Na pequena vila de Rosal, em Bom Jesus do Itabapoana, o ano de 1922 amanheceu com um sonho embalado pelo som que ainda não existia. Era 14 de julho quando seis homens, com coragem e paixão nos olhos, deram o primeiro sopro de vida à Lira 14 de Julho. Luís Tito de Almeida, Custódio Soares de Oliveira, Elpídio Sá Viana, Durval Tito de Almeida, Sebastião Magalhães e Elias Borges não tinham verbas, nem promessas políticas: tinham fé. A música, para eles, era mais que arte. Era uma bandeira.
Sem sede, sem patrocínio, ensaiavam em salas apertadas e varandas iluminadas por lamparinas. O som da flauta, o timbre do trombone e o compasso do trompete ecoavam noite adentro, entre os cafezais e os sussurros das montanhas.
O povo de Rosal, acostumado aos silêncios da roça, viu a vida mudar. As festas ganharam cor, os casamentos novas melodias, e as crianças passaram a marchar com olhos brilhando. A Lira tornava-se o coração musical do distrito.
Na década de 1940, o sonho cresceu. Uma sede foi construída na praça Rio Branco — hoje chamada Alzemiro Teixeira. Ali, entre partituras e bancos de madeira, jovens aprenderam os primeiros acordes, e veteranos ensinaram mais que notas: ensinaram valores. O som da Lira já não era só entretenimento; era resistência, identidade, pertencimento.
Eusechias Tito de Almeida, o maestro Tuca, filho de Durval, ergueu a batuta com a mesma reverência que se ergue uma bandeira. Sob sua regência, a Lira atravessou décadas de transformações sociais, sempre fiel ao seu espírito popular. Até sua morte, em 1992, Tuca foi o maestro da memória — o fio invisível entre as gerações.
A cada desfile, a cada dobra da rua, a banda não passava apenas: acontecia. Era como se o tempo parasse, e o presente encontrasse o passado pela primeira vez. Ao lado de nomes como Cyniro Junger Vidaurre, Anselmo Nunes, Elpídio Fiori, Notinha, Nelson Gonçalves e tantos outros, a Lira tornou-se um espelho da alma rosalense.
Hoje, 14 de julho, o distrito reviveu a emoção de sua fundação. Três jovens músicos fizeram sua estreia, entre olhares de orgulho e lágrimas discretas. A Lira 14 de Julho foi anfitriã de outras irmãs musicais: Lira Santa Cecília de Varre-Sai, Sociedade Musical 7 de Setembro de Miracema, Lira Franciscana de São Francisco do Glória e Lira Santa Cecília de Guaçuí. O som das bandas reverberou pela praça como um abraço entre cidades irmãs.
À noite, o clarão dos refletores iluminou o show de Dudu Oliveira, encerrando a festa com brilho e emoção. O povo lotou a tenda como quem assiste não a um espetáculo, mas a um reencontro com suas próprias raízes.
Cely Tinoco, hoje maestro emérito, é testemunha da evolução. Ao seu lado está o maestro Aldemir de Oliveira Morais e uma diretoria comprometida, que mantém viva a chama.
Cada nome da nova gestão carrega consigo o peso e o orgulho da responsabilidade. É ela: Presidente, Geraldo Roseira Soares, Vice-Presidente, Anselmo Júnior Borges, Primeira Secretária, Sandra Regina Rodrigues Dowsley, Segunda Secretária, Maria Auxiliadora Glória de Almeida, Primeiro Tesoureiro, André Almeida dos Santos, Segundo Tesoureiro, José Soares Calheiro Filho, Orador, João Caetano Pimentel Vargas, Diretor de Patrimônio, Fabiana de Oliveira Morais Vargas, Diretor Especial para Artes Assistência Social, Carmélia de Fátima Ourique dos Santos, Diretor de Cultura e História, Luis Otávio Glória de Almeida Soares. Conselho Fiscal Efetivo: Guido Rezende Nunes, Vitor Costa Furtado e Durval André de Almeida. Conselho Fiscal Suplente: Sandra Rezende Nunes, Nilton Pani Crisóstomo e Lídia Cristina Gonçalves de Almeida.
No coração do memorialista Gino Martins Borges Bastos, brotou a proposta: oficializar o 14 de julho como data simbólica no calendário municipal. E quem há de discordar, se há cento e três anos a música desenha a identidade de Rosal?
O tempo passou, os fundadores partiram, mas seus sons ecoam em cada dobra de partitura, em cada sorriso de criança que segura um instrumento pela primeira vez. A Escola de Música da Lira 14 de Julho é, hoje, o ventre onde o futuro aprende a tocar o passado.
E quando a banda passa, com seus veteranos de cabelos brancos e seus jovens de sonhos acesos, não é apenas uma apresentação: é um desfile da história, um lembrete de que, enquanto houver música, haverá memória, resistência e amor.
![]() |
A "banda de música" contagia, é mágico!!!!
ResponderExcluir