Maria Cristina Borges é uma das memorialistas de destaque de Bom Jesus do Itabapoana |
O "boom" em relação ao número de historiadores e memorialistas de Bom Jesus do Itabapoana é algo que merece um texto à parte. Não deixa de ser um "luxo" para o nosso município ter um bom número de pessoas devotadas ao estudo de nossa história, pois isso não é comum em outras plagas.
Maria Cristina Borges é uma integrante desse seleto grupo que é dedicado a questões históricas de nossa região.
Ela localizou dois Registros de Termo de 1856, retirados dos Registros Paroquiais de Terras, um de 6 de agosto (Nº 232) e outro de 16 de setembro (Nº 1241) que aludem a Antônio José da Silva Nenem, a primeira pessoa que tocou o solo bonjesuense, em 1842. Segundo Cristina, foi a memorialista Cláudia Borges Bastos do Carmo que chamou sua atenção para o site onde localizou os documentos.
Termo Nº 232 de 6 de agosto de 1856 |
No Termo Nº 232, de 6 de agosto de 1856, consta que "o abaixo-assinado declara que é senhor e possuidor de um sítio denominado Santa Luzia, sito no lugar de Itabapoana cachoeira acima...de Santo Antônio do Guarulhos, do município da cidade de Campos aquele testado no rio do mesmo nome Itabapoana e compreende 2500 braçadas tratada pouco...divisando com Manoel Jacintho Leite... guaritá e uma cruz... com terras... Mendonça e um Capoeirão... confrontando-se com Antônio José da Silva Nenem, Joaquim de Mendonça e fundos com Muriahé. O dito sítio assim foi havido por compra que fiz a Antônio José da Silva Nenem e sua mulher. Cidade de Campos, 6 de agosto de 1856. Antônio Gomes Guerra".
Termo 1241, de 16 de setembro de 1856 |
O Registro de nº 1241, de 16 de setembro de 1856, alude a Ângelo Thomas Amaral que "declara ser senhor e possuidor de uma sorte de terras à margem do rio Itabapoana, 2º distrito da Freguesia de Santo Antônio dos Guarulhos, que compreende cerca de um lugar na testada... de fundos, dividindo-se na testada com o mencionado rio Itabapoana, no fundo com a Serra, pelo lado do Noroeste com Francisco das Chagas de Oliveira França, ou de quem direito tiver, e pelo... com Antônio José da Silva Nenem. Estas terras são devolutas, o bastante as houve por compra a Manoel Jacintho Ferreira Leite. Campos, 16 de setembro de 1856, com procurador bastante do Senhor Ângelo Thomas do Amaral. Cônego Manoel de Brito Coutinho".
Terra devoluta, segundo o art. 13º da Lei Imperial nº 601/1850, é toda aquela que não se acha aplicada a qualquer uso público ou sob domínio particular.
Por outro lado, há de se distinguir propriedade de posse. A propriedade é comprovada através de documento, enquanto a posse é caracterizada como a disposição concreta do bem. Quem mora de aluguel em uma propriedade, por exemplo, tem a posse da mesma, mas não é seu proprietário.
Os registros de nº 232 e de nº 1241, além de outros da mesma época, foram pesquisados por Padre Antônio Francisco de Mello, que chegou em Bom Jesus no dia 18 de junho de 1899, e passou, desde então, a investigar sobre nossa história. Devemos a Delton de Mattos o extraordinário trabalho de recolher das páginas do jornal "A Voz do Povo", os textos do pároco açoriano, e transformá-los em livro. E devemos ao Dr. Sebastião Freire Rodrigues, conhecido por Patané, o árduo trabalho de conseguir os recursos para a publicação do livro com textos e poesias de Padre Mello.
Na referida obra, há o texto intitulado "Primórdios de Bom Jesus", onde o pároco açoriano assinalou: "Em abono dessa hipótese, uma referência na escritura que em 1856 José Carlos de Campos recebeu de Ângelo Thomaz do Amaral, pela compra que lhe fez da Fazenda da Fortaleza. Nela declara-se que 'Ângelo do Amaral receberá a dita Fazenda em 1848, de Manoel Jacintho Ferreira Leite, que provavelmente fora seu primeiro proprietário, e na escritura de transmissão entre esses dois, consta que ela se dividia pelo lado de baixo com a situação denominada Santa Luzia, de cuja posse se achava Antônio José da Silva Neném, e pelo lado de cima, com a situação Valão do Chagas pertencente a Francisco Chagas de Oliveira França'..."
Ficamos sabendo, outrossim, por Padre Mello, que Nenem mudou-se para Piúma, após o assassinato de seu filho Germano. Foi Maria Cristina quem localizou, no referido município, a "Praia Maria Nenem", na região onde o histórico personagem Antônio José da Silva Nenem passou a viver com sua família.
Graças à dedicação de Maria Cristina Borges, fatos históricos relevantes estão sendo descobertos, ao mesmo tempo que se abrem novos horizontes para outras investigações sobre nossa história.
PRAIA MARIA NENEM, em Piúma
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