segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Reminiscência

 

Wilma Martins Teixeira Coutinho 


Quanta saudade eu sinto

Daqueles dias fagueiros

Passados em Bom Jesus

Que passaram tão ligeiros


Quero matar a saudade

Que ficou enraizada

Naquele rincão tão bonito

Cidade tão politizada!


Na Cultura e no saber 

Crianças tão pequeninas

Já estão comprometidas

Têm um farol que as ilumina!


Wilma

domingo, 29 de outubro de 2023

O DIA DE FINADOS E O PADRE ANTÔNIO FRANCISCO DE MELLO DE BOM JESUS DO ITABAPOANA – RJ






                 Pelo Prof. PhD. Marcio de Lima Pacheco
         Universidade Federal do Rio Grande do Norte
                                     doutorpachecus@gmail.com
                                            whatsapp: 11952831660

Na história do Brasil, sempre se destacaram grandes vultos que nos levam a refletir sobre a nossa existência e religiosidade. Um desses é o Padre Mello (1863, Açores – 1947, Brasil). Por ocasião do Dia de Finados, seguindo a Constituição Quod expensis, de 26 de agosto de 1748, do Papa Bento XIV, que permitia aos sacerdotes seculares a realização de três Missas pelos finados em Portugal e Espanha.  Seguindo ainda, a Constituição Trans Oceanum, de 18 de abril de 1897, que estendia aquele privilégio a toda América Latina e a Constituição Incuentu, de 10 de agosto de 1915 de Bento XV que concedia a todos os sacerdotes do mundo o direito de poderem celebrar três missas, o Reverendíssimo padre em questão, escreveu, em uma carta ao Cônego Serpa de Florianópolis aos 05 de novembro de 1916 (carta n° 10): A cada Sancta Missa que celebro percebo mais e mais que o Santo Sacrifício do altar é o céu já em terra, pois ali, adora-se o augustíssimo Sacramento” e completa: “no dia dois de novembro, como de costume rezei, diante do Santíssimo, a Matinas, Laudes, Prima e Tertia do Officium Defunctorum. Logo após, rezei as três Missas: A primeira, pelas intenções que guardo em meu coração. Sobretudo, por todos aqueles que auxiliei durante a vida em seu itinerário para a salvação. A segunda, por todos os fiéis defuntos e a terceira, segundo a intenção do Sumo Pontífice que nesse ano enfrenta grandes questões. Depois, desloquei-me ao cemitério para chorar com os que choram e consola-los, como nos ensina o Apóstolo. Por essas paragens, não a sossego, mesmo depois da morte. Vejo um grande desprezo do poder público e dos transeuntes diante do solo sagrado no qual repousam os restos mortaes dos que nos antecederam. Ao chegar aquele local, percebo a ironia e o descaso para com a paz da morte.  Porém, como diz David: “Tudo será cinza fria”. Como de costume, nesse dia, desde o ano que aqui cheguei, segui às 3 horas da tarde para rezar junto ao túmulo do Reverendíssimo Padre João Mendes Ribeiro. Sinto-me indignado por tamanho menoscabo da população para com a figura daquele que tanto desgastou-se pela salvação das almas. Diante daquela sepultura, rezo por ele e por nós, para que quando chegue o nosso dia “Huic ergo parce, Deus: Pie Jesu Domine, dona eis réquiem. [...]Domine, miserere super isto pecatore”. (Tradução: Poupai-o Deus do Céu: Bom Senhor, Jesus Piedoso, Dai-lhes o eterno Repouso. Senhor, piedade sobre este pecador.).

O padre Mello fazia questão de seguir liturgicamente tudo que era referente aos Sacramentos, em particular, a assistência aos doentes e as exéquias,  Acompanhava todos os sepultamentos da cidade e dizem que sua voz ecoava pelas ruas por onde passava o cortejo em uma prece que dava consolo aos corações dilacerados pela perda: In paradisum deducant te angeli, In tuo advento Suscipiant te martyres, Et perducant te In civitatem sanctam Jerusalem (Tradução: Que os anjos te conduzam ao paraíso; que os mártires te recebam em sua chegada e te conduzam à cidade santa de Jerusalém).  

Para que todos se unissem em oração, para os que estavam perto de expirar e mortos, escreveu (Carta n° 03): “Já estão rotos os sobrepelizes e estolas que utilizo para acompanhar os funeraes  [...]  Fiz saber a todos a todos, que quando alguém estivesse preste a expirar e o padre fosse administrar os Sacramentos da Penitência, Comunhão e Extrema Unção, o sino da igreja deveria badalar sete lentas vezes, simbolizando as dores de Nossa Senhora e que todos deveriam pôr-se a rezar, por ele.  Também recomendei que após o falecimento desse um sinal no sino, um para os menores de 07 a 14 anos.  Para as mulheres dois sinais, breves e distintos; para os homens três; quatro para os clérigos não sacerdotes e cinco para os padres.  Dever-se-ão dobrar os sinos a finados quando saírem das exéquias e do enterro”. Desta forma, vemos que esse dedicado Apóstolo Açoriano utilizava dos objetos para fazer que todos se unissem em oração, em especial, o sino paroquial. Portanto, todo aquele que ouvir os sinos de Bom Jesus de Itabapoana tem por dever escutar, refletir a história daquela terra, pois aqueles  instrumentos tem por função: “ Convocar os vivos, congregar o clero, chorar os mortos, desfazer nuvens em chuva e  destruir toda falsidade”.

Em dia de finados (1899)

Por António Francisco Mello

Ao lúgubre gemer do triste campanário
vi correr muita gente em grande romaria.
Morrera em cada olhar o raio de alegria
surgindo em cada fronte o aspecto funerário.

Segui a multidão e entrei no cemitério,
vi grupos em redor de túmulos silentes,
vi rosas desfolhar e lágrimas ardentes
quaes pérolas, cair por sobre o chão funéreo.

Além do sublime quadro! Um velho venerando
vai com vagar abrindo a envelhecida urna,
ajoelha e contempla a ossada taciturna
e, mistérios do amor!... Beija-a de vez em quando.

Depois ao céu erguendo os olhos com piedade
balbucia uma prece. Era a crença divina
que, vendo na ossada um palácio em ruína,
buscava o morador além na eternidade!

