segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Professores como Prece

                          Por Gino Martins Borges Bastos 

José Francisco Melo Laurindo, autor do texto da placa biográfica, e Cláudio Moreira Pillar, sobrinho do Expedicionário Paulo Moreira, 10 de agosto de 2024

Quando eu era criança, nos corredores do antigo Colégio Rio Branco, a História me chamava como um canto antigo. Não era apenas uma matéria: era um convite para atravessar oceanos de tempo, guiado por mestres que, com palavras, abriam portas para mundos remotos. Entre todos, um nome se destacava como mel na língua: professor de História Heliton Dias Pimentel.

Lembro-me de um questionário escolar perguntando o que eu queria ser quando crescesse. Sem hesitar, escrevi: “Quero ser como o professor Heliton Dias Pimentel.” E assim, sem saber, eu já me tornava herdeiro de uma paixão.

Outros nomes brilharam nesse mapa afetivo: as irmãs Dona Clarice Baptista e Dona Carmita, diretora do educandário, e meu próprio pai, Luciano Bastos. Mais tarde, já adulto, tornei-me eterno aluno de Dona Maria Apparecida Dutra, filha do historiador Antônio Dutra e neta de Pedro Gonçalves da Silva Junior, o primeiro prefeito de Bom Jesus, empossado num simbólico 25 de dezembro de 1890. Ainda hoje, em meus momentos de repouso, fecho os olhos e me vejo outra vez nos bancos escolares, ouvindo vozes que ecoam como preces, levando-me à Grécia Antiga, ao Brasil de ontem e à história viva de minha terra.

Já ouvi quem diga que não existem mais grandes professores como antigamente.

Mas aprendi, ao longo da vida, a desconfiar das frases prontas. Observei de perto os mestres que ainda moldam as salas de aula de nosso município. E vi, com clareza, que a sentença ouvida não se sustenta. Ainda há quem lecione com a devoção de uma oração.

Na História, um exemplo resplandece: José Francisco Melo Laurindo, professor no Colégio Estadual Euclides Feliciano Tardin e no Colégio Estadual Governador Roberto Silveira. Não é apenas mestre: é pesquisador de primeira linha, apaixonado por seu ofício e por seus alunos. Seu interesse especial pela 2ª Guerra Mundial tem raízes familiares: seu tio, Romil Laurindo Neto, foi pracinha na Itália.

Movido por essa chama, José Francisco mergulhou na vida de outros pracinhas bonjesuenses, deixando biografias valiosas — entre elas, as de Romil Laurindo Neto e de Paulo Moreira, o único expedicionário bonjesuense que tombou na guerra. Foi dele o texto da primeira placa biográfica de nossa cidade, na rua Expedicionário Paulo Moreira.

No amor pela história de sua aldeia, leva seus alunos ao Espaço Cultural Luciano Bastos (ECLB), desejando-os sempre mais cultos. Em uma dessas visitas, doou ao ECLB uma relíquia: uma flâmula do ex-governador Roberto Silveira, lançada após um ano de governo.

Durante a III FLICbonjê, a historiadora Isabel Menezes, de Varre-Sai, contou que foi incentivada por José Francisco a reescrever o livro “Cruz da Ana”. O próprio professor revelou um vínculo pessoal: “Minha mãe, Jovenília Maria de Melo Laurindo, era devota e, na adolescência e juventude, fui com ela algumas vezes à Cruz da Ana. Ela sempre levava vela e uma fita com a medida do nosso corpo para cumprir alguma promessa. Sempre trazia a água da fonte para bebermos em caso de alguma doença. Lá, a gente sempre via muitas pessoas de Bom Jesus que também eram devotas.”

José Francisco Melo Laurindo não é apenas prova de que ainda existem professores imbuídos de idealismo. Ele é, ele próprio, História e fé. É a encarnação de todos os mestres que continuam, silenciosos, a moldar as novas gerações com luz nos olhos e sonhos no coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário