Crise se agrava no Hospital São Vicente de Paulo
A crise agravou-se no Hospital São Vicente de Paulo, com a paralisação das atividades dos médicos anestesistas e obstetras responsáveis pelos serviços de urgência e emergência, que reclamam do não pagamento pelos serviços prestados ao nosocômio.
Após breve paralisação dos funcionários do Hospital, médicos anestesistas e obstetras iniciaram o movimento paredista
Diante desse fato, os Conselheiros, Presidentes, Diretores e representantes do Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde, representando o Centro Popular Pró-Melhoramentos de Bom Jesus, Hospital São Vicente de Paulo e Instituto de Menores elaboraram, no dia 19 de janeiro passado, um documento intitulado CARTA DE INTENÇÃO em que, entre outras coisas, acusa a Prefeitura de omissão nos repasses devidos ao Hospital.
Segundo o documento, "o Hospital está pagando para atender a urgência e emergência que, em tese, deveria ser totalmente de responsabilidade do Poder Municipal". Por este motivo, os signatários solicitam que a Prefeitura realize "o repasse de recursos financeiros, principalmente para que sejam efetuados os repasses dos sobreavisos aos médicos, possibilitando a reabertura dos serviços".
O documento assenta ainda que "o equilíbrio financeiro do Hospital só será conseguido com a união de forças, tanto dos componentes do Conselho, das Diretorias, dos Poderes Municipais, da Secretaria de Saúde, entidades representativas da sociedade, do Poder Judiciário e do Ministério Público e (sic) do Governo do Estado", salientando que "somente através de atitudes sérias e responsáveis de cada um conseguir-se-á aprumar os rumos da única entidade de saúde do município".
Diante do movimento paredista que teria inviabilizado "as urgências e emergências do Município", os subscritores da Carta de Intenção resolveram encaminhar "à Delegacia local, cópia dos expedientes elaborado pelos médicos anestesistas e de obstetrícia, objetivando prevenir responsabilidades". Solicitaram, outrossim, a "intervenção" do MINISTÉRIO PÚBLICO "objetivando providências para que os serviços de emergência e urgência, principalmente aquelas oriundas do SUS, não sejam interrompidas".
Até o fechamento desta edição, a greve dos médicos prosseguia no Hospital.
DIRIGENTES SILENCIAM SOBRE PEDIDO DE INFORMAÇÕES
Por outro lado, os Dirigentes do Centro Popular Pró-Melhoramentos Bom Jesus e do Hospital ficaram silentes a respeito das informações solicitadas pelo associado dr. GINO MARTINS BORGES BASTOS, através de Notificação Extrajudicial, razão pela qual o mesmo resolveu protocolar Pedido de Providências perante o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL.
Silêncio dos dirigentes do Centro Popular e do Hospital fez com que o dr. GINO MARTINS BORGES BASTOS apresentasse Pedido de Providências ao Promotor de Justiça dr. GUSTAVO SANTANA NOGUEIRA
O dr. GINO BASTOS dera prazo à direção do Centro Popular Pró-Melhoramentos para que a mesma enviasse respostas a seus questionamentos, e sem receber as informações pretendidas, protocolou no dia 31 de janeiro passado, na Promotoria de Justiça de Direitos Difusos e Tutela Coletiva, Núcleo Itaperuna, petição acompanhada de documentos que comprovam os crimes e a orgia administrativa instalada no Hospital São Vicente de Paulo.
A petição foi entregue pessoalmente ao dr. GUSTAVO SANTANA NOGUEIRA, titular da pasta. Na Notificação Extrajudicial encaminhada ao Centro Popular, no final do mês de dezembro passado, dr. GINO solicitara que lhe fosse informado a respeito de dados sobre a suposta dívida de cerca de vinte milhões de reais, tais como taxas pactuadas com os bancos, destino dos empréstimos bancários, os nomes dos credores e a informação sobre os fatos que teriam gerado tais dívidas.
O associado consignou no documento encaminhado ao MINISTÉRIO PÚBLICO que tem se pautado dentro dos limites do exercício de cidadania e do direito que o Estatuto do Centro Popular lhe confere através do art. 11 do Estatuto do Centro Popular Pró-Melhoramentos de Bom Jesus, que em sua alínea f garante aos associados o direito de "fazer representações à Diretoria e ao Conselho".