IRMÃOS TAVARES

 

Antonio Gabriel de Figueiredo 


Existem pessoas que morrem deixando saudades imorredouras para seus entes queridos, principalmente os nossos que partiram para a eternidade, outros, deixando uma lacuna jamais preenchida quer para os parentes quer para um grande número de amigos.

Outros falecem deixando uma tristeza imensa para seus familiares e para toda a coletividade, dado a civilização de cada um e ao modo gentil de tratar toda a humanidade. Neste último caso, quero me referir aos Irmãos Tavares, pois observando a fineza no trato que cada um dispensava a seus amigos, recordei-me de uma história antiga que li sobre a Suíça, no tempo ainda dá Confederação.

Acontece que viajavam em um trem vários passageiros. Tendo que levantar, um dos passageiros ao passar de um banco para o outro pisou nos pés de um cidadão ao seu lado. O referido senhor perguntou: Foi de propósito que fizestes isso? Respondeu o que pisou: Estamos dentro da Suíça. Quis dizer: estamos dentro de um país civilizado.

Assim eram os Irmãos Tavares que eu conheci. Traziam na alma a educação do povo campista, implantando um exemplo a toda a humanidade.

Eram os seguintes: Orioswaldo Bastos Tavares; Rodoval, este conhecido apenas de vista; Dermeval (Santinho); Manoel, ainda resta-nos com a graça de Deus, uma irmã, viúva do nosso respeitável amigo Chiquinho Borges e sogra do Dr. Luciano Bastos, e, dos homens, ainda nos resta um dos mais novos, no Rio de Janeiro, que não tive aínda a felicidade de conhecer.

Na hora do sepultamento de Rodoval, casualmente me achava na praça São Salvador, em Campos. Tinha gente da Praça ao Cemitério do Caju. Assim sendo, perguntei ao amigo: É algum Usineiro que estão sepultando? Respondeu-me: É o Rodoval Tavares. Trata-se de um lutador igual a nós, mas ele conseguiu um vasto círculo de relações que dificilmente um dono de Usina conseguiria. Ele era relacionado nas escolas de samba, nos meios esportivos, no comércio, na indústria e em todo o ponto onde tivesse atividade humana.

Fiquei conhecendo mais as qualidades humanas de Rodoval, que eram as mesmas dos outros irmãos.


 (Extraído do livro "Céus do Outono", 1990)




APRESENTAÇÃO DO LIVRO

Esta singela obra constitui-se de uma série de artigos de autoria do meu Pai, publicados nos semanários bonjesuenses "A Voz do Povo" e "O Norte Fluminense".

A mesma não exterioriza qualquer pretensão literária, até porque o Autor tão somente objetivava relembrar fatos acontecidos na Bom Jesus do início do século e outros contos da cultura popular que ficaram gravados na sua memória.

A deliberação de editar o livro foi dos filhos, à revelia do Autor. É uma modestíssima homenagem a quem soube sempre dar um exemplo de honestidade e retidão de caráter em todos os atos de sua vida.

Espero que este livro possa agradar e ser útil aos diletos leitores, levando a todos uma mensagem de amor, fé e esperança.

Niterói, 3 de junho de 1990

ANTONIO CARLOS DE FIGUEIREDO


A Academia MARIA ANTONIETA TATAGIBA - Artes - História - Letras, do Sítio Histórico de São Pedro do Itabapoana, em Mimoso do Sul/ ES e o DIA NACIONAL DO LIVRO

 


A Academia MARIA ANTONIETA TATAGIBA - Artes - História - Letras, no Sítio Histórico de São Pedro do Itabapoana, em Mimoso do Sul/ ES, PARABENIZA todos que fazem dos LIVROS sua forma de expressão e de aprendizagem, pelo DIA NACIONAL DO LIVRO - 29 de Outubro.

Com grande satisfação e reconhecimento, apresentamos a Capa do Livro FRAUTA AGRESTE, publicado em 1927, o primeiro a ser publicado com Obra Poética de uma Poetisa Capixaba, MARIA ANTONIETA TATAGIBA, nascida no Município de São Pedro do Itabapoana /ES (1887 a 1930), posteriormente, Mimoso do Sul.

Por seu pioneirismo, pela sua qualidade poética e um rico existir em apenas três décadas, propomos uma ampla e vasta divulgação de sua VIDA e OBRA. 


Dr Pedro Antônio de Souza. 

Presidente da Academia

sábado, 28 de outubro de 2023

GOTINHAS DE HISTÓRIA


                                             Onda negra, medo branco?


Isabel Menezes 


Quando cursava minha faculdade, uma das leituras foi o livro "Onda negra, medo branco", de Celia Maria Marinho De Azevedo. Essa autora descreveu com maestria a relação entre brancos e negros, no século XIX, o receio que a população branca possuía, em relação ao aumento da população de cor negra no Brasil, já que no Haiti, os negros se rebelaram, fazendo a independência do país.  

Os negros eram recrutados na África, pelos traficantes de escravos, em um negócio bastante lucrativo. Eles faziam acordos com os chefes de tribos africanas, que negociavam não só seus prisioneiros de guerras tribais como também seus subalternos, por qualquer motivo torpe que fosse. Assim, eram embarcados para o Brasil, amontoados em navios negreiros ou tumbeiros, onde viajavam em precárias condições. Não eram poucos os que morriam na viagem, ou adquiriam doenças.  

No poema navio "Negreiro", Castro Alves entoa para nossa triste lembrança: “Era um sonho dantesco... O tombadilho/ Que das luzernas avermelha o brilho,/ Em sangue a se banhar. /Tinir de ferros... estalar de açoite.../ Legiões de homens negros como a noite,/ Horrendos a dançar... / Negras mulheres, suspendendo às tetas! /Magras crianças, cujas bocas pretas,/ rega o sangue das mães: /Outras moças, mas nuas e espantadas, /no turbilhão de espectros arrastadas,/ em ânsia e mágoa vãs!”

E assim transportados, os que conseguiam chegar eram encaminhados às praças de negócios, onde permaneciam acorrentados até que um fazendeiro os arrematassem como se fosse um animal. Muitos senhores eram tementes a Deus e tratavam bem seus escravos, com a dignidade condizente à época, pois a escravidão já vinha da grande África e era permitida legalmente no mundo. Como professora de História, aprendi a não julgar os acontecimentos históricos com os conhecimentos atuais, já que não vivi em tal época, mas todo tipo de escravidão é algo inaceitável, com a mentalidade que temos hoje em dia.  

