuis que os seus olhos.
A irmã suspirou profundamente: “quanta tolice reunida!”
— Parece incrível que você, pequena como é, possa ter tantos pensamentos e imagens tão estranhos à sua idade! Não diga mais nada! Esqueça estas fantasias e vamos para a escola, mas antes prometa-me esquecer o tal Anjo e estas coisas tolas que me disse.
Lurdinha ficou pensativa por alguns minutos, vacilou e por fim prometeu esquecer tudo aquilo imprimindo um beijinho quente na face de Lena.
. . .
Dois meses se passaram. Estamos em setembro. No canteirinho de estrelas há uma belíssima rosa neve-azulada. Sobre uma caixinha de flores muito leve e macia estão os cachinhos louros e os olhinhos azuis...
Lurdinha fora levada naquela manhã muito clara para o Paraíso por seu amiguinho Anjo.
Do livro Lembranças - Contos
Duas poesias de Paulo Xavier
Paulo Xavier |
METRÓPOLE
Meu coração
é uma cidade sombria
com muitas esquinas
e vias vazias
túneis escuros
escadas e muros
vielas e becos
que nem eu conheço
velhos umbrais
e antigas janelas
catedrais de lembranças
colunas partidas
e o vento
do tempo
a soprar entre elas
murmúrio de vozes
em praças esquecidas
sons de batalhas
hálito da morte
e de outras vidas
Meu coração
é uma velha cidade
perdida
daquelas das lendas
antigas
ruínas apenas
que ao pó voltarão
mais cedo ou tarde
e um dia então
haverá uma floresta
em meu coração
PAULO XAVIER
VERMELHA
Há sangue
em minhas veias
e nas tuas
Há sangue
nos becos
e nas ruas
Há sangue
nos cantos
das praças
Há sangue
nos bancos
do bonde que passa
Há sangue
no couro
das botas
Há sangue
do músico
nas notas
Há sangue
no ouro
dos cofres
Há sangue
respingado
nos postes
Há sangue
entre os destroços
Há sangue
dos corpos
nos rostos
Há sangue
dos vivos
nos mortos
Há sangue
do sangue
no sangue
PAULO XAVIER
Garrincha em Bom Jesus
Jailton da Penha |
Festa de Agosto de 1960, uma das mais tradicionais do Estado do Rio de Janeiro. O Santa Isabel é convidado pela comissão de festa a representar o município no dia 15 de agosto.
Na oportunidade, estava visitando a cidade o bonjesuense e governador do Estado Roberto Silveira. O adversário era o excelente esquadrão do Retiro F.C equipe do Distrito de Retiro de Muriaé (Itaperuna).Aos visitantes para essa partida conta com as presenças de três craques consagrados do Botafogo de F.R.O gênio das pernas tortas Mané Garrincha, que tinha encantado o mundo na Suécia em 1958 e o Brasil conquistando o seu primeiro título mundial, com eles vieram Paulistinha e Rossi. Estádio do Olímpico lotado,os times entram em campo, o governador é convidado a dar o pontapé inicial. As previsões eram sombrias para o esquadrão usineiro,a maioria dos torcedores apostavam numa goleada para o Retiro, os torcedores do Santa Isabel por mais que confiassem não acreditavam em outro resultado a não ser a derrota. Saída de bola pertence ao adversário. Garrincha é lançado, finta Doni,Floriano e Sebastião, dá um ``balaço``indefensável para o Jorge. Era o início do terror, diriam alguns. O Estádio Fernando Lopes da Costa vai a loucura e os gols nas apostas eram dados com grande diferença.Passado o susto inicial,é reorganizada a marcação, por mais que o treinador Donalson Tavares Dias tentasse estava difícil organizar a marcação. Gato do outro lado gritava para o Doni chegar mais junto. Floriano encosta mais para a