domingo, 5 de fevereiro de 2012

O POETA INCONFIDENTE DO ITABAPOANA

Da Série ENTREVISTAS DE O NORTE FLUMINENSE



Por telefone e por emails, O NORTE FLUMINENSE realizou entrevista com ELCIO XAVIER, um bonjesuense que possui um lugar de destaque na literatura nacional.

ELCIO XAVIER integrou a partir de 1950, o grupo de intelectuais que colaborava com a Revista Branca, que contava, entre seus apoiadores, com escritores de relevância da literatura brasileira como Augusto Frederico Schmidt, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto, entre outros.

ELCIO XAVIER é  "um dos poetas mais puros e refinados que este país já produziu", no dizer de Delton de Mattos.


Sua obra é mencionada pelo Centro Virtual de Documentação e Referência "OSWALDO GOELDI" (http://www.centrovirtualgoeldi.com/paginas.aspx?Menu=oqueeocentro), enquanto o seu livro mais importante, "O VÉU DA MANHÃ", foi registrado pelo consagrado crítico ÉSIO MACEDO RIBEIRO em sua obra "O RISO ESCURO OU O PAVÃO DE LUTO: UM PERCURSO PELA POESIA DE LÚCIO CARDOSO".

A VIDA EM BOM JESUS


ELCIO nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, na Avenida Padre Mello, no dia 03/05/1920, filho de Waldemar Sigismundo Xavier, também bonjesuense, e Elvira Cerqueira Xavier, mineira de Muriaé, e neto de Samuel e Baldina, tradicionais membros da Família Xavier.

                               ELCIO XAVIER em foto de 1936, quando serviu ao Exército

Casado com a professora Gedália, filha de Mário Loureiro, coletor estadual em Bom Jesus do Norte (ES) e de Maria da Conceição Loureiro, constituiu uma bela família com 5 filhos: Regina - psicóloga, Rogério - funcionário da Petrobrás, Raquel - jornalista, Rosete - arquiteta e Rita de Cássia - médica, 12 netos e 3 bisnetos.

ELCIO, apesar de viver por longos anos fora de Bom Jesus, jamais a esqueceu e ao falar de sua terra natal se entusiasma, perde-se em rememorar fatos históricos de real importância para a memória de nossa cidade.

Eis alguns dados interessantes nas palavras do ELCIO: “Meu bisavô, Carlos de Aquino Xavier, mineiro de Mar de Espanha, se instalou em 1872 na margem esquerda do Rio Itabapoana onde hoje está a cidade de Bom Jesus do Norte (ES) e parte das montanhas que a circundam, formando a Fazenda Jardim. Atualmente seu nome está lembrado em uma modesta rua daquela cidade. Carlos tivera 15 filhos, entre os quais minha avó Baldina, que se casou com seu primo Samuel, meu avô e filho de Júlio de Aquino Xavier.”

                                   ELCIO XAVIER em foto de 1939, ano de seu casamento


DESCASO DAS AUTORIDADES

ELCIO diz que sempre se rebelou contra o descaso das nossas autoridades pela preservação do patrimônio histórico da cidade e cita: “a ponte de madeira sobre o Rio Itabapoana, inaugurada em 1885, que teve parte da mão de obra e todo seu madeirame fornecido por Carlos Xavier. Essa ponte não suportou a maior enchente do rio em 1906. Posteriormente se construiu nova ponte de madeira, que foi abandonada ao longo do tempo, sobretudo a partir da inauguração da ponte de cimento, essa construída pelo engenheiro Heitor Nogueira, irmão de Samuel Xavier, em 1927.” Segundo ELCIO, Bom Jesus necessita de duas pontes, o que pode ser concretizado caso as forças políticas dos dois Estados unam esforços.

ELCIO se recorda do próspero comércio da rua Buarque de Nazareth, que começava na Ponte de Madeira e seguia até a Praça Governador Portela, despontando como principal a Casa Mansur, assim como do primeiro prédio construído na praça em Bom Jesus, onde está instalado o Big Hotel. “Em 1889 houve animado baile nos salões desse prédio, em comemoração à Proclamação da República.”