O livro "Onda negra, medo branco", é ainda hoje muito atual e merece ser lido, pelos amantes da literatura. Claro, com uma leitura crítica. “O que fazer com o negro quando a escravidão terminar? Ou então, como impedir um final brusco da escravidão, deixando à solta e sem nenhuma regra uma imensa população de negros e mestiços pobres em país regido por uma minoria de ricos proprietários brancos?" Em "Onda negra, medo branco", encontraremos um intenso debate em torno destas questões senhoriais travado por abolicionistas e imigrantistas ao longo do século dezenove. Decerto esse debate ainda se arrastaria pelo tempo não fosse a intervenção dos próprios escravos com suas ações autônomas e violentas, aguçando os medos da ´onda negra´, imagem vívida forjada no calor da luta por elites racistas.

Todo tipo de escravidão é um ultraje, uma desumanidade, pois não existem raças e sim a RAÇA HUMANA, na qual todos somos iguais diante de Deus. A consciência de cada um deve ser bem instruída quanto a dignidade de filhos de Deus, herdeiros do céu, dignidade esta, que cada ser humano se encontra revestido.

(Isabel Menezes - Professora de História e Ensino Religioso, estudiosa social e escritora de Varre-Sai/RJ)

"Recordar bons momentos é 10!", por Rogério Loureiro Xavier

 


Olá 👋  pessoa amiga e do bem. 


Recordar bons momentos é 10 !


Com meus 14 anos estudava no Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro/RJ. Era integrante do "Clube da Música do colégio e por várias vezes participei do Festival Interno Estudantil da Canção (MPB). Cantei na Rádio Riquete Pinto no programa do radialista Duque Estrada. Representei meu colégio, na TV Tupi, no programa João Roberto kelly. Infelizmente não fui vencedor mas as três vezes foram inesquecíveis... Cheguei a formar um Conjunto de Rock'n'Roll... "The Children"... Que tempo bom!! 👍🎙🎸✌


*"Prédio que foi o Cassino da Urca, também foi a emissora da TV Tupi canal 6, foto de 1976 - Bairro da Urca Rio de Janeiro."*


✍ ... amigo Roger LX

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Sem mais esperança

 

Sílvio Fontoura 


Eu não quero que saibas, nem sequer,
Suspeites que te adoro,
Esplêndida mulher,
Por quem de ciúmes, estremeço e choro.
É minha sina amar-te sem dizer
a ninguém, a ninguém! que te amo tanto
E que, amando-te assim, hei de morrer.




Nota do jornal O Norte Fluminense: Silvio Fontoura é o patrono da Cadeira nº 40 da Academia Bonjesuense de Letras. Fundou o 1º jornal de Bom Jesus do Itabapoana, "Itabapoana", no dia 1º de agosto de 1906.

APLAUDINDO… (Texto Memorável da Profª Amália Teixeira Chalhoub, descoberto pelo jornal O Norte Fluminense)

 

Profª Amália Teixeira Chalhoub 


1 / 2

Não há, realmente, nada mais confortador para a nossa alma de cristãos que dar um pouco de alegria aos que sofrem.

Então as crianças, essas flores humanas recém-saídas das mãos do Criador, como já disse alguém, em cujos olhos paira ainda a visão do paraíso, são as que mais merecem a nossa solicitude.

Natal, dia de Jesus, todas as crianças têm, trazido pelo velho Papai Noel, os seus doces, os seus brinquedos e os seus beijos… Só as pobrezinhas que não têm, às vezes, um pedaço de pão e um pobre vestido que lhe cubra o corpo, é que não recebem os presentes de Noel, o bom velho que só visita os lares ricos, e que, muitas vezes gera nessas alminhas em flor o gérmen da revolta, contra as diferenças sociais.

É por isso que a sugestão de João José, me tocou o coração. Bato palmas à sua ideia.

Os nossos petizes pobres terão um Natal de festas, se os valores intelectuais da nossa terra quiserem. O Pe. Mello se quisesse (e disso não duvido eu) nos daria uma hora de arte, deixando apreciar a sua cultura rica de ensinos cristãos e rica de poesia. Seria um encanto… O Octa-Quino (Octacilio de Aquino) poderia deixar falar o seu coração, encheria de prazer a nossa alma bonjesuense, saudosa dos seus versos e da sua palavra; o Lyrio da Solidão viria com o seu entusiasmo nobre, estimular os ânimos fracos; as senhorinhas da nossa sociedade emprestariam a sua graça e a sua mocidade a esta festa de beleza. E não seria só isso… Se os intelectuais quisessem, trabalhariam com suas inteligências fulgurantes… e nós, mulheres, trabalharíamos com nossas mãos, enviando flores, doces, brinquedos e roupinhas para as crianças pobres 

A minha opinião, sem valor e sem graça, é, creio firmemente, o ecoar da voz que fala nos corações das minhas conterrâneas, que pulsariam todos no mesmo ritmo de fé e caridade.

ROSEN

JORNAL “A VOZ DO POVO” - BOM JESUS DO ITABAPOANA (E. do RIO DE JANEIRO) 18 DE OUTUBRO DE 1930


Nota do jornal O Norte Fluminense: A Profª Amália Teixeira Chalhoub é Patrona da Cadeira nº 10 da Academia Bonjesuense de Letras. Educadora humanista e visionária, nasceu no dia 02 de julho de 1907. Fundou a Escola Bom Jesus, onde estudou os ex-governadores Roberto e Badger Silveira. Faleceu, jovem, aos 33 anos, em 1940. Filha do Capitão João Manoel Teixeira e Regina Teixeira, era esposa do libanês Elias Melhin Chalhoub. Amália escrevia seus textos em jornais bonjesuenses, sob o pseudônimo de "ROSEN", derivado de "Rosa", sobrenome que ostentava quando era solteira. Essa informação foi dada por Reginaldo Teixeira Chalhoub, filha de Amália. A descoberta de seus textos só foi possível graças à pesquisa ao rico acervo dos jornais de Bom Jesus do Itabapoana que se encontram no Espaço Cultural Luciano Bastos (ECLB), especialmente em "Bom Jesus-Jornal", de 1928, de José Tarouquela de Almeida, e "A Voz do Povo", de Osório Carneiro, de 1930.