esquerda da defesa e pede para o Sebastião dar o primeiro combate. Mas,como parar o homem que chamava todos os laterais de João, como parar o homem que abusava do Jordan do Flamengo, do Coronel do Vasco? A verdade é que o futebol tem essa magia e é essa magia que nos encanta e faz desse esporte o mais popular do mundo. O time da usina foi sentindo o gostinho e começava a ditar o jogo um franzino ponta pelo setor esquerdo e esse ponta começou a se detacar, jogando em cima da linha e não tomava conhecimento dos ilustres adversários e a torcida do Santa Isabel e muitos que estavam ali para ver Garrincha, começaram a notar Gutengo, trazendo para si a genialidade do Seu Mané. Ainda no primeiro tempo o Santa Isabel empata o jogo, gol assinalado pelo Floriano:1×1.Voltando para segunda etapa com a metade dos torcedores simpatizando pelo ponteiro esquerdo usineiro, Gutengo recebe uma bola em profundidade, passa pelo Paulistinha,deixa Ebert para trás e vence o goleiro Zé Luiz. O placar 2 a1 para o Santa Isabel. Muitos não acreditando e mais uma vez Gutengo dando o show que seria do Garrincha. Logo a seguir é a vez do Caixote ampliar o marcador para 3 a 1,incredulidade no Estádio. O Santa Isabel ainda desperdiça uma penalidade. Final da partida nas arquibancadas o comentário era um só.``Quem veio assistir o show do Garrincha, viu o show de Gutengo ''.Após a euforia e o grande feito da Vitória, os jogadores se confraternizando no vestiário,emocionados pela grande vitória e por quem estava do outro lado, muita gente ali porque não dizer, todos estavam para ver Garrincha, Bi pelo Botafogo em 1957 e 1958,Campeão do mundo pela Seleção, acompanhado de dois craques como Paulistinha e Rossi, que feito memorável. Eis que entra no vestiário Garrincha para cumprimentar Gutengo. Após um abraço apertado parabenizando pela atuação faz um convite:''Estou aqui para leva-lo para o Botafogo".Gutengo responde:"Vou não,aqui eu tenho emprego na Usina".Garrincha retruca:Lá no Botafogo, você também vai ter emprego e vai jogar junto comigo. Gutengo recusou e quis o destino que ficasse na Usina. Os times:Santa Isabel:JORGE Rodrigues, Gato e Vasinho, Sebastião, Floriano e Doni, Bíé (Jiló),Caixote,Veijão(Laerte),Brandãozinho
e Gutengo.Retiro:Zé Luiz, Paulistinha e Ebert, Graveto, Juca e Evandro, Garrincha,Cabeção, Rossi, Thomaz e Salvador.
28 de fevereiro: UMA DATA A SER LEMBRADA E COMEMORADA COM GRATIDÃO
Em 28/02/1918, nascia este ilustre bonjesuense, predestinado a ter várias missões, entre as quais, aquela que ficou marcada para sempre, onde teve a sua vida ceifada em momento de intensa emoção ao, finalmente, depois de muita luta e reivindicações, ver concretizado o sonho, acalentado por ele e seus irmãos, Cid e Hélio, da fundação daquele que viria a ser o Colégio Técnico Agrícola de Bom Jesus, justamente homenageado com o seu nome e, mais tarde, na continuação do sonho, encampado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com seu "Campus Avançado" e, atualmente, faz parte do complexo do Instituto Federal Fluminense (IFF).
Fonsinho, como era carinhosamente chamado, além da sua ocupação profissional como médico-veterinário, era ligado ao Ministério da Agricultura, e lotado em um Posto avançado em Bom Jesus, graças à sua alta capacidade e dedicação, virtudes reconhecidas além fronteiras.
