OS DOIS FRANCISCOS AÇORIANOS DE BOM JESUS DO ITABAPOANA

                            Por Gino Martins Borges Bastos 

Padre Antônio Francisco de Mello e Francisco Amaro Borba Gonçalves, os dois Franciscos Açorianos de Bom Jesus do Itabapoana 

O 1º Francisco Açoriano de Bom Jesus, Padre Antônio Francisco de Mello, nasceu no dia 27 de abril de 1863, na localidade de Achada Grande, ilha de São Miguel, Arquipélago de Açores, Portugal.

O 2º Francisco Açoriano de Bom Jesus, Francisco Amaro Borba Gonçalves, nasceu quase 90 anos depois, no dia 29 de janeiro de 1953, na Freguesia da Ribeirinha, Concelho (Município) de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, Arquipélago dos Açores, Portugal.

Entre várias coisas comuns, além de serem açorianos, é o fato de terem feito de nosso município o seu "Campinho". Padre Mello, que aqui chegou em 18 de junho de 1899 e faleceu em 13 de agosto de 1947, mantinha no jornal O Norte Fluminense uma coluna intitulada "Meu Campinho", depois transformada em jornal. Ele se referia ao antigo nome de nosso município, Campo Alegre. 

Ambos abraçaram nosso torrão com todo o amor e com o sonho de construção de uma sociedade culta e humanizada, uma Pátria Açoriana do Noroeste Fluminense. 

O bonjesuense Delton de Mattos, um dos pioneiros da formação acadêmica da Tradutologia, no Brasil, professor da Universidade de Brasília, da USP (Universidade de São Paulo), e da Universidade de Heildeberg, na Alemanha, ex-delegado do Brasil na OEA e ex-secretário de educação do estado do Rio de janeiro, afirmou que Padre Mello foi um "gênio da civilização e da cultura". Dr José Andrade, Diretor Regional das Comunidades, do Governo dos Açores, o chamou de "Homem dos sete ofícios". O legado de Padre Mello, para Bom Jesus e para o mundo, é extraordinário.

Francisco Amaro Borba Gonçalves conheceu Bom Jesus e passou naturalmente a dar prosseguimento à magnífica obra de seu conterrâneo, através do apoio aos bonjesuenses na sua tarefa de prosseguimento na edificação cultural e humana, compondo preciosos poemas, prosas, canções e interpretações musicais. Seu vozerio e sua escrita em tudo lembram, também, as qualidades do icônico pároco.

Por ocasião do Dia da Poesia Bonjesuense, dia 3 de maio, quando foi comemorada a data natalícia de Elcio Xavier, o Principe dos Poetas, no ECLB (Espaço Cultural Luciano Bastos), Francisco Amaro proporcionou alguns dos momentos mais emocionantes do evento histórico. Trouxe ao público o notável soneto de Padre Mello sobre Camões (conferir abaixo), assim como o poema Menino, que Elcio Xavier compôs para seu filho Rogério Loureiro Xavier, quando este era criança (conferir abaixo). Elcio Xavier foi coroinha de Padre Mello, e recebeu sempre seu inolvidável afeto. O Príncipe dos Poetas levou o exemplo de amorosidade paternal para todos os filhos.  O 2º Francisco Açoriano de Bom Jesus, durante a referida solenidade, cumprimentou Rogério, que lançou seu 1º livro, "A saudade que não passa". Gesto idêntico ao que Elcio fez, ao estender sua mão ao filho, por ocasião do lançamento de seu livro, em 2ª edição, exatamente no mesmo local do ECLB, onde funcionou o antigo Colégio Rio Branco, que teve Padre Mello como professor e autor de seu hino.

Em uma noite de emoções e sentimentos, Francisco Amaro foi merecidamente homenageado, na noite sagrada, com uma escrita poética (conferir abaixo) tal qual ele e Padre Mello costumavam fazer para agraciar os meritórios.

É como se tudo fosse uma linda sinfonia que, iniciada no passado, prossegue no presente e continuará a encantar e inspirar as gerações futuras, transcendendo o tempo.

Bom Jesus do Itabapoana é honrada e dignificada por ter, em sua história, dois Homens da Humanidade, dois Franciscos Açorianos!

Francisco Amaro Borba Gonçalves e a Capela da Usina Santa Maria idealizada por Padre Mello

Francisco Amaro Borba Gonçalves foi homenageado no Espaço Cultural Luciano Bastos, onde funcionou o Colégio Rio Branco, instituição onde Padre Mello lecionou, sendo o autor de seu hino 

FRANCISCO AMARO BORBA GONÇALVES 

Nascido na ilha Terceira, de sonho e de mar,

Onde o vento canta e o sol se faz brilhar,

Francisco é filho da terra açoriana, e bonjesuísta também,

Encontrou na poesia e no canto a sua voz mais autêntica.

Como Padre Mello, seus versos velejaram pelo mar,

O coração cheio de saudade bateu ao ritmo do vento,

Uma jornada de emoções e de lágrimas

Na partida e na chegada.

Sua poesia ecoa a beleza açoriana,

Desde as montanhas altas até os vales verdes,

Registra as histórias de amor e de luta,

Que são contadas com paixão e com alma.

Francisco Amaro Borba Gonçalves declamou célebre soneto de Padre Mello em homenagem a Camões, na homenagem a Elcio Xavier, o Príncipe dos Poetas 

CAMÕES, GÊNIO IMORTAL

Padre Mello, junho de 1932

Depois que dos barões assinalados

foste o nome espalhando em toda parte

e com tão alto engenho e com tal arte

que da morte as fizeste libertados;

depois que nos teus versos sublimados,

que não se encontra quem de os ler se farte,

ofereceste à Pátria um estandarte

que arranca ao mundo culto estranhos brados:

morres ao fim. Contigo a Pátria morre,

tu nas mãos do infortúnio, ela, na Espanha,

mas sem que do inimigo o sangue jorre.

Vence o patriotismo árdua campanha:

revive a Pátria independente e forte,

e tu revives superando a morte.

Francisco Amaro Borba Gonçalves prestou emocionante homenagem a Rogério Loureiro Xavier e a seu pai, Elcio Xavier, declamando a poesia Menino que este compôs para seu filho 

MENINO

para Rogério 

São leves as flores 

como teu sono, menino?

Ou baterá em teu porto 

quando tu velas sonham 

o desejo dos descobrimentos?

És filho de navegadores,

neto de bandeirantes 

- que fazem teus olhos 

quando se fecham na noite?

- percorres teu país 

em galeras futuras,

brincas com os marcianos

de pele de fogo 

no meteoro que perambula 

entre planetas inexistentes?

Teus lábios sorriem

- que dizem eles aos anjos 

ou aos aquarianos templários?

É noite na casa dourada,

teus pais não ouvem o silêncio 

e teus cabelos são lavados pelo vento 

de cavalgadas heróicas na Atlântida

- és o homem-futuro, deus-peixe,

exercitando-se para a guerra futura,

ou estás perdido na Terra,

meu herói entre selvagens 

filhos de Amon perdido?

Espaço Cultural Luciano Bastos, Bom Jesus do Itabapoana (RJ), Brasil