Amália Teixeira escrevia em "Bom Jesus-Jornal", de José Tarouquela de Almeida, em 1928, com o pseudônimo de "Rosen" (acervo do Espaço Cultural Luciano Bastos/ECLB)


Amália Teixeira escrevia também em "A Voz do Povo", de Osório Carneiro, em 1930, com o pseudônimo "Rosen"
 (acervo do Espaço Cultural Luciano Bastos/ECLB)


O tempo



Wilma Martins Teixeira Coutinho 

O tempo passa para todo mundo na mesma quilometragem. Leva a dor, a tristeza e o sofrimento. Deixa marcas profundas, haja coração para suportá-las! Lenços para enxugar as lágrimas que desoprimem e aliviam a dor extensa. Tempo que teima em permanecer na lembrança. Tempo que dura meses, anos, todo o tempo que temos para esquecer. Só o Amor esse Tempo não apaga, porque para ele o Tempo é o proprio Amor! 


Wilma

Saudando Padre Mello, na Serra do Tardin

 

Antonio Silva



Em louvor ao padre ilustre
De Bom Jesus, linda terra,
O Sol, hoje, aqui hoje na Serra,
Apareceu com mais lustre...

É que o sol soube, sorrindo,
Da vossa honrosa visita,
Ante a qual, vede, palpita,
Nossa alma, num gosto infindo.

Os irmãos Nunes, reunidos, 
Tudo fizeram, com ardor,
Para mil encantos por
Nestes momentos floridos.

Eles vibram o alaúde
De uma fé, que está ao nível
Do sol, em honra a visível,
Excelsa e grande virtude

Da alma do vigário amigo,
A quem, mui sinceramente, 
Com simpatia fremente,
Nesta hora azul eu me ligo.

Reparai, meu padre, em volta
De vossa pessoa amada:
É só gente entusiasmada,
Que frases de afeto solta,

Com fervor, carinho e crença,
Para o bom santo que veio
Conferir-lhe o grato enleio
Da vossa cara presença.

Esse bom santo é o padroeiro
Desta sonhada capela,
Para o qual nossa alma apeia,
Com um desejo alvissareiro,

No sentido iluminado
De vê-la, breve concluída,
Para glória, orgulho e vida
Do nosso lugar amado.

E, certo, São Sebastião,
Cheio de amor e de zelo,
Atenderá este apelo,
Feito, assim, de coração,

Defronte do grande vulto
Que há de ao alto céu levá-lo;
Vulto expressivo a quem falo,
E perto do qual exulto,

Para dizer, sem receio,
As palavras que aqui vêm:
Padre! A Serra do Tardin
Vos abre agora o seu seio!



20.1.1934

Nota do jornal O Norte Fluminense: Antonio Silva é o patrono da Cadeira nº 10 da Academia Bonjesuense de Letras. Conhecido como o "Poeta da Serra do Tardin", saudou em versos a chegada de Padre Mello, por ocasião da Festa de São Sebastião

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Discurso proferido pelo acadêmico Nivaldo Xavier Valinho, em nome dos ex-alunos, nas comemorações do 75° aniversário de fundação do Colégio Rio Branco – Bom Jesus do Itabapoana – 17/11/95



Nivaldo Xavier Valinho

 


 Senhoras e Senhores:

 “... HONRA E GLÓRIA...”


 Não foi sem motivos que a visão transcendental do Pe. Mello, destacou no Hino do Colégio Rio Branco a mensagem imperecível destes vocábulos: Honra e Glória.

  A força deste brado, tantas e tantas vezes entoado por nós, ultrapassou o tempo e nos acompanha vida afora.

 Honra, segundo Aurélio Buarque, é a homenagem à virtude, ao talento, à coragem, às boas ações; Glória, é a fama por ações extraordinárias, grandes serviços às letras, às artes, à cultura, etc.

 “HONRA E GLÓRIA”, pois, àqueles que ousaram, que tiveram talento e coragem, aqui fundando uma Escola dedicada à cultura, às letras, à educação. Uma escola que varou décadas e formou gerações de bonjesuenses, que sem ela, jamais poderiam ter tido as oportunidades que lhes foram concedidas.

 Nesta noite, meus amigos, é preciso que voltemos no tempo 75 anos atrás; imaginemos uma Bom Jesus daquela época: um punhado de casas; um pequeno grupo populacional; uma pequena comunidade sequiosa de independência, de maioridade e, convenhamos, só o talento e a coragem de uns poucos visionários, poderiam ensejar à nossa terra tão grande incentivo à cultura, às letras e à educação: a fundação de uma Escola que viria marcar indelevelmente as gerações futuras de Bom Jesus.

 O PROF. JOSÉ DA COSTA JÚNIOR, fundador do Colégio Rio Branco, acreditou no talento dos nossos jovens e na força comunitária de nossa gente e lançou a semente fecunda que o consagrou na História bonjesuense como benfeitor da cultura e da educação.

 Há alguns anos atrás, no cinquentenário do Rio Branco, o PROF. MÁRIO BITTENCOURT, seu segundo proprietário, destacava o pioneirismo do Colégio, que além de um ensino esmerado e invejável, desenvolveu atividades então inexistentes na maioria dos municípios fluminenses: a instalação de uma escola de datilografia e a criação de um Tiro de Guerra e mais, confiando na capacidade de seus mestres e no talento dos alunos, fez com que o Rio Branco se tornasse o primeiro colégio da região a receber uma Banca Examinadora do Departamento Nacional do Ensino, para avaliar os alunos com vistas ao seu ingresso no Colégio Pedro II.

 Despontaram nessa época, JOSÉ VIEIRA SERÓDIO, NAPOLEÃO TEIXEIRA, WALTER FIGUEIREDO, e vários outros, que brilharam nas escolas e Faculdades do Rio de Janeiro.

 Apesar de todos esses avanços, entretanto, a falta do reconhecimento oficial se tornava obstáculo respeitável ao progresso da Escola, mas não o bastante para esmorecer o ânimo de uma figura notável de Bom Jesus, o PROF. CARLOS MARQUES BRAMBILA.