O GOSTO PELA LITERATURA

O gosto pela literatura ocorreu quando foi servir ao exército, aos 18 anos, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, despertado por um colega de quartel que o apresentou a alguns escritores como: Adonias, Otávio de Faria, Lúcio Cardoso, etc. Não obstante tenha iniciado cedo na arte de escrever, acabou cessando igualmente cedo suas atividades literárias, uma vez que teve de se dedicar com exclusividade ao trabalho na Cia. Ferro Brasileiro, viajando pelo Brasil.

Delton de Mattos, em artigo em O NORTE FLUMINENSE, publicado no dia 04/09/1994, refere-se a ELCIO XAVIER como “Primoroso poeta, um dos mais puros e refinados que este país já produziu.” Segundo Delton de Mattos, “Se (ELCIO XAVIER) continuasse, teria sido um dos mais festejados da chamada “Geração de 45”, ao lado até com vantagem, de um Geir Campos, Ledo Ivo e João Cabral de Mello Neto, dentre outros”.

O fato é que ELCIO XAVIER ainda lançou outro livro de poesias, “ROSAQUARIUM”, pela editora da Revista Branca. Três outros livros escritos na década de 45/55 estão inéditos. São eles: “ASAS DA NOITE”, “NO PAÍS DO LODO VERDE”, um livro infantil, e “CRÔNICAS”. Sugerido que a editora O NORTE FLUMINENSE publicasse tais obras, ELCIO entusiasmou-se com a idéia.

ACADEMIA BONJESUENSE DE LETRAS


Segundo ELCIO, "declinei, na época, como fizeram alguns colegas, de integrar entidades literárias, exceto o pequeno grupo da Revista Branca e a nossa ABDL(Academia Bonjesuense de Letras), atendendo bela carta do amigo Athos".

Nas palavras de ELCIO XAVIER, "esclareço que me distanciei do movimento literário na década de 60, mas mantive as amizades conquistadas, amizades essas que vem se esvaindo ao longo do tempo, pela morte ou pela idade. Devo acrescentar, com grande saudade, do grupo da Revista Branca: E. C. Caldas, Rawet, Fausto Cunha, Alberto da Costa e Silva, Bráulio, entre outros".

ABELHAS E O ENCANTO DA NATUREZA

Prossegue ELCIO: "Por uma coincidência fortuita descobri em 1970 a abelha (apis mellifera), por quem me apaixonei e preencheu minha vida por logos anos.No mundo das abelhas, participei da fundação de uma Associação, da qual fui presidente por doze anos; de uma Cooperativa Apícola e de uma Revista, a única no gênero no Brasil, por longo tempo reconhecida internacionalmente. Publiquei uma monografia: “A abelha e o Homem” e fiz parte de um órgão de assessoria do Ministério da Agricultura por vários anos".

ELCIO se considera "um ilustre desconhecido em minha terra natal, sobretudo porque dos meus colegas da juventude e dos amigos que aí deixei só me resta o Ayrthon (AYRTHON BORGES SERÓDIO), com quem falo rarissimamente. Há nomes que me são familiares, mas sem contato maior, dada minha ausência da cidade, e meu comportamento arredio, fruto de uma timidez hereditária".

Refugiado em uma chácara na Zona Oeste do Rio de Janeiro com seus livros, seus discos e o encanto da natureza, o silêncio, as flores e o gorjeio dos pássaros, ELCIO XAVIER deixa aos novos escritores uma mensagem: "Leitura, muita leitura de bons livros".

                                          ELCIO XAVIER e sua esposa GEDÁLIA


Segue uma poesia marcante do Poeta Inconfidente do Itabapoana, publicada na revista ALLIANCE, de São Paulo, em maio de 1950, dirigida por Delton de Mattos.