Tal afirmação se pautou pelo fato de o documento CARTA DE INTENÇÃO encaminhada ao O NORTE FLUMINENSE, consignar que ele estaria adotando posições individualistas.
Dr. GINO salientou que sua denúncia, que fora noticiada por este jornal, se baseou em documento elaborado pela empresa MULTI-HOSPITALAR ASSESSORIA, ADMINISTRAÇÃO E CONSULTORIA, contratada pelo próprio Hospital São Vicente de Paulo para realizar um "Diagnóstico Organizacional".
Tal assertiva põe por terra os termos da CARTA de que haveria "denuncismo sem fundamento" e "tomadas de atitudes com desconhecimento de causa". Diz o texto dos dirigentes do Centro Popular e do Hospital: "não é através de denuncismo (sic) sem fundamento, de posições individualistas, de matérias jornalísticas e de tomadas de atitudes com desconhecimento de causa que se conseguirá reverter a situação do Hospital".
”DE BOAS INTENÇÕES O INFERNO ESTÁ CHEIO”, diz associado
Diante da grave crise do Hospital, dirigentes emitiram uma "Carta de Intenção"
Ainda em relação a esta CARTA DE INTEÇÃO, Dr. GINO lembrou, na petição, o ditado popular segundo o qual “de boas intenções o inferno está cheio”, complementando: "ao que tudo indica os subscritores do documento engrossaram as hostes de Hades".
Prosseguiu o Dr. GINO : "Diante da Carta de Intenção, perguntas se impõem. Eis algumas delas: Pode-se reverter a situação do Hospital com uma administração que não realiza controle de estoques? Pode-se reverter a situação do Hospital com uma administração que realiza compras sem cotação de preços? Pode-se reverter a situação do Hospital com empréstimos bancários feitos com taxas elevadas? Pode-se reverter a situação do Hospital contratando-se funcionário com o dobro do salário dos demais, para exercer a mesma função?".
Comando de greve dos funcionários do Hospital convidou o dr. GINO para discutir os problemas do nosocômio em sua sede
RELIGIÃO INSTALADA NO HOSPITAL e REGIME DE EXCEÇÃO
Segundo ainda o texto da petição encaminhada ao MINISTÉRIO PÚBLICO, assenta o dr. GINO, com ironia, que "a impressão que fica não só para o associado subscritor, mas para toda a sociedade, é que os Dirigentes do Centro Popular Pró-Melhoramentos e do Hospital querem fazer crer que se constituíram nos novos sacerdotes de uma nova religião, a Religião Hospitalar, cujos princípios não podem ser minimamente questionados por qualquer associado ou cidadão".
Prossegue o requerimento:
"Nesta linha de entendimento dos neo-sacerdotes, não se pode duvidar do alegado débito de R$20.000.000,00 (vinte milhões de reais) e nem se pode exigir explicações a respeito dos fatos que teriam gerado tais débitos. Não se pode exigir moralidade nas atividades administrativas do Hospital, e somos todos obrigados a acreditar que somente os neo-sacerdotes dirigentes do Centro Popular e do Hospital são aptos a saberem dos problemas financeiros do Hospital e gerirem os destinos do nosocômio".
"Deixem os destinos do Hospital exclusivamente, e para sempre, em nossas mãos!", bradam os dirigentes do Centro Popular e do Hospital! "Sejam anátemas os que nos questionam!", vociferam os neo-sacerdotes!
"O fato, contudo, é que as ideologias que tentavam conferir sacralidade ao que é mundano, ruíram há vários séculos".
A ironia prossegue:
“O Brasil vive hoje no Estado Democrático de Direito e o Hospital São Vicente de Paulo, do município de Bom Jesus do Itabapoana, no Estado do Rio de Janeiro, segundo consta, está localizado realmente no Brasil, e não em um outro país sob regime de exceção", salienta a petição.
DIRIGENTES QUEREM AJUDA DA SOCIEDADE, MAS NÃO PRESTAM CONTAS À MESMA, afirma dr. GINO
Segundo o dr. GINO, "o Hospital vive uma crise financeira sem precedentes e é a população quem mais sofre com esta situação".
