Barra de São João, em Casimiro de Abreu, amanheceu com um brilho diferente nos dias em que a Flica se instalou diante do rio. Entre 6 e 8 de novembro, a vila se deixou atravessar pela poesia, como se cada esquina respirasse o modernismo silencioso de José Pancetti, homenageado da vez.
As horas tinham ritmo próprio: 9h, 10h30, 14h, 15h30. Oficinas, palestras, contações de histórias, vozes infantis abrindo espaço para o inesperado. Tudo gratuito, tudo oferecido com a generosidade de quem acredita que cultura é alimento.
Na abertura, quando a noite caiu às 18h, os livros se acenderam como lamparinas. A Acale comemorou 25 anos, e depois, às 20h30, o “Mágico de Oz” coloriu o palco, deixando tintas de fantasia no ar. Era como se cada nota tocada pela Escola de Música Maestro Álvaro de Souza redesenhasse a barra em traços de aquarela.
Durante os dias seguintes, barcos seguiram pelo Rio São João carregando visitantes, mas também memórias. As paisagens que inspiraram Pancetti desfilavam lentamente, como quadros flutuantes, permitindo que cada um buscasse seu próprio enquadramento poético.
A Fundação Cultural, na voz de Fátima Canejo, lembrava que tudo aquilo tinha propósito: firmar identidade, abraçar o território, ouvir de novo o que o solo tem a dizer. E a feira parecia responder com gentileza.
Da Fazenda Visconde, veio uma feira de artesanato que brilhava como um punhado de sementes lançadas ao sol. Peças moldadas por mãos que aprenderam com o Mestre Artesão de Lima expunham não apenas barro, mas histórias. A exposição “Entre Barros e História”, organizada por Vera do Sítio das Artes, parecia conversar com o rio; suas águas saudavam artesãos, Vera, o Mestre Daniel de Lima, a Dama do Barro que veio de Rio das Ostras, e todos os que traziam nas mãos a paciência da criação.
Havia ali uma união que não se aprende em manual algum. Uma harmonia silenciosa que só a arte produz quando encontra terreno fértil. Tudo na Flica dizia, sem dizer: a arte é ponte, é diálogo, é partilha.
E então o simbolismo se completava. Se os agricultores alimentam o corpo, os artistas alimentam aquilo que não tem nome, mas insiste em nos mover. No fim, a feira deixou no ar a sensação de que sonhos e lutas são sementes, basta que alguém cuide.





















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