 De secretário, após o professor JOSÉ CÔRTES COUTINHO passara a proprietário do Colégio, transformando-o em Ginásio oficializado, (uma proeza na época – 1936), mantendo regimes de internato e externato, ampliando a fama do educandário, fazendo-o abrigar alunos de vários Estados, atraídos pela excelência do ensino, que se constituía em valioso passaporte para os difíceis exames seletivos do Pedro II.

 Mas, a História do Colégio Rio Branco não se dissocia da História de Bom Jesus: os mesmos momentos de ousadia; iguais tormentos de crises, mas sem esmorecimentos porque amparados um e outro no que esta terra possui de mais singular, ante os demais rincões brasileiros: a força de sua comunidade.

 Bom Jesus possui esta virtude ímpar, que atravessa os tempos; seu povo sempre soube quando unir-se sob uma mesma bandeira, quando mais alto se descortina o interesse de todos.

 Deparando instransponíveis exigências do MEC nas altas taxas para os educandários reconhecidos o Rio Branco soçobrava, perdendo sua oficialização, mas logo encontrou amparo na sobrevida quando uma JUNTA INTERVENTORA, constituída pelos valorosos homens da comunidade, OLÍVIO BASTOS, JOSÉ DE OLIVEIRA BORGES (então Prefeito) e JOSÉ MANSUR, passou a administrá-lo, restabelecendo sua oficialização e garantindo sua continuidade, sempre mantida a qualidade de seu ensino.

 Iniciou-se aí uma administração duradoura, comandada por OLÍVIO BASTOS, e a era de uma Diretora que marcou a vida estudantil de gerações de bonjesuenses: MARIA DO CARMO BAPTISTA DE OLIVEIRA – a D. CARMITA.

 Tinham tudo para fracassar numa convivência profissional: ele, quase um lord, um inglês por formação, dada sua convivência com os construtores da estrada de ferro: discreto, paciente mas indomável; D. CARMITA, toda ímpeto, dedicação integral e diuturna ao Colégio: disciplinadora inflexível.

 Essa convivência, entretanto, varou décadas. “Seu Olívio” passou à história como o proprietário compreensivo e de grande visão administrativa. D. Carmita, soube adequar sua missão às diretrizes de Olivio Bastos, sem abdicar de sua forte personalidade e do temperamento dominador, que entretanto, visavam o progresso do Rio Branco e o futuro de seus alunos.

 Certo, porém, quanto a ela, que nenhum de nós, ex-alunos da geração D. Carmita, não consegue permanecer silente em qualquer sala daquela Casa sem perceber seus passos firmes ao longo dos corredores; ainda hoje, esta sensação ocorreu-me, na sentimental visita feita à antiga Escola.

 Reverenciamos a figura de D. CARMITA pelo tanto dedicou ao Colégio Rio Branco e ao nosso aprimoramento educacional.

 Sem a visão de futuro que ela inegavelmente possuía, quantas e quantas vezes me rebelei a cada “indicação voluntária” que me era feita para declamações, teatros, grupos de canto, monólogos, etc. etc. nas festivas reuniões do “Grêmio Humberto de Campos”, atividades que mais tarde me valeriam – e muito – na vida profissional a que a vocação me conduziu.

 Assim comigo, igual a tantos e tantos outros colegas.

 Possuía D. CARMITA o dom de descobrir em cada qual uma virtude às vezes oculta, que, trabalhada, se transformava numa qualidade desconhecida do próprio aluno.

 De seu turno, Sr. OLÍVIO BASTOS, consolidou o Colégio Rio Branco, deu-lhe pujança, renome, transformando-o num dos maiores colégios do Estado do Rio de Janeiro.

 Tamanho patrimônio e tantas tradições não poderiam ser entregues a mãos inábeis e nem transferidos senão a quem o igualasse no idealismo, no trabalho e no esforço de preservar, não um patrimônio familiar, mas um verdadeiro patrimônio bonjesuense.

 Por isso, há quase 40 anos o DR. LUCIANO AUGUSTO BASTOS vem conduzindo e mantendo o Colégio Rio Branco e só Deus, e seus familiares, e ele, sabem com que sacrifícios o faz.

 As transformações sócio-culturais que atingiram nossa juventude ao longo desse período, tornou a mais árdua de todas, a tarefa de que foi incumbido LUCIANO BASTOS.

 Qualquer outro não teria resistido ao cerco imobiliário, às tentações de mercado, não fosse um vocacionado, um idealista, um guardião fiel das quase centenárias tradições do RIO BRANCO.

 O êxodo para os grandes centros dos jovens bem aquinhoados; e o desesperado apelo dos menos favorecidos por uma matrícula menos onerosa, por certo têm sido o grande dilema deste Continuador.

 Inevitável o choque entre o empresário e o idealista; entre o homem-executivo e o homem-comunidade; entre o administrador e o mestre.

 Poucos teriam a fibra de LUCIANO BASTOS para manter viva a chama que aqueceu os ideais de COSTA JÚNIOR, de MÁRIO BITTENCOURT, de COSTA SOBRINHO, de CÔRTES COUTINHO, de MARQUES BRAMBILA e de OLIVIO BASTOS.

 No feliz dizer do Profª. Nisia Campos, LUCIANO pode ser visto “como um milenar cedro libanês que embora as intempéries, não tomba; sente as tempestades à sua volta, mas não se abala”.

 Dificilmente, sem ele, digo eu, poderíamos agora olhar daqui e encontrar aquele mesmo Rio Branco de nossa juventude, de nosso início, de nossa saudosa época estudantil.

 Justo, assim que felicitemos o Instituto de Letras e Artes "Dr José Ronaldo do Canto Cyrillo", os Poderes Legislativo e Executivo por esta iniciativa, de promover esta solenidade.

 Agradeço a fraternal imposição que me trouxe a falar em nome dos ex-alunos. Lembrou-me a escolha, às “indicações voluntárias” de D. CARMITA nos tempos-menino das reuniões do Grêmio. Confortou-me, porém, a honraria: daqueles bancos escolares saíram centenas e centenas de bonjesuenses hoje ilustres figuras no cenário nacional, que melhor poderiam ter vindo aqui dizer da nossa Escola.

