Sueli Teixeira Bessa
Tenho sonhado, de forma recorrente, com as dependências
do meu querido "Colégio Rio Branco", agora Centro Cultural Luciano
Bastos. Hoje parei para refletir sobre isto.
Importante esclarecer que, para mim e muitos
outros da geração, as memórias relativas ao Colégio Rio Branco não podem, de
forma alguma, ser dissociadas de Dr. Luciano.
E o que foi o Colégio Rio Branco para mim? A
base de tudo.
Foi ali que ingressei na quarta série, numa
turma sob a condução de uma real educadora, Dra. Clarice Baptista, que envidava
todos os seus esforços não apenas para transmitir conhecimentos da Língua
Portuguesa à Geografia do Brasil, mas também que buscava demonstrar a
necessidade de disciplina e respeito não apenas para com os Mestres, mas entre
os colegas, enfim com o próximo. Muitos dos colegas ainda estão nas minhas
memórias, dentre os quais cito a companheira, inclusive, de retorno para casa,
Ivete Dutra Leal.
Também no Rio Branco fiz o "exame de
admissão", momento em que os alunos passavam pelo crivo de uma "Banca
Examinadora", inclusive com prova oral, para que, galgando a aprovação,
pudessem ingressar no então curso ginasial (eu nem poderia supor que muito mais
tarde passaria por este tipo de exame para ter acesso a carreiras jurídicas.
Coincidência ou não, recordo-me da média do exame de admissão, que foi 8,8, nota
idêntica àquela obtida na prova oral para ingresso no Ministério Público da
União).
Enfim, a referida instituição foi palco de
minha vida escolar (da 4ª série até o Curso de Formação de Professores e,
posteriormente, Estudos Adicionais).
E foi neste palco que absorvi os conhecimentos
de grandes mestres, dentre os quais cito, apenas a título de exemplo,
queridos e saudosos Francisco Gomes Sobrinho e Stella Mascarenhas, além de não
muito menos queridos Julia Moreira Provalero, Teresa Garcia (confiro destaque a
esta grande mulher que sempre esteve à frente de seu tempo e serviu de
paradigma para quebra de PRECONCEITOS direcionados às mulheres da sociedade
bonjesuense), Nisia Campos Teixeira, Rosangela Escodino, Maria Áurea Megre
Hobaica, Marly Silveira, Claudia Bastos, Rosane Mascarenhas, Lúcia Cyrillo,
Margarida Sá Viana.
Ali nas dependências do Colégio Rio Branco também
vivenciei experiências proporcionadas pelo Grêmio Estudantil, com campanhas
acirradas para eleição relacionada ao comando do Diretório, tarefas envolvendo
a participação de alunos na elaboração do Jornal “A VOZ DO ESTUDANTE”. Além
disso, momentos inesquecíveis de incentivo ao patriotismo, com aprendizado de
Hinos, do Nacional ao da Independência, passando pelo da Bandeira, além de estudos
ligados à Constituição por meio da disciplina OSPB (atualmente estes últimos
atos escolares são tidos, por alguns, como “politicamente incorretos”), ao
argumento de que buscavam apenas o “enquadramento” dos alunos para manutenção
de uma situação político-social posta e uma colocação de “viseira” nos
educandos (educação meramente reprodutora e não com visão crítico-social dos
conteúdos).
Penso que posso falar pelo Rio Branco (período
em que frequentei aqueles bancos escolares): o projeto pedagógico não era o
anteriormente mencionado e tampouco era intenção dos professores que ali
atuavam. Estavam sempre imbuídos do intuito de fornecer instrumentos aos alunos
para que, por meio da ferramenta denominada conhecimento acumulado pela
humanidade, pudessem ser agentes de mudança, mas sem perder de vista o amor à
PÁTRIA (sem vedar os olhos com relação aos graves e históricos problemas que
temos, como por exemplo, os que estão estampados na mídia atualmente). Enfim, tivemos
excelentes lições no sentido de que cada CIDADÃO tem a sua parcela de
responsabilidade em tudo que acontece no país, no mínimo por ter contribuído
para que muitos, no mínimo “desavisados”, chegassem aos Poderes constituídos.
Oportuno ressaltar, ainda, que de estudante
passei a funcionária do Rio Branco. Ingressei o mundo do trabalho aos 15 anos
(à época não havia vedação ao trabalho em tal idade) e o fiz pela “porta da
frente”, ou seja, na área da Educação, um trabalho que realmente dignificava e,
acima de tudo, de maneira FORMAL (tanto é assim que tive de aguardar idade para
ter direito à aposentadoria, embora com quarenta anos de contribuição para a
Previdência).
Abro aqui um parênteses para registrar que
hoje atuo de forma ferrenha para coibir trabalho infantil e irregular de
adolescentes e defendo sim, como dispõe a Constituição, o direito “ao não
trabalho” até 16 anos, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 (pois o
que se vê atualmente é a EXPLORAÇÃO DO TRABALHO DA CRIANÇA/ADOLESCENTE
inclusive em atividades ilícitas, como é o caso do tráfico de drogas,
exploração sexual ou, ainda, com exposição a riscos em ruas de grandes cidades,
manuseio de maquinários perigosos, muitas vezes acarretando mutilação (trabalho
que possa acarretar riscos à integridade somente é permitido a partir dos 18
anos).
