Por que calaram a sua voz?
Por que cortaram suas pernas
e você teve que ficar paralisado?
Por que cortaram água e oxigênio
e você parou de respirar?
Difícil dizer por que
causaram tamanho mal
a um amigo de tanto tempo,
que trouxe tantas
notícias, almas, mentes e
corpos. Amigo que levou
tantas coisas necessárias aos
rincões mais distantes.
Subindo serras, cortando
campinas, cruzando rios
e margeando lagos.
atravessando rochas e matas
enfrentando chuva, sol,
noites claras ou
manhãs nebulosas. Você nunca
deixou na mão quem precisava
de sua
força, seu trabalho
incansável.
Resfolegando, emitindo uivos
agudos ou,
em tempos mais recentes,
cortando o vento quase em
silêncio, você levou
progresso,
criou cidades, acabou com o isolamento.
Aqui mesmo, onde digito esse
tributo, você
teve dias de glória. Com
muita fumaça e apitos
anunciava sua chegada e
atraía crianças,
adultos e idosos, que vinham
saber das novas.
Você não vinha direto das
capitais, devo ressaltar.
Não via de perto o Rio de
Janeiro nem Vitória.
Fazia um pequeno trajeto, que
se iniciava na pequena
Ponte do Itabapoana, passava
por Apiacá, José Carlos e
encerrava a viagem aqui, em Bom
Jesus do Norte.
Não é difícil imaginar o
quanto seus movimentos
causavam alvoroço: cachorros
preguiçosos
saltavam dos trilhos; donas
de casa chegavam às
janelas; crianças corriam
atrás dos vagões,
acenando e fazendo algazarra
para os passageiros.
Mas o progresso deturpado
calou sua voz.
A não ser na memória dos mais
antigos,
em velhas fotos em branco e preto
e no apelido do
bairro mais populoso daqui (a
Beira-linha) nada
mais resta, amigo e querido
trem de ferro.
Sei que você jamais voltará a
correr por essas terras,
mas seja lá onde for que um
seu parente volte
a apitar e fazer o chão
tremer com o peso de sua
história, ficarei feliz e
terei um pouco da certeza
de que você jamais será
esquecido.
YELMO PAPA
BOM JESUS DO NORTE, FEVEREIRO DE
2009
Parabéns, Yelmo!! Lindo poema!!
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