quarta-feira, 11 de setembro de 2024

"Fuligem cobre o ceu de anil", poesia de Isabel Menezes

 

Isabel Menezes é Historiadora e Escritora em Varre-Sai/RJ



Já cantou Beto Guedes:

“Quando entrar setembro

E a boa nova andar nos campos

Quero ver brotar o perdão

Onde a gente plantou juntos outra vez.”


Setembro da primavera

Setembro da esperança

Mês da pátria brasileira

De céu risonho e límpido.

De bosques com mais vida

E vida cheia de amores.


Onde está teu céu azul?

As noites estreladas,

A vida verde dos bosques?

A primavera com seu carro de flores?

Onde se escondeu? 

Em que estação parou o trem da alegria?

Será que não plantamos o perdão?

Ou não brotou por falta de cultivo?


Fuligem cobre o céu de anil

E as borboletas fogem espantadas 

Procurando quintais floridos onde pousar.

Os quintais estão empedrados

Os corações sapecados de desesperança,

Não se abrem mais ao diálogo.

A Pátria amada geme em berço escuro

E os filhos desse solo encabulados, nada podem fazer.

Não há cerca, não há muro

O fogaréu arde sapecando as matas

Os animais, cinzas de desesperança

As árvores, esqueletos de sombras frondosas.


Os homens pedem: 

Chorem nuvens celestiais!

Chorem pelo calor das queimadas,

Pelo vapor que te entorpecem.

Chorem ao menos de tristeza

Pela terra sapecada com as queimadas

Pela visão turva e degenerada

Que agora tens aí do alto céu.

Chorem nuvens celestiais!

E apaguem com seus rios de lágrimas

O fogo que arde o Brasil e o mundo inteiro!


Mas não cai uma lágrima!

O céu enrustido não consegue chorar.

Está aborrecido, amolado, aperreado

E abandona entediado

 A Terra, encoberta pelo véu negro do efeito estufa.

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