João Régis Fassbender Teixeira |
Singular convenção mundial destinou o segundo domingo de maio às mães. Maio teria sido escolhido porque talvez seja o mês mais bonito do ano; o domingo, porque dies domini, é o dia do Senhor, apropriado para cultuar uma Deusa. E o segundo para que os homens, todos filhos, tivessem tempo para lembrar-se de que têm Mãe.
Perdemos a conta, nestes trinta anos de jornalismo sem interrupção, das vezes que apelamos para nossa Mãe, na alegria e na dor. Bons tempos de vitórias ou acres passados de derrota. Semanas magras e meses gordos. Bons natais, com muita gente em torno da mesa farta. Natais magros na solidão de meias noites apagadas, mas não esquecidas.
Hoje, mais do que nunca, já pai por cinco vezes, e avô por três delas (por enquanto), mais do que nunca sabemos de perto o valor de ter mãe: perto, ao lado, chorando e rindo junto.
Pensamos, de fato, se não existisse uma Hilda Fassbender, o que teria sido do nosso Napoleão, que com ela se casou em 1935, saindo de casa, lá no longínquo Estado do Rio, fronteira com o Espírito Santo, para não mais voltar, senão em esporádicas férias. Na mulher que acreditou no amor. E soube ser Mulher. Que aguentou de maneira igual, sem mudar a atitude, ou o sorriso, se muitas vitórias e os inúmeros fracassos do seu homem, do seu Napoleão. Que botou filho no mundo, que pariu netos. Que aguentou noras. Mas, sobretudo, ao final de quase oitenta anos de labuta sem descanso, continuou sendo Mulher e, acima de tudo e, antes de tudo, MÃE.
Parece incrível, mas é verdade. Verdade mesmo!
Advogado de trincheira, comandando equipe de Mauá de trinta companheiros. Já tendo comido o pão que o diabo amassou e Deus permitiu, tenha mãe. E nós temos, única e uma. Só nossa. Mamãe!
O tempo passou, Hilda Teixeira. Nossos cabelos branquearam, juntos. Só nós dois sabemos o que passamos nesta trintena. De bom e de ruim. Teria gostado de estar com você hoje, longe apenas materialmente, já que vai chegar nos dias próximos. Mas, importante, tenho mãe. Advogado tem mãe. E a quer muito bem.
De um lado, Garret acertou quando afirmou que "a mãe é a mais bela obra de Deus". Mais, atento quem sabe, foi Nietzsche quando dizia que "... frequentemente, a mãezinha, mais do que amar o filho, ama-se no filho".
Quem sabe.
Melhor do que tudo, todavia e certamente, é parodiar nosso venho e morto Casimiro de Abreu, o porta da liberdade.
"Feliz o bom filho que pode contente na casa paterna, noite e dia, sentir as carícias do anjo dos amores da estrela brilhante que a vida nos guia. Uma mãe".
Não há dúvida, mãezinha querida, que sou o pior dos filhos da mais santa das mães. Não resta debate, ademais, que sou um privilegiado neste mundo cão em ter você, ainda. Em crer que existe mulher digna, honesta, e honrada. Que sabe viver, conviver e um dia fenecer.
Também é vero de que sou seu barro. Sua parte. Seu muito. Que minhas vitórias, mãezinha, são inteiramente suas, mais suas do que minhas, porque você fez de mim o que sou: um homem humilde e temente a Deus.
De qualquer sorte, neste segundo domingo de maio, receba minhas rosas. Frescas e brilhantes. As mais bonitas que encontrei. Afinal, somos um só, um todo, uma carne, um amor.
Passa por minhas mãos agora, mamãe, passagem da vida de Napoleão Bonaparte, que você também ensinou a mim a amar.
Segundo a História, houve um dia em que o grande imperador, deixando Marselha, abraçou e beijou com efusão a sua mãe. E como ela suplicasse que ele tomasse cuidado, fosse prudente e, sobretudo, não morresse, o Grande Homem da História de pronto respondeu: "E você, mamãe, guarde para mim a sua saúde, para viver longamente a mais; porque se você morrer eu só terei inferiores a mim neste mundo cruel".
Do seu filho, que com todo carinho e muito amor, respeitosamente como sempre - e de joelhos - beija suas mãos.
Correio do Povo - Curitiba(PR)
Maio/ 1984
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