Mas, Fonsinho, que teve no seu nome de batismo uma homenagem ao avô materno, Ildefonso Garcia Bastos, foi moldado numa sólida atmosfera familiar em que, tendo perdido o pai, Tonio Borges, com apenas 7 anos, e ao lado de 4 irmãos, todos homens, com idades compreendidas entre 9 anos e 40 dias, foi criado com muito amor e dedicação por uma mãe, Carmita (Carmem), ainda muito jovem (29 para 30 anos), mas, de muita fé e confiança na Providência Divina, largamente comprovadas ao longo da criação e educação dos filhos, aos quais transmitiu valores fundamentais na solidificação do caráter de todos eles e, dos quais, Fonsinho jamais se esqueceu, principalmente, aqueles da fé, uma fé simples, porém, profunda e fiel, que permeou todos os atos de sua vida, incluindo uma sua faceta pouco conhecida, porque discreta, mas, suas ações, caridosas, "brilhavam" e, mesmo sem o saber, não passaram despercebidas, que o digam os inúmeros pobrezinhos seus irmãozinhos, era assim que ele os considerava, se sentiram órfãos e o recordam chorosos, até os dias atuais (e lá já se vão quase 50 anos), e o consideram um Santo, o "Santo Afonsinho" dos pobres.
E, claro, Afonsinho foi de um valor imensurável e referencial para a família, marido e pai carinhoso e exemplar, filho fiel e amoroso, irmão de qualidades e amizade inestimáveis, tio admirável e inesquecível, também, pelos seus primos e amigos.
*1- "Afonsinho" era a maneira simples e carinhosa como os pobrezinhos o chamavam.
*2- Fonsinho teve uma destacada, embora sempre discreta e desapegada, participação como "vicentino", integrante que era da Conferência São Vicente de Paulo de Bom Jesus.
*3- participou, também, ativamente, da Liga Católica da Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, bem como participou, entusiasticamente, como sempre, das atividades para a fundação do Abrigo dos Velhos José Lima, tendo sido membro da sua 1ª Diretoria.
Nota:
1ª foto - acervo de seu filho, Cristiano Batista Borges, último ato em vida de Fonsinho, após assinar o documento, que oficialização a criação do Colégio Técnico Agrícola que, posteriormente, levaria o seu nome. Logo após este ato, pela emoção do momento, o seu nobre coração não resistiu...
2ª e 3ª fotos - copiadas e editadas (recortes) do acervo do fotógrafo Darcy Boniolo. Momento com a Liga Católica Jesus, Maria e José, diante das escadas da Igreja Matriz Senhor Bom Jesus e, no "Rosário da Madrugada", uma bela iniciativa, à época, do Pe. Francisco Apoliano. Fonsinho, como sempre, altivo e com seu terço à mão; este terço ele jamais o deixava e, hoje, continua a fazer o mesmo papel nas mãos do seu filho Cristiano, no Terço dos Homens, na Paróquia N. Sra. da Paz, Ipanema, Rio de Janeiro.
Fonsinho era um imbatível devoto de Nossa Senhora e tinha por hábito, desde tenra idade, rezar o terço em Sua homenagem e para pedir pela paz no mundo e conversão dos pecadores.
4ª - Homenagem feita pelo Professor Luiz Antônio Vieira da Silva, em 2009, nos 39 anos de fundação do Colégio Técnico Agrícola Ildefonso Bastos Borges, disponível na internete. Cerimônia de fundação do Colégio e, onde estão,entre outris conhecidos, o tio Fonsinho, mais atrás, o tio Hélio, que seria o 1° Diretor do Colégio e a, também, saudosa, prima Maria Inês, filha de tio Orlando, em 1° plano. Está foto faz parte do Acervo do IFF, através do Prof. Fernando Ferrara.
Bom Jesus do Itabapoana, 28/02/2018
Antonio Soares Borges
Cristiano Batista Borges
Francisco Eugênio Soares Borges
28 de fevereiro: 61 anos da morte de Roberto Silveira
Roberto Silveira, Ismélia e os filhos
No dia 28 de fevereiro, lembraremos dos 61 anos da morte do ex-governador Roberto Silveira, em Petrópolis (RJ), após suposto acidente em helicóptero em 1961.
Roberto Silveira é glória de Bom Jesus do Itabapoana
Nascido no dia 11 de junho de 1923, no Sítio Rio Preto, em Bom Jesus do Itabapoana - assim como seus irmãos Badger, Zequinha, Maria da Penha e Dinah - Roberto estudou na Escola Municipal de Barra do Pirapetinga, com a professora Olga Ebendinger.
