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Nino Moreira Seródio, na Capela do Divino Espírito Santo, transferindo a Insígnia Honorífica que recebeu dos Açores à Igreja Matriz, onde estão os restos mortais de Padre Mello, em 2024 |
O médico Nino Moreira Seródio carrega, no peito, o mapa invisível de um arquipélago. Não é um mapa comum, mas um tecido de memórias, nomes, datas e vozes que atravessaram o Atlântico. Paixão antiga, herança de sangue: as raízes açorianas.
Por várias vezes, seus passos o levaram ao Arquipélago dos Açores, como quem segue um chamado antigo. Na primeira viagem, aportou na Ilha de São Miguel, onde o mar tem cor de eternidade. Ponta Delgada, como capital da ilha, guardava lembranças do célebre Padre Mello. Em Povoação, onde os primeiros povoadores chegaram no século XVIII e onde nasceram seus antepassados, Nino encontrou mais que paisagens, encontrou o fio que o ligava ao passado. Foi ali que, orgulhoso, obteve a certidão de casamento do tetravô arrancada das páginas amareladas da história.
Com a paciência dos que amam e o fervor típico dos açorianos, Nino desenhou a árvore genealógica da família, folha a folha, desde o século XVIII. E durante mais de dez anos, com recursos próprios, ergueu um sonho de pedra e memória, que futuramente, com o apoio de vários açordescentes, seria a sede da CAES, Casa dos Açores do Espírito Santo, inaugurada em 25 de julho de 2022, no distrito de José Carlos, em Apiacá.
Na noite de fundação, a emoção se somou à presença ilustre do Dr. José Andrade, Diretor Geral das Comunidades do Governo dos Açores. E o reconhecimento não tardou: no dia 20 de maio de 2024, na cidade de Horta, Nino recebeu a Insígnia Honorífica da Região Autônoma dos Açores, tornando-se o primeiro a conquistá-la.
Mas o gesto mais nobre viria logo depois. Em 13 de agosto do mesmo ano, Nino entregou a honraria à Igreja Matriz Senhor Bom Jesus, guardiã dos restos mortais de Padre Antônio Francisco de Mello, filho de camponês, nascido na Ilha de São Miguel, que desembarcou em Bom Jesus do Itabapoana em 18 de junho de 1899 e se tornou um gênio da civilização e da cultura.
Os Açores, nove ilhas, uma alma só, enviaram ao Vale do Itabapoana muitos imigrantes e seus descendentes. Entre eles, Padre Mello é o mais ilustre. E amanhã, 13 de agosto, data de seu falecimento e Dia Municipal do Imigrante Açoriano, mais um sonho de Nino se materializa: a inauguração do Monumento ao Imigrante Açoriano do Vale do Itabapoana, na Praça Governador Portela, durante a tradicional Festa de Agosto.
O Dr. José Andrade disse certa vez que “o passado tem futuro”. Em Bom Jesus do Itabapoana, ele tem presente também, vivo, pulsante, erguido em pedra, memória e mar.
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