 Não me move, portanto, falsa modéstia; sinto-me orgulhoso de ter sido o escolhido, porque palpita o coração de um ex-aluno e ex-professor que tanto deve ao Colégio, e que por falar de coração, sente-se à vontade para saudá-lo em nome de todos, de todas as gerações nesta comemoração que não é só do RIO BRANCO, mas de todo o Vale do Itabapoana.



Nota do jornal O Norte Fluminense: Nivaldo Xavier Valinho, Desembargador pelo Estado do Espírito Santo, ocupou a Cadeira nº 16, patronímica de Francisco Ribeiro (Pastor)

A PLANTINHA DA BEIRA DA ESTRADA

 

Carmen Boechat Alt da Costa Santos


Uma plantinha qualquer

à beira da estrada...

Vivendo de uma gota de orvalho,

à sombra de antigo carvalho,

sufocada, às vezes, por tantas outras,

vencendo o calor, as espertezas do solo,

foi crescendo... foi vivendo...

Caiu a chuva, refrescou a terra...

Gotinhas abençoadas a alcançaram,

jeitosas mãos ali a protegeram...

E a plantinha da beira da estrada... cresceu!...


Uma plantinha qualquer à beira da estrada...

A chuva bondosa emprestou-lhe ânimo...

Umas gotas de Amor em mãos carinhosas...

foram gotas... abençoadas... vivificantes...

E a plantinha da beira da estrada... floresceu!...


Era uma plantinha qualquer...

Mãos carinhosas a colheram...

Alguém a levou para enfeitar-lhe a vida...

Mãos jeitosas... Trazendo Amor... foram suas...

A plantinha agora enfeita-lhe os dias...

A plantinha da beira da estrada... sou EU!...



Nota do jornal O Norte Fluminense: a saudosa professora Carmen Boechat Alt da Costa Santos,  que utilizava em suas poesias o pseudônimo de Carmen de Rosal, ocupou a cadeira nº 6 da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica de Amélia de Azevedo Costa.


SAUDADE

 Nílton Serpa Kelly


Saudade! Nunca a avaliei como merece.

É uma mistura de sentimentos caros,

É a angústia,

A sensação de perda,

A impotência diante da distância.

Enfim, é um confundir-se de sentimentos.

Emocionante!

Imprevisível também.

Saudade, como defini-la?

Para saber o que é a saudade,

Antes temos que experimentar

Um grande amor.

Mas também

Sentir o que é solidão, ternura,

Alegria, tristeza, lágrimas, melancolia.

E, principalmente, 

Tirar do coração as recordações.

E, por fim, tornar à vida.

Assim, viveremos uma saudade,

Pois vivemos um grande AMOR!



Nota do jornal O Norte Fluminense: o saudoso Dr Nilton Serpa Kelly, conceituado advogado de nosso município, ocupou a Cadeira nº 9 da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica de Antônio Francisco M. Wanderley.


CAMPOS ANTIGA

 

Walter Siqueira



Por tuas ruas de árvores antigas,

O orvalho alvíssimo as manhãs acolhem

E abrem-se, a cada instante, mãos amigas

Que, em velhas conchas, velhas lágrimas recolhem.


 Ouvindo, no arrebol, tuas cantigas,

Talvez ipês e acácias se desfolhem.

O céu azul é o pálio em que te abrigas

Quando as tormentas teus olhos tolhem.


Cidade sem muralhas montanhosas,

De clima tropical, plana, virente,

Revejo-te num círculo de rosas.


De longe, uma saudade que me prende 

- Faz rebrilhar o claro olhar da gente,

- No coração novo fervor acende.


Nota do jornal O Norte Fluminense: Walter Siqueira ocupou a Cadeira nº 34 da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica de Raymundo José de Araújo


ÁRIA SERESTEIRA

 Alba Mello de Oliveira


Um olhar - longes tempos - de saudade

percorre a pequenina vila inserta

no vale ensolarado - Liberdade -

as janelas ingênuas, mas desertas


Nas horas do mormaço - após meio-dia -

Casario em fileiras, lado a lado.

As festas - Santo Antônio - e as alegrias...

Procissões de estandarte iluminado...


Um tango ao "Despertar (ao claro-escuro)

da Montanha" - fazendas de café...

O verde-azul-violeta, o céu, a terra.


Poeira avermelhada... um sonho puro...

Quando a lua-luar - cimo ao sopé -

seresteira, prateia a minha terra!...



Nota do jornal O Norte Fluminense: Alba Mello de Oliveira, saudosa Professora Estadual, nasceu no distrito de Carabuçu e foi Membro Correspondente da Academia Bonjesuense de Letras 


Duas vidas predestinadas ao amor

 Ayson Janones de Oliveira 


Neste mundo, quando aqui cheguei,

Aquariano, vi a luz primeira,

Você também chegou, alma gêmea;

O destino com suas artimanhas

Tramava algo, envolvendo nossas vidas,

Colocando um elo forte entre nós,

Nosso entrelaçamento, e convivência.

Crescemos juntos, brincamos, sem a noção

Dos nossos sentimentos, ainda ingênuos,

O tempo, célere, passava...

Da infância, juventude, adolescência, 

A amizade se transforma, nos faz sonhar...

Sentimento novo aflora em nossos corações,

Imaturos, sem conhecer ainda a vida

Em sua plenitude, ficamos perplexos.

No peito uma chama acesa, viva...

Despertando dois jovens em ascensão,

Como uma flor desabrochando.

Era o amor, forte, sublime, impetuoso...

Nos madrigais de nossa existência,

Sonhos, devaneios, fé, esperança,

E o que há de mais belo no amor.

No casamento, partilhamos nossas vidas,

Construindo uma família, um lar,

Nosso orgulho, mercê de Deus!

De nossos pais, que se foram desta vida,

Tivemos verdadeira lição na caminhada,

Amor, compreensão, respeito, tolerância;

Filhos, genros, nora, netos, queridos,

Uma dádiva de Deus, graças divinas.

Volvendo nossos pensamentos aos céus,

Agradecemos ao Pai celestial as graças

Concedidas ao longo do tempo!


Bom Jesus do Itabapoana, janeiro de 1997


Nota do jornal O Norte Fluminense: o saudoso escritor Ayson Janones de Oliveira ocupou a Cadeira nº 4  da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica de Amador Pinheiro Alves


ADEUS, MÃE!

