Por Gino Martins Borges Bastos
Bonjesuense é a forma tradicional de se referir aos nascidos em Bom Jesus do Itabapoana |
Uma questão que não tem sido enfrentada nos meios literários se refere à forma escrita do gentílico de Bom Jesus do Itabapoana.
Se compulsarmos todos os periódicos de nosso município, desde nosso primeiro jornal, o "Itabapoana", editado a partir de 1906, o vocábulo "bonjesuense" tem sido utilizado sem qualquer questionamento.
Os nossos grandes escritores utilizavam "bonjesuense" de forma natural: Padre Mello, Octacilio de Aquino, Romeu Couto, Napoleão Lyrio Teixeira, Francisco Camargo Teixeira, Antônio Dutra (cf. "ilustre bonjesuense Octacilio", p.90, in "Páginas Memoráveis da História de Bom Jesus do Itabapoana", 2003).
A nossa Lira, conhecida como "Furiosa", fundada em 09 de julho de 1939, é nominada Lira Operária Bonjesuense. A Academia Bonjesuense de Letras foi fundada no dia 4 de dezembro de 1976.
Portanto, há 118 anos, nossa comunidade sempre tem utilizado a forma "bonjesuense" para expressar o seu gentílico.
Interessante observar que o grande Napoleão Lyrio Teixeira, em seu livro "Plantando para o amanhã", se refere à "querência bonjesuana", na crônica intitulado "O Circo".
Ao pesquisarmos em alguns dicionários, como o "Novo Aurélio" (2004), constatamos que o mesmo faz referência ao verbete "bom-jesuense" como a forma correta para indicar os que nascem em Bom Jesus do Itabapoana e em mais sete municipios brasileiros que possuem a expressão "Bom Jesus" em seu nome.
Deve-se salientar, contudo, que o gentílico de Bom Jesus da Lapa é "lapense", sem nenhuma referência a "bom-jesuense". O "Novo Aurélio" indica, ainda, que "bom-jesuíno" é o gentílico de Bom Jesus do Tocantins (TO) e "bonjesuense" é o gentílico de Bom Jesus do Galho (MG). Trata-se de uma evidência de que cada município tem sua tradição própria.
Analisando o dicionário "Houaiss" (2004), constatamos 14 verbetes relacionados a "bom-jesuense" e 2 concernentes a "bonjesuense", um deles com menção expressa ao município de Bom Jesus da Serra (BA). Curioso que, para esse dicionário, o gentílico de Bom Jesus do Norte seria também, simplesmente, "bom-jesuense", ou "nortense".
Deflui, do que foi exposto, que o vocábulo "bom-jesuense" não constitui regra impositiva para o gentílico de todos os municípios que ostentam a expressão "Bom Jesus" em seu nome.
Em vão alguém buscará em dicionários, contudo, pelo verbete "bonjesuista", idealizado por um dos grandes intelectuais bonjesuenses, Octacílio de Aquino, que assinava seus primorosos textos como "Octa".
O neologismo surge como uma necessidade de criação de uma palavra para expressar algo novo, e Octa observou a realidade de alguém que, não nascido em nosso município, vivia como se assim o fosse. Octa constatou, portanto, que há uma característica própria do ser bonjesuense.
Como já assinalou o vetusto Lelo Universal, "a língua evolui sem cessar, nascem neologismos, envelhecem palavras. A história, a geografia, a literatura, o cinema, a rádio, a tv criam cada dia novos nomes que lançam outros no esquecimento".
Delton de Mattos partiu desse conceito e passou a usar o neologismo "bonjesuismo". Por outro lado, no dia 9 de agosto de 2013, no Espaço Cultural Luciano Bastos, por ocasião de um evento cultural intitulado "Circuito Cultural Arte Entre Povos", indaguei a Tom Lourenço, um dos participantes relacionados ao tema das novas mídias: " - Como você se sente em Bom Jesus?" A resposta foi imediata: "- Estou me bonjesuizando!".
Tudo indica que os vocábulos "bonjesuista", "bonjesuismo" e "bonjesuizar-se", se referem exclusivamente a Bom Jesus do Itabapoana. Em relação a Bom Jesus do Norte, há uma vertente local que sugere o gentílico norte-bonjesuense, o que está em consonância com a nominação "norte-americano", relativa à America do Norte.
O vocábulo "bonjesuense" faz parte de nossa tradição e da nossa cultura. O Dicionário Houaiss não é autoridade para alterar nosso sistema simbólico e querer nos impor a forma "bom-jesuense". Evidentemente, que cada um tem a liberdade de utilizar a forma de gentílico que desejar. Trata-se aqui, contudo, de afirmar nossos valores diante do mundo, e não sucumbir às imposições forâneas.
Leon Tolstói disse, certa vez: "Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia". Nós, em Bom Jesus do Itabapoana, pintamos a nossa!
Lira Operária Bonjesuense |
Um viva aos bonjesuenses!!😃👏👏👏
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