terça-feira, 7 de novembro de 2023

Entrevista histórica com o PROFESSOR HÉLITON DIAS PIMENTEL

 

Prof. Héliton Dias Pimentel, ícone da educação bonjesuense 


Há 3 anos, o consagrado escritor Saulo Soares, de Piraí (RJ), articulista do jornal O Norte Fluminense e membro da Academia Bonjesuense de Letras, realizou entrevista histórica com um dos ícones da educação bonjesuense, o Prof. Héliton Dias Pimentel. Hoje, trazemos, a seguir, essa entrevista aos leitores do nosso blog. Ao final, consta o Curriculum Vitae do ilustre mestre.


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“AO MESTRE, COM CARINHO.”

A Educação tem nome e sobrenome:
Professor Héliton Dias Pimentel

O Norte Fluminense tem a alegria e a honra de trazer para seus leitores uma entrevista exclusiva concedida pelo estimado e respeitado Professor Héliton Dias Pimentel. Sem sombra de dúvida um dos grandes nomes da Educação e da História de Bom Jesus do Itabapoana. O Professor fala sobre Educação (perspectivas e desafios), conta-nos um pouca da sua história, fala, também de Historia e estória, de saudades, de fé e esperanças. Vale a pena conferir e saber um pouco mais!

Saulo Soares


Nome: Héliton Dias Pimentel
Nascimento: 29 de maio de 1936, distrito de Rosal, Bom Jesus do Itabapoana.
Pai: Dionísio Pimentel
Mãe: Filomena Dias Pimentel
Avós paternos: Osório Pimentel e Julieta de Sá Viana Machado
Avós maternos: José Ludovico Dias Ferreira e Cecília Francisca Canto.
Casado em primeiras núpcias com Helena Borges Pimentel (falecida), com a qual convivi longos e gostosos 56 anos. Este consórcio nos deu os seguintes filhos e netos: Maria Aparecida (João Caetano, Camila e Clarissa); Ana Cristina (Arthur), Rita de Cássia (Thaís e Herman); Maurício José e Alexandro Marcelo.
Em segundas núpcias, casei-me com Lúcia Baptista de Brito, minha atual esposa.


Professor, todo Mestre um dia foi aluno. Como o senhor se definiria como aluno? Há algum Professor do qual se recorde com carinho?

Um aluno responsável. Recordo-me de vários, contudo o que mais me marcou foi o Pe. Abaeté Cordeiro.

Em quais escolas estudou?

Garrafas (zona rural) e Luís Tito de Almeida, ambas em Rosal; Seminários católicos de Campos e de Juiz de Fora.

Pode nos contar um pouco sobre sua experiência nos Seminários?

Está entre os melhores tempos de minha vida. Naquela época não havia política partidária nos seminários. Havia, sim, educação e formação rígida dos seminaristas quanto à convivência do padre na sociedade política como um todo. As tendências por partido A ou B eram vigiadas de perto, sem exceção.

Quando e onde foi seu primeiro emprego?

Comecei, ao mesmo tempo, nos Colégios Rio Branco, Zélia Gisner e Coronel Antônio Honório.  

Depois destes seguiram-se quais?

Pe. Mello e Ildefonso Bastos Borges. Sempre trabalhei na Educação. Queria exercer o sacerdócio como padre, o exerci como professor, e o fiz com muito prazer. Senti-me realizado. Sempre reconheci a luta dos diretores e a necessidade dos alunos. Trabalhei no Colégio Rio Branco por 24 anos. Quando pedi demissão o Dr. Luciano, diretor do Colégio, insistiu até o último momento para eu desistir, mas depois entendeu minha situação. Abri mão dos meus direitos, por iniciativa própria, em respeito e amor ao Colégio e aos alunos.

Como vê a Educação hoje?

Com tristeza. Queda do ensino e desrespeito ao professor. Não por culpa de professores e alunos. Há excelentes professores a batalhar no ensino deste confuso Brasil. Na maioria das vezes sem o apoio que a classe merece. Na minha frágil opinião o problema reside na legislação educacional e no Estatuto da Infância e do Adolescente. O Estado não respeita os professores e os alunos o copiam.

Como professor o senhor era um modelo de profissional, ao ponto do seu ex-aluno Gino Martins Borges Bastos, ter escrito num questionário que seu desejo era “ser como o Professor Héliton”.

Com relação ao Dr. Gino, era o carinho de uma criança, resultado de uma exemplar educação recebida de seus pais.

Como teve início o seu gosto por História?

Ao lidar com ela no dia-a-dia. Na minha visão História e estória são o elo do saber no tempo. Elas carregam todas as áreas do conhecimento sem nelas interferir. Apenas as transportam, a fim de que cumpram seu papel.

Quais são as habilidades indispensáveis para um bom professor?

Responsabilidade no que faz, conhecimento da sua área e noção das afins, habilidade no trato com as pessoas e paciência nos entreveros comuns no relacionamento das crianças e, de modo especial, com os dos adolescentes.