 Edson de Oliveira Chaves


O que dizer quando se perde alguém 

a quem se ama com intensidade?

E me pergunto: o que fazer, também,

com tanta dor parceira da saudade?


O sofrimento que daí provém 

de tal maneira o coração invade

que só nos resta a esperança além

de um reencontro lá na eternidade.


O adeus à mãe é sempre doloroso;

no desenlace é muito pesaroso,

tornando bem sofrida a despedida.


Como exprimir o sentimento forte

senão dizendo quando ocorre a morte:

- Com Deus descanse em paz, ó mãe querida?!


(Lida pelo autor por ocasião do sepultamento da sua mãe Edna de Oliveira Chaves, em 29/9/1995)


Nota do jornal O Norte Fluminense: Edson de Oliveira Chaves ocupou a cadeira nº 35 da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica de Renato Wanderley  

CASA ABANDONADA

 Yvonne Diniz Miguel


Volvendo àquela casa abandonada,

de tristonho jardim, sem uma flor,

tendo a roseira apenas isolada

perto da bomba d'água, sem motor


Aquela hortinha... outrora bem tratada

dava repolho, alface, couve-flor,

agora, uma tapera desolada,

retalho triste dum distante amor...


Patente estava o nada desta vida.

A meditar naquela soledade,

palmilhei, tristemente comovida,


todo o quintal... e o coração ferido,

pelos rudes acúleos da saudade,

chorou meu velho sonho ali perdido.



Nota do jornal O Norte Fluminense: Yvonne Miguel Diniz ocupou a Cadeira nº 26 da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica da Professoral Olga Ebendinger Ferreira

HISTÓRIA DA RUA FORMOSA

 

                                                                                                    
Romeu Couto

 


Aquela rua era muito feia. Nem merecia o nome de rua. Se a chamassem simplesmente de caminho, ela ficaria muito satisfeita. Mas o povo deu-lhe o título injusto de Rua Formosa. E pegou. Uma casa aqui, outra acolá, cada uma procurando fugir da vizinha mais próxima. Quando se ouviam os passos lépidos de um animal, ninguém ligava, era o seu Joaquim que chegava na mula "Baiana". Mas quando passava um carro de bois, gemendo sob o peso da carga imensa, todo o mundo acorria à janela. E a garotada pulava para a rua, trepando na tora puxada pelo enorme cordão de bois, ou corria para o carreiro, pedindo-lhe uma cana daquelas que lotavam o carro: "Me dá uma, me dá uma!" À noite, a Rua Formosa ficava mais feia ainda. E triste, também. Muito triste. Nem um violãozinho para perturbar o sono daquela gente. Só as lâmpadas acesas, bem no alto dos postes escassos, davam sinal de vida. Até mesmo o coaxar dos sapos, lá nos pastos distantes, era quase imperceptível. Uma tarde, uma tardinha só, aquela rua ficou mais colorida e movimentada. Toda a gente da Rua Formosa se reuniu. E os meninos limpinhos, empunhando coloridos feixes de flores, desfilavam compassadamente, ao som lerdo do sino distante. Lá bem atrás, onde tantas mamães choravam tanto, vinha um caixãozinho azul, feito às pressas, carregado pelo seu Joaquim e mais três companheiros. E aí, deitado no ataúde minúsculo, era transportado o Julinho, que tantas vezes gritara para o dono do carro, implorando-lhe uma cana: "Me dá uma, Me dá uma!" Também quem mandou o peralta ser assim tão tolo? Tomando banho no riacho escuro, onde sua mãezinha lavava roupa e limpava panelas, dera um mergulho bonito e se esquecera de voltar. Mas, amanhã, a Rua Formosa ficará triste, muito triste, outra vez. O seu Joaquim voltará para casa cavalgando a "Baiana". Quando, porém, passar um carro de bois, abarrotado de canas, a garotada não pulará mais para a rua. Ficará em casa, caladinha, em homenagem ao companheiro desaparecido. E os sapos continuarão a coaxar, lá nos brejos longínquos, quase imperceptivelmente.


Nota do jornal O Norte Fluminense: Romeu Couto ocupou a Cadeira nº 7, patronímica de Antônio de Souza Dutra 

ETERNIDADE

 Para Romeu Couto 


Jacy Pacheco

 


Que a morte seja o fim, ninguém me persuade.

Que a vida continua além, eu acredito.

Mas como dói pensar nessa continuidade

do solitário ser, espectral e aflito!


Como sobreviver, se na imortalidade

não ouvirmos, sequer, o som do próprio grito?

Terrível deve ser vagar na imensidade

do deserto sem fim do éter infinito!


Senhor, dai-me um fanal! Se vivo num tumulto

de vozes e emoções, a morte faz-me estulto,

impondo solidão e trevas e ansiedade!


Ó Pai, que andais no céu, apascentando estrelas!

No abismo sideral deixai-me sempre vê-las!

Integrai-me na luz da vossa eternidade! 


                                      ***


Em cada amigo que morre,

morre um pouco do meu ser.

E assim a vida transcorre:

ver morrer... até morrer.



Nota do jornal O Norte Fluminense: Jacy Pacheco ocupou a Cadeira nº 18 da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica de Joaquim Padilha Vaz (Pádua Filho)

Recordando o meu tempo de autoridade

 

Osório Carneiro



 