POBRE JARDIM DA ALDEIA

Pobre jardim da aldeia
onde deixei meus oito anos
junto ao chafariz de trevos:
leva-me ao teu grande mar
neste solitário fenecer!
Quero rever o castelo marinho,
a tempestade, o primeiro encontro,
as rosas-fadas que me amaram
e as queixas dominicais
de tuas sombras frescas.
Falta-me o azul de tuas tardes
e sinto que não verei o luar.
Não encontro meu sangue
nas lutas que partem da noite,
Não tenho memória dos tempos
nem vejo meu rosto na lagoa.
O mundo sucumbirá num suspiro
se minha infância não regressar.

VOCÊ SABIA?

Segundo texto sobre "Nossa Árvore Genealógica", de 2002, escrito por ELCIO XAVIER, o mesmo se recorda de "declarações de seu bisavô Carlos aos filhos, quando falava da origem de nossa família e dos percalços porque passaram seus membros em decorrência da Inconfidência Mineira; seu pai (Joaquim) era bisneto de uma irmã de Tiradentes, e sua mãe (Maria Tereza) membro da família Rodrigues da Costa, profundamente ligada aos inconfidentes."

3 comentários:

  1. Tem muito orgulho em dizer que convivo com esse distintíssimo, digno e elegante senhor há dez anos, e hoje sou casado com uma de suas netas. Pessoa de caráter extremamente raro, especialmente para os padrões atuais, de fato Elcio Xavier possui um brilho incomum, e mesmo com seu “comportamento arredio, fruto de uma timidez hereditária”, como ele mesmo descreveu, conviver com ele é uma experiência única. Felizmente tenho tal sorte. Acredito que na verdade, sua paixão pela vida e a filosofia que ele adota para vivê-la fazem dele um ícone em todas as atividades que se propõe a realizar. Elcio Xavier, com certeza, é um exemplo a ser seguido em diversos aspectos. Posso dizer que não tenho uma lista de ídolos, mas se um dia eu fizesse uma, Elcio Xavier estaria em primeiro lugar. Vida longa a esse bonjesuense, que ainda tem muito a realizar e ensinar.

    PS: A primeira foto que aparece no texto foi tirada no dia 15 de outubro de 2011, dia do casamento de um de seus netos. Um momento muito (muito, muito, muito) raro, já que o próprio “seu” Elcio (é assim que costumo chamá-lo) pediu que eu a tirasse, coisa que ele nunca faz. Fico ainda mais feliz ao ver que, de alguma forma, contribuí para esta merecida homenagem a Elcio Xavier.

    ResponderExcluir
  2. Esse é o meu querido avô e meu grande ídolo: Pai Elcio. Não conseguiria expressar em palavras todo o amor e gratidão que sinto por ele. Uma homenagem mais do que justa! Parabéns ao Jornal O NORTE FLUMINENSE e a meu querido Pai Elcio!

    ResponderExcluir
  3. É com imenso prazer que registro a grande honra de ser prima de Elcio Xavier, esse homem íntegro, afetuoso, valorizador de suas origens e aquele que muito estudou, viajou e pesquisou para destrinchar e comprovar evidências acerca da família, da qual tanto se orgulha de pertencer. A par de sua intelectualidade e seu destaque na literatura, Elcio foi o filho querido, o irmão amigo, o neto especial, o sobrinho diferenciado e o primo que encanta, além, é claro, de esposo leal e pai amoroso de uma linda família, onde exerce o papel de pai e avô exemplar, além da admiração e amizade de genros e nora. Como sobrinho muito encantou a meu pai, com quem teve grande amizade, vez que é filho do primogênito do casal Samuel/Baldina Xavier. A meu ver, Elcio hoje, é o patriarca dos Xavier, não só pela idade, mas por ser o maior conhecedor dos primórdios da família e aquele que procurou sempre agregar, com seu jeito simples, carinhoso, porém, elegante e ímpar de ser. A minha homenagem e os meus aplausos a esse grande homem, cuja vida só enriquece a família Xavier e a sua tão amada Bom Jesus do Itabapoana.
    Lenice Xavier de Almeida

    ResponderExcluir