terça-feira, 18 de junho de 2024

18 de junho: 125 ANOS DA CHEGADA DO AÇORIANO PADRE MELLO A BOM JESUS DO ITABAPOANA

 


Pe. Antônio Francisco de Mello, o gênio da Civilização e da Cultura açoriana, chegou ao Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, no dia 04 de outubro de 1895, através do vapor Argentina, de nacionalidade alemã, a partir da ilha da Terceira, no Arquipélago dos Açores (Portugal).

Ele era natural da ilha de São Miguel, onde nasceu no dia 27 de abril de 1863. Estudou no seminário da ilha Terceira, sendo ordenado no dia 24 de agosto de 1888.

No dia 18 de junho de 1899, chegou a Bom Jesus do Itabapoana, após ser pároco em Sapucaia (RJ), aqui se estabelecendo até o dia 13 de agosto de 1947, data do seu passamento.

O Blog do ECLB (Espaço Cultural Luciano Bastos) postou, em 2015, um importante texto sobre a chegada de Padre Mello a Bom Jesus do Itabapoana, que apresentamos adiante. Conferir em 

http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2012/04/padre-antonio-francisco-de-mello-o.html

Sobre a chegada de Padre Mello a Bom Jesus, há interessante artigo de Osório Carneiro, publicado em O Norte Fluminense, em 23 de abril de 1972, e que reproduzimos a seguir:


UM NOME INESQUECÍVEL

Como chegou a Bom Jesus o saudoso Padre Mello

    A esta altura já não há quem ignore que o saudoso Padre Antonio Francisco de Mello era natural da Ilha de São Miguel, em Portugal, onde nascera no dia 27 de abril de 1862. Vivo pudesse estar, contaria agora, 110 anos de idade. Não dispomos de nenhum elemento, infelizmente, que possa comprovar a data certa de sua chegada ao Brasil. Sabemos, no entanto, que chegado ao nosso país, a primeira paróquia que lhe coube dirigir foi a de Sapucaia, município fluminense, onde serviu por vários anos, sendo dali, posteriormente, transferido para Bom Jesus do Itabapoana, aqui chegando precisamente no dia 18 de Junho de 1899, quando se processava, por sinal, um pleito eleitoral, achado-se bastante movimentado o antigo povoado.

      Há uma particularidade interessante, no entanto, que muita gente ignora. A viagem do virtuoso sacerdote não se processou diretamente. Veio ele por trem da Leopoldina até Ponte do Itabapoana, onde baldeou para um outro trem da nossa antiga estradinha de ferro, já extinta, vindo a desembarcar na estação de Boa Vista, hoje Apiacá, que era o ponto final da linha, onde não havia casa de hospedagem, ali pernoitando por gentileza, na residência do sr. Francisco Turco, comerciante no povoado. Mas não se achava só, o Padre Mello. Duas senhoras, também de nacionalidade portuguesa, o acompanhavam na sua viagem. Uma era a sua irmã, d. Mariquinha Mello, e outra d. Cândida, que vieram juntos da ilha de São Miguel no mesmo transatlântico, sem que existisse essa senhora e os dois irmãos qualquer grau de parentesco. Eram apenas, em sua pátria de origem, vizinhos e bons amigos, muito unidos, formando por assim dizer, uma só família cristã.

       E assim é que, após haver dispensado todas as atenções aos seus distintos hóspedes, de maneira acolhedora, no dia seguinte, 18 de Junho de 1899, o sr. Francisco Turco os conduziu pessoalmente até Bom Jesus, de montaria, visto não haver, na época, nenhum outro meio de condução. Desde então o Padre Mello assumiu a condução espiritual de sua nova paróquia, onde serviu perto de meio século, nela permanecendo, como verdadeiro pastor de almas, até a sua morte, verificada a 13 de Agosto de 1947. A população, no entanto, jamais o esquecerá. Seu nome se acha, para sempre, ligado à história de nossa terra. A cada ano que passa mais a sua memória se agiganta na alma do povo, passando, assim de geração em geração.