Como se recordam os leitores, a deposição do então presidente Washington Luiz verificou-se a 24 de Outubro de 1930, data em que uma junta Militar assumiu as rédeas do  país. As nossas forças armadas e todas as policias militares dos vários Estados, no entanto, conjuntamente com elementos civis, se mantiveram vigilantes e de armas na mão, exigindo que fosse empossado no governo o Sr. Getúlio Vargas, que era em verdade o chefe supremo da Revolução e que se achava atuando no Rio Grande do Sul, à frente de um grande contingente Militar. 
Alguns dias depois, finalmente, a junta militar lhe transferia, entre aclamações gerais, a direção do Governo. A situação do País no entanto, ainda demorou algum tempo a normalizar-se, tendo-se em vista que só depois de empossado começou o sr. Getúlio Vargas a nomear os seus auxiliares de administração, bem como os interventores nos Estados, cabendo a estes, por sua vez, nomear os prefeitos de cada município. Foi o Sr. Plínio Casado, se não nos enganamos, o primeiro interventor da Velha Província.
Apesar de terminada a luta armada há mais de três meses, Bom Jesus, no entanto, continuava a sofrer as suas horríveis consequências por falta de trabalho, atravessando assim, como já dissemos, o período mais agudo de sua história.
E tanto isso é verdade que na edição da primitiva "A Voz do Povo" de 3 de janeiro de 1931, fizemos ao nosso povo, em comissão, o seguinte apelo:
"A miséria aí está, bastante e ameaçadora, batendo às portas dos desgraçados!"
Pelos bairros distantes, em palhoças humildes, há muita gente passando fome.
Domingo passado, quando a banda tocava no jardim, enchendo o ambiente de sons melodiosos, fomos percorrer o antro da miséria. E vimos coisas de comover o mais endurecido coração.
Inúmeras famílias pobres, desprotegidas da sorte, estavam na mais extrema penúria! Crianças trôpegas e doentes, de olhos baços, não encontraram, por parte dos pais, a necessária alimentação. E os pobres pais, desorientados, sem emprego, sem crédito, sem dinheiro e sem nada que represente valor, não encontraram um meio honesto com que pudessem saciar a fome de seus filhos. Não pintamos um quadro. Limitamo-nos a narrar a coisa como ela se apresenta, sem o menor exagero.
Nesse percurso que fizemos pelas choupanas miseráveis, a primeira pessoa com quem deparamos, numa casinha desconfortável, foi com uma senhora de 45 anos, de nome Maria da Conceição. Essa pobre mulher, que era mãe de uma filhinha de colo, não conseguiu ainda, arranjar um emprego. Andou por si, batendo em várias portas, à procura de uma colação. Tudo porém infrutiferamente.
Lá mais adiante, na Avenida Chico Hespanhol, em companhia de uma filha solteira, ambas de luto, a viúva Maria Batista do Carmo estava desprovida completamente de recursos. Quando lá aparecemos, às 4 horas da tarde, a pobre mulher ainda não havia almoçado. No momento em que nos retirávamos, lá chegava uma pretinha trazendo-lhe para a refeição do dia duas raízes de mandioca. Passamos também pelo rancho de José Nicolau, casado, pai de cinco filhos menores. O homem não encontra trabalho em parte alguma. Ao ver-nos, pediu-nos por caridade que conseguíssemos um trabalho qualquer, ainda que por preço baixo, ou mesmo a troco de mantimentos para alimentar os seus filhinhos. Fazia a pena ouvir a súplica desse homem. Nas mesmas condições de José Nicolau, encontramos muitos outros chefes de famílias, na mais extrema penúria.
E é nesse momento amargo, de dificuldade, que apelamos para os sentimentos religiosos do nosso povo.
Apelamos para as mães de família, para os nossos médicos, para os farmacêuticos, o comércio em geral, os lavradores, enfim, queremos de cada filho de Deus uma ajuda, um óbolo qualquer, para matar a fome de tanta gente necessitada! Que venham todos em socorro desses infelizes, que querem trabalhar e não encontram serviço. Que lhes consigam pelo menos, uma colocação,por mais modesta que seja!
Nós nos encarregaremos de procurar o dinheiro ou os gêneros fornecidos, publicando em "A Voz do Povo", oportunamente, os nomes de todas as pessoas generosas que atenderem ao nosso apelo.
O sr. José de Oliveira Borges já pôs à nossa disposição, para os pobres,  mercadorias no valor de 70$000. Igual gesto de humanidade tiveram os srs. Boanerges Silveira, cap. Malvino de Souza Rangel e Manoel Furtado Lopes, oferecendo de livre e espontânea vontade, o primeiro dois sacos de feijão, o segundo 30 kg do mesmo artigo e o terceiro um saco de fubá. Esperamos, de outros, a mesma colaboração. Bom Jesus, 31 de dezembro de 1931. A COMISSÃO. Osório Carneiro, José Tarouquela de Almeida e Satyro Nogueira ".
E o apelo foi atendido?
Ora se foi. Venham ver em nossos arquivos, a longa lista de oferecimentos, que seria longo enumerar. Eram sacos e mais sacos de gêneros alimentícios, havendo também ofertas menores de acordo com a possibilidade de cada um. Dentre tantos, queremos citar apenas os nomes dos seguintes: Altivo Casemiro de Campos, que ofereceu uma caixa de bacalhau e 5 latas de banha de dois quilos; Sebastião Rodrigues do Carmo, 1 novilho de 7 arrobas e 1 saco de fubá, e Francisco Hooper de Oliveira um novilho também de 7 arrobas, mais ou menos.
Não foi em vão, pois, o nosso apelo. Inúmeras  almas generosas vieram ao nosso encontro, trazendo-nos os seus oferecimentos espontâneos, com o que, mercê de Deus, conseguimos, senão resolver, pelo menos minorar a situação de muitas famílias paupérrimas que estavam, por assim dizer, a morrer na miséria. Muitos anos, na verdade, já se passaram. A índole do nosso povo, porém, em nada se alterou.
O bonjesuense de ontem, bom e caritativo, continua sendo o mesmo bonjesuense de hoje, sempre de alma aberta para a prática dos mais nobres sentimentos de humanidade. É, por isto mesmo, um grande povo, de que a cidade muito se orgulha, pelo seu espírito de bairrismo e relevantes serviços prestados à sua terra natal.


(Quarto artigo da série  "Recordando o meu tempo de autoridade", de um total de catorze, escritos  especialmente para o jornal O Norte Fluminense, em 1969 e 1970)



Nota do jornal O Norte Fluminense: Osório Carneiro é o patrono da Cadeira nº 29 da Academia Bonjesuense de Letras. Em 1928, fundou o jornal BOM JESUS JORNAL, juntamente com José Tarouquella de Almeida. Após curta duração, fundou A VOZ DO POVO em 6 de setembro de 1930, ano em que foi indicado para ser o Delegado da Revolução comandada por Getúlio Vargas, na região. Posteriormente, foi designado Subdelegado em Bom Jesus do Itabapoana, então 10º. distrito de Itaperuna, cargo que exerceu até 1933.