quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O Galpão que Reinventa a Cidade

 



No coração do Rio de Janeiro, ergue-se desde 1º de julho de 2002 um espaço que respira transformação: o Galpão das Artes Urbanas Hélio Guimarães Pellegrino. Não é apenas um endereço, é um convite, um lugar onde o que chamamos de lixo encontra novo destino e se reinventa em cor, forma e significado.

Na Galeria de Artes, a exposição não é apenas mostra: é manifesto. Cada obra que ali repousa nasceu do que antes se chamava lixo, mas que, sob o olhar dos artistas, tornou-se matéria de futuro.

É um grupo que não apenas sonha: age. São mãos que trabalham barro, metal, madeira, papel, restos e sobras, devolvendo-lhes não só beleza, mas também dignidade. O que parecia fim, vira começo. O que seria descarte, transforma-se em sustento.

Nessas paredes, o lixo encontra outro destino: deixa de ser silêncio esquecido para tornar-se cor, forma e renda. Arte que alimenta o olhar e também a mesa. Arte que revela que transformação não é metáfora, é prática.

E assim, a exposição se desenha como promessa de uma nova sociedade. Uma sociedade que vê naquilo que sobra uma fonte inesgotável de criação. Onde a cultura não é ornamento, mas ferramenta de mudança. Ali, a utopia ganha corpo. E os sonhos, quando divididos, já são realidade em movimento.

Resíduos que seriam esquecidos pela pressa da cidade ganham vida outra. Tornam-se esculturas, objetos, símbolos de uma consciência que cresce. O Galpão não é só espaço expositivo: é gesto de cidadania, intervenção urbana e prova de que arte e sustentabilidade podem caminhar de mãos dadas.

O patrono que dá nome ao espaço, Hélio Guimarães Pellegrino, foi arquiteto, artista plástico e designer visionário. Soube enxergar na reciclagem um futuro possível quando muitos ainda viam apenas descarte. Seu legado permanece vivo em cada oficina, em cada obra que atravessa o Galpão.

Tudo ali é gratuito, cursos, projetos, exposições. Professores e artistas compartilham técnicas, mas também sementes de consciência: cada aluno descobre que reaproveitar é também reinventar a si mesmo. A renda que nasce do reaproveitamento soma-se ao salário, mas talvez mais valioso seja o olhar novo sobre o lixo, agora reconhecido como matéria-prima de esperança.

Entre os expositores atuais, destaca-se o pernambucano Daniel de Lima, que iniciou seu ofício em Tracunhaém, cidade moldada pela tradição do barro. Sua arte transita com leveza entre o sagrado e o contemporâneo, e viaja: já expôs em várias cidades do Brasil e também em Portugal.

No Galpão, Daniel não apenas expõe, ele compartilha técnica e paixão. Suas oficinas, muitas vezes voltadas a lavradores e trabalhadores urbanos, revelam um detalhe maior: a arte como ponte, capaz de unir mundos distintos pela criação e pelo sonho.

E assim, o Galpão das Artes Urbanas permanece, há mais de duas décadas, como um lugar onde a cidade aprende que até o lixo pode florescer. Porque, no fim, arte é isso: transformar o que parecia fim em começo.


































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