Padre Mello foi vigário da Paróquia de Bom Jesus por 48 anos, tendo falecido em 13.08.1947, justamente durante os festejos que ajudou a instituir no município, e que deram origem à Festa de Agosto.

A Festa em louvor do Divino Espírito Santo era tradição na Ilha de São Miguel, e acabou sendo incorporada à tradição do município de Bom Jesus, no período de 13 a 15 de agosto.

Considerado por todos uma das figuras mais ilustres de nossa terra, Padre Mello não se limitou a sua atuação religiosa. Nas palavras de Luciano Bastos, em artigo intitulado "Bom Jesus, sua administração e Padre Mello", publicado em O Norte Fluminense, Padre Mello "teve papel importantíssimo no desenvolvimento da nossa terra, não apenas no setor religioso, mas no educacional, administrativo, social e em nossa emancipação política".

Os poemas de Padre Mello refletem o interesse que teve em vida por diversos e variados temas. Aos temas religiosos, somam-se diversos outros que ajudam a compor uma parte da história de Bom Jesus na primeira metade do século XX.

A seguir alguns de seus festejados sonetos: 


CARROS DE BOIS 


Por caminhos da roça tortuosos

estreitos e cavados, vão passando

velhos carros de bois, estes cantando,

aqueles em gemidos lamentosos.


Mas sendo iguais e todos preciosos

os frutos da terra vão levando,

e se o destino igual os vai guiando,

por que vão cantando e outros chorosos?


Que diga o coração da humana raça

quão variadamente ele palpita

se é varia a onda que por ele passa.


De dores e de alegrias no transporte,

tal como carro, canta chora, grita,

conforme o aperto dos cocões da sorte.


***


CONTRASTE


 A um sino que serviu nas senzalas adquirido há tempos pela Liga Católica de Itaperuna



Quão diferente tua voz agora

Que tão suave ao coração nos fala

daquela que bem junto da senzala

às gerações servís falava outrora!


Ao pobre escravo ias dizer: Lá fora

uma enxada te espera: entre na ala!

E no entretanto pelos vãos da sala

não penetrava ainda a luz da aurora.


Hoje porém é outro o teu ofício:

ou nos congregas em união fraterna

ou nos chamas ao Santo Sacrifício.


E sempre a despertar, meu velho sino,

não os escravos da servil taberna

mas os escravos do Amor Divino


***


MORRER SONHANDO


Cedo, bem cedo, perderei a vida

Planta ferida no mimoso pé.

Teu desengano perecer me ordena,

Na idade plena de esperança e fé.


Porém a morte me é suave e doce

Como se fosse uma ilusão de amor;

Embora eu sinta que uma luz se apaga

Outra se afaga de eternal fulgor.


Morrer sonhando! Como é doce a morte!

Que vale a sorte que esta vida tem?!

A vida é sempre uma fugaz mentira,

A morte aspira a realidade além.


Morre este corpo de servil matéria.

Baixa à miséria do funéreo pó,

Porém minha alma sempre viva sonha

Vida risonha; não mereço dó.


Beijo-te a mão que me assassina e creio

Que ela me veio libertar ao fim.

Morrer sonhando é despertar na glória;

Eis a vitória. Morrerei assim.


***


O RELÓGIO DA TORRE


Já luz de noite o relógio

já o relógio tem luz,

já sabe a quantos se deita

o povo de Bom Jesus


Mas por que andava de noite

a torre na escuridão?

mil razões a gente dava

e ninguém dava razão.


Até se disse: "De certo

economia de luz".

Mas luz é que não faltava

nos fios de Bom Jesus.


A razão, razão suprema

com que ninguém atinou

foi que do cofre da Igreja

o dinheiro se ausentou. 


(poema publicado em 1932, no jornal "O Momento")

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