Interessante, inclusive, ressaltar que é fala
comum na sociedade “melhor trabalhar que ficar nas ruas, que “roubar” e etc.
Contudo, há uma hipocrisia em tal fala, pois ela é direcionada apenas para
pobres. Na verdade, o melhor é conferir oportunidades para que TODAS as
crianças e adolescentes tenham acesso à EDUCAÇÃO DE QUALIDADE, a fim de que, no
momento certo, consigam um TRABALHO DIGNO, como foi o meu caso, no Colégio Rio
Branco.
E o que tudo isto tem a ver com a minha
história? Como tomei conhecimento da existência do mecanismo mais democrático (quando
realizado de forma séria como deve ser), denominado CONCURSO PÚBLICO (forma de investidura
constitucional aos cargos/empregos públicos, salvo excepcionais exceções
permitidas pela própria Carta Magna)? E a instituição responsável pela formação
básica, para que eu tivesse condições de disputar uma vaga de carreiras
jurídicas, com outros candidatos de famílias abastadas? E a contribuição para
que eu crescesse profissionalmente (oportunidade), ainda no Rio Branco, com
custeio de curso de qualificação profissional (Secretário de Escola), já que eu
sequer teria condições para tanto? E os incentivos recebidos no decorrer da
vida escolar (cartinhas aos pais enaltecendo os resultados obtidos),
premiação/livro como uma forma de estimular destaque em disciplina (guardo na
lembrança a Gramatica de Língua Inglesa repassada por minha professora Claudia
Bastos como incentivo às boas notas na disciplina), as vibrações positivas e o orgulho
manifestado por Dr. Luciano por cada conquista que os alunos tivessem extramuros,
os cuidadosos registros fotográficos dos acontecimentos e das turmas/alunos que
fizeram a história do Colégio Rio Branco e que tiveram, assim como eu, a
própria história afetada, de forma inquestionável, por tal instituição).
Enfim, estudei e trabalhei por longos anos no
Colégio Rio Branco e ali, ainda, pude presenciar que o seu então Diretor, Dr.
Luciano Augusto Bastos, foi um homem com uma “visão pública”, na essência da
palavra, sem que ocupasse (no tempo em que laborei naquela instituição)
quaisquer cargos públicos.
Da mesma forma, Dr. Luciano foi alguém com um olhar
preciso sobre a importância da EDUCAÇÃO na vida do ser humano. Todos os pais
que chegavam ao Colégio, e que não tinham como custear a educação de seus
filhos, eram atendidos (inclusive os meus, pois éramos vários irmãos em idade
escolar). No fim, tudo ficava pelo valor da bolsa fornecida pelo MEC (E QUE NÃO
ERA INTEGRAL). Foram centenas de alunos beneficiados. NOS MEUS OITO ANOS DE
TRABALHO NO COLÉGIO RIO BRANCO NUNCA PRESENCIEI RECUSA DE ALUNOS, MESMO ÀQUELES
QUE NÃO TINHAM A MÍNIMA CONDIÇÃO DE ARCAR COM OS CUSTOS DE UMA ESCOLAR
PARTICULAR (sou exemplo vivo dos beneficiados).
De outro giro, como já relatei as experiências
como estudante e como profissional, não posso deixar de mencionar os ganhos de
relações pessoais que ficarão para sempre (mesmo que haja atualmente uma
distância física). Havia uma equipe coesa e que se ajudava. O núcleo desta
equipe era composto por mim, Benedito Abreu dos Santos (ocupei a vaga de
Secretário do Colégio quando saiu), Virgínia Lane Borges, Rosete Barroso,
Minervina Teixeira de Oliveira, Norma Suely Carvalho, Maria Letícia Gomes dos
Santos. Havia seriedade, companheirismo, alegria/diversão, muito trabalho e,
acima de tudo, comprometimento profissional para que tudo corresse bem. Outras
pessoas igualmente importantes, que não trabalhavam no administrativo, mas que
sempre foram bem próximas, como por exemplo, Norma Lúcia Dias, Maria José
Martins. Muitos outros vieram, mas cito o núcleo original.
Além de tudo isto, foi no Colégio Rio Branco
que conheci o meu “primeiro amor” e, logo depois, aquele que seria o amor e
companheiro de toda uma vida.
Após todas estas reflexões, às quais
compartilho, acho que não tenho qualquer dúvida em afirmar que é razoável e
compreensível ter sonhos recorrentes com o Colégio Rio Branco, pois ele, de
fato, fez e sempre fará parte da minha história, em todos os campos.
Penso que conferir publicidade a estas reflexões
constitui uma forma singela de expressar minha eterna gratidão ao querido
Colégio Rio Branco, ao saudoso e digno Luciano Augusto Bastos e a todos aqueles
que fizeram parte da minha história, notadamente profissional, com cada degrau
conquistado por meio impessoal e por meritocracia (concurso público), tudo a partir
da visão dos meios pais, esforço pessoal, ajuda divina e a formação básica
auferida na multicitada instituição de ensino.
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