Ressaltou ainda que em ofício igualmente encaminhado ao O NORTE FLUMINENSE, o Diretor do Conselho Deliberativo do Centro Popular além de não encaminhar qualquer esclarecimento sobre os itens suscitados por ele, "ignorou-os e, ao final, solicitou que o jornal 'sensibilize a população objetivando angariar recursos necessários para a sua manutenção' (!)".
Ofício do Conselho Deliberativo do Centro Popular solicita que O Norte Fluminense "sensibilize a população objetivando angariar recursos necessários para a sua manutenção"
O dr. GINO questionou, a seguir:
"Ora, quem deve sensibilizar a população para que a mesma colabore financeiramente com o Hospital são os dirigentes da entidade, com atos que demonstrem idoneidade. Os dirigentes do Centro Popular e do Hospital insistem que a sociedade bonjesuense deve ajudar o nosocômio com recursos financeiros, mas recusam-se ferreamente a informar a esta própria sociedade o destino que dão aos numerários recebidos”.
“Fica evidente que não será simplesmente com aportes de novos recursos e investimentos que o Hospital será reerguido, mas essencialmente com um novo modelo de administração pautado nos princípios elementares norteadores de uma administração idônea", complementa a petição.
DIRIGENTES INDICAM QUE NÃO DESEJAM VERDADEIRA SOLUÇÃO PARA O HOSPITAL, assevera documento
Prosseguiu o dr. GINO, na petição entregue ao PARQUET:
"Deve-se registrar que o documento Diagnóstico Organizacional elaborado pela empresa MULTI-HOSPITALAR aponta as saídas para a crise, além da moralização dos atos administrativos: implantação de um administrador e um assessor internamente para assumir e acompanhar a Gestão Administrativa e dar suporte para os colaboradores do hospital. Além disso, sugere a disponibilização de consultores para os diversos setores e um acompanhamento gerencial “semanalmente” (sic) e apresentação de relatórios à Diretoria". Segundo o dr. GINO, "pelo que se constata, os Dirigentes do Centro Popular Pró-Melhoramentos e do Hospital preferiram descartar tal documento".
Hospital contratou empresa MULTI-HOSPITALAR, em 2011, mas descartou documento elaborado por ela, assim como as sugestões para resolver os problemas
Ao final, o dr. GINO pugnou ao MINISTÉRIO PÚBLICO:
"Diante da recusa sistemática dos dirigentes do Centro Popular e do Hospital em fornecer os esclarecimentos elementares que a sociedade e o associado subscritor exigem, assim como da resistência para implementar os atos administrativos saneadores necessários, o peticionário vem requerer a este h. Promotor de Justiça a tomada das medidas necessárias para que seja revertida a situação caótica em que se encontra o Hospital, de modo que possa valer de fato o primado estabelecido no art. 5o. do Estatuto do Centro Popular, segundo o qual 'o Centro Popular tem por fim: a) Manter e dirigir o Hospital São Vicente de Paulo, com a finalidade de atender a população do município e localidades vizinhas, sendo gratuita a assistência para os comprovadamente carentes de recursos' ".
MINISTÉRIO PÚBLICO ANALISA DOCUMENTOS
O Promotor de Justiça DR. GUSTAVO SANTANA NOGUEIRA já está analisando os documentos. Por sua vez, o dr. GINO BASTOS se mostrou confiante que o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO irá adotar as medidas necessárias para o saneamento administrativo do Hospital e normalização do funcionamento do nosocômio.
Jornal fundado por Ésio Martins Bastos em 25 de dezembro de 1946 e dirigido por Luciano Augusto Bastos no período 2003-2011. E-mail: onortefluminense@hotmail.com
domingo, 5 de fevereiro de 2012
O POETA INCONFIDENTE DO ITABAPOANA
Da Série ENTREVISTAS DE O NORTE FLUMINENSE
Por telefone e por emails, O NORTE FLUMINENSE realizou entrevista com ELCIO XAVIER, um bonjesuense que possui um lugar de destaque na literatura nacional.
ELCIO XAVIER integrou a partir de 1950, o grupo de intelectuais que colaborava com a Revista Branca, que contava, entre seus apoiadores, com escritores de relevância da literatura brasileira como Augusto Frederico Schmidt, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto, entre outros.