Vivemos em tempos de pandemia e a Educação à Distância (EAD), apresenta-se como uma forma de tentar suprir as horas em sala de aula. Como o senhor vê a EAD?

Com certa expectativa. Nos últimos 20 anos a comunicação deu um salto inimaginável pelos que estavam à margem da evolução tecnológica nesta área. Eu me incluo, até certo ponto, nesta massa desprevenida do que se aproximava em termos de tecnologia na área do ensino. Em tempos de pandemia é a solução viável, mas é definitivo? Parece-me uma solução no espaço, mas não definitiva no agora do tempo. A tecnologia é e sempre será importante, e num crescente, não se duvida. Contudo, o contato relacional do ser humano é vital. Numa formação que se quer integral me parece que o inter-relacionamento é insubstituível. Assim, a meu ver, a EAD é uma experiência válida para o momento. O futuro nos apontará o melhor caminho, ou a comunhão entre eles, o provável.

Que episódios interessantes o senhor ressaltaria por ocasião do exercício do magistério? Algum “causo” pitoresco?

Certa vez eu chefiava uma excursão de alunos a Cachoeiro do Itapemirim (ES). Quando ao passar pela Safra o ônibus foi preso e encaminhado para Cachoeiro, onde realmente íamos. Lá, um dos responsáveis, prendeu o ônibus e multou a empresa em cem mil cruzeiros, mais ou menos, não me lembro. Sei que, à época, era muito dinheiro e nós não tínhamos. Argumentei com o dito senhor que era uma excursão de alunos e eu não tinha como pagar, a empresa era responsável e não nós.
- Mas, o ônibus está preso e daqui não sai sem pagar a multa e regularizar os documentos do veículo.
- Então o senhor vai me dar licença, pois estou de saída para Bom Jesus e os alunos ficando aqui no DETRAN sob a responsabilidade do senhor.
- Isto não é possível, o senhor está muito nervoso!
- É possível, sim; e fui me retirando.
- Moço, volta aqui, eu vou liberar o ônibus.

E tudo se ajeitou, e continuamos o nosso passeio… Época em que a palavra do professor era respeitada. A situação atual é…

Quando foi o início das atividades em cada colégio onde lecionou?

Os três primeiros: Rio Branco, Antônio Honório e Zélia Gisner(1958); Padre Mello (1966), e o Ildefonso Bastos Borges (1972). Deste eu saí no ano seguinte, a meu pedido, para atender melhor o Colégio Padre Mello.

Sente saudades da sala de aula?

Muita. Ali eu me realizava como pessoa e como profissional. Agradeço a Deus este presente e a contínua ajuda d’Ele recebida.

Quando ocorreu sua nomeação como Secretário Municipal de Educação? Como foi a experiência? Que legado o senhor deixou para o nosso município?

Em 1991, como Diretor do Departamento de Educação e, em 1992, como Secretário, função que exerci até 1997, quando fui levado para a chefia do gabinete. Como Secretário contribuí com o término das construções dos ginásios poliesportivos de Pirapetinga, Rosal, Calheiros e o da Escola Santa Rosa. Com recursos conseguidos por mim - assessorado por uma excelente equipe técnica -  foram construídas as seguintes escolas: Dr. Francisco Baptista de Oliveira, Bairro Pimentel Marques; Professora Otília Pereira Campos, Bairro Santa Rosa e Professora Iracema Seródio, Pirapetinga (distrito).

Sua coluna para O NORTE FLUMINENSE trata de assuntos religiosos. Qual a importância da fé em sua vida? 

Mesmo com todas as teimosas imperfeições de minha parte, foi a Luz que me assessorou e continua nesta já longa caminhada. A Deus honra, glória, louvor e ação de graças pelos séculos dos séculos! Amém.

O senhor também é autor de alguns livros. Quais são? De que tratam?

Pingos de Teologia com gotas de História (pinceladas da organização da Igreja), Miscelânea (moral e poesias não metrificadas), Vamos Caminhar com Jesus (jornada dolorosa de Cristo até a Ressurreição). Tenho um pronto: Amor, Eterno Amor (Família e Fé). Tive uma oferta de uma Editora de Quintino/Rio, mas eu não concordei com as condições.

De que o senhor sente saudades quando se lembra de Bom Jesus do seu tempo de criança, adolescente, jovem?

Da liberdade. Eu nasci na zona rural, onde vivi minha infância.

Poderia deixar uma mensagem para os seus ex-alunos?

Aos meus ex-alunos, como colegas de aprendizado, deixo o meu eterno agradecimento pelo tempo que juntos trabalhamos.

E para Bom Jesus e seu povo?

À cidade o meu abraço agradecido, e ao povo-irmão: construa seu próprio destino, Deus está com vocês, não espere pelos de fora.

Para finalizar: uma frase, um lema para a vida.

Deus não criou o homem para ser derrotado. Lute.

Bom Jesus do Itabapoana, 24 de setembro de 2020.

Saulo Soares é escritor e membro da Academia Bonjesuense de Letras 




CURRÍCULO VITAE DO PROFESSOR HÉLITON DIAS PIMENTEL 








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