Roberto Silveira estudou na Escola Bom Jesus, da professora Amália Teixeira, localizada na parte superior do prédio
Colégio Rio Branco, onde estudaram os irmãos Roberto, Badger e Zequinha Silveira, funcionou entre 1920 e 2010, e, hoje, compõe o ECLB (Espaço Cultural Luciano Bastos)
Posteriormente, estudou na escola da professora Amália Teixeira e no Colégio Rio Branco, ambos localizados na cidade de Bom Jesus do Itabapoana.
Na década de 1940, Roberto estudou na Faculdade de Direito de Niterói.
Elegeu-se deputado estadual em 1947, sendo reeleito em 1950.
Ismélia e Roberto Silveira
Ana Maria Silveira e Badger Silveira Filho, sobrinhos de Roberto Silveira, sustentam que o tio foi alvo de atentado
Em 1951, casou-se com a bonjesuense Ismélia Saad, filha do libanês Melhim Hanna Saad e Alzira Sauma Saad. Com ela teve três filhos: Jorge Roberto, quatro vezes Prefeito de Niterói, Dôra, museóloga e historiadora, e Márcia, socióloga. Jorge é casado com Cristina Ramalho Silveira com quem tem um filho: Roberto. Márcia é casada com o médico Alberto Domingues Viana, radiologista e professor da UFF. Eles possuem um casal de filhos: João Alberto, médico como o pai, e Maria Roberta, que é administradora de empresa.
Secretário estadual do Interior e Justiça, foi eleito vice-governador em 1954.
Foi eleito governador em outubro de 1958.
Tido como futuro presidente da República, sucedendo a João Goulart, após adentrar em helicóptero, onde pretendia verificar os estragos causados pela enchente em Petrópolis, o aparelho, desgovernou-se ao decolar. A queda da aeronave causou a morte de Roberto Silveira, em decorrência de queimaduras.
Um mar de guarda-chuvas no adeus ao inesquecível Roberto Silveira
Ismélia Silveira: lágrimas que nunca findam
Ana Maria Silveira, sobrinha do ex-governador, prestou declaração ao O Norte Fluminense sustentando a tese de atentado contra Roberto Silveira, que pode ser lida no link: http://onortefluminense.blogspot.com.br/2014/06/roberto-silveira-foi-vitima-de-um.html )
No dia 10 de agosto de 2014, no Sítio Rio Preto, onde nasceram Roberto e seus irmãos, foi realizado o lançamento da pedra fundamental do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira, que foi inaugurado, com muita emoção, no dia 7 de agosto de 2016.
Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira foi inaugurado no dia 7 de agosto de 2016
A eterna primeira dama Ismélia Silveira e sua filha Dora Silveira participaram da inauguração do Memorial. Na foto, acompanhadas de João Bosco de Figueiredo Côgo, responsável pela organização do acervo
Ismélia Silveira e o rico acervo do Memorial
Seu exemplo de luta e de vida é luz a iluminar nossos caminhos.
ROBERTO SILVEIRA VIVE!
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022
17 de fevereiro: os 25 anos de fundação da Escola de Música JEMAJ
No dia 17 de fevereiro, a Escola de Música JEMAJ Musical completou 25 anos de fundação.
Anízia Maria e alunos que receberam o certificado de conclusão dos estudos |
Anízia Maria Aguiar Pimentel dos Santos, a fundadora da escola, teve sempre o apoio decisivo de seus pais, o saudoso Anízio Gomes Pimentel, que integrou o Coral da Igreja Matriz, a partir de 1958, e de sua mãe Luzmar Pimentel.
Maestro Celso Mantovani e o Coral da JEMAJ |
JEMAJ já formou centenas de músicos, e tem sido um centro irradiador de maestros e músicos.
Junto com as escolas de música Cristo Rei e MusicArt, a JEMAJ contribui decisivamente para o desenvolvimento cultural de nossa gente.
Anízia Maria e o maestro Celso Mantovani |
Em 2020, a partir da JEMAJ, foi fundado o grupo musical 7o. Sacramento, que se apresenta em festas de aniversário e casamento |