Sua obra é mencionada pelo Centro Virtual de Documentação e Referência "OSWALDO GOELDI" (http://www.centrovirtualgoeldi.com/paginas.aspx?Menu=oqueeocentro), enquanto o seu livro mais importante, "O VÉU DA MANHÃ", foi registrado pelo consagrado crítico ÉSIO MACEDO RIBEIRO em sua obra "O RISO ESCURO OU O PAVÃO DE LUTO: UM PERCURSO PELA POESIA DE LÚCIO CARDOSO".
A VIDA EM BOM JESUS
ELCIO nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, na Avenida Padre Mello, no dia 03/05/1920, filho de Waldemar Sigismundo Xavier, também bonjesuense, e Elvira Cerqueira Xavier, mineira de Muriaé, e neto de Samuel e Baldina, tradicionais membros da Família Xavier.
ELCIO XAVIER em foto de 1936, quando serviu ao Exército
Casado com a professora Gedália, filha de Mário Loureiro, coletor estadual em Bom Jesus do Norte (ES) e de Maria da Conceição Loureiro, constituiu uma bela família com 5 filhos: Regina - psicóloga, Rogério - funcionário da Petrobrás, Raquel - jornalista, Rosete - arquiteta e Rita de Cássia - médica, 12 netos e 3 bisnetos.
ELCIO, apesar de viver por longos anos fora de Bom Jesus, jamais a esqueceu e ao falar de sua terra natal se entusiasma, perde-se em rememorar fatos históricos de real importância para a memória de nossa cidade.
Eis alguns dados interessantes nas palavras do ELCIO: “Meu bisavô, Carlos de Aquino Xavier, mineiro de Mar de Espanha, se instalou em 1872 na margem esquerda do Rio Itabapoana onde hoje está a cidade de Bom Jesus do Norte (ES) e parte das montanhas que a circundam, formando a Fazenda Jardim. Atualmente seu nome está lembrado em uma modesta rua daquela cidade. Carlos tivera 15 filhos, entre os quais minha avó Baldina, que se casou com seu primo Samuel, meu avô e filho de Júlio de Aquino Xavier.”
ELCIO XAVIER em foto de 1939, ano de seu casamento
DESCASO DAS AUTORIDADES
ELCIO diz que sempre se rebelou contra o descaso das nossas autoridades pela preservação do patrimônio histórico da cidade e cita: “a ponte de madeira sobre o Rio Itabapoana, inaugurada em 1885, que teve parte da mão de obra e todo seu madeirame fornecido por Carlos Xavier. Essa ponte não suportou a maior enchente do rio em 1906. Posteriormente se construiu nova ponte de madeira, que foi abandonada ao longo do tempo, sobretudo a partir da inauguração da ponte de cimento, essa construída pelo engenheiro Heitor Nogueira, irmão de Samuel Xavier, em 1927.” Segundo ELCIO, Bom Jesus necessita de duas pontes, o que pode ser concretizado caso as forças políticas dos dois Estados unam esforços.
ELCIO se recorda do próspero comércio da rua Buarque de Nazareth, que começava na Ponte de Madeira e seguia até a Praça Governador Portela, despontando como principal a Casa Mansur, assim como do primeiro prédio construído na praça em Bom Jesus, onde está instalado o Big Hotel. “Em 1889 houve animado baile nos salões desse prédio, em comemoração à Proclamação da República.”
O GOSTO PELA LITERATURA
O gosto pela literatura ocorreu quando foi servir ao exército, aos 18 anos, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, despertado por um colega de quartel que o apresentou a alguns escritores como: Adonias, Otávio de Faria, Lúcio Cardoso, etc. Não obstante tenha iniciado cedo na arte de escrever, acabou cessando igualmente cedo suas atividades literárias, uma vez que teve de se dedicar com exclusividade ao trabalho na Cia. Ferro Brasileiro, viajando pelo Brasil.
Delton de Mattos, em artigo em O NORTE FLUMINENSE, publicado no dia 04/09/1994, refere-se a ELCIO XAVIER como “Primoroso poeta, um dos mais puros e refinados que este país já produziu.” Segundo Delton de Mattos, “Se (ELCIO XAVIER) continuasse, teria sido um dos mais festejados da chamada “Geração de 45”, ao lado até com vantagem, de um Geir Campos, Ledo Ivo e João Cabral de Mello Neto, dentre outros”.
O fato é que ELCIO XAVIER ainda lançou outro livro de poesias, “ROSAQUARIUM”, pela editora da Revista Branca. Três outros livros escritos na década de 45/55 estão inéditos. São eles: “ASAS DA NOITE”, “NO PAÍS DO LODO VERDE”, um livro infantil, e “CRÔNICAS”. Sugerido que a editora O NORTE FLUMINENSE publicasse tais obras, ELCIO entusiasmou-se com a idéia.
ACADEMIA BONJESUENSE DE LETRAS
Segundo ELCIO, "declinei, na época, como fizeram alguns colegas, de integrar entidades literárias, exceto o pequeno grupo da Revista Branca e a nossa ABDL(Academia Bonjesuense de Letras), atendendo bela carta do amigo Athos".
Nas palavras de ELCIO XAVIER, "esclareço que me distanciei do movimento literário na década de 60, mas mantive as amizades conquistadas, amizades essas que vem se esvaindo ao longo do tempo, pela morte ou pela idade. Devo acrescentar, com grande saudade, do grupo da Revista Branca: E. C. Caldas, Rawet, Fausto Cunha, Alberto da Costa e Silva, Bráulio, entre outros".
ABELHAS E O ENCANTO DA NATUREZA
Prossegue ELCIO: "Por uma coincidência fortuita descobri em 1970 a abelha (apis mellifera), por quem me apaixonei e preencheu minha vida por logos anos.No mundo das abelhas, participei da fundação de uma Associação, da qual fui presidente por doze anos; de uma Cooperativa Apícola e de uma Revista, a única no gênero no Brasil, por longo tempo reconhecida internacionalmente. Publiquei uma monografia: “A abelha e o Homem” e fiz parte de um órgão de assessoria do Ministério da Agricultura por vários anos".
ELCIO se considera "um ilustre desconhecido em minha terra natal, sobretudo porque dos meus colegas da juventude e dos amigos que aí deixei só me resta o Ayrthon (AYRTHON BORGES SERÓDIO), com quem falo rarissimamente. Há nomes que me são familiares, mas sem contato maior, dada minha ausência da cidade, e meu comportamento arredio, fruto de uma timidez hereditária".
Refugiado em uma chácara na Zona Oeste do Rio de Janeiro com seus livros, seus discos e o encanto da natureza, o silêncio, as flores e o gorjeio dos pássaros, ELCIO XAVIER deixa aos novos escritores uma mensagem: "Leitura, muita leitura de bons livros".
ELCIO XAVIER e sua esposa GEDÁLIA
Segue uma poesia marcante do Poeta Inconfidente do Itabapoana, publicada na revista ALLIANCE, de São Paulo, em maio de 1950, dirigida por Delton de Mattos.
POBRE JARDIM DA ALDEIA
Pobre jardim da aldeia
onde deixei meus oito anos
junto ao chafariz de trevos:
leva-me ao teu grande mar
neste solitário fenecer!
Quero rever o castelo marinho,
a tempestade, o primeiro encontro,
as rosas-fadas que me amaram
e as queixas dominicais
de tuas sombras frescas.
Falta-me o azul de tuas tardes
e sinto que não verei o luar.
Não encontro meu sangue
nas lutas que partem da noite,
Não tenho memória dos tempos
nem vejo meu rosto na lagoa.
O mundo sucumbirá num suspiro
se minha infância não regressar.
VOCÊ SABIA?
Segundo texto sobre "Nossa Árvore Genealógica", de 2002, escrito por ELCIO XAVIER, o mesmo se recorda de "declarações de seu bisavô Carlos aos filhos, quando falava da origem de nossa família e dos percalços porque passaram seus membros em decorrência da Inconfidência Mineira; seu pai (Joaquim) era bisneto de uma irmã de Tiradentes, e sua mãe (Maria Tereza) membro da família Rodrigues da Costa, profundamente ligada aos inconfidentes."
Por telefone e por emails, O NORTE FLUMINENSE realizou entrevista com ELCIO XAVIER, um bonjesuense que possui um lugar de destaque na literatura nacional.
ELCIO XAVIER integrou a partir de 1950, o grupo de intelectuais que colaborava com a Revista Branca, que contava, entre seus apoiadores, com escritores de relevância da literatura brasileira como Augusto Frederico Schmidt, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto, entre outros.
ELCIO XAVIER é "um dos poetas mais puros e refinados que este país já produziu", no dizer de Delton de Mattos.
Sua obra é mencionada pelo Centro Virtual de Documentação e Referência "OSWALDO GOELDI" (http://www.centrovirtualgoeldi.com/paginas.aspx?Menu=oqueeocentro), enquanto o seu livro mais importante, "O VÉU DA MANHÃ", foi registrado pelo consagrado crítico ÉSIO MACEDO RIBEIRO em sua obra "O RISO ESCURO OU O PAVÃO DE LUTO: UM PERCURSO PELA POESIA DE LÚCIO CARDOSO".
A VIDA EM BOM JESUS
ELCIO nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, na Avenida Padre Mello, no dia 03/05/1920, filho de Waldemar Sigismundo Xavier, também bonjesuense, e Elvira Cerqueira Xavier, mineira de Muriaé, e neto de Samuel e Baldina, tradicionais membros da Família Xavier.
ELCIO XAVIER em foto de 1936, quando serviu ao Exército
Casado com a professora Gedália, filha de Mário Loureiro, coletor estadual em Bom Jesus do Norte (ES) e de Maria da Conceição Loureiro, constituiu uma bela família com 5 filhos: Regina - psicóloga, Rogério - funcionário da Petrobrás, Raquel - jornalista, Rosete - arquiteta e Rita de Cássia - médica, 12 netos e 3 bisnetos.
ELCIO, apesar de viver por longos anos fora de Bom Jesus, jamais a esqueceu e ao falar de sua terra natal se entusiasma, perde-se em rememorar fatos históricos de real importância para a memória de nossa cidade.
Eis alguns dados interessantes nas palavras do ELCIO: “Meu bisavô, Carlos de Aquino Xavier, mineiro de Mar de Espanha, se instalou em 1872 na margem esquerda do Rio Itabapoana onde hoje está a cidade de Bom Jesus do Norte (ES) e parte das montanhas que a circundam, formando a Fazenda Jardim. Atualmente seu nome está lembrado em uma modesta rua daquela cidade. Carlos tivera 15 filhos, entre os quais minha avó Baldina, que se casou com seu primo Samuel, meu avô e filho de Júlio de Aquino Xavier.”
ELCIO XAVIER em foto de 1939, ano de seu casamento
DESCASO DAS AUTORIDADES
ELCIO diz que sempre se rebelou contra o descaso das nossas autoridades pela preservação do patrimônio histórico da cidade e cita: “a ponte de madeira sobre o Rio Itabapoana, inaugurada em 1885, que teve parte da mão de obra e todo seu madeirame fornecido por Carlos Xavier. Essa ponte não suportou a maior enchente do rio em 1906. Posteriormente se construiu nova ponte de madeira, que foi abandonada ao longo do tempo, sobretudo a partir da inauguração da ponte de cimento, essa construída pelo engenheiro Heitor Nogueira, irmão de Samuel Xavier, em 1927.” Segundo ELCIO, Bom Jesus necessita de duas pontes, o que pode ser concretizado caso as forças políticas dos dois Estados unam esforços.
ELCIO se recorda do próspero comércio da rua Buarque de Nazareth, que começava na Ponte de Madeira e seguia até a Praça Governador Portela, despontando como principal a Casa Mansur, assim como do primeiro prédio construído na praça em Bom Jesus, onde está instalado o Big Hotel. “Em 1889 houve animado baile nos salões desse prédio, em comemoração à Proclamação da República.”
O GOSTO PELA LITERATURA
O gosto pela literatura ocorreu quando foi servir ao exército, aos 18 anos, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, despertado por um colega de quartel que o apresentou a alguns escritores como: Adonias, Otávio de Faria, Lúcio Cardoso, etc. Não obstante tenha iniciado cedo na arte de escrever, acabou cessando igualmente cedo suas atividades literárias, uma vez que teve de se dedicar com exclusividade ao trabalho na Cia. Ferro Brasileiro, viajando pelo Brasil.
Delton de Mattos, em artigo em O NORTE FLUMINENSE, publicado no dia 04/09/1994, refere-se a ELCIO XAVIER como “Primoroso poeta, um dos mais puros e refinados que este país já produziu.” Segundo Delton de Mattos, “Se (ELCIO XAVIER) continuasse, teria sido um dos mais festejados da chamada “Geração de 45”, ao lado até com vantagem, de um Geir Campos, Ledo Ivo e João Cabral de Mello Neto, dentre outros”.
O fato é que ELCIO XAVIER ainda lançou outro livro de poesias, “ROSAQUARIUM”, pela editora da Revista Branca. Três outros livros escritos na década de 45/55 estão inéditos. São eles: “ASAS DA NOITE”, “NO PAÍS DO LODO VERDE”, um livro infantil, e “CRÔNICAS”. Sugerido que a editora O NORTE FLUMINENSE publicasse tais obras, ELCIO entusiasmou-se com a idéia.
ACADEMIA BONJESUENSE DE LETRAS
Segundo ELCIO, "declinei, na época, como fizeram alguns colegas, de integrar entidades literárias, exceto o pequeno grupo da Revista Branca e a nossa ABDL(Academia Bonjesuense de Letras), atendendo bela carta do amigo Athos".
Nas palavras de ELCIO XAVIER, "esclareço que me distanciei do movimento literário na década de 60, mas mantive as amizades conquistadas, amizades essas que vem se esvaindo ao longo do tempo, pela morte ou pela idade. Devo acrescentar, com grande saudade, do grupo da Revista Branca: E. C. Caldas, Rawet, Fausto Cunha, Alberto da Costa e Silva, Bráulio, entre outros".
ABELHAS E O ENCANTO DA NATUREZA
Prossegue ELCIO: "Por uma coincidência fortuita descobri em 1970 a abelha (apis mellifera), por quem me apaixonei e preencheu minha vida por logos anos.No mundo das abelhas, participei da fundação de uma Associação, da qual fui presidente por doze anos; de uma Cooperativa Apícola e de uma Revista, a única no gênero no Brasil, por longo tempo reconhecida internacionalmente. Publiquei uma monografia: “A abelha e o Homem” e fiz parte de um órgão de assessoria do Ministério da Agricultura por vários anos".
ELCIO se considera "um ilustre desconhecido em minha terra natal, sobretudo porque dos meus colegas da juventude e dos amigos que aí deixei só me resta o Ayrthon (AYRTHON BORGES SERÓDIO), com quem falo rarissimamente. Há nomes que me são familiares, mas sem contato maior, dada minha ausência da cidade, e meu comportamento arredio, fruto de uma timidez hereditária".
Refugiado em uma chácara na Zona Oeste do Rio de Janeiro com seus livros, seus discos e o encanto da natureza, o silêncio, as flores e o gorjeio dos pássaros, ELCIO XAVIER deixa aos novos escritores uma mensagem: "Leitura, muita leitura de bons livros".
ELCIO XAVIER e sua esposa GEDÁLIA
Segue uma poesia marcante do Poeta Inconfidente do Itabapoana, publicada na revista ALLIANCE, de São Paulo, em maio de 1950, dirigida por Delton de Mattos.
POBRE JARDIM DA ALDEIA
Pobre jardim da aldeia
onde deixei meus oito anos
junto ao chafariz de trevos:
leva-me ao teu grande mar
neste solitário fenecer!
Quero rever o castelo marinho,
a tempestade, o primeiro encontro,
as rosas-fadas que me amaram
e as queixas dominicais
de tuas sombras frescas.
Falta-me o azul de tuas tardes
e sinto que não verei o luar.
Não encontro meu sangue
nas lutas que partem da noite,
Não tenho memória dos tempos
nem vejo meu rosto na lagoa.
O mundo sucumbirá num suspiro
se minha infância não regressar.
VOCÊ SABIA?
Segundo texto sobre "Nossa Árvore Genealógica", de 2002, escrito por ELCIO XAVIER, o mesmo se recorda de "declarações de seu bisavô Carlos aos filhos, quando falava da origem de nossa família e dos percalços porque passaram seus membros em decorrência da Inconfidência Mineira; seu pai (Joaquim) era bisneto de uma irmã de Tiradentes, e sua mãe (Maria Tereza) membro da família Rodrigues da Costa, profundamente ligada aos inconfidentes."